A Solidariedade

 

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C.M.P.

 

O Papel das Associações de Solidariedade

As Associações Femininas

 

Comissão Feminina "Pela Pátria"

Criada com o objectivo de recolha de donativos, agasalhos e matérias-primas para os soldados mobilizados.

Fundada em 1914 por Ana Augusta de Castilho (professora), Antónia Bermudes, Ana de Castro Osório (escritora e também dirigente a organização "Cruzada das Mulheres Portuguesas")  e Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho (escritora), a Comissão Feminina Pela Pátria correspondeu à primeira tentativa de mobilizar as portuguesas para o esforço de guerra.

Tinha-se formado com a finalidade de fabricar uma bandeira para os soldados e, como tal não foi possível, passou a dedicar-se à recolha de lã e ao fabrico de agasalhos para eles, sempre com sucesso, tendo actuado junto de Câmaras Municipais, do professorado primário feminino e das associações de mulheres.

Recebeu todo o apoio da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (LRMP) e da Associação de Propaganda Feminista (APF), e funcionava no prédio onde vivia a família de Ana de Castro Osório, na Rua do Arco do Limoeiro1.

 

Associação "Cruzada das Mulheres Portuguesas"

Criada com o objectivo de apoiar os soldados portugueses mobilizados.

Fundada em Março de 1916, por Elzira Dantas Machado, teve uma efectiva implantação nacional. Propunha-se organizar festas e angariar donativos a fim de socorrer os soldados e famílias portuguesas vítimas da actual guerra.

Mobilizou grande parte das mulheres dos ministros e ex-ministros republicanos, para além de muitas anónimas em todo o país, e embora se tratasse de uma iniciativa da esposa do Presidente da República Bernardino Machado, Elzira Dantas Machado,  que também era Presidente da Associação de Propaganda Feminista (APF),

Não houve na constituição da Cruzada das Mulheres Portuguesas a intenção de criar mais uma associação de defesa dos direitos das mulheres, mas sim da defesa do interesse nacional 2

No Paço de Belém, Alzira Dantas Machado (Presidente) com as senhoras que formam a comissão da Cruzada das Mulheres Portuguesas

Para a recolha de fundos organizavam festas e outras diversões, por vezes em conjunto com a Cruz Vermelha Portuguesa, ou em iniciativas de "O Século", como a participação na Festa da Flor, no Jardim da Estrela, com fins patrióticos e humanitários.

 

Nota Histórica

 

A Cruzada das Mulheres Portuguesas foi criada a 20 de Março de 1916, por iniciativa de um grupo de mulheres, presidido por Elzira Dantas Machado, esposa do então Presidente da República, Bernardino Machado. Fundada para prestar assistência moral e material aos que dela necessitassem por motivo da guerra com a Alemanha, nos termos da respectiva Lei Orgânica. Os Estatutos, aprovados por Alvará do Governo Civil de Lisboa de 19 de Agosto de 1916 e do seu último Relatório, apresentado em Abril de 1933 pela Presidente cessante, Ana de Castro Osório. Organizou, em 1917, cursos de enfermagem destinados a preparar enfermeiras para os hospitais militares do País e dos corpos expedicionários; funcionaram estes cursos em Lisboa, num hospital Policlínico fundado por esta instituição, no antigo colégio de Campolide que o Governo lhe cedeu a título precário.


Um grupo de enfermeiras militares ainda prestou serviços, em 1918, mas por pouco tempo, nos hospitais da base do C.E.P., em França.
A recuperação dos feridos e doentes da Guerra e a reeducação dos mutilados mereceram também os cuidados deste organismo. Fundou a C.M.P. um hospital para recuperação, em Hendaia, e um Instituto de Reeducação dos Mutilados da Guerra. Assegurou a correspondência com afilhados de Guerra e teve a seu cuidado e tutela 285 órfãos de Guerra a quem subsidiou durante a infância e na escola primária.
Tratou depois da colocação dos rapazes em empregos compatíveis com as aptidões e às raparigas constituíram cadernetas de renda vitalícia.


