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O tema "Prisioneiros de Guerra" durante a Grande Guerra
não se encontra estudado em todo o seu âmbito, encontrando-se por
aprofundar
o conhecimento sobre a realidade
dos prisioneiros de guerra portugueses na Alemanha.
Como metodologia para a investigação procurou-se efectuar a reconstrução
da realidade que envolveu esses
militares e, através de uma lógica explicativa enquadrar por várias
visões sectoriais, as suas vivências e expectativas como actores.
Assim, para a investigação das condições dos prisioneiros de guerra
estabelecemos como prioritário a análise sistemática de
fontes documentais literárias directas nacionais e estrangeiras,
escritas antes de 1933, uma vez que
pretendemos analisar sociologicamente os comportamentos, as relações inter-grupos, as condições materiais na perspectiva dos prisioneiros e
identificar a percepção de prisioneiros de outras nacionalidades sobre a
mesma realidade. Isto tudo, antes do advento da influência nazi, e
ainti-nazi, sobre a perspectiva do comportamento da sociedade alemã.
Também não é de desprezar informação proveniente de
fontes como a propaganda alemã, francesa e inglesa, feita em jornais,
panfletos, postais, álbuns fotográficos e cinema, que era apresentado
nos próprios países e em países neutros, com o intuito de apaziguar a
opinião pública.
Outra fonte de informação sobre a vivência dos
prisioneiros vinha das comissões neutras, que visitavam os campos de
prisioneiros e recolhiam informação. Se por um lado estas visitas eram
efectuadas com as melhores intenções, pouco podiam fazer para ter uma
ideia aproximada sobre a vida quotidiana dos prisioneiros, já que era
sempre de curta duração.
Existiam campos de prisioneiros diferentes para oficias e
para praças, e ainda campos disciplinares para oficiais (Ingolstadt)
e para praças (Sedan, em França), mas parte da vida dos prisioneiros de guerra não era
passada nos campos de prisioneiros, mas sim em trabalho fora dos campos,
onde eram utilizados como estivadores, operários de fábricas,
trabalhadores de minas, ou em campos agrícolas, se bem que os oficiais
não eram obrigados a prestar trabalho.
De um modo geral o público ignora a vivência por que
passaram os prisioneiros de guerra portugueses. Se a grande maioria dos
prisioneiros portugueses passou por um período de nove meses de
cativeiro, muitos estiveram mais de um ano cativos.
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O Estatuto Jurídico do Prisioneiro de Guerra
No final do século XIX, em sequência do trabalho de Henri Dunant, e no
princípio do século XX, nas Convenções de Genebra e nas Conferências de
Paz de Haia, constituíram-se os princípios reguladores para auxílio a
militares feridos e tratamento de prisioneiros de guerra.
Assim, durante a guerra de 1914-18, o tratamento dos prisioneiros de
guerra foi exercido de acordo com o regulamentado humanitário consagrado
e aceite internacionalmente "The Hauge Law", revisto no final da segunda
Conferência de Haia, em 18 de Outubro 1907.
Como pontos mais importantes há que referir:
·
Os
prisioneiros de guerra ficam à guarda do Estado captor;
·
Os
pertences pessoais, excepto equipamento militar, são propriedade do
prisioneiro de guerra;
·
Os
prisioneiros de guerra podem ser internados em campos, cidades,
fortalezas, e apenas em prisões em situações de segurança excepcional;
·
O
Estado captor tem a obrigação de garantir a manutenção dos prisioneiros
de guerra, em iguais condições às das suas tropas;
·
O
Estado captor tem o dever informar sobre a identidade dos prisioneiros
de guerra à sua guarda e permitir aos prisioneiros de guerra o acesso ao
serviço de correios;
·
Os
prisioneiros de guerra gozam de direitos individuais e de liberdade
religiosa;
·
Os
Estados captores podem utilizar os prisioneiros de guerra como força de
trabalho, desde que não esteja relacionado com operações de guerra e
devem receber de um salário;
·
Os
oficiais estão isentos de trabalhar fora dos campos de prisioneiros e
têm direito a receber um soldo idêntico aos oficiais da mesma patente no
Estado captor, o qual é reembolsado pelo Governo da nacionalidade dos
prisioneiros;
·
Os
prisioneiros ficam sujeitos à lei militar do Estado captor, incluindo as
sanções por falsificação de identidade, insubordinação e fuga;
·
Depois da conclusão da paz, os prisioneiros de guerra deverão ser
entregues o mais rápido possível;
·
Os
prisioneiros podem se libertados condicionalmente, se as leis do país o
permitirem, e, nestes casos, eles são obrigados sob sua palavra de
honra, e a cumprir escrupulosamente por ambos os Estados o entendimento
contratado. Neste caso o próprio Estado não pode obrigar a ser aceite
serviços incompatíveis com as condições acordadas.
Acresce que os civis que acompanhavam o exército, como correspondentes
de guerra e fornecedores, também tinham de direito ao estatuto de
prisioneiro de guerra e que as associações humanitárias de socorro aos
prisioneiros gozavam de liberdade de circulação, por exemplo a Cruz
Vermelha8.
A respeito da mão-de-obra obtida através dos prisioneiros de guerra, as
nações beligerantes concordavam que em princípio um prisioneiro não
devia trabalhar directamente contra os seus da sua nação, razão pelo
qual não eram levados a trabalhar no esforço de guerra, como abrir
trincheiras, carregar munições e que deveriam só ser aplicados em
trabalhos a mais de 30 Km da linha da frente. Também, existia a intenção
de não colocar a vida dos prisioneiros em perigo, regra que foi muitas e
deliberadas vezes quebrada23.
Uma evidência que isto não era uma preocupação e que ambos os lados
quebravam estas regras, verificou-se quando se tornou público que os
ingleses estavam a empregar prisioneiros de guerra alemães junto à linha
da frente, o que levou ao Governo alemão a transferir 500 prisioneiros
britânicos para a frente russa, em represália directa pela actuação
britânica27.
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A Logística de Acolhimento de Prisioneiros de Guerra
Quando o conflito se iniciou todos os beligerantes contavam com que tudo
estivesse acabado no Natal de 1914. O prolongar da guerra trouxe
inevitavelmente à superfície o problema de transporte, manutenção e
alojamento dos prisioneiros de guerra.
Nenhum dos beligerantes estava
preparado para uma guerra prolongada, nem para o acolhimento de tão
grande número de prisioneiros de guerra.
Apenas na Primavera de 1915, quase um ano depois do conflito ter
deflagrado, é que a logística associada conseguiu começar a dar resposta
às necessidades e só no Verão é que a Cruz Vermelha Internacional
começou a ter acesso aos campos de prisioneiros. Até então, não
funcionava um sistema de informação que permitisse fluir informação
sobre a identidade e o estado de saúde dos prisioneiros.
Os alemães criaram vários tipos de campos de
prisioneiros: campos para praças, campos para oficiais, campos de
transito e campos disciplinares. Os campos de prisioneiros eram
basicamente equipados com barracas de 10m por 50m, onde se juntavam
cerca de 250 prisioneiros. Nos campos para praças não havia camas, eram
fornecidos sacos de palha para dormir e o mobiliário era mantido ao
mínimo, uma mesa, cadeiras, bancos e um fogão. Existiam ainda uma
cantina, onde podiam comprar alguns artigos de roupa ou de comida, um
armazém para guardar os "colis", casa da guarda e cozinhas. Cada campo
tinha, ainda, estruturas sanitárias, estruturas culturais, como
biblioteca e teatro, e ainda oficinas. Os campos eram cercados por uma
vedação de 3m de altura, feita de arame farpado. Os campos para
oficiais, eram basicamente idênticos, mas com mais algumas comodidades,
como existirem camas e salas especiais para refeições. Como os oficiais
não executavam trabalhos, o tempo era passado com actividades
desportivas e culturais. No final da guerra existiam 73 campos para
oficiais e por causa do clima todos estes campos encontravam-se na zona
ocidental da Alemanha.
