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Cabo Verde na Grande Guerra
Na época a maior parte dos navios
utilizavam carvão como combustível, o Porto de São
Vicente tornou-se num dos principais depósitos de hulha negra do Atlântico Sul.
Um outro factor que colocava Cabo Verde como um ponto estratégico do
Atlântico Sul era o "cabo submarino", na realidade nove cabos, que se encontrava amarrado à Ilha
de São Vicente, junto à localidade Mindelo, que era a base das comunicações intercontinentais do
Hemisfério Sul. Tanto o depósito de carvão como o cabo submarino eram
pertença de firmas inglesas que aí se tinham estabelecido.
Portugal tinha como triângulo
estratégico das bases militares navais Lisboa-Açores-Cabo Verde, que
dominavam as comunicações de todo o Atlântico. Em 1911 foram efectuados
estudos para a defesa militar de Cabo Verde e em particular para a
criação de uma base militar e naval na Ilha de São Vicente, sobre o
Porto Grande. (1)
São estes dois factores que tornaram
a Ilha de São Vicente um alvo estratégico durante a Grande Guerra para
os submarinos alemães.
Os Governadores de Cabo Verde
1914-1918
Capitão-de-fragata Joaquim Júdice Bicker
Capitão-de-fragata Abel Fontoura da Costa
Capitão de Cavalaria 7 Teófilo Duarte
(Governador
1911-1915)
(Governador 1915-1918)
(Governador 1918-1919)
O Porto de São Vicente
O Porto de São Vicente apesar de estar colocado
estrategicamente a meio das rotas vindas da África do Sul (Cape Town)e Brasil
(Rio de Janeiro),
tinha como concorrentes comerciais os portos espanhóis das Canárias, de Tenerife e
de Las
Palmas, situados a Norte e os portos franceses de Marrocos, de Casa Blanca e
de Dakar, situados a Sul.
Tráfego nos portos espanhóis das Canárias (Espanha -
País Neutro durante a Grande Guerra)
Ano |
Tenerife |
Las Palmas |
Total |
1913 |
4.249 |
6.717 |
10.976 |
1914 |
3.825 |
5.415 |
9.274 |
1915 |
3.191 |
4.536 |
7.727 |
1916 |
2.714 |
5.259 |
7.973 |
1917 |
1.366 |
2.116 |
3.482 |
1918 |
1.046 |
1.786 |
2.832 |
1919 |
1.954 |
2.734 |
4.688 |
Tráfego no Porto Grande de São
Vicente (Cabo Verde)
Ano |
São Vicente |
1913 |
1.466 |
1914 |
1.112 |
1915 |
1.368 |
1916 |
1.377 |
1917 |
418 |
1918 |
234 |
1919 |
1.216 |
A localização natural do Porto Grande favorecia a função
de porto de escala, para o reabastecimento de combustível, tanto carvão
como água e mantimentos frescos, para as rotas vindas do Oriente via
África do Sul, como da América do Sul, Brasil e Argentina. A utilização
do porto de Casa Blanca ou de Dakar significava mais 18 horas de
navegação para os navios que vinham da América do Sul,
acrescentando ainda as piores condições de navegabilidade desses portos
comparados com o Porto Grande de São Vicente.
No entanto, o porto de Dakar apresentava uma melhor
defesa militar do que o Porto Grande de São Vicente, que era assegurado
por obras de fortificação, uma forte guarnição em terra e por várias
unidades navais, adstritas ao comando do porto, sob o comando de um
general do exército francês. Dadas condições físicas do porto era
obrigatória a pilotagem para todas as embarcações que aí pretendessem
fundear ou acostar aos cais. (2)
Porto de Dakar
Uma segunda vantagem estava no facto de se centralizarem
em Cabo Verde as comunicações telegráficas e comunicações postais
internacionais, que ligavam os países do hemisfério Sul com os do Norte.
