A Honra do C.E.P. |
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O IX Batalhão - Major Ferreira do Amaral
Em 24 de Outubro de 1918 o Batalhão 15 atravessou o rio Escalda e tomaram posições na margem direita junto à artilharia ligeira portuguesa (3º, 4º e 6º Grupo de Bateria de Artilharia) e às baterias de artilharia britânicas servidas por artilheiros portugueses, suportados por uma secção de telegrafistas (TSF) e a Companhia de Projectores de Campanha.
O IV Batalhão - Major Hélder Ribeiro
A 31 de Outubro, o Batalhão 23 entrou na acção de reconquista da cidade de Lille aos alemães.
Carta de Augusto Casimiro para Jaime Cortesão - Últimos combatesMeu querido Jaime: Flandres, Abril de 1919. Ora vamos: Tu conheces, calculas, a situação em que estávamos depois do 9 de Abril. Sobre o desastre e os crimes preparados ou perpetrados desde o princípio, — defectismo, desmoralização, inércia, etc, da parte daqueles, cuja inapetência guerreira se mascarava de incompatibilidades políticas, etc, — deu-se um grande êxodo, de oficiais para Portugal. A situação dezembrista, de resto, desejosa de liquidar esta coisa que a comprometia perante a Alemanha vitoriosa, produziu também todos os seus frutos. Depois do 9 de Abril, apesar dos esforços tenazes e inteligentes, honra lhe seja, do tenente-coronel D. José de Serpa, Chefe do E. M. da l. a D. —dificilmente se conseguiu arrancar aos ingleses as nossas unidades, reduzidas a trabalhos inglórios da retaguarda, embora cheios de perigo e obrigados à morte. Quando eu cá cheguei em Junho tudo estava um pouco desmoralizado. Como dogma fixara-se a impossibilidade de fazer a mínima coisa com os soldados. Davam-nos como liquidados, exaustos, incapazes. E tu vês o interesse com que certas criaturas cobriam a sua inapetência guerreira com essa incapacidade... Ia-se morrendo nos bivaques miseráveis" e de má língua, propósitos defectistas, vergonhas... alem do veneno que nos continuava chegando cada vez mais forte de terras de Portugal. Mas tu sabes ...Eu apresentei-me no batalhão com o Fernando Soares que foi sempre, junto de mim, um honesto e liai cooperador. Bom moral sempre e comigo. Eu, Soares e alguns camaradas, desde Agosto, como de há muito, — magoados com a situação única das tropas portuguesas em hora de tanta glória para todos, começamos a lançar com entusiasmo a ideia de formar batalhões de elite, com oficiais oferecidos, para tomar parte imediata na ofensiva. O Garcia Rosado consegue arranjar transportes para reforçar o C. E. P., mas Sidónio não consegue arranjar soldados. Eu baixo ao hospital, para repouso e cura dos meus ouvidos, em Setembro. Encontro-me com o Ferreira do Amaral. Nós sabemos que, de cima, os comandos nada farão, nada poderão fazer, sem uma decisiva afirmação partindo de algures, nas unidades. Os chefes, e tínhamos na divisão um homem da craveira de Bernardo de Faria, ainda os melhores, eram impotentes. Eu ponho-me em relações com o Rosado. Afirmo-lhe, primeiro que a hora é ainda de esperança, embora de esforço. Ninguém acredita na possibilidade de se levar um batalhão à linha de fogo, às claras, (nem os ingleses . . ,) com entusiasmo, decisão e honra. O Amaral com o 15, em que tem um grande prestígio, eu com o 23, onde há oficiais honrados e sargentos em termos, podemos organizar dois batalhões de assalto. Baixo ao hospital. Ferreira do Amaral propõe a organização do 15 ao general. Responsabiliza-se por isso. À tarde Amaral vem ao hospital contar-me a sua démarche. Eu estava com febre e contente. Havia rapazes, de artilharia, de visita junto de nós. O Pedro estava tombem comigo. Estes oferecem-se para o 15, batalhão de assalto. Nessa manhã eu falo ao ajudante do general que, por este, vem saber da minha saúde. O general aceita. Numa carta que lhe mando digo-lhe que o momento é precioso e, perdido, se perde tudo. No dia seguinte o ajudante do Rosado vem e pergunta-me se a minha saúde sofria com a alta imediata. Está o querido Sousa Lopes presente. O general aceita . . . Mas a minha saúde dá-lhe aso a considerandos. Quando é preciso sair? — Hoje, às três horas, o major Amaral segue comigo para o Q. G. C. de automóvel, diz-me o ajudante." São 12 horas. Eu digo: — Fale ao Director do Hospital. À 1 hora estou pronto. E saímos os dois, Amaral e eu. Não quero dizer-te a ansiedade que me tomava. Compreendes o que eu jogava ali, do meu orgulho e do meu amor próprio. Chegámos a Roquetoire . . . O cornando reunira os comandos. Não te direi, hei de dizê-lo um dia talvez,— o que nós acusamos e dissemos. Eu disse o que podíamos fazer, o único possível para salvar, do atoleiro em que se encontravam, as tropas do C. E. P... E viemos. O meu batalhão eram os meus amigos e os sargentos. Houve uma pequena coisa: um grupo de soldados bradando coisas que eram a acusação dos grandes culpados daí. O Soares foi mais uma vez óptimo. A grande maioria dos oficiais manifestou desejo de que o Hélder viesse comandar-nos. Todos os oficiais aplaudiram. O general soube e nomeou o Hélder. E começou o trabalho. Tínhamos 400 homens; faltavam 600. As insubordinações sucediam-se. No bosque de Pacaut procedeu-se a uma operação para reduzir uma das mais graves. Houve mortos e feridos. O 15 ia marchar com subalternos de infantaria, artilharia e até de administração militar, todos voluntários. No meu batalhão, onde se encontrava já, desde Julho, o alferes Granger de cavalaria, apresentaram-se os alferes voluntários. Gente rija, belo moral . . . Completaram-se os quadros de oficiais. O Hélder não repousava, era êle quem lembrava as medidas necessárias. Os comandos, apesar de terem como única esperança a nova solução, pareciam dormir. Ah! mas eu esquecia, o general Birdwood, do 5.