Com a rápida ofensiva de 1915, o exército alemão
viu-se a braços com milhares de prisioneiros ingleses e franceses, o que
levou a criar um tipo de campo de prisioneiros temporário para triagem
dos prisioneiros, antes dos enviar para os campos de prisioneiros
permanentes.
Foram, ainda, criados campos de prisioneiros
disciplinares, normalmente em zonas de clima difícil e perto da frente
de combate, com a intenção de utilizar os prisioneiros na reconstrução
das trincheiras e para carregarem os cadáveres. As condições de vida
nestes campos era muito dura e muitos morreram de cansaço e subnutrição.
No entanto, mesmo nos campos de prisioneiros disciplinares existiram uns
para oficiais e outros para praças.
Logo de início os campos de prisioneiros alemães começaram a apresentar
problemas materiais, ligados com uma situação de guerra de longa
duração, falta de espaço e de abastecimentos básicos de comida e
agasalhos. Neste ponto há que ressalvar as falhas de abastecimento
(viveres) que o exército alemão tinha e as dificuldades que as
populações civis passavam.
Em 1916, as potências beligerantes, na tentativa de mitigar o sofrimento
dos seus militares aprisionados, fazem "Acordos de Pão", que permitiram
o envio de encomendas "colis" entre si, distribuídas pela Cruz Vermelha
Internacional.
Em 1918, A França e a Alemanha firmaram os "Acordos de Berna" em que
consignaram o direito à troca de prisioneiros e guerra9.
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Captura de Prisioneiros de Guerra
O pensamento
de se tornaram prisioneiros trazia um turbilhão de sentimentos
associados. Um soldado não pensava em ficar prisioneiro, pensava que
podia ficar ferido, poderia ser morto, ou mesmo ter a sorte de ficar
indemne, mas a ideia de ficar prisioneiro jamais lhe ocorria.
(47)
O momento de transição entre a situação de soldado para prisioneiro
sempre foi um momento delicado. A história está cheia de evidências de
mal tratos físicos e até morte, e não há leis, regulamentos ou
convenções que garantam a sobrevivência naquele momento. Quanto mais
agressiva a batalha, mais difícil é largar a arma ou entrega-la ao
inimigo, o qual terá a partir daí o poder de decidir sobre a vida ou
morte do prisioneiro. Sobreviver a este momento depende múltiplos
factores que qualquer soldado será capar de prever ou influenciar.
Os soldados na Grande Guerra estavam, em teoria, protegidos pela
Convenção de Haia, 1907, que continha as verdadeiras primeiras regras
internacionais de tratamento de prisioneiros de guerra.
Mas na verdade, muitos prisioneiros de guerra admitiram mais tarde
quando libertados, que no momento da captura pensaram que iriam morrer.
Esta situação foi causada, em parte, pela propaganda nacional que
transmitia aos soldados informação sobre atrocidades cometidas pelos
soldados inimigos sobre soldados e civis, e assim, havia a consciência
que a sobrevivência dependia da boa vontade do captor. Um inimigo
agressivo durante o stress do combate tende a matar os prisioneiros, uma
vez que é mais fácil matar do que remover um potencial perigo, mesmo que
um soldado se apresente inofensivo de mãos no ar.
Muitos soldados no momento de rendição tentam demover o inimigo de os
matar, apresentando fotos de familiares queridos ou gritando "Kamarad" e
outros, cujas especialidades são mais críticas, snipers, operadores de
metralhadora ou artilheiros, tendem a esconder a sua especialidade antes
da rendição. Mas estas atitudes pouco influenciam, a verdade é que a sua
sobrevivência depende apenas da vontade do inimigo, por exemplo: se
viram muitos amigos a morrer no combate, se entendem vingar-se de uma
situação anterior ou se têm ordens especificas para não fazer
prisioneiros.
Uma vez aceite a rendição as probabilidades de rendição melhoram, mas se
os captores mantêm uma aparente desconfiança ou nervosismo, pode acabar
por ser morto. Os prisioneiros mantêm sempre uma ansiedade resultante da
nova situação, tanto mais que muitos soldados nunca terão visto de tão
perto o inimigo. A sensação de medo e vergonha é comum a todos os
soldados no momento da captura, e é normal oferecer ou entregar objectos
pessoais a fim de obter a benevolência, já que também é comum os
soldados guardarem "souvenirs", como punhais, emblemas, relógios e
carteiras. Havia vezes em que eram os próprios oficiais alemães que
impediam o acto de obter "souvenirs", controlando o comportamento dos
soldados.
Ocasionalmente alguns soldados tentam fugir logo após captura, não por
razões de patriotismo ou para voltar a lutar, mas por instituto de
sobrevivência. Após o momento em que toma consciência que já não é um
soldado e passou a ser um prisioneiro de guerra, surge normalmente a
desmoralização e a depressão psicológica, uma vez que teve qualquer
treino militar que o preparasse para lidar com esta situação.
Para além de saber levantar as mãos, que aliás é um movimento
instintivo, os prisioneiros ficam complemente por sua conta e os seus
pensamento correm entre o sentimento de desgraça, o sentimento de
abandono e o de raiva, ou simplesmente de alívio por saberem que
sobreviveram ao conflito e que para eles a guerra estava acabada13.
Relatos de Captura
Carlos Olavo Correia de Azevedo
(Alferes de Artilharia - 2ª Bateria ,7ª Regimento de Artilharia, 9 de
Abril de 1918)
"São
11 da manhã [9 Abril 1918](...). Não há nada mais torturante, angustia
maior do que esta incerteza (...). Uma ordenança que mandei ao 1º obus
com uma ordem de fogo não voltou mais; dois homens que mandei a um paiol
para trazerem umas granadas não voltaram mais! Tenho a certeza de que
ficaram pelo caminho feridos ou mortos! (...) Os momentos que se
seguiram foram de absoluto recolhimento. Tinha a certeza de que ia
morrer. Pensei naqueles que longe chorariam a minha perda: a minha
família, alguns amigos seguros, todos os que sofriam a minha ausência
(...). Um soldado que tinha saído veio-me dizer que há alemães no Pont
du Hem, quer dizer, à retaguarda da nossa posição, vindos dos lados de
Laventie. Estamos perdidos, cercados, prisioneiros! (...) Nunca me senti
tão desgraçado pelo inesperado de uma situação cuja probabilidade
afastei sempre do meu destino. Vencido (...) resolvi sair à frente dos
soldados que tinha. Confesso que me dominava um misto de humilhação e de
tristeza, por me sentir vencido, sem meios de resistência (...). Quando
os alemães me aperceberam, encaminharam-se na minha direcção e o oficial
que os comandava apontou-me uma pistola (...). Marchei serenamente,
direito a ele, sem um gesto, sem uma palavra (...). O boche baixou a
pistola e indicou-me o caminho [para a retaguarda alemã]. Segui então,
direito a Neuve Chapelle, pela estrada de La Bassèe (...). Em Neuve
Chapelle, parei para ser enquadrado com outros prisioneiros (...) que
nos haviam de guardar até o fim do nosso destino.14"
José Maria Hermano Baptista
(2º
Sargento Infantaria, Secção de Metralhadoras, 5º Regimento de
Infantaria, 9 de Abril de 1918)
"Não nos foi possível avançar (a nossa companhia estava de apoio) porque
o fogo era tanto e de tal maneira que se tornava impossível fazê-lo.