Em 8 de Janeiro de 1918, por força do disposto no decreto-lei n° 3 372 (D.G. n° 6, 1ª Série), foram transferidos para a posse do Ministério da Guerra, os Institutos e os estabelecimentos hospitalares a cargo da C.M.P.
A sua extinção ocorreu em 1938, tendo o seu património sido transferido para a Liga dos Combatentes da Grande Guerra9.

 

 
O Triângulo Vermelho Português
Em Paris existia uma cantina-dormitório com capacidade para alojar aproximadamente 100 pessoas e que prestava auxilio aos militares em trânsito naquela cidade.
Cruz Vermelha Portuguesa

Antes da entrado no teatro da Flandres existiram frequentes acções de recolha de fundos para a Cruz Vermelha Internacional. A partir de 1916, o General Joaquim José Machado,. Presidente da CVP, passou a organizar eventos para recolha de fundos para o ramo português, como por exemplo o  grande festival do Jardim Zoológico (Junho 1916), com a presença do Sr. Presidente da República e esposa 4 ou a participar em eventos conjuntos como o que se passou no "Lisbon Criket Fiel" da Cruz Quebrada.

 Senhoras da Cruz Vermelha Portuguesa e Inglesa no "Lisbon Criket Fiel" da Cruz Quebrada (JUN-1916)

Comité de Socorros aos Militares e Civis Portugueses Prisioneiros de Guerra

A 18 de Fevereiro de 1917, no Hotel Richemont em Lausane, foi constituído um Comité de Socorro aos militares e civis portugueses prisioneiros de guerra. Vinte cinco personalidades estiveram presentes, entre elas o Embaixador Bartolomeu Ferreira e o Visconde Faria, Cônsul Geral em Lausane. Elegeram uma comissão de organização e propaganda. Os participantes, para reduzirem as despesas, decidiram  filiar-se na Associação Pietas, dependente da Cruz Vermelha, que se encontrava instalada em Berna sobre a Direcção de Óscar de Watteville, Cônsul de Portugal em Berna.

Durante os primeiros meses, o Comité organizou-se, recolheu fundos e obteve da Cruz Vermelha, em Genebra, a lista dos prisioneiros portugueses e começou a enviar encomendas "colis" a alguns cativos na Alemanha. Este trabalho inicial deveu-se fundamentalmente ao empenho da Condessa Penha Garcia.

Foram igualmente distribuídas 300 cartas entre os prisioneiros e as famílias, no período de Março de 1917 a Março de 1918. Em 12 de Maio de 1917 o Comité organizou um soirée artístico e dançante para angariação de fundos. 

O Diplomata Bartolomeu Ferreira conseguiu negociar e assim evitar que o apoio dado ao Comité português pela Associação Pietas diminuísse, situação que se colocava dadas as dificuldades de obter alimentos na Suíça.

As encomendas (colis) eram enviadas duas vezes por mês e pesavam, cada uma, entre 3 a 5 kg e custavam entre 10 a 12 Francos Suíços. Cada pacote era preparado pelas senhoras da Cruz Vermelha e soldados franceses internados na Suíça, que colocavam nas etiquetas os nomes e locais dos destinatários.

O seguinte quadro apresenta os "colis" enviados pelo Comité de Socorro aos Prisioneiros Portugueses na Alemanha: 

1917

Março

20

1917

Abril

33

1917

Maio

84

1917

Junho

109

1917

Julho

124

1917

Agosto

126

1917

Setembro

212

1917

Outubro

275

1917

Novembro

239

1917

Dezembro

255

 

1918

Janeiro

275

1918

Fevereiro

416

1918

Março

294

1918

Abril

287

1918

Maio

1030

1918

Junho

4228

1918

Julho

767

1918

Agosto

7269

1918

Setembro

5566

1918

Outubro

3537

1918

Novembro

1234

No final da guerra Bartolomeu Ferreira indicou que a comissão terá auxiliado perto de 5000 prisioneiros portugueses, mas estudos mais recentes apontam para um número próximo de 7000. Sem entrar no debate sobre a quantidade de prisioneiros assistidos, a verdade é que após Abril de 1918 o Comité de socorro aos prisioneiros teve grandes dificuldades. Foi necessário encontrar financiamento, alimentos e pessoas disponíveis ara ajudar. Bartolomeu Ferreira tinha consciência de que os nossos prisioneiros, que se encontravam num país onde a própria população tinha grande restrições de alimentos, necessitavam urgentemente de viveres e roupa.