A rota Cabo Verde-Lisboa tinha ainda um ponto de apoio logístico, a Ilha
da Madeira. (3)
Ilha de São Vicente - Vista da entrada do Porto Grande
Se por um lado o Porto Grande
apresenta condições físicas excepcionais de navegabilidade e de
ancoradouro para os navios fundearem ou acostarem, a Grande Guerra de
1914 a 1918 determina-lhe a decadência mercê da falta de protecção e de
meios militares de defesa, que viriam a torná-lo num alvo dos ataques
dos submarinos alemães.
Os vapores de passageiros ,ou de
carga, que rumavam através da rota da África do Sul, passaram a fazer
escala em Dakar, que entretanto se tinha tornado num porto mais seguro,
ficando apenas com alguns vapores que vinham da Argentina, que por falta
de capacidade de paióis de carvão, ou por algum temporal, não conseguiam
chegar às Canárias. Mesmo depois de terminada a Grande Guerra o Porto
Grande de São Vicente não voltou a ter mais a importância que tinha
conseguido antes do conflito mundial. Em 1924, dos 17.000 vapores
que cruzaram as águas de Cabo Verde apenas 1.145 entram no Porto Grande
de São Vicente para tomar combustível. (4)
Porto Grande de São
Vicente de Cabo Verde
A Base Militar Naval de São Vicente
A Grande Guerra de 1914 a 1918, fez exceder todas as
expectativas em relação à importância que os centros produtores mundiais
longínquos viriam a exercer na obtenção de recursos de toda a espécie,
desde homens a viveres e materiais de guerra.
A Entente, pela sua posição geográfica utilizou
intensivamente os transportes marítimos o que implicou a necessidade de
manter um domínio estratégico dos mares e a guarda e segurança das
longas linhas de comunicação. Para tal, eram necessários pontos de
apoio onde os comboios de transporte ou unidades navais isoladas se
pudessem acolher e reabastecer. Neste contexto, o Porto Grande de São
Vicente, para além de ser uma base naval estratégica para Portugal,
também o era para os aliados.
Até final de 1916, as suas condições físicas e
localização tiveram grande valor militar, como porto de apoio e
reabastecimento às unidades militares navais que exerciam a protecção
das rotas do Atlântico Sul.
A defesa do porto era constituída por um posto de
vigilância na Ilha dos Pássaros com duas peças de 76 mm, um posto
fortificado com duas peças de artilharia de 100mm na ponta Norte (Ponta
João Ribeiro) e um posto fortificado com duas peças de 150mm na ponta
Sul (Ponta Morro Branco) da baía, um cabo de barragem entre as pontas da
baía e um serviço de vigilância dentro do porto por duas vedetas.
A guarnição de marinha, 12 marinheiros e um oficial,
para a fortificação do Morro Branco e manejo das peças, chegou de Lisboa
em finais de Novembro de 1915, comandada pelo 1º Tenente Joaquim Costa,
que se manteve no comando até ao final da guerra. As obras de acesso à
Ponta João Ribeiro, assim como a construção da fortificação durou quase
todo o ano de 1916. (7)
Em Janeiro de 1917 chegaram as forças do exército
requisitadas para a defesa da cidade e guarnição da fortificação da
Ponta João Ribeiro. Composta por uma bateria de 4 peças de 76mm e 75
soldados, comandadas pelo Capitão João Sequeira e uma companhia de
infantaria, aproximadamente 200 soldados, comandada pelo Capitão Paulo
Mendes. As peças de 100mm e 150mm, que eram de modelos antiquados foram
substituídas pelas peças de 76mm então chegadas.(8)
Companhia de Infantaria de defesa de
São Vicente em parada, quando da chegada do Governador da Província de
Cabo Verde, o Capitão-de-fragata Fontoura da Costa, a bordo do vapor
"Luanda", em Novembro de 1917.
Em Janeiro de 1918, com a chegada da
Canhoneira "NRP Beira" verificou-se um reforço da defesa naval do porto,
assim como um reforço do dispositivo em terra. foi montada uma segunda
bateria de artilharia de marinha constituída por 2 peças Hotchkiss de
47mm a que se juntou uma terceira peça de 90mm, trazida pela "NRP Beira"
de Dakar. A guarnição do posto de vigilância do Ilhéu dos Pássaros
era constituído por 1 sargento e 9 praças.(17)
A Defesa de Cabo Verde
Os meios da base naval de São Vicente
foram reforçados logo no início da Grande Guerra, ainda durante 1914. No
seu máximo a força naval em Cabo Verde teve as seguintes unidades:
Cruzador:
"NRP São
Gabriel": (de 8 de Setembro a 2 de Dezembro de 1914).
