Corpo de Artilharia Pesada - CAP
Destruindo o Obus - Sousa Lopes
A artilharia pesada portuguesa não conseguiu alcançar o nível
de operacionalidade que desejava por falta de equipamento, uma vez que os
ingleses não forneceram o material acordado para armar completamente as
batarias do Corpo. Acabou por nunca vir a trabalhar como uma força colectiva
integrada no C.E.P.. No entanto, a notável acção de algumas das sua batarias junto de unidades
superiores britânicas foi suficiente para demonstrar o valor dos nossos
artilheiros. (1)
A mobilização de tropas para a constituição de um Corpo de Artilharia Pesada
para o C.E.P. apenas ocorreu em Janeiro de 1917. No entanto os homens só partiram de
Lisboa para Inglaterra em Maio de 1917. Foram directamente para a Escola de Artilharia em Harsham,
onde tiveram uma instrução militar que durou oito meses.
O Corpo de Artilharia Pesada foi comandado pelo Coronel
Francisco das Chagas Parreira, que acompanhou a formação dos seus oficiais e artilheiros ao
longo do período de instrução em Inglaterra, nos campos de instrução de Roffey-Camp e Hazeley-Down-Camp e ainda na escola de tiro de Lydd.
(2)
Os comandantes dos Grupos de Artilharia
era o Major Pires Leitão (1º Grupo) e o Major Crisóstomo da Silva (2º Grupo)(13).
Tropas portuguesas (C.A.P.) em Inglaterra
(12)
O chefe da missão britânica junto do
C.E.P. informou o General Tamagnini que no começo da instrução em Harsham
tudo tinha corrido bem, existindo inclusivamente um entusiasmo generalizado
entre os oficiais portugueses, mas depois deram a entender que não estavam a
aprender coisa alguma. É de considerar que os oficiais que foram para
Inglaterra já pertenciam à arma de artilharia e a instrução básica
ministrada pelos ingleses não acrescentava nada aos seus conhecimentos(9).
No final da instrução o C.A.P. foi
organizado em dois Grupos de Batarias de Artilharia Pesada, a cinco Batarias
cada, 10 no total, tendo os seus efectivos se reunido ao C.E.P. no final de Janeiro
de 1918. (6)
O tirocínio destes efectivos foi feito
junto das batarias de artilharia pesada britânicas que guarneciam o sector
português(10).
A questão do fornecimento não fornecimento
dos obuses pesados a Portugal
O Governo britânico tinha a intenção de
fornecer os obuses pesados ao Exército português conforme acordado, mas os
desenvolvimentos no teatro de guerra e uma vez que a Batalha de Jutlândia,
em Junho de 1916, não tinha conseguido anular por completo a Marinha alemã,
sem contar com os resultados da guerra submarina total, a defesa do
Grã-Bretanha tornava-se uma questão primária.
No final de 1917 a situação militar
aliada era muito grave. A paz separada da Rússia, a capitulação da Roménia,
as derrotas aliadas em Itália, onde se inclui o desastre de Caporetto, e a
incapacidade do comando de Salónica em desenvolver a frente de combate, eram
acrescidas com as progressivas dificuldades de recrutamento na Grã-Bretanha,
sobretudo na Irlanda, e na França. Contra a impossibilidade dos aliados
reporem as baixas com novos recrutamentos o alemães respondiam com um
reforço de milhares de homens experientes que de repente tinham sido
libertados da frente oriental. Os submarinos esfomeavam os britânicos e os
seus aviões e zepelins bombardeavam Londres.
Neste contexto de franca apreensão o
Governo britânico tomou medidas para a defesa do território metropolitano.
Para os ingleses a questão que se colocava era se os americanos chegariam a
tempo e em quantidade suficiente para defender a Grã-Bretanha.
Em 9 de Janeiro de 1918 o Governo
Britânico solicitou ao Governo Português, porque existia a iminência de um
raid, ou mesmo de uma invasão alemã, que as tropas portuguesas presentes em
solo britânico fossem empregues na defesa da ilha sob o comando de oficiais
britânicos.