Assim em vez de avançar começou a retirada das forças, não só
portuguesas como inglesas (...). Como os alemães já estavam muito perto
de nós ficámos todos feridos (...). Afinal os alemães não eram aqueles
"terríveis Boches" que nos tinham habituado a tanto temer. Não só não
nos fizeram mal como até me olhavam pesarosamente dizendo: Kaput? E lá
seguiram o seu caminho avançando com as suas metralhadoras ligeiras
sempre protegidos pela artilharia que lhes ia limpando o caminho.15"
António Pereira dos Santos
(1º Cabo - 3º Regimento de Infantaria, 9 Abril de 1918)
Refere que já junto à terceira linha (Linhas de Reservas) os alemães
encontravam-se por todo o lado, não havendo escapatória possível.
"Aqui é que estava o problema! para subirmos para cima do parapeito da
trincheira e darmos-nos à prisão, eles não nos viam" dado o fumo das
granadas, explosões e da neblina matinal. "Sem pinga de sangue e
amarradinhos esperámos que eles se chegassem ao perto de nós, para
subirmos ao parapeito e levantarmos os braços no ar, e dizer que somos
bons prisioneiros". Os alemães entraram de baioneta em riste dentro da
trincheira e gritaram "tout de suite Alemagne", "Come, Come to Alemagne"
e "café drink Deutchland"24.
Manuel Hermenegildo Lourinho
(Tenente-médico - 10º Regimento de Infantaria, 9 de Abril de 1918)
Refere que o primeiro alemão que chegou à sua frente lhe gritou "tout de
suite Alemagne", o que lhe fez sentir a derrota e a aniquilação a sua
personalidade. Sentia-se abandonado dentro da torrente caudalosa, tal
era a multidão de soldados alemães que surgiam de todos os lados. Sentiu
que deixara de ser um militar, um médico, um homem: era um prisioneiro19.
A
Ofensiva de Primavera alemã (Kaiserschlacht), de Março a Abril de 1918,
trouxe uma situação excepcional no que se refere à captura de
prisioneiros. Em 21 de Março, um dos piores dias para o exército
britânico, tiveram 21.000 soldados aprisionados em poucas horas e em 5
de Abril já contavam com 54.000 capturados. O Corpo Expedicionário
Português teve um dos seus piores dias em 9 de Abril, quando igualmente
em poucas horas teve 6.000 soldados capturados.
Dada a dinâmica da ofensiva e a moral das tropas alemãs, os relatos
indicam que os prisioneiros de guerra eram simplesmente despojados das
armas e pertences e indicada a direcção que lhes era era esperado
seguir, diga-se sem escolta até ao local de identificação e detenção.
Simplesmente tinham de seguir a quantidade enorme de outros prisioneiros
de guerra que se encaminhavam para a retaguarda alemã. Estes dias foram
uma excepção.
A
situação normal era ser escoltado para a retaguarda sob escolta de um ou
dois guarda, dependendo da urgência da situação na frente de combate, ou
dependendo do número de soldados que o comandante pudesse dispensar para
levar os prisioneiros muitas vezes os prisioneiros que conseguiam andar
eram aproveitados para levar feridos, camaradas prisioneiros ou inimigos
para postos de socorro que ficavam de caminho. Outras vezes tinham a
sorte de receber um cigarro dos soldados que avançavam para a frente de
combate ou um tiro na cabeça. O caminho para a retaguarda também não
era seguro por causa do fogo de artilharia amigo, e muitos soldados
britânicos e talvez portugueses tenham morrido sob o fogo da artilharia
britânica que continuava a bater as zonas de retaguarda para impedir os
abastecimentos da frente de combate16.
Alexandre
José Malheiro (Tenente-coronel de Infantaria,
6º Brigada de Infantaria, 9 de Abril de 1918)
Refere que pelas 11 horas a barragem de artilharia
inimiga já tinha passado para a sua retaguarda. Não tinham qualquer
ligação com o quartel-general da Divisão e estava convicto que em breve
seria feito prisioneiro. Guardou alguns manuscritos pessoais, e fotos de
família e juntamente com os oficiais e praças aguardou resignadamente a
chegada dos alemães. Quando a patrulha alemã chegou à casa onde se
encontravam, apontaram as armas aos peitos dos portugueses e o oficial
alemão que os comandava apontando também a pistola que empunhava gritou
"AUS" (vamos).
A guarda dos então 25 prisioneiros foi a dois soldados
alemães, um que se colocou na frente e outro na retaguarda da coluna. Ao
deslocarem-se para a retaguarda alemão, ainda se cruzaram com focos de
combate a alguma distância do seu caminho. Na sua opinião as tropas
alemãs mantinham em combate uma postura como se tivessem em treinos,
muito ordenadas.
Encontraram pelo caminho inúmeros mortos e feridos que as
ambulâncias alemãs ainda não tinham podido recolher. Era uma imagem
verdadeiramente assombrosa42.
Francisco José de Barros (Capitão de Infantaria,
4º Regimento de Infantaria, 11ª Companhia, 9 de Abril de 1918)
Refere que depois das 8 da manhã a situação encontrava-se
descontrolada, com pessoal de diversos Batalhões, misturado,
desorientado e em fuga para a "Linha B". A visibilidade a partir da sua
posição não ultrapassava os 80m, dada a intensidade do fogo da
artilharia alemã. Quando da sua posição distinguiram alguns vultos de
militares a se deslocarem em boa ordem para a retaguarda, o grupo
apercebeu-se que se tratavam de alemães. Mais tarde, pelas 11horas, viu
nitidamente os primeiros alemães a uns 50m da sua retaguarda.
"...apontámos a espingarda com alguns escassos
cartuchos que ainda possuíamos, mas era evidente a inutilidade de mais
resistência. O desespero da impotência fazia chorar de raiva, Restava a
morte ou a prisão..."
48
Já prisioneiros, "...fomos conduzidos para a
retaguarda através das sucessivas linhas inimigas que se sucediam,
bendizendo a sorte dos mortos libertos que jaziam estendidos..."
49
Seguíamos "...o nosso destino cheio de amargura,
apenas a consola-lo o cício brando de balas amigas que vinham de
longe...". Isto trazia-lhes a vã esperança de libertação e a
indicação que ainda haviam portugueses que combatiam. Os disparos a que
se refere vinham do BI 13, comandado pelo Major Gustavo de Andrade Pissarra, que se
encontrava em Lacouture, com reforços do BI 15 e alguns praças ingleses
que tinham retirado e que ali se juntaram aos portugueses para oferecer
resistência à ofensiva alemã.50
Relativamente a "souvenir de la guerre" refere que os
oficiais que foram transportados para o posto de socorro foram
despojados de bens pessoais, como no caso do relógio do Tenente-coronel
Eugénio Carlos Mardel Ferreira.
53
Augusto Casimiro (Capitão de
Infantaria, 13º Regimento de Infantaria, 10 de Abril de 1918)
às 11h do dia 10 de Abril um prisioneiro português
entrega uma intimação dos alemães ao grupo de resistentes que s
encontrava no Block-House, com a indicação de "Ou se rendem ou
fazemos saltar tudo!".
Na
retaguarda inimiga do inimigo a caminho da prisão
Carlos Olavo Correia de Azevedo
(Alferes de Artilharia - 2ª Bateria, 7º Regimento de Artilharia, 10 de
Abril de 1918)
"Ontem depois de ter sido aprisionado no Pont du Hem, segui pela estrada
de La Bassèe com destino a Neuve Chapelle. Procurei curiosamente as
nossas trincheiras. Nada existia já (...), Um oficial alemão que
encontrei à entrada das linhas inimigas interpelou-me (...).
Benevolentemente o oficial alemão deu-me de conselho que não seguisse a
estrada de La Bassèe que estava a ser ainda batida pela artilharia
aliada e que tomasse antes uma trincheira de comunicação. Segui o
conselho (...), espectáculo lancinante que apresentavam os feridos
espalhados pelo caminho. Sensibilizou-me tanto a situação de alguns que
os fiz transportar pelos meus soldados. Eram inimigos, é certo, mas o
meu sentimento naquela hora de angustia, não os podia colocar fora da
humanidade...17."