Canhoneiras:
"NRP Beira": (de 11 de
Setembro a 2 de Dezembro de 1914); (de 14 de Dezembro de 1915 a 17 de
Julho de 1917); equipada com duas peças de 65mm e duas peças de
47mm.
(26 de Janeiro 1918 a 3 Março de 1919). A
canhoneira quando regressou a Cabo Verde vinha pintada com camuflagem de
guerra, equipada com a peça de proa de 90mm, em substituição da 65mm, e
com dois lançadores de bombas contra submarinos.
"NRP
Ibo": (de 12 de Novembro de 1914 a 2 de Abril de 1918), equipada
com duas peças de 75mm, duas peças de 47mm e 2 metralhadoras.
"NRP Bengo": (de 5 de Maio de
1918 a 7 de Abril de 1919), equipada com uma peça de 90mm, 4 peças de
47mm e dois lançadores de bombas contra submarinos.
Patrulhas:
"NRP Fendele": (1918) equipado com
uma peça Hotchkiss de 47mm
"NRP Mindêlo": (1918) equipado
com uma peça Hotchkiss de 47mm
Rebocador:
"NRP Brigadeiro
Berreiros".(1914 a 1918), equipado com uma peça Hotchkiss de 47mm
Entre 1914 e 1916
A canhoneira "NRP Ibo" partiu de Lisboa a
24 de Agosto de 1914, para a sua missão de protecção do arquipélago de
Cabo Verde.
Em 9 de Setembro de 1914 saíra do
Tejo, o cruzador “ NRP São Gabriel” com destino a São Vicente (Cabo
Verde), onde se manteve em serviço de vigilância até 19 de Novembro de
1916, data em que seguiu para Luanda em missão de escolta a dois
transportes de tropas.
A 19 de Setembro de 1914 chegam ao
Porto Grande de São Vicente as canhoneiras "Beira" e “Ibo”, que ficam aí
fundeadas, passando ambas a fazer a protecção da zona naval do arquipélago. No
entanto, a canhoneira "Beira" acompanha o comboio com as forças da
primeira expedição a Angola, mas regressou à base naval de São
Vicente a 1 de Outubro. A Canhoneira "NRP Bengo" e o rebocador "NRP
Brigadeiro Barreiros" já se encontravam em Cabo Verde.
A 22 de Novembro de 1914, seguiu
de Lisboa para São Vicente, a bordo do vapor “Cazengo”, uma
força expedicionária de Marinha para reforço da defesa da base naval.
A 23 de Fevereiro de 1916, quando
Portugal decide pela apreensão de todos os navios mercantes alemães e
austro-húngarosfundeados em portos nacionais, a fim de serem colocados
ao serviço da "causa comum luso-britânica", encontravam-se no Porto
Grande de são Vicente 8 navios alemães: "Beta" (Maio), "Burgmeister-Hachmann"
(Ilha do Fogo), "Dora Horn" (S. Nicolau), "Heimburg" (Santo Antão),
"Santa Bárbara" (Santiago), "Theoder Wille" (Boa Vista), "Fogo"
(Brava) e "Wurzburg" (S. Vicente). Parte destes navios foram cedidos aos
ingleses, mas navegando com bandeira e tripulação portuguesas. Alguns
foram posteriormente cedidos aos francesas, mantendo as tripulações e a
bandeira portuguesa. (19)
Desde Março de 1916 até 19 de
Dezembro de 1916, o Porto Grande de São Vicente alojou uma
Base Naval Britânica, que serviu para apoio e abastecimento à 9ª
Esquadra de Cruzadores do Atlântico Sul, do Almirante Gordon Moore. A
missão desta esquadra inglesa era o patrulhamento do Atlântico Sul,
desde as Canárias até à Costa da América do Sul e Golfo da Guiné. Entre
os cruzadores que compunham a esquadra, encontrava-se o "HMS Suttlej", o
"HMS Swiftsure", o "HMS Donegal", o "HMS High-Flyer", o "HMS Kent", e o
"HMS Berwirk". Mais tarde o "HMS Suttlej" foi substituido pelo "HMS King
Alfred". Esta esquadra também se encontravam vapores armados, com a
função de cruzadores auxiliares, como o "HMS Marmora" e o "HMS Albermale
Castle".