Foi o Comité franco-belga de ajuda aos prisioneiros, por indicação do Governo francês, que vendeu a grande quantidade de artigos necessários ao Comité português, constituindo-se o principal fornecedor dos portugueses8.

 

Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses

A Comissão PPGP empacotou roupas e agasalhos para os prisioneiros de guerra portugueses. Até Setembro de 1918 já tinham sido enviados 7.765 peças de roupa, agasalhos e outros artigos adquiridos com o dinheiro obtido das subscrições de o Jornal o Século efectuou. Uma a favor dos feridos de guerra e outra a favor dos prisioneiros de guerra. As encomendas foram enviadas para França em 117 "fardos". Este trabalho de expedição foi organizado pelas Senhores D. Lívia Fachada  (Presidente da Comissão), D. Maria del Pilar Santos Nogueira, D. Alice Conceição Feio e D. Teresa Santos5.

Em 23 de Setembro de 1918, a Ilustração Portuguesa n.º 657 fazia referência ao esforço incansável da Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses, na obtenção de auxílio junto do comércio, e faz referência à importância que estas encomendas tinham na protecção moral e material dos cativos.

A necessidade deste auxílio é tanto mais premente, quanto a consciência das instâncias oficiais parecerem alheias à má situação dos prisioneiros de guerra portugueses. É um verdadeiro esforço levado ao nível de um dever de garantir um tratamento condigno.

Parece que o Estado interveio  no apoio aos familiares dos militares mortos em combate, esquecendo-se dos prisioneiros e das suas famílias7.

 

Grande Comissão Portuguesa - "Pró-Pátria"

Foi uma fundação de assistência da colónia portuguesa do Brasil, aos órfãos da Grande Guerra. Constituída em 16 de Março de 1916, laçou quatro subscrições até 31 de Dezembro de 1018, entre a colónia portuguesa no Brasil, com vista a obter donativos para a grande obra que se tinha em vista. A ordem de lançamento foi a seguinte: "Grande Subscrição Patriótica", "Subscrição por Quotas Mensais", "Subscrição Popular" e a "Subscrição entre Brasileiros Filhos de Portugueses".

Em Dezembro de 1918, a Comissão tinha angariado mais de 2 milhões de escudos.

A primeira subscrição "Grande Subscrição Patriótica", lançada logo após a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, rendeu um valor superior a 700 mil escudos. Os fundos foram destinados para a recolha, alimentação, vestuário e educação dos filhos dos soldados portugueses que viessem a morrer na guerra, ou em consequência de ferimentos recebidos em combate, ou doenças contraídas em campanha. As seguintes subscrições mantiveram o mesmo objectivo: a "Subscrição por Quotas Mensais" rendeu um valor superior a 1 milhão de escudos, a "Subscrição Popular" rendeu aproximadamente 200 mil escudos, e a "Subscrição entre Brasileiros Filhos de Portugueses" rendeu perto de 14 mil escudos. Foram ainda recebidos mais donativos fora destas campanhas.

Para além da beneficência da obra de protecção aos órfãos da guerra através da criação de um asilo, a Pró-Pátria contribuiu ainda para a Cruz Vermelha Portuguesa, para a Assistência Religiosa ao Exército Português e para os flagelados pela "Gripe Espanhola".

A Grande Comissão Pró-Pátria, teve em vista angariar e aplicar donativos dos portugueses residentes no Brasil.

 

 

 

 

A Acção do Jornal "O Século"

O Jornal "Século" desde o início do conflito que tomou em mão a angariação de fundos para solidariedade com os combatentes portugueses em África e os soldados franceses na Europa, por via de subscrições públicas, ou angariação de fundos, com iniciativas como a promoção das Festas das Flores, onde recolhia fundos para o tratamento de feridos da guerra.