António Pereira dos Santos
(1º Cabo, 3º Regimento de Infantaria, 9 Abril de 1918)
Refere que os alemães fizeram com que ele fosse imediatamente para a
retaguarda alemã, atravessando a "Terra de Ninguém". Ao terror de ser
prisioneiro juntava-se o receio de morrer do fogo amigo que a defesa
aliada continuava a fazer sobre o avanço alemão25.
Francisco José de Barros (Capitão de Infantaria,
11ª Companhia, 4º Regimento de Infantaria, 9 de Abril de 1918)
Refere que os alemães os levaram pela encruzilhada
"...das trincheiras em grande parte rasoiradas pela metralha, ora
transpondo-as, ora percorrendo-as, fomos levados a atravessar o que fora
a "terra de ninguém". Refere ainda que um dos médicos do Batalhão (BI
13), assim que capturado foi conduzido para o posto de socorro alemão
para auxiliar os serviços médicos a "...pensar os feridos de ambos os
exércitos..."51
Manuel Hermenegildo Lourinho
(Tenente-médico, 10º Regimento de Infantaria, 9 de Abril de 1918)
Refere que foi foi enquadrado em formatura debaixo de escolta a cavalo
(Hulanos), a qual se dirigiu para a fortaleza de Lille18.
Alguns prisioneiros ingleses referem que os Hulanos eram frequentemente
provocadores e violentos e que empurravam com os cavalos e as lanças os
prisioneiros ao longo do caminho20.
Alexandre José Malheiro (Tenente-coronel de
Infantaria, 6º Brigada de
Infantaria, 9 de Abril de 1918)
Refere que a zona denominada de "terra de ninguém",
anteriormente deserta, encontrava-se transformada num formigueiro
humano, com forças inimigas a virem de diversas direcções, cruzando-se
com colunas de prisioneiros, que o inimigo ia recolhendo. O inimigo
cruzava-se lado a lado com os prisioneiros, a quem dirigiam um olhar
calmo, onde ninguém poderá ter lido o menor lampejo de indignação, ou
sede de vingança pessoal43.
David Magno (Capitão de Infantaria, 13º Regimento de Infantaria)
Refere que
pela "Terra de Ninguém" os nossos prisioneiros, à medida que iam sendo
recolhidos eram mandados seguir sozinhos até à retaguarda, onde os
alemães organizavam os prisioneiros em pequenas colunas guardadas por
uma escolta sumária. Os alemães seguiam para a frente de combate de
forma ordenada, passando lado a lado com os prisioneiros, dirigindo-lhes
um olhar natural.
Mais à
retaguarda, após passarem as ruínas de Aubers, apesar do comportamento
geral ser de respeito pelos prisioneiros verificaram-se acções de "souvenir",
mas que comparavelmente de forma mais decente do que a forma de actuar
da "célebre quadrilha da Mão Morta" que actuava em Ambleteuse.
(55)
A espera
no depósito de prisioneiros (campos temporários)
Uma
vez alcançada a prisão ou o recinto vedado, o qual por vezes não era
mais do que uma cerca do género que se usa para guardar ovelhas, os
prisioneiros não ficavam aí retidos mais de um dia ou dois dias, uma vez
que se tratavam de sítios desprovidos de quaisquer condições materiais.
Aí tinham de dormir no chão, enquanto aguardavam ordens para seguirem
para um campo de prisioneiros. Durante a permanência nestes locais os
prisioneiros recebiam comida de muito pouca qualidade e de forma muito
irregular. Quando não existia espaço nestas prisões, eram utilizados,
muitas vezes, edifícios como igrejas ou fabricas abandonadas das
redondezas.
Surpreendentemente e apesar da guerra de trincheiras colocar os inimigos
muito próximos uns dos outros, poucos soldados tinham a oportunidade de
ver um inimigo ao vivo, mesmo durante as incursões às linhas inimigas, o
que levava os alemães a se deslocarem até estes locais de aprisionamento
para verem soldados inimigos. Muitas vezes aconteciam trocas de
pertences dos entre os prisioneiros com os soldados alemães, para
obterem comida. Era nestes campos que davam os cartões de identificação
para os prisioneiros preencherem com o nome, número e unidade a que
pertenciam. Esta informação era posteriormente enviada para a Cruz
Vermelha Internacional, que a fazia chegar ao país e às famílias do
prisioneiro.
Os
prisioneiros que se encontravam feridos eram separados dos restantes e
eram levados para um posto de primeiros socorros, ou para um hospital
para tratamentos médicos básicos21.
Um dos trabalhos que os prisioneiros de guerra faziam de imediato era de
transportar os feridos que se encontravam caídos no caminho, cada quatro
segurava uma padiola com um ferido alemão, até um posto de socorro.
A 12 de Abril de 1918, concentrava-se em Lille cerca de
3.000 prisioneiros dos quais 230 eram oficiais, à espera de serem
enviados para campos de prisioneiros.
Afonso do Paço
(Alferes - 3º Regimento de Infantaria, 9 Abril de 1918)
"...
procurava eu transportar para o Posto de Socorro um dos meus soldados
retalhados por estilhaços de granada. Não queria abandonar o meu ferido,
mas os alemães não se comoveram, garantindo-me contudo que ele seria
imediatamente pensado e tratado. Caminho adiante, um façanhudo, ao
mostrar-lhe o meu galão de alferes, fez-me uma grande continência e
encarregou-me de, com soldados portugueses que ali estavam, levar os
nossos feridos.26"
Alexandre José Malheiro (Tenente-coronel de
Infantaria, 6º Brigada de
Infantaria, 9 de Abril de 1918)
Refere que após ser interrogado por oficiais superiores
alemães foi enviado para uns barracões onde deveria passar a noite.
Nesses barracões apenas se efectuava uma contagem sumária dos homens que
aí chegavam, separando-os por nacionalidade, oficiais e praças, para
serem enviados de imediato para os campos de prisioneiros. Concluído o
registo e dependendo do fluxo de prisioneiros, ao fim de poucos dias
eram enviados, em caminho de ferro, para um dos numerosos campos de
prisioneiros alemães. Todos os prisioneiros eram vacinados contra o
tipo, cólera e varíola, antes de serem enviados para os campos de
prisioneiros. Também indicou que existia um interprete que num fluente
português lhes explicou sobre a situação e o se iria passar. É de notar
que Alexandre Malheiro indica que o trato foi muito afável e foi no
dialogo com o interprete que afirmou o sentimento geral de todos os
prisioneiros da Grande Guerra: "A guerra para nós acabou"45.
Francisco José de Barros (Capitão de Infantaria,
4º Regimento de Infantaria, 11ª Companhia, 9 de Abril de 1918)
Refere que quando foi interrogado num posto de comando
alemão foi experimentado "...com perguntas formuladas por um oficial
alemão de bigodões grisalhos, falando um português que adquirira no
Brasil, mas que parecia limado na moderna educação, pois a todos tratava
por «você»". A posição de não responder a perguntas sobre
questões militares não provocou qualquer situação de conflito, tendo o
oficial alemão terminado o interrogatório com o comentário: "você é
um oficial inteligente", respeitando a atitude e não insistindo
mais. O fim do interrogatório terminou com uma continência. O Capitão
Francisco Barros, acrescenta que num segundo interrogatório atrás das
primeiras linhas alemãs, também não houve qualquer atrito ao não ter
transmitido qualquer informação militar.
