Campo Entrincheirado de Lisboa - CEL
Corpo de Tropas de Guarnição de Lisboa - CTGL
O Corpo de Tropas de Guarnição de Lisboa foi criado pelo Presidente Sidónio Pais em Março de 1918, Decreto n.º 3960, de 20 de Março de 1918.
Inicialmente era composto por:
Posteriormente recebeu o 2º Grupo de Metralhadoras, incorporou todo o Regimento de Infantaria 1, uma Bataria de Posição, 1ª companhia de Telegrafistas, o Serviço de Aviação, Serviço Automóvel, Serviço de Saúde e Padaria de Campanha.
Em Julho de 1918, recebeu o 2º Batalhão do Regimento de Infantaria 30, de Bragança.
Sobre esta unidade militar existem os seguintes decretos: Decreto n.º 3960, de 20 de Março de 1918; Decreto 4255, de 7 de Maio de 1918; Decreto 4703, de 13 de Julho de 1918; Decreto 5186, de 26 de Fevereiro de 1919.
O CTGL foi dissolvido após a morte do Presidente Sidónio Pais.
Este sistema de defesa envolvia a área metropolitana de Lisboa através de um conjunto de fortificações, algumas antigas e adaptadas e outras modernas, sobre as quais foram colocadas peças de artilharia e comunicações por telefone e telégrafo. O desenvolvimento do Campo Entrincheirado de Lisboa deu-se ao longo do final do século XIX e início do Século XX. Viria a ser guarnecido com um efectivo permanente de 25.000 homens (Afonso, 2010:287), constituído por tropas de infantaria, artilharia e engenharia e dispunham de um Estado-maior próprio.
A Evolução do Sistema de Defesa da Capital
Plano de Defesa 1814 – Invasões Francesas
Durante as Invasões Francesas no século XIX, Portugal desenvolveu um sistema defensivo em redor da capital que ficou conhecido como Linhas de Torres. Este tinha o objectivo do sistema defensivo era de impedir a tomada do centro económico, administrativo e político do País.
Este compunha-se de quatro linhas defensivas e uma flotilha de defesa no Tejo.
1ª Linha – Entre Torres Vedras e Alhandra em terra e uma flotilha da Marinha no Tejo.
2ª Linha – Entre Ericeira e Vialonga.
3ª Linha – Em volta da Fortaleza de São Julião da Barra, para permitir o embarque das tropas britânicas e fuga em caso de destruição das duas primeiras linhas.
4ª Linha – na península de Setúbal, para proteger Lisboa a partir da margem sul.
Plano de Defesa 1833 – Guerra Civil
Após a tomada de Lisboa a 24 de Julho de 1833 pelos Liberais, estes tiveram a necessidade de reactivar um plano de defesa da capital, tendo reactivado um sistema defensivo em volta da cidade com base no sistema das Linhas de Torres.
O sistema defensivo ficou dividido em dois sectores em relação ao Tejo:
Sector Norte
1ª Linha – Constituída por fortes independentes
2ª Linha – Constituída por 11 fortificação permanentes, redutos e parapeitos entre Sacavém e Caxias
3ª Linha - Constituído por fortes, redutos e batarias dentro da cidade, entre Alcântara e a Madre de Deus.
Sector Sul
4ª Linha – Constituído pela linha de fortificações da Trafaria, Monte da Caparica, Pragal e Cacilhas, e com a fortificação central em Almada.
Plano de Defesa 1857 – Sá da Bandeira
Em 1857, o então Ministro da Guerra Marquês de Sá da Bandeira, nomeou uma comissão para o estudo do sistema defensivo de Lisboa. Essa comissão tinha também o objectivo de definir um plano de defesa para a cidade de Lisboa e o seu porto.
O estudo apontava inicialmente para o desenvolvimento de um sistema em três linhas, com o aproveitamento dos sistemas defensivos anteriores.