Em Janeiro de 1916 concluiu a 6º  campanha, em favor dos feridos de guerra. Para os nossos soldados em África foram enviadas duas remessas de socorros e para os hospitais em França quatro remessas de socorro. Anteriormente, e ainda em Janeiro, já tinham sido enviados 22 fardo de diversos agasalhos, dos quais o Embaixador de Portugal em França destinou sete para serem entregues a prisioneiros de guerra 3.

    

Em Junho de 1918 os portugueses estavam cientes da situação dos prisioneiros de guerra e já se começavam a organizar e a comunicar com as associações e comunidades portuguesas que se encontravam na Suíça. Através desta conseguiam, com alguma regularidade, trocar correspondência e entregar encomendas os denominados "colis" (nome pelo qual as encomendas para os prisioneiros, com alimentos e roupa, eram conhecidas)

Esta logística estava a cargo das senhoras que constituíam a Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses, que trabalhavam em conjunto com o Secretário de Estado dos Negócios de Guerra e outras entidades, para conseguir o envio regular das encomendas6.

Transporte de encomendas chegadas de Portugal para os prisioneiros portugueses em Karlsruhe

 

 

CMNMGG - Comissão do Monumento Nacional aos Mortos da Grande Guerra

Nomeada pela portaria de 9 de Abril de 1920 expedida pelos Ministérios da Guerra, Marinha e Colónias. Instalou-se e iniciou trabalhos a 11 de Abril de 1920 na sala das Comissões da Câmara Municipal de Lisboa.


Uma das suas primeiras iniciativas consiste na angariação de fundos para o monumento através de uma subscrição nacional.
A actividade desta Comissão foi intensa na intenção da construção do Monumento Nacional aos Mortos da Grande Guerra em Lisboa apenas inaugurado em Novembro de 1931 - O esforço da Raça, a Pátria eleva, era um trabalho de Maximiano Alves e Rebelo de Andrade.

Lisboa - "Aos Portugueses mortos pela Pátria, na Grande Guerra, na França, em África e no mar"        Lisboa - "Aos Portugueses mortos pela Pátria, na Grande Guerra, na França, em África e no mar"

Monumento aos mortos na Grande Guerra (Av. da Liberdade - Lisboa)

Este monumento é dedicado "aos Portugueses mortos pela Pátria, na Grande Guerra, na França, em África e no mar".

Em 9 de Abril de 1920, ao comemorar-se o esforço dos nossos soldados na Grande Guerra, surgiu a ideia de erguer um monumento aos heróis mortos. Constituída a Comissão Nacional, presidida por Magalhães Lima, e, depois, sucessivamente pelos generais Abel Hipólito e Roberto Baptista, a primeira pedra foi colocada pelo Presidente da Republica, Dr. António José de Almeida em 9 de Abril de 1923.  A inauguração efectuou-se a 22 de Novembro de 1931, com a assistência do Chefe de Estado, General Carmona e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, general Vicente de Freitas. O monumento que tem por legenda "Ao serviço da Pátria o esforço da Grei", teve por escultor Maximiano Alves e por arquitectos Guilherme e Carlos Rebelo de Andrade. A figura da Pátria, de pedra, ao alto, coroa o soldado moldado em bronze. Lateralmente, duas figuras plásticas sustentam a Pátria, num esforço supremo.

 

CPGG - Comissão dos Padrões da Grande Guerra

A Comissão dos Padrões da Grande Guerra protagonizou os fenómenos de maior sucesso na intenção do Governo Republicano na sagração da memória nacional.

No dia 3 de Dezembro reuniram-se na sala nobre da Escola Militar, sob a presidência do General Gomes a Costa, alguns combatentes que formariam a base da origem da CPGG que durante quinze anos iria proceder ao levantamento dos padrões da Grande Guerra.