52
David Magno (Capitão de Infantaria, 13º Regimento
de Infantaria)
Refere que o grupo de oficiais em que se encontrava o
Tenente-coronel Alexandre José Malheiro foi interrogado por um alemão em
português correctíssimo e que antes de partirem para Lille, lhe foi
permitido pernoitarem numa barraca, que lhes deram cartões postais para
puderem escrever às famílias, e que ainda lhes foi lhes chegou uma
ligeira ração de pão de centeio com salsicha e água. Em Carvin um
oficial alemão explicou ao grupo de oficiais portugueses prisioneiros
que não era possível dispensar melhor conforto e ficou a ideia que na
atitude alemã existia uma evidente moderação no seu comportamento.
(56)
Do
depósito
para o campo de prisioneiros
Antes de 1918, a maior parte dos prisioneiros de guerra aliados eram
enviados para as centenas de campos de prisioneiros que se encontravam
dispersos pela Alemanha. A viagem incluía caminhar a pé até à estação de
comboio mais próxima, onde eram colocados em vagões de gado. As
condições eram deploráveis, empacotados como sardinhas em lata, sem
sanitários e pouca comida. No início da guerra os comboios paravam nas
cidades para que a população os visse e tivesse oportunidade dos
insultar. Por vezes os comboios que transportavam os prisioneiros eram
apedrejados pelos civis alemães.
22
Nem
todos os prisioneiros de guerra eram enviados para os campos de
prisioneiros na Alemanha. Um pequeno número ficava em França para ser
usado como mão-de-obra barata, para carregar abastecimentos, reparar
edifícios e estradas, ou trabalhar nos campos agrícolas.
Em
1918, com o bloqueio naval aliado, a falta de produtividade industrial
derivada da escassez de matérias primas e a fome derivada da baixa
produção agrícola, levou a uma aumento exponencial de emprego de
prisioneiros de guerra. Esta situação foi muito mais acentuado após a
ofensiva alemã da primavera, que lhes proporcionou um enorme número de
prisioneiros ingleses (54.000) e portugueses (6.500). à data do
Armistício foi estimado que um sexto dos prisioneiros britânicos
estivessem a trabalhar em frança e na Bélgica. Outros eram empregues na
Alemanha em trabalhos agrícolas em quintas.
António Pereira dos Santos
(1º Cabo - 3º Regimento de Infantaria, prisioneiro em Stalluponen, 1918)
Refere que em 9 de Agosto de 1918, um civil prussiano foi procurar um
carpinteiro no campo de prisioneiros onde estava e que o comandante do
campo o enviou. Posteriormente foi autorizado a permanecer na casa do
civil, sob juramento de honra que não fugiria, o que ele garantiu.
"porquanto é sagrado, que só se iria embora de casa dele, quando ele o
mandasse, ou a guerra tivesse acabado" 28.
Após o início da retirada do exército alemão, no verão de 1918, os
prisioneiros de guerra foram obrigados a acompanhar a retirada em
direcção à Alemanha. Sofreram caminhadas forçadas, castigos cruéis e
foram negligenciados na alimentação e higiene. Muitos prisioneiros de
guerra foram contagiados com a gripe pneumónica, que se espelhara pela
Europa em 1918, fazendo centenas de mortes entre estes. Um Cabo do
exercito britânico que tinha sido feiro prisioneiro com mais 2.000
soldados em Maio de 1918, cinco meses mais tarde apenas restavam 292
homens desse grupo inicial29.
David Magno (Capitão de Infantaria, 13º Regimento
de Infantaria)
O transporte dos oficiais portugueses entre campos de
prisioneiros não seguiu o mesmo padrão de tratamento que
Richard Van
Emdem indica no seu livro ""Prisioners of the Kaiser".
Fica uma imagem diferente, no relato do que observaram no caminho entre
Rastatt e Breesen, e na passagem por Hamburgo indicam não só o apoio
prestado pela Cruz Vermelha Germânica, como as condições favoráveis do
"luxuoso dormitório" onde pernoitaram.
(57)
A Vida no
Campo de Prisioneiros
Os
prisioneiros eram forçados a depender da comida fornecida pelos guardas
alemães, o que implicava a inexistência de alternativa a um estado
constante de fome. A fome levava os prisioneiros a uma depressão física
e psicológica, que por vezes levava a que se confrontassem entre eles. O
problema da falta de comida eram o que mais desmoralizava os
prisioneiros.
Existiam regras que definiam que os prisioneiros deviam de receber a
mesma alimentação que a do exército captor, mas isso nunca aconteceu.
Havia ainda uma diferenciação entre o tratamento dos soldados ingleses,
no início da guerra, da dos restantes países, porque os soldados
ingleses ao serem profissionais eram vistos pelos alemães como
mercenários atitude alemã era ainda mais conflituosa quando se apercebia
que o prisioneiro inglês era um combatente voluntário contra o Kaiser.
Mais tarde foi o bloqueio económico que a Armada Britânica efectuava,
que implicou a diferenciação de tratamento dos prisioneiros ingleses em
relação aos prisioneiros de outras nacionalidades.
Há
que realçar que em 1918 a Alemanha mal podia alimentar as suas tropas e
civis, o que dificilmente deixava disponível comida para os
prisioneiros. As fracas rações disponibilizadas levaram ao aparecimento
de diversas doenças intestinais e de estômago30.
Nos campos os prisioneiros com mais
sorte conseguiam trabalho nas cozinhas, onde era preparada e aquecida a
comida. Formavam-se filas de um homem para a entrada do refeitório, onde
comiam ou de onde levavam para a barraca. Para além do caldo, por vezes
era distribuído um pedaço de pão “negro” para dividir entre cada 6
prisioneiros.
Para os prisioneiros que trabalhavam
fora dos campos a alimentação era ainda um problema maior. Era-lhes
fornecida uma ração para 24 ou 48 horas, que devido à fome existente os
levava a pensar se deveriam comer tudo logo e sofre a agonia da fome
posteriormente, ou ir comendo ao longo do tempo e estar sempre com fome.
Olhar para a comida e não comer era também uma tortura.
Para os que estavam sujeitos a
trabalhos pesados, comer ou não era a diferença entre sobreviver
mais um dia, ser punido por não conseguir trabalhar ou até acabar no
hospital. Muitos dos que ficavam no campo surpreendentemente passavam o
dia a pensar na fome e a falar sobre ela, e muitas vezes deitados nos
seu barracões a falar sobre as comidas preferidas ou o que iriam comer
quando voltassem para casa. Como era aplicada censura sobre a
correspondência saída do campo era difícil comunicar a situação de fome
às famílias e autoridades, optando muitas vezes por subterfúgios
difíceis de entender pelos guardas alemães, ou mesmo códigos.
Os prisioneiros também tinham a percepção que o
comportamento dos guardas prisionais não era homogéneo. Existiam dois
grupos: os oficiais e os sentinelas que vigiavam o campo, sendo que
existia alguma comunicação e simpatia entre os sentinelas e os
prisioneiros. Os comandantes, e outros oficiais superiores, eram normalmente velhos oficiais dados como
inadequados para o serviço na frente, os oficiais subalternos
encontravam-se ali por razões físicas ou
psicológicas, e os sentinelas porque pertenciam à reserva territorial e por
viverem próximo dos campos de prisioneiros com as suas famílias, tinham
sido incorporados compulsivamente como guardas prisionais.
Manuel Hermenegildo Lourinho
(Tenente-médico - 10º Regimento de Infantaria, 9 de Abril de 1918)
Refere que na correspondência trocada com a família enviou uma foto,
onde se encontrava a olhar para uma imagem de uma revista onde várias
pessoas se encontravam sentadas à mesa a comer, e que esta mensagem foi
entendida pela sua mãe como "aqui banqueteamo-nos ... mas só com os
olhos". Outra mensagem que conseguiu passar o censor, onde indicava que
era necessário mandar uma encomenda para "o irmão do professor da
Chança", que era ele próprio32.
