C.A.P.I.

 

 
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O Corpo de Artilharia Pesada Independente - C.A.P.I.

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O Corpo de Artilharia encontrava-se organizado de forma independente ao Corpo Expedicionário Português (CEP) e esteve estabelecida em diversos locais, incluindo outras frentes de combate. Cooperaram directamente com os aliados, tendo recebido com frequência referências elogiosas relativamente à capacidade de acção e ao valor técnico dos oficiais e praças de artilharia.

Foi a França que solicitou a Portugal, em 26 de Dezembro de 1916, a cedência de artilharia portuguesa para o "front", como auxílio directo de Portugal à França. Não existindo a vontade de ceder o nosso material de artilharia pesada, após conversações, foi contraposto à França a cedência de "pessoal de artilharia para constituir no front francês, 25  batarias de artilharia pesada" que ficariam sob as ordens do Exército Francês e independentes das Divisões Portuguesas que cooperavam com o Exército Britânico. Para tal o Governo Português recrutou pessoal do exército e algum da marinha de guerra, e colocou no comando do Corpo de Artilharia o Coronel João Clímaco Homem Teles. A 10 de Maio partiram os primeiros oficiais e praças para França, para preparar o aquartelamento e administrativamente a chegada dos artilheiros.

O acordo entre o Governo Português e o Governo Francês, "Convenção Militar para o Emprego de forças Portuguesas de Artilharia Pesada na Linha Francesa de Operações em França" foi assinada pelo Ministro da Guerra Português Norton de Matos e o Ministro da Guerra Francês Paul Painlevé, em 17 de Maio de 1917.

Este acordo deu origem ao Corpo de Artilharia Pesada Independente (C.A.P.I.), que foi inicialmente organizado com 10 batarias. A composição inicial compunha-se de 1 coronel, 4 majores (para comandar os grupos de batarias), 8 capitães, 5 tenentes e alferes e 10 sargentos. Três dos majores ficaram a comandar 3 grupos tácticos a três batarias e um major a comandar o depósito.(1)

 

A 15 de Janeiro de 1918, o efectivo do Corpo de Artilharia portuguesa passou a ser de 70 oficiais e 1.569 praças.

 

Em Abril de 1918, após a redução orgânica do C.A.P.I., para um grupo misto e uma bataria de depósito, passou a contar com um efectivo de 38 oficiais e 553 praças ao serviço da França.

 

Em Ordem de Serviço do CEP, de 10 de Novembro de 1918, foi publicado que o C.A.P.I. seria extinto em 30 de Novembro do mesmo mês e que as suas batarias seriam deixadas em França. O pessoal  do Corpo ficou acantonado em Crecques, onde trabalhou no arrasamento de trincheiras e remoção de arame farpado até Março de 1919. A 3 de Abril de 1919 o Corpo de Artilharia foi para Cherbuourg, onde embarcou no vapor inglês "N.W. Miller", que o repatriou.

 

 

 

Comandantes do C.A.P.I.

 

De 17 de Maio de 1917 a 15 de Janeiro de 1918, o CAPI foi comandado pelo Coronel João Clímaco Homem Teles que por motivos de saúde solicitou a sua exoneração

 

Coronel João Clímaco Homem Teles, comandante do CAPI.  

 

De 15 de Janeiro de 1918 a 30 de Novembro de 1918, o CAPI foi comandado pelo Tenente-coronel Tristão da Câmara Pestana, que entretanto foi promovido a Coronel.

 

Coronel Tristão da Câmara Pestana, comandante do CAPI

 

Em Ordem de Serviço do CEP, de 10 de Novembro de 1918, foi publicado que o C.A.P.I. seria extinto em 30 de Novembro do mesmo mês e que as suas batarias seriam deixadas em França. O pessoal  do Corpo ficou acantonado em Crecques, onde trabalhou no arrasamento de trincheiras e remoção de arame farpado até Março de 1919. A 3 de Abril de 1919 o Corpo de Artilharia foi para Cherbuourg, onde embarcou no vapor inglês "N.W. Miller", que o repatriou.

 

Campo de Instrução de Artilharia Pesada de Bailleul

Foi instalado em França, junto a Bailleul-sur-Thérain, um campo de instrução para o C.A.P.I., com a intenção de efectuar treinos conjuntos com unidades de artilharia francesa que para aquela zona se deslocavam quando eram retiradas do front para descanso. Parte do pessoal de artilharia também ficou alojado numa outra aldeia perto do campo de treino denominada Froidmont e outra parte nas instalações, então desocupadas e reconstruídas, que existiam em Bailleul para prisioneiros de guerra.

Foi colocado à disposição do comando português quatro peças de calibre 320mm, que se encontravam em descanso e que eram conhecidas pelo nomes de "Bourrasque", "Tempête", "Simoun" e "Cyclone".