Desenvolveu uma obra avaliada em 2000 contos; erigiu sete padrões no antigo sector português da Flandres e outros em Luanda, Lourenço Marques, Ponta Delgada e Santa Maria; promoveu as comemorações do 9 de Abril e do 11 de Novembro; organizou e administrou o Museu das Oferendas ao Soldado Desconhecido; lançou o culto cívico do Azeite Votivo; secundou a acção da Junta Patriótica do Norte com o incentivo à construção de monumentos concelhios e do monumento a Carvalho Araújo em Vila Real; e fez transladar os restos mortais do primeiro soldado morto na Flandres do Cemitério de Richebourg l'Avoué para a Barquinha. Meios monetários e logísticos não faltavam, «por meio de uma intensa propaganda patriótica, em sessões solenes, conferências e festivais», com o apoio de comunidades portuguesas no estrangeiro, sobretudo a brasileira, e a aposição obrigatória do selo dos padrões da Grande Guerra.
 

JPN – Junta Patriótica do Norte

 

Com a denominação de Junta Patriótica do Norte foi constituída na cidade do Porto com os fins de propaganda patriótica e assistência às vítimas da guerra.


A duração acompanhará o conflito com a Alemanha e dissolve-se apenas quando a direcção o achar conveniente. Os fundos são constituídos por cotizações de voluntários e seus membros entre outras verbas.


Constituída em 15 de Março de 1916, os seus estatutos foram aprovados em Sessão Plenária de 8 de Abril de 1916, dirigida pelo Professor Alberto de Aguiar.


Depois da fase preparatória dedicou-se à sua intenção de prestar assistência aos combatentes e órfãos da Grande Guerra.
Inaugurou em 25 de Maio de 1917 a Casa dos Filhos dos Soldados, para que um mês depois já albergasse 42 órfãos, num espaço coordenado pelo Núcleo Feminino de Assistência Infantil.

 

A iniciativa para a construção de monumentos concelhios em homenagem aos mortos da Grande Guerra partiu da JPN, a que se devem os primeiros exemplares, nomeadamente o obelisco colocado no espaço do antigo hospital da Cruz Vermelha Portuguesa em França, em 30 de Julho de 1919, e também no Porto, da autoria do arquitecto José de Oliveira Ferreira, o qual foi destruído em 1924 e substituído por um outro monumento da autoria de Henrique Moreira, em 192810.

 

 

LCGG - Liga dos Combatentes de Grande Guerra

 

 A origem dos movimentos de veteranos em Portugal resulta da participação militar na Grande Guerra de 1914-1918. Com efeito, esta contenda despoletou, nos vários países envolvidos, uma ampla discussão do estatuto e enquadramento social do antigo combatente. Para dar resposta às múltiplas necessidades de um grupo de vítimas físicas e psicológicas, não só combatentes, como respectivos familiares, e na continuidade da acção de algumas organizações criadas ainda durante a intervenção militar, como a Junta Patriótica do Norte, apareceu, em 1921, a Liga dos Combatentes da Grande Guerra, claramente tardia no contexto europeu.


Na acta da primeira reunião oficial, encontram-se delineados os objectivos que pautaram a sua fundação: "Em Abril de mil novecentos e vinte e um, e em razão das injustiças feitas aos que na Grande Guerra combateram, especialmente aos mutilados e estropiados, e ainda devido ao desprezo a que eram votados pelos poderes constituídos, os quais não só tomavam na devida conta, mas até propositadamente esqueciam as justas reclamações de muitos, que após haverem cumprido o seu dever, conjuntamente com o juramento que antes haviam feito de darem o seu sangue pela Pátria" com o intuito "de não só pugnarem pelos seus interesses, e de suas famílias, valendo-se de si próprios, mas ainda de erguerem o nome do nosso país lá fora."


O primeiro esforço para a criação da Liga foi feito no ano de 1919, renovado em 1921 com maior número de apoiantes, até que em 1923 numa reunião magna saíram os primeiros corpos directivos, sendo oficializada a 29 de Janeiro de 1924, com o nome de Liga dos Combatentes da Grande Guerra, propondo-se os estatutos, submetidos a posterior apreciação. No entanto, só em 1929 é aprovado o seu estandarte e autorizada a sua utilização em actos oficiais.