A falta de comida era efectivamente o grande problema que
os prisioneiros tinham de atravessar. A Fome levava por vezes a
situações de desespero e de violência, não só contra os guardas alemães,
mas mesmo entre prisioneiros, até da mesma nacionalidade. O roubo de
comida da cozinha ou dos armazéns era uma das poucas oportunidades para
conseguir um complemento alimentar, mas a punição poderia ser violenta
dependendo do campo. Normalmente esta situação findava assim que as
encomendas da Cruz Vermelha Internacional começavam a chegar com
regularidade. Para os que não estavam registados a fome apenas
acabaria com o Armistício.
As
Encomendas "colis"
A
sobrevivência dos prisioneiros internados em campos de prisioneiros
deve-se em muito à acção da Cruz Vermelha Internacional, que fazia
chegar encomendas aos prisioneiros, com comida e agasalhos. Para os
ingleses que tiveram prisioneiros de muito longa duração, a dependência
dos "colis" foi total, o que levou a que o envio se tornasse uma
indústria. Em Portugal o envio de "colis" dependeu de iniciativas
privadas, como a Associação Cruzada das Mulheres Portuguesas, Cruz
Vermelha Portuguesa, o Triângulo Vermelho Português e o jornal "O
Século" que muito contribuíram para ter chegado encomendas aos
prisioneiros. O Estado criou o Comité de Socorro aos Militares e Civis
Portugueses Prisioneiros de Guerra, como expressão organizadora das
diversas iniciativas, com a função principal de coordenação das acções
humanitárias com as estruturas doas outros Estados aliados.
Essencialmente existiam dois tipos de encomendas, comida
e roupa. O serviço de encomendas inglês chegou a ser tão regular que em
alguns campos os prisioneiros ingleses deixaram de comer a comida
fornecida pelos guardas alemães e até dar a prisioneiros de outras
nacionalidades, como no caso dos russos que em contrapartida lhes faziam
serviços de limpeza e manutenção das barracas.
Os guardas alemães, tal como os prisioneiros de outras
nacionalidades, invejavam a quantidade e a qualidade da comida que os
ingleses recebiam, tanto mais que o bloqueio aliado piorava cada vez
mais as condições de vida da população e do exército alemão. Por vezes,
verificaram-se situações em que os guardas trocavam vegetais frescos por
comida, tabaco, sabão ou café dos prisioneiros.
Nem todas as encomendas enviadas pelas Estados Aliados
não chegavam ao seu destino, nem todos os prisioneiros estavam
registados, razão pelo qual muitos portugueses foram dados inicialmente
como mortos e posteriormente regressaram a Portugal, após o Armistício.
Nem todos os prisioneiros receberam cartões de registo quando da
captura, ou tiveram a possibilidade de enviar cartas para casa. A Cruz
Vermelha Internacional visitava regulamente aos campos de prisioneiros e
tomava notas sobre os soldados não registados, mas esta informação
levava semanas a ser processada e a chegar ao seu país, altura em que já
poderia ter sido transferido para outro campo.
José Maria Hermano Baptista
(2º
Sargento Infantaria, Secção de Metralhadoras, 5º Regimento de
Infantaria, 9 de Abril de 1918)
Refere que em
22 de Agosto de 1918 recebeu a primeira carta de Portugal. Esta fora
escrita por sua mãe em 14 de Julho, onde indicava que até aquela data
consideravam morto e que tinha sido através da Cruz Vermelha
[Internacional] que tinha recebido a notícia de que se encontrava vivo e
onde estava35.
Isto levou a situações em que muitas das encomendas não
chegassem aos destinatários, o que levou a título de exemplo ter-se
encontrado no campo de prisioneiros de Soltau, 200.000 "colis" em
armazém por entregar, quando do Armistício33.
Muitas foram as razões que se puderam apontar para os
prisioneiros não terem recebido as encomendas, desde o comportamento dos
guardas de campos onde a disciplina era mais brutal e era utilizada a
distribuição de "colis" como factor de repressão e de manutenção de
disciplina, até situações de ineficiência logística, descuido, roubo e
incompetência. Muitas vezes os "colis" eram abertos, e até faltavam
coisas, mas isto também se deve ao comportamento dos ingleses que no
início dissimulavam mapas e bússolas dentro das encomendas, com a
finalidade de facilitar a fuga aos prisioneiros.
Se parece incrível que que os alemães tenham permitido
que as encomendas com comida chegassem aos prisioneiros, também se deve
considerar que foi uma forma de diminuir a pressão sobre o problema de
alimentar mais de 2 milhões de prisioneiros desde quase o início da
guerra. Impedir os comboios humanitários teria trazido à Alemanha uma
situação internacional insustentável, assim como repercussões directas
na opinião publica dos Estados Unidos da América. Também há que
considerar que existiam prisioneiros alemães na Grã-Bretanha, que
necessitavam, também, de receber encomendas, e os alemães não pretendiam
ter uma retaliação nesta matéria.
Por último, a situação generalizada de fome na Alemanha
levou à execução de roubos de "colis" dos armazéns por parte dos
guardas, e ao aparecimento de civis, mulheres e crianças, a pedir comida
aos prisioneiros34.
O Final
da Guerra
Os prisioneiros portugueses capturados em Abril de 1918,
tiveram de imediato a noção que o exército alemão não estava bem. Ao
serem levados para trás das linhas de combate alemãs deparam-se com as
insuficiências logísticas e materiais alemãs, bem visíveis no ar
subnutrido dos solípedes e na quantidade de jovens de 16 anos de
uniforme. Era evidente que os alemães já pouco mais tinham que a tropas
utilizadas naquela ofensiva de primavera.
Carlos Olavo Correia de Azevedo
(Alferes de Artilharia - 2ª Bateria ,7ª Regimento de Artilharia, 9 de
Abril de 1918)
"O
que ali passava era uma tropa à bont de ressource, constituida por uma
mistura de adolescentes e de velhos, com uma tralha de viaturas atrás
que impressionou deploravelmente os meus olhos habituados ao luxo da
organização inglesa. (...) Puxando um carro de companhia passou uma
parelha que me fez rir: ao lado de um cavalo, um burro fazendo esforços
para acompanhar o passo largo do companheiro que, de outro lado da
lança, marchava desdenhosamente. (...) Velhos camiões, arrastavam-se
penosamente pelas estradas que o movimento do material as rodas dos
carros e as chuvas tinham cortado de sulcos e semeado de covas36."
Quando a ofensiva alemã terminou no Verão de 1918, os
aliados tomaram a ofensiva e alemães começaram a retirar. Com o exército
os prisioneiros também retiraram para o interior da Alemanha. Com
a transformação da guerra de trincheiras em guerra de movimento, os
alemães na sua retirada não ficavam parados muito tempo e as estradas
ficaram cheias de tropas, prisioneiros e civis em fuga.
Em Setembro começou a chegar, com mais insistência,
rumores que os Aliados estavam a avançar e que os alemães estavam a
perder a guerra. Nos campos de prisioneiros onde existiam encomendas de
comida armazenadas a situação não foi tão grava e os prisioneiros apenas
tinham de esperar pela paz. Para outros prisioneiros a situação
tornou-se muito crítica com a destruturação da economia e rotura dos
circuitos de comunicação. Outro problema surgiu com a gripe pneumónica,
que se alastrava pela Europa e que estava a matar prisioneiros a um
ritmo alarmante, dada a debilidade física e de resistência em que se
encontravam.
Com o início da guerra civil na Alemanha, muitos
comandantes e guardas de campos de prisioneiros tornaram-se menos
agressivos e até complacentes. Por fim os guardas acabaram por
desaparecer e os campos acabaram por ficar abandonados aos prisioneiros37.
