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A Ofensiva Alemã
É com
este título que o Major Ferreira do Amaral abre o seu livro sobre a Batalha
do Lys, também conhecida como a Batalha D'Armentières, e faz uma declaração
lapidar:
«Ninguém em
Portugal chegou até hoje a ter uma noção aproximada do que foi o "9 de
Abril"(5)»
Na
verdade, grande parte das pessoas que falam sobre La Lys, não têm
conhecimentos militares, incluindo aqueles que tiveram em França e
inclusivamente na primeira linha das trincheiras no dia da Batalha. Para
falar sobre La Lys é necessário estudar muitos documentos referentes a esse
momento da história e saber enquadrar o acontecimento num cenário mais
amplo.
A
última ofensiva alemã no «front ocidental» começou no dia 21 de Março de
1918 e prolongou-se por toda a primavera desse ano até ao dia 18 de Julho,
quando começou a contra-ofensiva da Entente.
A
sequência de ataques alemães foi a seguinte:
21 de
Março |
Batalha de Amiens |
9 de
Abril |
Batalha do Lys ( Armentières) |
27 de
Maio |
Batalha de Soissons |
9 de
Junho |
Ataque entre Soissons e Somme |
15 de
Julho |
Batalha do Marne |
Nesta
última ofensiva a França vergou, a Inglaterra estremeceu e a Alemanha
suicidou-se. Clemenceau declarou no parlamento: "Franceses, nós por agora
recuamos!, mas nunca nos havemos de render. Bater-nos-emos em frente de
Paris!, bater-nos-emos dentro de Paris, bater-nos-emos por detrás de Paris!"
Entretanto o exército francês conseguiu furar as linhas alemãs, através de
um ataque de flanco a 18 de Julho, e termina a última ofensiva alemã da
Grande Guerra. A partir desta data a Alemanha passa à defensiva até que se
dá o Armistício em 11 de Novembro de 1918(6).
Lacouture
A defesa de Lacouture foi um dos muitos
momentos altos da tenacidade e espírito de sacrifício que os militares do
Exército português sempre demostraram quando colocados em situações difíceis
ou em que foi requerido iniciativa individual. No jornal francês "Telegramme"
no dia 10 de Abril de 1918 publicou: "L'Histoire parlera un jour d'un
batalaillon portugais que à Lacouture s'est battu jusqu'au dernier cartouche"(1).
Episódios Isolados
O Alferes H. G. que combatia nos últimos
redutos de Lacouture com um punhado de soldados, respondeu a um capitão
inglês que o incitava a recuar dizendo que as vagas de tropas que se
aproximavam eram portugueses a retirar, que "d'aqui ninguém retira,
combatemos até à última". Acabou por retirar apelas às 17 horas com os
últimos três soldados e salvou a metralhadora Lewis(2).
Observações
Os
ingleses entregaram a defesa do sector aos portugueses em 1917, com uma
estrutura de trincheiras e redutos que foram mantidos ao longo do período de
ocupação pelo CEP. Não houve ordens de desenvolvimento da estrutura
defensiva por parte da "Entente", mas também não existiu no comando
português a iniciativa de preparar um sistema de uma defesa em profundidade
no seu sector.
Quando confrontados com a ofensiva alemã em Abril, já tinha começado em
Março no sector inglês, a "Linha das Aldeias" não apresentava um sistema de
trincheiras suficientemente desenvolvido e a restante retaguarda sem uma
simples trincheira de apoio que permitisse uma defesa em profundidade.
Os redutos eram dispersos e mostraram-se insuficientes para capacitar uma
defesa coordenada(3).
1ª Divisão
A 1ª Divisão saiu da linha da frente no
dia 8 de Abril pelas duas da madrugada, tendo sido transportada em camiões
para Boesenghem. No dia 9 de Abril foi transportada de comboio para Devres e
Samer, de onde seguiu a pé para Paranty, para acantonamento. Só no dia 11 de
Abril é que chegou a notícia com o resultado dos combates do dia 9 de Abril(7).
O Esforço pedido à 1ª Divisão tinha levado os seus
efectivos, incidindo principalmente sobre os seus batalhões de infantaria, a
um estado extremo de fadiga e prostração, que se reflectia directamente na
capacidade de combate e moral. Isto levou a que as diferentes brigadas que
compunham o CEP fossem colocadas junto de unidade inglesas com a função de
força não combatente mas de trabalho a cavar trincheiras. A 2ª Brigada foi
colocada junto da 14ª Divisão inglesa, que também se encontrava a recuperar
da perda de quase metade dos seu efectivos quando atacados em Soissons pelos
alemães em 21 de Março de 1918.
A necessidade de criar uma linha defensiva contínua de
trincheira, desde Steenbecq a Lillers, colocou milhares de homens a cavar
trincheiras e para este trabalho contribuíram os batalhões do CEP durante
quatro meses, de Maio a Agosto de 1918. Mesmo sendo um trabalho deslocado da
1ª Linha, sofreram bombardeamentos de aviões e da artilharia inimiga(4).
É preciso recordar que se o contra-ataque
francês de 18 de Julho não tivesse rompido a linha alemã, Ludendorf teria
executado o seu próximo ataque sobre a Flandres, na zona em que os
portugueses estavam a executar os trabalhos defensivos.