Encontravam-se sempre fundeados, pelo menos três cruzadores
mais o navio almirante, que praticamente foi ali residente até 19 de
Dezembro de 1916, data em que os últimos navios ingleses, os carvoeiros
da esquadra, o navio-oficina e os cruzadores, "HMS King Alfred e "HMS
Donegal", saíram do Porto Grande em direcção à base militar naval
de Freetown na África Ocidental Britânica, actual Serra Leoa. (5)
Sua
localização geográfica entre a Europa, América do Sul e passagem
obrigatória para o Sul da África, abrangia as principais rotas do
Atlântico Sul. Acrescia outro factor estratégico a estação de cabos
submarinos localizada na localidade Mindelo.
Com a saída da esquadra inglesa do
Porto Grande, este perdeu quase todo o seu trafego, que tinha atingido
uma entrada de 13 navios diário em média, com uma lotação de 40 navios
em média. O trafego de carvão chegou a atingir 50.000 toneladas mês em
Junho de 1916. Grande parte deste movimento foi devido ao transporte de
tropas australianas para e cereais vindos da Argentina para a Europa.
(16)
1º
Ataque ao Porto Grande de São Vicente - 4 e 5 de Dezembro de 1916
A 4 de Dezembro de 1916, durante a
vigilância nocturna do porto de São Vicente, a "NRP Ibo" veio às águas
exteriores do porto, até junto do vapor "Moçambique" que se encontrava
fundeado. Depois de dar ordem ao vapor "Moçambique" para entrar no porto
e de ter regressado à baía, os marinheiros de vigia na canhoneira
distinguiram o casco de um submarino emerso a entrar na baía.
A "NRP Ibo" arrancou de imediato ao
encontro com o inimigo, com a intenção de o abalroar. Abriu um intenso
fogo contra o submarino e acendeu um facho vermelho, como sinal de
alarme de presença de inimigo. O fumo, o fogo das peças e do facho
vermelho eram tão intensos, que a tripulação da canhoneira "NRP Beira",
que estava acostada no porto, chegou a pensar que a "NRP Ibo " se tinha
incendiado e largou de imediato em seu auxílio.
O submarino ao se aperceber do ataque
mergulhou, acabando a cobertura de água por fazer de protecção aos tiros
sucessivos que eram disparados sobre o seu casco. O submarino rodou
submerso dentro da baía e fugiu rente ao fundo, pela espuma, algas e
detritos que sobrenadaram. Pensa-se que teria a intenção de rocegar o
cabo submarino de comunicações que aí se encontrava amarrado.
(13)
O navio "Moçambique" e os seus 500
soldados repatriados e a grande quantidade de material de guerra de
África que se encontrava a bordo foram salvos. O submarino já longe do
porto, em mar aberto começou a emergir, mas a canhoneira "NRP Beira" que
tinha saído em apoio da "NRP Ibo" encontrava-se perto e começou a
disparar sobre o submarino. Este voltou a submergir e não foi mais
visto. Provavelmente seria o submarino U-47, comandado por Heinrich
Metzger, que tem registado um afundamento na zona, naquela data.(12)
Para a defesa da Ilha de São Vicente e do cabo submarino,
foi desembarcado um contingente de 80 praças e três oficiais do Batalhão de Infantaria n.º 23, comandadas pelo Capitão António
Joaquim Ferreira Diniz, que se encontravam a bordo do vapor
"Moçambique". Estas faziam parte do contingente de repatriados que
seguiam para a metrópole, encontrando-se muito afectados por doenças.