A sede da Liga era provisoriamente nos escritórios de Faria Afonso na Rua de S. Paulo em Lisboa, sendo, depois da oficialização, concedido um espaço na Direcção de Arma da Aeronáutica e mais tarde na Rua João Pereira da Rosa, edifício cedido pela Cruzada das Mulheres Portuguesas.


À semelhança das suas congéneres estrangeiras, definiu juridicamente os seus objectivos e âmbito de acção, cuja natureza é muito diversificada, centrando-se em "promover a exaltação do amor à Pátria e a divulgação, especialmente entre os jovens, do significado dos símbolos nacionais, bem como a defesa intransigente dos valores morais e históricos de Portugal; aviventar o prestígio do país, designadamente através de acções de intercâmbio com associações congéneres estrangeiras; promover a protecção e auxílio mútuo e a defesa dos legítimos interesses espirituais, morais e materiais dos sócios; cooperar com os órgãos de soberania e da Administração Pública com vista à realização dos seus objectivos, nomeadamente no que respeita à adopção de medidas de assistência a situações de carência económica dos associados e de recompensa daqueles a quem a Pátria deva distinguir por actos ou feitos relevantes praticados ao seu serviço; criar, manter e desenvolver departamentos ou estabelecimentos de ensino, cultura, trabalho e solidariedade social em benefício geral do País e directo dos seus associados."

 

Em 1927 a Liga associou-se à Fédération Interalliée des Anciens Combattants (FIDAC), dando visibilidade internacional a Portugal.

 

1919, finais - João Jayme de Faria Affonso dá os primeiros passos para criar a associação dos combatentes; 1920, Julho - festa de homenagem aos mortos da Grande Guerra no quartel do 8º Grupo de Metralhadoras; 1921 - Faria Affonso renova os seus intuitos, a que se juntou outros ex-combatentes; Faria Affonso propôs as bases dos Estatutos, que Faria Pereira desenvolveu, e depois submeteu à apreciação de vários combatentes; 1923 - reunião geral onde se elegeram os primeiros corpos directivos; 1924, 29 Janeiro - Portaria n.º 3888 oficializa a Liga com o nome Liga dos Combatentes da Grande Guerra, instituição de utilidade pública, patriótica, de assistência e de beneficência, de carácter perpétuo, com personalidade jurídica e utilidade administrativa; 11 Maio - reunião no quartel do 8º Grupo de Metralhadoras, posteriormente da Guarda Nacional Republicana, a primeira Comissão Administrativa constituída pelo Major João do Nascimento Machado, como Presidente, e pelos tenentes Júlio César Gonçalves e Amadeu Cândido da Costa, como tesoureiro e secretário respectivamente; 1929, 16 Março - aprovado o estandarte da Liga e autorizado o seu uso em actos oficiais;

 

 

Notas

  1. Lagos da República.
  2. Ilustração Portuguesa, 529
  3. Ilustração Portuguesa, 520
  4. Ilustração Portuguesa, 537
  5. Ilustração Portuguesa, 659
  6. Ilustração Portuguesa, 647
  7. Ilustração Portuguesa, 657
  8. Monico
  9. Museu da República
  10. Rosas(2010), p.362.

 

Links

 

Bibliografia

  • ESTEVES, João (2008), "Mulheres e republicanismo: 1908-1928, Lisboa - Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género", ed., Fio de Ariana, ISBN (978-972-597-304-2)
  • Ilustração Portuguesa, n.º 520, 07-02-1916, HML
  • Ilustração Portuguesa, n.º 529, 10-04-1916, HML
  • Ilustração Portuguesa, n.º 657, 23-09-1918, HML
  • Ilustração Portuguesa, n.º 659, 07-10-1918, HML
  • Ilustração Portuguesa, n.º 647, 15-07-1918, HML
  • Suisse-Portugal: regards croisée, 1890-1930,  by Reto Monico.

  • Rosas, Fernando e Maria Fernanda Rolo,coordenação(2010), "História da Primeira República Portuguesa",2ªed., Lisboa, Tinta da China. (ISBN: 978-972-8955-98-4)

 

 

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