Acção da 3ª Brigada da 1ª
Divisão do CEP (desde 6 de Abril até 10 de Abril de 1918)
Nas noites de 6/7 e 7/8 a 3ª Brigada saiu
da primeira linha do sector de Neuve-Chapelle para as seguintes posições com
a função de Brigada de Reserva para a 2ª Divisão que se mantinha a guarnecer
o sector português. Posições:
-
La Gorgue - Quartel General e o
Batalhão de Infantaria 12
-
Riez Bailleul - Batalhão de
Infantaria 9
-
Pont Riqueil - Batalhão de Infantaria
14
-
Croix Marmuze - Batalhão de
Infantaria 15
Pouco tempo depois de se iniciar
bombardeamento alemão sobre o sector português, o comandante da 3ª Brigada
expediu uma ordem às 6 horas para todas as suas unidades ocuparem a
Linha da Aldeias.
O Batalhão de Infantaria 14 recebeu ordem
Às 7 horas para ocupar os postos de:
1ª Companhia do Capitão Manuel Oliveira,
deveria ocupar a linha Croix Barbée - Croix Rouge e colocar um pelotão no
St. Vaast Post.
2ª Companhia do Tenente Perestrelo da
Silva, deveria ocupar a defesa dos postos Harrow Post, Eton Post e Charter
House Post.
3ª Companhia do Tenente Aníbal de
Azevedo, deveria ficar de reserva no Bout Deville.
4ª Companhia do Alferes Adriano Branco,
deveria ficar de reserva no Marais Post.
-
Croix Barbée Post,
-
Rue du Puits Post,
-
Rouge Croix Est Post,
-
Rouge Croix West Post,
-
Harrow Post,
-
Eton Post (ocupado com dois Pelotões
da 2ª Companhia do BI14)
-
Charter House Post (ocupado com um
Pelotão da 2ª Companhia BI14)
-
Bout Deville Post (Reserva)(ocupado
pela 1ª Companhia BI14 - Capitão Manuel Oliveira) (ocupado pela 3ª
companhia)
-
Marais Post (Reserva)(ocupado pela 4ª
companhia)(apoiado por duas secções de metralhadoras inglesas)
A 1ª Companhia perdeu-se e foi colocar-se
em Bout Deville, onde encontraram uma guarnição inglesa. O pelotão desta
companhia que deveria ir para o posto de St. Vaast, acabou por se colocar no
Fosse Post, também já ocupado por ingleses.
a 2ª companhia conseguiu alcançar o locar
destinado tendo ocupado com o Eton Post com dois pelotões e com o restante o
Chartewr House Post.
Sob o comando do Major Vale de Andrade, o
Batalhão de Infantaria 14 saiu do seu acantonamento em Pont Riqueil, apesar
do violento bombardeamento que causou várias baixas no Batalhão, caindo
ferido o próprio comandante do Batalhão. A 1ª Companhia ocupou a posição no
posto de Eton e a 2ª companhia ocupou a posição no posto de Charter House,
onde permaneceram até às 11h 45mn. Conseguiram retardar os alemães,
obrigando-os a gastar 4 horas para percorrer 3Km9.
Tornando-se impossível manter as posições
por causa do intenso bombardeamento alemão o Batalhão teve de retirar para
Huit Maisons pelas 14 horas, chegando a La Fosse pelas 16 horas. No entanto,
a 1ª Companhia manteve-se em combate até ao dia 10 de Abril, junto com uma
unidade inglesa.
O Alferes José Baptista da Silva ficou
ferido e perdeu 66 praças. O Batalhão no final do dia reorganizou-se tendo
conseguido retirar de combate com um efectivo de 15 oficiais e 707 praças8.
Notas
-
Almeida(1919), p. 166
-
Almeida (1919), p. 167
-
Almeida(1919), p.175
-
Almeida(1919), p.175-176
-
Amaral(1923), p.7
-
Amaral(1923), pp.32-3
-
Mea(1997), p.49
-
Cid (1957), p. 155
-
Henriques(2001), p. 94
Bibliografia
-
Almeida, Humberto
de(1919), "Memórias dum Expedicionário a França, com a 2ª Brigada d'Infantaria, 1917-1918", s.e., Porto, Tipografia Sequeira.
-
Amaral, Ferreira
do (1923), "A Batalha do Lys, A Batalha D'Armentières ou o 9 de Abril",
4ª ed, Lisboa, Tipografia do Comércio
-
Mea, Elvira de Azevedo e
Inácio Steinhardt, (1997), "Ben-Rosh: Biografia do Capitão Barros
Bastos, o apóstolo dos Marranos", Porto, Edições Afrontamento, (ISBN:
972-36-0436-1)
-
CID,
António José do Amaral Balula (1957), "Subsídios para a história militar
da Beira: unidades de 1ª linha de Infantaria que tiveram Quartel na
Cidade de Viseu", Lisboa, Tipografia da LCGG
-
Henriques, Mendo
Castro e António Rosas Leitão (2001), "La Lys 1918: Os Soldados
Desconhecidos", Lisboa, Perfácio, (ISBN: 972-8563-49-3)
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