CAPI- Bateria de 320mm em Bailleu. A peça chamava-se "Bourrasque" 

CAPI- Bateria de 320mm em Bailleu. A peça chamava-se "Bourrasque"

Assim que os os oficiais se encontraram instalados e se iniciou a instrução, Agosto de 1917, foram pedidos de imediato a Lisboa, mais quadros e praças destinadas aos serviços das peças (serventes, apontadores, sinaleiros, etc.), tendo sido enviados de Portugal, oficiais e praças do 2º Batalhão de artilharia de costa de Lisboa. Os primeiros oficias para completar as guarnições começaram a chegar em Setembro e a 17 de Outubro de 1917, chegaram a 20 oficiais, 44 sargentos e 714 praças, que tinham sido transportados a bordo do "NRP Pedro Nunes" até Brest.

A 22 de Outubro iniciou-se a instrução no campo de Bailleul (Bailleul-sur-Thérain) com batarias ferroviárias de 320mm e uma guarnição de artilheiros foi enviada para o campo de instrução de Mailly, iniciou nesta mesma data iniciou a instrução com uma peça de artilharia ferroviária de 190mm.

Em 4 de Novembro de 1917, o Corpo de Artilharia já estava dotado do material ferroviário de combate, abastecimento e de alojamento e a área de aquartelamento concluídos. Pronto para combate, o Corpo de Artilharia Pesada Independente, passou a ser denominado pelo exército francês como:  "Corps Artillerie Lourde Portugais", (C.A.L.P.). (2)

A 15 de Janeiro de 1918 chegou a França um segundo contingente de 26 oficiais e 500 praças para complementar os efectivos do Corpo de Artilharia, que passaram a ser de 70 oficiais e 1258 praças. 

CAPI - Bateria de 190mm, em Bailleu.

 Orgânica do "Corps Artillerie Lourde Portugais"

A Ordem do Corpo, do dia 4 de Novembro de 1917, indicava a seguinte organização: 3 grupos a 3 batarias cada mais uma bataria de depósito. Assim o 1º Grupo Misto de Artilharia compunha-se da 1ª, 2ª e 3ª Bataria, o 2º Grupo Misto de Artilharia compunha-se da 4ª, 5ª e 6ª Batarias e o Grupo Misto de Artilharia da 7º, 8ª e 9º Batarias. Havia ainda a 10ª Bataria que era denominada Bataria de Depósito.

O Corpo era composto por Comando, Estado Maior e 3 Grupos Mistos a 3 Batarias, sendo uma Bataria de 320mm e as outras duas Batarias de 190mm ou de 240mm. Cada Grupo Misto tinha 1 major com 3 adjuntos, 3 capitães, 9 oficias subalternos, 4 médicos, 41 sargentos e 467 praças, além do pessoal privativo dos caminhos de ferro. Para a Bataria de Depósito 1 capitão, um oficial subalterno, 2 sargentos e 43 praças. Sem quantificar o pessoal civil necessário para o caminho de ferro, o Corpo de Artilharia tinha um total de 62 oficiais, 125 sargentos e 1.444 praças.

O material de artilharia distribuído ao C.A.P.I. pelos franceses, designado A.L.G.P. (Artillerie Lourde Grand Puissance), não era mais do que artilharia de costa que tinha sido retirada das suas posições e acomodada em vagões de caminhos de ferro. As vias férreas  asseguravam o deslocamento rápido destas peças. Para a execução de tiro muitas vezes era necessário o reforço da via férrea, por forma a absorver o recuo.

Os calibres 190mm e 240mm eram consideradas unidades de artilharia de média potência e as de 320mm de grande potência. Todas as peças estavam montadas sobre em reparos, podendo efectuar fogo em qualquer ponto da via férrea. As peças de 190mm e 240mm tinham um alcance médio de 15 Km e as peças de 320mm cerca de 20Km. O Corpo de Artilharia tinha a capacidade de iniciar fogo em poucos minutos e uma capacidade de deslocamento de 30 Km/h, através da utilização de potentes locomotivas. Todas as unidades portuguesas disponham de material de tracção e rolante necessário a manobrar e a viver constantemente em vagões.

Cada peça de 320mm tinha o seu trem de combate e formava um combóio independente. Este era constituído pelo vagão da peça, por um ou mais vagões de munições, um vagão de vigotas de ferro, um vagão com material para assentamento, um vagão de material diverso para serviço e limpeza da peça, uma locomotiva e vagão cisterna da locomotiva. Uma bataria de 320mm, de quatro peças, deslocava-se com 5 locomotivas e cerca de 50 vagões diversos. Uma bataria de 190mm, ou de 240mm, podia formar um único combóio de 27 vagões com duas locomotivas pequenas, ou deslocar-se de forma fraccionada.