1ª Linha – Anel defensivo entre Sacavém e São Julião da Barra, centrado na fortificação da Serra de Monsanto (a construir);
2ª Linha – Aproveitamento da 3ª Linha de 1933 (fortes, redutos e batarias dentro da cidade, entre Alcântara e a Madre de Deus);
3ª Linha – Anel defensivo entre a Trafaria e Cacilhas, centrado no forte de Almada.
Em 1874 um relatório da comissão veio a definir o perímetro de segurança da capital entre Sacavém e Caxias, e em 1876 após a morte do Marquês de Sá da Bandeira, a ideia de aproveitamento das linhas defensivas de 1833 foi definitivamente abandonada e surge o conceito de defesa activa de Lisboa.
O plano de 1857 acabou por ter a seguinte forma final:
1ª Linha - Linha de Defesa Avançada, com fortificações em Alhandra, Sobral de Monte Agraço e Mafra (linha verde no mapa);
2ª Linha - Linha de Fortes Destacados, formando um anel entre Vialonga e Sintra (linha amarela no mapa);
3ª Linha - Recinto de Segurança Norte: entre Sacavém e Caxias (linha vermelha a norte do Tejo no mapa), com fortificações de apoio em Monsanto, Alto do Duque, Bom Sucesso e Ameixoeira;
4ª Linha - Recinto de Segurança Sul: entre Trafaria e Cacilhas (linha vermelha a sul do Tejo), com várias baterias, centralizadas no Forte de Almada.
É no Recinto de Segurança entre Sacavém e Caxias que se encontravam a maioria das fortificações e do esforço defensivo da cidade. Continha nove fortes interligados por uma estrada militar, com pontos defensivos formados por entrincheiramentos, redutos e parapeitos para a infantaria e artilharia. O Forte de Monsanto era considerado o reduto central do dispositivo de defensa, e como tal estava classificado como Praça de Guerra de 1ª Classe. Todas as restantes praças dependiam do comando instalado no Forte de Monsanto.
Em 1878 é criado o Serviço de Torpedos, ao qual competia os trabalhos para a defesa do porto de Lisboa através da utilização dos meios já referidos.
Em 1884 surge uma reorganização militar da autoria de Fontes Pereira de Melo, na qual se destaca a aquisição de bocas-de-fogo de origem alemã Krupp, com calibres de 280mm e de150mm, com destino a guarnecer as baterias do Bom Sucesso e de S. Julião da Barra e ainda a aquisição de peças de 75mm (Emerenciano, 2011:29).
Plano de Defesa 1899 - Criação do Campo Entrincheirado de Lisboa
Em 1899 foi criado oficialmente o Campo Entrincheirado de Lisboa (CEL) e classificado como Praça de Guerra de 1ª Classe. Em 1901 foi organizado em dois sectores, norte do Tejo e sul do Tejo, sendo que o perímetro da Praça ficou definido como sendo a área definida no Plano de 1857 por recintos de Segurança. Em 1902 ficou concluída a estrada militar que ligava o forte de Caxias ao Forte de Sacavém.
Entre 1902 e 1926 data da extinção do Campo Entrincheirado de Lisboa, teve um comando próprio comandado por um General e guarnição própria. O estado de prontidão mantinha um número elevado de tropas mobilizadas, se bem que em caso e guerra estava previsto o reforço com efectivos da 1ªDivisão do Exército, sediada em Lisboa.
A Marinha cooperava com o Campo Entrincheirado de Lisboa com o Cruzador Vasco da Gama, que serviria de bateria flutuante. Havia ainda fortes específicos de artilharia de Costa.
As fortificações do Campo Entrincheirado receberam peças de artilharia de praça modernas, de posição e de costa.
Bibliografia
AFONSO, Aniceto; GOMES, Carlos de Matos (2010), Portugal e a Grande Guerra, 1914 - 1918, Lisboa, Quidnovi.
OLIVEIRA, General A.N. Ramires (1995), História do Exército Português 1910-1945, Volume IV, Lisboa, Direcção dos Serviços de História Militar.