° exército, nosso amigo, — dissera ao Rosado o desejo que tinha em ver, nestas horas formosas, alguns batalhões do C. E. P., que tanto sofrera, compartilhar da grande batalha vitoriosa ... Vê bem ... . E o 15, que estava já connosco em Havesequerque seguiu para a frente, alguns dias antes de nós ... Em 3 de Novembro, sobre reduzidos dias de esforço, a enquadrar, vestir, erguer o moral dos homens, já todos lusíadas e redimidos das misérias de até ali, — o batalhão organiza uma festa militar. " Recebi sete Cruzes de Guerra para os meus soldados. Os jogos desportivos correm duma maneira admirável. A missão inglesa aplaude, e os oficiais franceses, ao ver desfilar em continência primeiro, e depois em coluna de marcha, cantando, the best portughese batalion,—dizem a sua admiração. Era já o milagre! Ah, caramba! No dia seguinte, 4, marcha para a frente ... E a marcha fazia-se entre cantos, sob bandeiras ... Nunca vi tropa assim, diziam camaradas com lágrimas nos olhos. Os comandantes de algumas unidades, para vincar o nosso exemplo, mandaram formar, para saudarem assim o 23 que passava ... A semente estava lançada. O mal vencido. De Havesequerque a Lavantie. De Lavantie a Sequedin. Lille, e de Lille a Florest, na fronteira ... Os ingleses pasmavam. Perguntavam os franceses vendo, sob a chuva, o batalhão impecável florido de bandeiras e cantos .. . — Guerre finie ? —Non finie, — Commencer!— diziam . os soldados ... Ah ! o formoso desfile ! ...O 15, por má sorte, ficou numa brigada inglesa que estava em descanso. Nós fomos para a 148 Brigada do General Kennedy. Em 7 entro na linha com um batalhão inglês, o 21 de Londres na Bélgica, em apoio da l. a linha sobre o Escalda. A 4. a com o Barros Basto ocupa Froyennes, sobre o canal. Rijos bombardeamentos. Em 9, um perigo nos ameaça. O boche retira. A brigada vai partir. Mas... nós ficamos. E dizem que seremos empregados em trabalhos de engenharia!. Oficiais e soldados choram de raiva... Então os nossos comandos não informaram os comandos ingleses do convite de Birdwood? Escrevo, aflito, ao Hélder. Mas o Hélder tem um gesto grande. Vai ter com Kennedy. — «Eu vim para bater-me. Trago mil homens, mil corações que, mal saibam que não seguirão em combate, sofrerão amargamente. Por esses mil corações, peço-lhe intervenha de forma a seguirmos com a 148 Brigada». Kennedi é cavaleiro e nobre. Um gentlemen. No 21 de Londres os oficiais ingleses querem-nos com eles, contentes, dizem-nos a sua mágoa. Mas, à noite, um telegrama chega com os parabéns, para mim, do comandante Newton, do 21Londrino. O batalhão segue na perseguição do inimigo. E seguimos, atravessamos o Escalda a 9, e a 11, quando a nova do armistício chegou, íamos a caminho dos postos avançados, de novo. Tínhamos sido dos primeiros a entrar nalgumas povoações belgas. «O seu idealismo deu um concurso brilhante à tarefa de salvar as tropas do C. E. P. do atoleiro em que se afundavam» —diz uma carta do G. Rosado. Fizemos o milagre que ninguém esperava. Desajudados, salvámos. O 15, o 23 e o 9 com o Batalhão de Metralhadoras pesadas, prestaram aqui enormes serviços. O 15 seguiu para a frente, mas as circunstâncias não lhe permitiram entrar em combate. O 23, depois de marchas triunfais, vencida a desmoralização pelo ardor e patriotismo dos seus oficiais, bate-se no Escalda, e segue até 11 com as guardas avançadas em perseguição do boche. O honrado 9, que o capitão Costa Cabral comandava, não chegou a partir. O 35, aproveita as circunstâncias, e tem alguns pelotões seus na linha com os ingleses o que importa a todos, embora só o 23, como unidade constituída e nossa, entrasse em fogo. Entramos em combate. Os ingleses cobriram-nos de provas de carinho. Rehabilitámos isto. Salvamos isto. Sanções? O meu batalhão foi proposto pelo nobre chefe que aqui tivemos, general Bernardo de Faria, para um louvor em ordem de corpo e uso dum distintivo especial. Nada. Nada. Queixei-me, disse a nossa pena do desprezo a que nos votavam, ao general Rosado. Este fez do 23 o mais formoso elogio. Mas mais nada. Para os oficiais, tão poucos, que correram a oferecer-se, alguns com folhas de serviço honrosíssimas, na Flandres, — não houve um louvor. Mas escreveu-se uma carta ao Hélder, em Janeiro em que as estações superiores lhe perguntavam se com efeito fazia política no batalhão, política republicana ... Teu irmão Augusto Casimiro (in Cortesão (1919), pp.224-31)
Links http://www.medailles1914-1918.fr/portugal-commemo.html
Notas
Bibliografia
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Este site foi actualizado pelo última vez em 25-06-2013