No entanto e apesar das condições de saúde, abriram trincheiras e preparam
posições defensivas com vista proteger o Porto Grande de um eventual
desembarque de surpresa. (11)
Tropas do BI23 desembarcadas a
5 de Dezembro de 1916 para defesa do Porto Grande
Entre 1917 e 1918
2º Ataque ao Porto Grande de São Vicente - 9
de Fevereiro de 1917
A 9 de Fevereiro de 1917, ao anoitecer,
foi avistado pelos vigias do Ilhéu dos Pássaros um submarino inimigo dentro
do canal. Dado o alarme, a "NRP Ibo" procurou o submarino tendo encontrado a
esteira e identificado o local onde este terá submergido. Também contribuiu
para que o submarino se afastasse os tiros efectuados por uma das peças de
76mm do posto do Ilhéu dos Pássaros.(14)
3º Ataque ao Porto Grande
de São Vicente - 2 de Novembro de 1917
A 28 de Outubro chegou uma
comunicação da presença de um submarino alemão entre Dakar e Cabo Verde,
e sendo o porto de São Vicente escala dos navios brasileiros em trânsito
para a Europa, era muito provável que se tornasse um porto de ataque à
frota mercante brasileira.
No dia 1 de Novembro, a "NRP Ibo "
encontrava-se em vigilância extrema, tendo circundado a Ilha e observado
o fundeadouro de Santa Luzia, local muito suspeito e com boas condições
para ocultar um submarino inimigo.
Pela 7 da manhã, do dia 2 de
Novembro, foram disparados dois torpedos para dentro do Porto Grande de
São Vicente pelo submarino U-151, comandado Waldemar Kophamel, a uma
distância de 450 e 300 metros dos alvos, que atingiram os navios
brasileiros
"Guahyba"
e "Acary" ao nível da linha de água, provocando grandes explosões e
o afundamento destes.
A canhoneira "NRP Ibo" que se
encontrava acostada em abastecimento largou logo que obteve pressão e
navegou em perseguição do submarino entre os destroços que flutuavam
pelas águas do porto. O submarino entretanto ao ver a "NRP Ibo" a
aproximar-se submergiu e com um 30m de água sobre o casco ficou imune a
qualquer tiro que sobre ele se fizesse.
O submarino U-151 manteve-se
escondido por alguns dias, mas na noite de 7 de Novembro, com alguma
ousadia acostou dentro do porto ao navio holandês "Kennemerland", que na
verdade era um navio espião alemão, mas foi prontamente repelido a tiro,
que o fez mergulhar e fugir.
O submarino alemão manteve-se ainda
até ao dia 14 de Novembro, quando desapareceu de vez das águas de São
Vicente, tendo se dirigido para as águas da Madeira, onde voltou a fazer
um afundamento no dia 16 de Novembro de 1917, o navio americano "Margaret L.
Roberts".(15)
Em Fevereiro de 1918, chegou a São
Vicente a Canhoneira "NRP Beira". O seu comandante, o Primeiro-tenente
António Alemão de Cisneiros e Faria, que também assumiu o Comando Central da
Defesa Marítima, reorganizou a defesa do Porto Grande, reforçando o sistema
defensivo com uma barragem constituída por três panos de redes, num
comprimento total de 2.340 m, com 52 minas e três barcaças onde se
encontravam instaladas as baterias eléctricas por acumuladores. Ao serviço
de barragem ficaram adstritos 1 oficial, 2 sargentos e 6 praças, auxiliados
por numerosos civis.
A instalação das barragens assegurou a
defesa dos cabos submarinos e permitiu que em Setembro de 1918, chegassem a
entrar 80 navios de alto bordo em segurança no Porto Grande e se tivessem
formado dois comboios, um de 24 navios e outro de 19 navios, escoltados por
cruzadores auxiliares ingleses, dirigidos à Europa. Com a acção do
Comandante Cisneiros e Faria o porto de São Vicente foi revitalizado,
conseguindo retomar o abastecimento de carvão a navios, que inclusivamente
tinha sido abandonado pelos navios nacionais em detrimento de Dakar. As
condições de defesa do Porto Grande também permitiram operações conjuntas de
patrulha das águas de Cabo Verde, com navios patrulhas franceses e
brasileiros. (18)
Cabo Verde como Centro de Comunicações
do Atlântico Sul
O
posto de radiotelegrafia da Cidade da
Praia (Cabo Verde), foi inaugurado em 1912. Em 1916, era operado
pelo radiotelegrafista Alberto Carlos de Oliveira, que no decorrer Grande Guerra serviu de intermediário entre a
Esquadra Inglesa no
Atlântico Sul e o Almirantado em Londres, através da transferência das mensagens que chegavam por
cabo submarino ao arquipélago de Cabo Verde e retransmissão
via TSF.