A
Libertação
Os prisioneiros que se encontravam em França e na Bélgica
receberam a notícia através dos civis locais, ou então através dos
oficiais alemães, que simplesmente os informaram que a guerra tinha
acabado e que eram livres de ir embora. Esta situação não era inesperada
para os prisioneiros, os quais se estavam a aperceber da situação
complicada em que o exército alemão se encontrava nas últimas semanas de
guerra. A situação transformou-se num simples abandono dos prisioneiros
nos campos de prisioneiros e na partida dos guardas para Este em
direcção à Alemanha. Por outro lado os prisioneiros por iniciativa
própria iniciaram a caminhada para Oeste em direcção às linhas aliadas.
Por inúmeras vezes durante a retirada os alemães e os prisioneiros,
cruzaram-se ao longo das mesmas estradas.
Para os prisioneiros que se encontravam na Alemanha,
junto às fronteiras junto da França ou da Holanda, a notícia do fim da
guerra foi inesperada, uma vez que as notícias sobre a guerra na
Alemanha eram censuradas e não existia informação sobre a retirada
alemã.
Para os prisioneiros que se encontravam em campos de
prisioneiros no interior da Alemanha a notícia do fim da guerra chegou
muito mais tarde e para aqueles que trabalhavam em quintas isoladas
acabou por nunca chegar.
Nos termos do Armistício, a Alemanha estava obrigada a
libertar de imediato todos os prisioneiros sem reciprocidade. Foi um
princípio louvável, mas de repente ficaram centenas de milhares de
prisioneiros dispersos por toda a Alemanha sem saberem como regressar.
Os prisioneiros que se encontravam em França e na
Bélgica, durante a sua marcha para casa foram bem recebidos pelas
populações locais, que os apoiaram, tanto em alojamento como em comida.
Os prisioneiros recolhidos pela guarda avançada dos Aliados chegaram ao
porto de Calais, transportados de comboio, logo ao fim quatro dias após
o Armistício.
Para os prisioneiros que estavam na Alemanha e que
decidiram ir sozinhos para a França, houve situações em que houve
conflitos graves entre estes e a população civil alemã.
A Alemanha encontrava-se numa situação de revolução, ou
pelo menos de grava desordem social e civil, o que levou a que muitos
prisioneiros ao acordarem no dia 12 de Novembro, o campo de prisioneiros
estivesse abandonado pelos guardas e de portas abertas. Mas a situação
mais corrente foi a dos comandos dos campos indicarem aos prisioneiros
para aguardarem instruções para o repatriamento.
O repatriamento foi foi lento e desorganizado, não só
pela situação social da Alemanha, mas também como forma de pressão sobre
os Aliados, uma vez que lhes tinha sido retirado grande parte do
material rolante, por exigência das contrapartidas do Armistício. Para
muitos prisioneiros não houve alternativa a ter que aguardar pelo
repatriamento no campo de prisioneiros. Em Fevereiro de 1919 ainda
existiam prisioneiros britânicos a aguardar repatriamento dentro da
Alemanha.
A Cruz Vermelha Internacional em Janeiro de 1919
percorreu os 21 Distritos Prisionais localizados na Alemanha em busca de
prisioneiros esquecidos.
As rotas de regresso dos prisioneiros fizeram-se pelos
portos de Calais, Roterdão, Hamburgo e Copenhaga. Muitos dos
prisioneiros que não se encontravam em condições físicas de regressar,
estiveram primeiro em campos de recuperação para ganharem peso antes de
voltar a casa38.
O Regresso
O regresso dos primeiros prisioneiros de guerra
britânicos a casa foi efectuado em em festividade, ou pelo menos com o
respeito por quem tinha sofrido estoicamente o cativeiro, mas a euforia
do pós-guerra desvaneceu rapidamente e os prisioneiros que regressaram
em Janeiro e Fevereiro já não receberam qualquer acolhimento em
especial.
A maior parte dos civis e militares não viu as condições
em que chegaram os prisioneiros vindos do interior da Alemanha, mas
aqueles os observaram, referiram que as condições em que os prisioneiros
viveram foram as piores condições humanas existentes em toda a guerra.
Muitos prisioneiros não sobreviveram ao cativeiro e mesmo
alguns que foram internados nos campos de recuperação em França e na
Holanda, também não o conseguiram. Muitos prisioneiros quando chegaram a
casa encontraram as famílias de luto por si. Na Grã-Bretanha a
desmobilização de todos os prisioneiros de guerra regressados não foi
imediata, e alguns após a licença de dois meses, regressaram ao serviço
militar por mais algum tempo.
Os prisioneiros de guerra alemães que se encontravam em
Inglaterra só foram repatriados após a assinatura do Tratado de
Versalhes, em 28 de Junho de 1919.
Os danos psicológicos derivados da situação de
prisioneiros, os danos físicos provocados pela insuficiência alimentar
no sistema digestivo e os danos provocados pelas condições de trabalho
no sistema respiratório, levaram muitos a uma esperança de vida menor ou
até ao suicídio. Muitos viram a morrer nos seguintes 10 ou 20 anos de
doenças directamente relacionadas com as condições de cativeiro39.
Campos de Internamento de Prisioneiros na Europa
Os Prisioneiros Portugueses
O Corpo Expedicionário Português (CEP), no período em que esteve em
França (1917-18) teve 6.678 prisioneiros, dos quais 6.585 foram feitos
no dia 9 e 10 de Abril de 1918, durante a Batalha de La Lys (68
prisioneiros antes de 9 de Abril , 6.585 nos dias 9 e 10 de Abril e 25
após 10 de Abril até ao armistício em 11 de Novembro 1918).
A 2 de Março de 1918, no sector de Chapigny, o inimigo
efectuou um raid de grande envergadura, onde utilizou um batalhão
de infantaria de elite sobre o Batalhão de infantaria 4. O inimigo teve
aproximadamente 200 baixas, fundamentalmente devido a fogo de artilharia
e de metralhadora, mas o Batalhão sofreu 63 prisioneiros, incluindo 3
oficiais41.
.
De
acordo com Nuno Severino Teixeira , durante os treze meses de combate
anteriores à Batalha de La Lys os portugueses efectuaram uma dezena de
ataques às linhas alemãs e destas acções resultaram 627 baixas nas
tropas portuguesas (107 mortos, 358 feridos e 162 prisioneiros) e 123
baixas nas tropas alemãs (8 mortos, 56 feridos e 59 prisioneiros).
O resultado da Batalha para os portugueses
cifrou-se em 1.341 mortos, 4.626 feridos, 1.932 desaparecidos e 7.740
prisioneiros.
Ao contrário do que a propaganda inglesa passou para o mundo, a
resistência da 55ª Divisão inglesa, que fazia a ligação à direita com a
2ª Divisão portuguesa, foi esmagada pelo avanço alemão deixando que
estes ultrapassem as defesas da line B, e através das trincheiras
de comunicação executassem um movimento de envolvimento para atacar os
portugueses de lado e por detrás1.
No relatório apresentado pelo Major Guilherme Correia de Araújo,
comandante do Batalhão n.º 10, de Bragança, datado de 22 de Abril de
1918, p.13-14, relata que o inimigo já tinha ocupado a line A e
que os ingleses à sua direita, referindo-se a tropas inglesas da 55ª
Divisão, fugiam chorando e que tinham deixado os alemães entrarem nas
trincheiras de comunicação. Refira-se que os ingleses ao fugirem da zona
entre o canal de La Bassèe e a localidade de Ferme Du Bois, a Sul da 2ª
Divisão portuguesa, abriram uma brecha de aproximadamente 4.5 Km, por
onde os alemães se infiltraram. A Norte da 2ª Divisão portuguesa as
defesas inglesas, constituídas por tropas da 50ª Divisão, tal como o que
aconteceu às tropas portuguesas, foram rapidamente ultrapassadas pelas
forças alemãs no primeiro embate.