EMERENCIANO, Jaime (2011), A Artilharia na Defesa de Costa em Portugal, Tese de Mestrado, Lisboa, Academia Militar.
Campo Entrincheirado de Lisboa I
Campo Entrincheirado de Lisboa II
Campo Entrincheirado de Lisboa III
Campo Entrincheirado de Lisboa IV
Tertúlias de História Militar - Direcção de História e Cultura Militar - Apresentação do Coronel José Paulo Berger, Chefe do Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, 21 de Maio de 2017.
Sousa, Pedro Marquês de (2017), "A Artilharia de Costa na Defesa de Lisboa na 1ª Grande Guerra (10914-1918)", Revista de Artilharia, n.1100-1102 - Abril a Junho de 2017, pp.83-100.
CEL - Reorganização de 1918 (Governo sidónio Pais)
Frente Marítima
Com a publicação do Decreto n. 3771, de 20 de Janeiro de 1918, foi criado o Comando Central de Defesa Marítima, com o objectivo de dirigir e fiscalizar todos os serviços de defesa marítima no continente, ilhas adjacentes e arquipélago de Cabo Verde.
Competências:
Artigo 2º
a) Superintendência da defesa marítima do porto de Lisboa;
b) Batarias Marítimas, postos radiofónicos e semafóricos que anteriormente estavam sob a direcção da extinta Divisão Naval de Defesa;
c) Assistência no mar, comboios, transporte de tropas e fiscalização de docas;
d) Informações internas e externas que digam respeito à defesa naval nacional;
e) Patrulhas e rocegas no Porto [Leixões], Algarve [Lagos], ilhas adjacentes [Madeira e Açores] e Cabo Verde;
f) O comando superior e directo das unidades de combate não empregues nos serviços a que se referem as alíneas a) e e);
g) Centralização, organização e regulamentação dos serviços de saúde respeitantes ao pessoal do Serviço de Defesa Marítima [ADM - Auxiliares de Defesa Marítima].
Artigo 4º
O Comando Central de Defesa Marítima será dirigido por um Capitão-de-Mar-e-Guerra. [...].
Artigo 8º
A antiga Superintendência do Serviço Naval de Defesa Submarina passa a ter a designação de superintendência da Defesa Marítima do Porto de Lisboa e tem a seu cargo a direcção superior dos seguintes serviços:
a) Barragens interiores e exteriores;
b) Patrulhas auxiliares e de alto-mar, caça-minas, traineiras e pilotagem;
c) Aeronáutica naval, no que respeita ao serviço de patrulhas aéreas;
d) Minas, microfones e navios lança-minas.
Artigo 22º
Para os efeitos administrativos e disciplinares os postos de socorro de Bom Sucesso, Cascais e posto de enfermagem da Junqueira ficarão dependentes da unidade autónoma a que se refere a alínea a) do Artigo 8º. [Serviços de Barragens interiores e exteriores].
Artigo 23º
Para os efeitos administrativos e disciplinares os postos radiotelegráficos e os postos de observação ficam dependentes da unidade autónoma a que se refere a alínea a) do Artigo 8º. [Serviços de Barragens interiores e exteriores].
Publicado pelo Ministro da Marinha, 20 de Janeiro de 1918, António Maria de Azevedo Machado Santos, e aprovado pelo Governo de Sidónio Pais.
Dispositivo de Defesa Marítima - Grupos Tácticos 1914 - 1916
1º Grupo
Raposeira (sector II), Medrosa (Sector II) e Areeiro
2º Grupo
Parede, Lage e Raposeira (sector I)
3º Grupo
Alpenas, Medrosa (sector I), Lage, Bom Sucesso e Fontainhas
Dispositivo de Defesa Marítima - Grupos Tácticos 1917 - 1918
1º Grupo
Lage (sector I), (?)
2º Grupo
Lage (sector II), (?)