A solicitação britânica tinha a
particularidade de solicitar que o comandante do C.A.P., Coronel
Chagas Parreira que se encontrava em Inglaterra, ficaria sob o comando de um
oficial de patente inferior (tenente-coronel), que exercia o comando da
região a defender, em nome do General Comandante em Chefe. O Governo
português e o Coronel Chagas Parreira acederam à solicitação, mas não chegou
a ser necessária esta subordinação de comando, perante a evolução do teatro
de guerra.(3)
No final de Janeiro de 1918 o contingente
que se encontrava em Inglaterra foi enviado para França.
Quando o Corpo foi transferido de
Inglaterra para a França não teve bocas de fogo próprias(4)
, tendo os destacamentos trabalhado nas batarias inglesas.
O General Tamagnini foi informado em Dezembro de 1917 que o C.A.P. não
iria receber obuses, porque o material que lhe estava destinado tinha sido
cedido à Itália. (5) O exército
italiano tinha acabado de sofrer uma enorme derrota em Outubro de 1917,
Batalha de Carporetto, onde tinha sofrido cerca 300.000 baixas (90% de
prisioneiros), mais a perda de cerca de 3.000 obuses, 2.000 morteiros e
3.000 metralhadoras (capturados pelos alemães e austríacos).
Reforço de efectivos do
C.A.P.
Em Fevereiro de 1918, foi emitida a
partir de Lisboa uma ordem para que os efectivos que se encontravam no
C.A.P.I., ao serviço do Exército francês, fosse incorporado no C.E.P.. Esta
ordem teve origem numa proposta inglesa do General Barnardiston, devido à
falta de material de artilharia pesada que o C.E.P. apresentava. Assim, dos
três Grupos Mistos de Artilharia Pesada, mais a Bataria de Depósito que
constituíam o C.A.P.I., foram retirados os efectivos que constituíam o 2º e
3º Grupo Misto de Artilharia Pesada e foram para o Havre, a fim de daí serem
transportados para um campo de intrusão em Inglaterra(7).
O General Tamagnini recebeu a 3 de Março
de 1918 um telegrama da Secretaria da Guerra, em Lisboa, a informação que o
pessoal do C.A.P.I., ao serviço da França passava a integrar o C.E.P..
Sem qualquer intervenção do comando português os homens foram alojados no
Havre, de onde partiram para Inglaterra na 3ª semana de Abril. O contingente
de artilheiros que partiu para Inglaterra teria aproximadamente de 32
oficiais e 1.016 praças(8).
A 23 de Abril de 1918, houve uma
insubordinação de um grupo de artilheiros portugueses na Escola de
Artilharia em Harsham, quando se recusaram a marchar para a instrução, tendo
inclusivamente agredido o seu oficial. Foi necessária a intervenção de
forças policiais britânicas para conter a situação. Ultrapassado momento, e
com a intervenção do comandante do C.A.P., Coronel Chagas Parreira, e
com a substituição do oficial foi restabelecida a ordem e a instrução
prosseguiu. A situação terá sido resultado da insatisfação do grupo por
considerar que tinha passado meses a aprender as manejar as armas francesas
e agora voltava a ter uma nova instrução com material inglês completamente
diferente(11).
A Artilharia em Combate
Março 1918
Em França distinguiram-se em combate duas das batarias do
Corpo, a 4ª Bataria do 1º Grupo por serviços prestados durante o mês de Março
de 1918, incorporada numa unidade britânica sob o comando do General Vincent,
que também cooperou com o C.E.P. nesse período de grande actividade do sector
português.
Abril 1918
Também em França distinguiu-se em combate a 5ª Bataria do 1º
Grupo por ocasião do 9 de Abril de 1918, que também incorporada numa unidade
britânica se bateu valentemente até à aproximação do inimigo e mesmo assim
só depois de inutilizar o material, o que lhe valeu ser galardoada com a
Cruz de Guerra de 1ª Classe. Neste combate foi promovido por distinção o
soldado José Alves a 1º Cabo, pela sua acção. Ele foi ainda condecorado pelo
exército britânico com a "Distinguished Conduct Medal", a mais alta
recompensa concedida pelos britânicos a praças. Foi este artilheiro que o
pintor Sousa Lopes imortalizou no seu quadro "Destruindo o Obus".
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