Para além dos "trens de combate", as batarias eram acompanhadas por "trens de acantonamento", formados por vagões de comando e de alojamento de oficiais, vagões sala de jantar e cozinhas, vagões enfermaria, vagões oficina e vagões caserna para alojamento dos praças. Uma coluna rolante do C.A.P.I.,  Estado Maior, uma bataria de 4 peças de 320mm e uma bataria mista de 1 peça de 320mm e 2 peças de 240mm, levava em material rolante 13 locomotivas e 125 vagões, entre especiais e ordinários de serviço.

O Corpo de Artilharia português tinha capacidade de deslocação rápida e intervinha em locais onde outras artilharias não conseguiam cumprir o objectivo, fosse por falta de alcance ou por necessidade de maior poder de destruição.  Eram alvos primários: pontos de apoio fortemente organizado, localidades, gares importantes, nós de comunicação, pontes e vias de reabastecimento, parques e bivaques, artilharia em oposição e instalações de balões cativos.  

Em Fevereiro de 1918, foi emitida a partir de Lisboa uma ordem para o C.A.P.I. ser incorporado no C.E.P.. Esta ordem teve origem numa proposta inglesa do General Barnardiston, devido à falta de material de artilharia pesada que o C.E.P. apresentava. Dos três Grupos Mistos de Artilharia Pesada, mais a Bataria de Depósito, o 2º e 3º Grupo Misto de Artilharia Pesada foram deslocados de Bailleul-sur-Thérain para o Havre, a fim de daí serem transportados para um campo de intrusão em Inglaterra. Apenas a 1º Grupo Misto de Artilharia Pesada e a Bataria de Depósito ficaram em França e adstritas ao comando do exército francês. (4)

O General Tamagnini recebeu a 3 de Março um telegrama da Secretaria da Guerra, em Lisboa, a informação que o pessoal do C.A.P.I., ao serviço da França passava a integrar o C.E.P.. No entanto, apenas os homens do 2º e 3º Grupo é que deixaram o C.A.P.I. tendo estes ficado a aguardar por transporte para Inglaterra para receberem treino com obuses ingleses. Sem qualquer intervenção do comando português os homens foram alojados em Havre, de onde partiram para Inglaterra na 3ª semana de Abril. O contingente de artilheiros que partiu para Inglaterra seria aproximadamente de 32 oficiais e 1.016 praças(5).

A 1ª Bataria (320mm) em Acção de Combate

Em 12 de Março de 1918, a bataria, comandada pelo Capitão Gonçalo Pinto, cumpriu a ordem de se deslocar para Vailly e de ficar a aguardar instruções do 6º Corpo de Exército Francês. Chegou ao local de estacionamento no final do dia, o qual se encontrava a uma distância de 6,5 Km das primeiras linhas alemãs.

Tinha sido identificado por fotografia aérea que se encontravam naquela zona algumas batarias alemãs escondidas num bosque. A 16 de Março a bataria de 320mm posicionou-se nos ramais de Soupir, a sul do planalto de Chemin des Dames. Abriu fogo sobre as peças de artilharia inimigas, que se encontravam a cerca de 18 km e fez um total de 60 tiros. O tiro foi conduzido por um avião de observação que enviou uma mensagem a indicar que o bombardeamento tinha sido efectuado com sucesso.  

CAPI - Bateria de 320mm a fazer fogo em 12 de Março de 1918, em Soupir, nas margens do Aisne. Foto de Dr. Fernando Correia  CAPI - Bateria de 320mm, a fazer fogo em Courcelles

Em 27 de Março a 1ª Bataria volta a fazer fogo sobre as linhas alemãs, desta vez dos ramais de Sommesous, no sul do Marne, em apoio à contra-ofensiva que os franceses estavam a executar. (3)

 

 

     

 

   

 

C.A.P.I.: Efectivos totais 1.639, mortos em combate 0

 

1917-1918

Mortes

Em Combate Por doença (outras) Pneumónica Total
Oficiais 0 0 0 0
Praças 0 5(100%) 0 5

Nota: Verificaram-se 5 feridos, 3 por acidente em serviço e 2 por fogo inimigo.

 

    Links
  1. Martins(1934), pp. 91-92.
  2. Martins(1934), pp. 92-96.
  3. Martins(1934), pp. 102-107
  4. Fraga(2003), pp.62-4.
  5. Marques(2004), p. CXCVII

 

    Notas

 Batalhão de Sapadores de Caminhos de Ferro

 

 

 

Bibliografia

  • Martins, Ferreira (1934), "Portugal na Grande Guerra", Vol. II, 1ª ed., Lisboa, Empresa Editorial Ática

  • Fraga, Luís Alves de (2003), "Guerra e Marginalidade", 1ª ed, Lisboa, Prefácio, (ISBN:972-8563-96-5)

  • Marques, Isabel Pestana (2004), "Memórias do General 1915-1919: Os meus três comandos de Fernando Tamagnini", 1º ed. Lisboa. Viseu, SACRE - Fundação Mariana Seixas. (ISBN:972-99180-0-7)

 

 

 

 

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Este site foi actualizado pelo última vez em 17-03-2013