O posto TSF de São Vicente também era de importância vital para a comunicação
militares e civis com as
colónias portuguesas, o que levou a que o Governo da República , após
ter decretado ma metrópole a 26 de Abril de 1916, a censura postal,
(Decreto n.º 2352), a 27 de Abril tenha sido recebido por telegrama,
proveniente do Ministério das Colónias/Direcção Geral das Colónias,
na Província de Cabo Verde ordem para a instalação de um serviço de
censura a telegramas e rádio telegramas particulares de, ou para, em
trânsito nas colónias portuguesas. O serviço de censura ficou
operacional a partir de 1 de Maio de 1916.
A ordem recebida em 27 de Abril de 1916,
pelo Governo da Província de Cabo Verde, foi
publicada no Boletim Oficial de Cabo Verde n.º 18, de 29 de Abril de
1916, determinava a instalação do "Serviço de Censura" a partir de 1
de Maio, a telegramas e rádio telegramas particulares de, para ou em
trânsito nas colónias portuguesas. (Portaria n.º 234, - Vistas as
disposições do decreto n.º 2 465, de 22 de Junho do corrente ano que
mandou vigorar nas colónias o decreto 2 352, de 20 de Abril pretérito,
ambos referentes à Censura Postal estabelecida pelo Governo da República
para vigorar enquanto durar o estado de guerra).
Militares portugueses sepultados no Cemitério do
Mindelo
Na Ilha de São
Vicente encontram-se sepultados 19 militares do
Exército e Armada, cujas campas estão datadas entre
1917 e 1918. Esta preciosa informação sobre
os militares
falecidos em Cabo Verde, foi recolhida no Arquivo do
Registo Civil de S. Vicente pela Doutora Lia
Cordeiro Lima Medina, professora universitária da
Universidade de Coimbra20.
As listas de
combatentes sepultados pelo mundo é mantida pela
Liga dos Combatentes, no âmbito do seu trabalho de
Conservação das Memórias.
Exército
ANASTÁCIO - Soldado nº 93 da 9ª Companhia de
Infantaria [do Regimento de Infantaria nº 24,
Aveiro ?], de 22 anos, natural de Pondilho [,
possivelmente Pardilhó, Estarreja], filho de Joaquim
Rachado e Maria Luiza, faleceu de causa não referida
em 17 de Janeiro de 1917.
ANTÓNIO RODRIGUES SACRAMENTO - Soldado nº 317 da 11ª
Companhia de Infantaria [do
Regimento de Infantaria nº 23, Coimbra ?],
de 24 anos, natural de Coimbra, filho da Leonor Roza,
morreu de causa não referida em 24 de Novembro de
1917. Registo nº 448 do Livro 8.
ANTÓNIO JOSÉ ALVES - Soldado nº 631 da 10ª Companhia
de Infantaria [do
Regimento de Infantaria nº 29, Braga ?],
filho de Manuel João Alves e Rosa de Araújo, natural
de Valdevez, não refere a causa e data de
falecimento. Registo nº 289, do Livro 9 página 138.
JOÃO MARIA FRANCO - Posto e unidade não
referenciados, de 20 anos, natural da freguesia de
Santa Eulália, Elvas, filho de Manuel Maria Franco,
faleceu em 15 de Outubro de 1918.
MARCELO INÁCIO BRANCO - Soldado nº 17 da Companhia
de Infantaria [ do
Regimento de Infantaria nº 22, Portalegre ?], nº
22, de 25 anos, natural de Santa Eulália, Elvas,
filho de João Santos Baptista Branco e Maria Joana
Paulares. Faleceu em 18 de Outubro de 1918.
ANTÓNIO VENTURA CARDOZO - Soldado nº 6 da 10º
Companhia de Infantaria [do RI nº ?], de 27 anos,
natural de Elvas, filho de Ventura Manuel Cardozo,
não refere a data de falecimento. Registo nº 634 do
Livro 10.
MANUEL DOS REIS CORREIA MODESTO - Tenente, de 58
anos, natural de Albufeira, filho de Francisco
Correia Modesto, faleceu em 19 de Outubro de 1918.
JOSÉ FRANCISCO FARIA - Soldado, sem referencia à
unidade, de 25 anos, casado, natural da Metrópole,
filho de José Inácio Faria e Catarina da Conceição,
faleceu em 24 de Outubro de 1918. Registo nº 696 do
Livro 10, página 162.
JERÓNIMO BEMVINDO - Alferes de
Infantaria, unidade não referida, de 38 anos,
casado, natural do Porto, filho de Joaquina Maria
Pinto Barroso, faleceu em data não indicada.
Registo nº 747 do Livro 10.
Marinha - Canhoneira Beira
JOSÉ DE JESUS COELHO - Marinheiro da Armada,
tripulante
da
Canhoneira Beira,
idade não
referida, casado, natural de Tavira, filho de
Francisco José Coelho e Maria da Conceição, faleceu
de causa não referida em 7 de Outubro de 1918.
Registo nº 416, Livro 10 página 22.
JOSÉ JOAQUIM GRAÇA - Marinheiro da Armada,
tripulante da Canhoneira Beira, de 20 anos, natural
da freguesia de Santa Maria, Lagos, filho de Joaquim
da Costa Graça, faleceu em 10 de Outubro de 1918.
Registo nº 443, Livro 10.
ALBERTO AUGUSTO MELO - 2º Artilheiro nº 5271 da
Canhoneira Beira, de 25 anos, natural da freguesia
de Santa Catarina, Lisboa, filho de Samuel Gomes de
Melo e Carolina Augusta da Silva, faleceu a 11 de
Outubro de 1918.
CÂNDIDO ANTÓNIO RAMOS - 2º Artilheiro da Canhoneira
Beira, de 21 anos, natural da freguesia de São
Sebastião, Setubal, filho de António Ramos e Maria
José, faleceu em 12 de Outubro de 1918. Registo nº
506 do Livro 10.
ANTÓNIO FORTES - 1º Grumete nº 5487 da Canhoneira
Beira, de 20 anos, filho de José António Fortes,
faleceu em 13 de Outubro de 1918. Registo nº 514 do
Livro 10.
MANUEL JOAQUIM MOREIRA DOS SANTOS - 2º Marinheiro da
Armada nº 4371, de 24 anos, natural de Paredes,
[distrito do] Porto, filho de Manuel Moreira dos
Santos e Ana Brito Ferreira dos Santos, faleceu em
20 de Outubro de 1918.
GUILHERME PEREIRA ORGANISTA - 1º Grumete da Armada
nº 5063, de 23 anos, natural de Vila Nova de Gaia,
filho de José Pereira Organista e Maria Rodrigues da
Costa, faleceu em 20 de Outubro de 1918.
JOÃO ALVES - 2º Marinheiro da Armada nº 3655, de 24
anos, natural de Coimbra, filho de António Rodrigues
Filipe Alves e Margarida de Jesus Alves, faleceu em
23 de Outubro de 1918. Registo nº 696 do Livro 10,
página 162.
JOÃO BATISTA - Cabo Artilheiro nº 2968 da Canhoneira
Beira, de 39 anos, natural de Cortes, concelho de
Marcos (?) [ou Macedo ?] de Cavaleiros [ou Marco de
Canaveses ?], filho de Manuel António e Libânia dos
Santos, faleceu em 30 de Outubro de 1918. Registo nº
733, Livro 10.
Marinha - Canhoneira Bengo
LOURENÇO BEIJAME - Artilheiro nº 5704 da Canhoneira
Bengo, de 22 anos, natural da freguesia de São
Lourenço de Maiorca, Alcobaça, filho de António
Beijame e Francisca Maria, não consta a data do
falecimento.
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