Muito dos portugueses foram apanhados de surpresa, com o aparecimento
dos alemães vindos da retaguarda. Esta situação foi presenciada por
Ernie Stevens, do 20º Middlesex Regiment, também aprisionado pelos
alemães em 9 de Abril de 1918, que deixou testemunho de ter observado,
junto a uma localidade chamada Laventie, um grande número de soldados
portugueses estendidos no chão de barriga para baixo e virados para a
retaguarda. Ele remarca que as nossa tropas tinhas sido apanhadas de
surpresa pela retaguarda e ceifadas pelos alemães3
.
Segundo relata o livro ”Noticias Históricas das Guarnições Militares de
Tomar, do Coronel do Exercito, Luís Nogueira, pág.120 - ”Por falta de
munições ficaram prisioneiros das tropas alemãs, os militares do R.I.15:
7 oficiais e 31 praças de pré”.
É de referir que durante a primeira parte da ofensiva alemã "Operação
Michael", entre 21 de Março e 5 de Abril de 1918, foram capturados
54.000 prisioneiros da Força Expedicionária Britânica e que destes
21.000 foram capturados em poucas horas durante o primeiro dia2.
No final da guerra acredita-se que existiriam 140.000 prisioneiros
britânicos internados em campos de prisioneiros na Alemanha dos quais
cerca de 3.000 estariam internados para tratamento na Suiça, ao abrigo
de uma convenção assinada entre a Inglaterra e a Alemanha.
|
Campos de Internamento de Prisioneiros na Europa
Campo de Prisioneiros de Breesen
Para os alemães Breesen era um Campo de Prisioneiros para Oficiais
Neste Campo encontravam-se oficiais portugueses feitos prisioneiros no
dia 9 e 10 de Abril de 1918, nas localidades de Neuve Chapelle, La
Couture, Pont du Heme, Vieille Chapelle, Le Touret e Lavantie.
A chegada dos oficiais portugueses a Breesen deu-se a partir de Julho e
em Outubro de 1918, um mês antes do fim da guerra. A quase
totalidade dos oficiais veio do campo Friedrichsfeld, onde os alemães
concentraram os prisioneiros da sua última ofensiva.
Em 11 de Novembro de 1918 estavam internados neste Campo 262 oficiais.
Felisberto Alves Pedroso,
Coronel
Diocleciano Augusto Martins, Coronel
João Carlos Craveiro Lopes, Tenente Coronel
Alexandre José Malheiro, Tenente Coronel
Eugénio Carlos Mardel Ferreira, Tenente Coronel
José Sande Lemos, Tenente Coronel
Gustavo de Andrade Piçarra, Major
Máximo Marques, Alferes de Artilharia 3
Henrique dos Santos, Capitão
Na foto sentado à esquerda o Alferes Mariano Moreira
Lopes, do Batalhão de Infantaria 16.
Na primeira fila sentado: 3-Capitão Joaquim Simões
da Costa, 4-Alferes Mariano Moreira Lopes
Na terceira fila de pé: 2-Alferes Simões da Costa;
1-Capitão Fachada
Oficiais portugueses prisioneiros em Breesen procedendo à
limpeza da louça e talher após acabarem a refeição.
1-Coronel Pedroso; 2-Tenente-coronel Alexandre Malheiro;
3-Capitão Camilo de Oliveira
Dois oficiais prisioneiros em Breesen, pai e filho:
Capitão Joaquim Simões e Costa e Alferes João Simões e Costa.
|
Campo de Prisioneiros de Fürstenberg
Para os alemães Fürstenberg era um Campo de Prisioneiros para Oficiais.
O Capitão Henrique dos Santos, da 6ª Brigada foi aprisionado em Neuve
Chapelle, no dia 9 de Abril de 1918. Mais tarde em 10 de Outubro de 1918
é que é transferido para Breesen, onde os alemães concentraram os
Oficiais portugueses.
|
Campo de
Prisioneiros de Fuchsberg-bei-Uchte
Para os alemães Fuchsberg era um Campo de Prisioneiros para Oficiais.
O Tenente-coronel Alexandre Malheiro refere que os
portugueses foram generosamente socorridos pelos camaradas franceses que
connosco partilharam os alimentos disponíveis44.
|
Campo de Prisioneiros de Friedrichsfeld
Para os alemães Friedrichsfeld era um Campo de Prisioneiros para
Praças.
Em Agosto de 1918 estavam internados neste Campo mais de 5.000
Praças e Oficiais. Só em Outubro é que é efectuada a transferência
dos Oficiais para Breesen.
Deste campo existe informação sobre a vivência do 2º Sargento
Miliciano em 22 de Maio de 1918, José Maria Hermano Baptista, que
foi ferido na Batalha de La Lys, a capturado pelos alemães.
Depois de ter passado algum tempo hospitalizado em Wesel foi
transferido para o campo de prisioneiros de guerra Friedrichsfeld,
onde permaneceu de Maio a Dezembro de 1918. Nas suas memórias lembra
esse período de forma muito especial e apresenta a sua imagem dos
militares alemães, diz‑nos: "Afinal os
alemães não eram aqueles "terríveis Boches" que nos tinham habituado
a tanto temer. Não só não nos fizeram mal como até me olhavam
pesarosamente dizendo: Kaput? E lá seguiram o seu caminho avançando
com as suas metralhadoras ligeiras sempre protegidos pela artilharia
que lhes ia limpando o caminho".
Alberto C. Santos,2º
Sargento de Infantaria
Manuel A. Cunha, 2º Sargento de Infantaria
João L. Cabeleira, Soldado de Infantaria
Manuel Barbosa, Guarda Fiscal ao serviço do CEP
|
Campo de Prisioneiros de Dülmen
Para os alemães Dülmen era um Campo de Prisioneiros para Praças.
Em
24 de Agosto de 1918 estavam internados neste Campo 300 praças.
Este campo ficava localizado na Westfalia
Também se encontravam aqui ingleses capturados a 9 de Abril durante a
ofensiva alemã.
|
Campo de Prisioneiros de Merseburg
Para os alemães Minden era um Campo de Prisioneiros para Praças.
Em Outubro de 1917, recebeu grande parte dos prisioneiros
italianos capturados entre Tagliamento e Piave. Para preparar o campo
para receber um numero aproximando de 3.150 prisioneiros, tiveram de
empilhar os prisioneiros franceses, russos, ingleses, belgas,
portugueses e romenos, amontoados por barracas.
(46)
Este campo ficava localizado na Saxónia
|
Campo de Prisioneiros de Minden
Para os alemães Minden era um Campo de Prisioneiros para Praças.
Essencialmente utilizado para prisioneiros britânicos.
José
dos Santos,
Sargento-ajudante, (Infantaria n.º 1)
|
Campo de Prisioneiros de Karlsruhe
Para os alemães Karlsruhe era um Campo de Prisioneiros para Oficiais da
Marinha.
Na Revista "Ilustração Portuguesa", n.º 647, de 15 de Junho de 1918, é
indicado o nome do Alferes Eduardo Djalme d'Azevedo, como um dos prisioneiro portugueses
internados neste campo. Não é indicado a arma e a unidade deste Oficial.
O seu nome faz parte da lista de oficiais que foram transferidos
para Breesen em 10 de Outubro de 1918.
O Campo, pelas fotos apresentadas, não apresenta uma superlotação e
tenta transparecer um ar organizado onde se dá aos prisioneiros
algumas condições, como por exemplo a existência de um espaço para
teatro e uma biblioteca.
O Alferes
Eduardo Djalme d'Azevedo, do Batalhão de Infantaria n.º 32, foi
capturado em 25-10-1917 (58),
quando cumpria um raid Às linhas inimigas. Américo Olavo no seu livro
"Na Grande Guerra" refere que isto terá sido devido à dificuldade que
existia em as patrulhas encontrarem as suas linhas quando se encontravam
na "Terra de Ninguém" em noites de neblina ou nevoeiro.
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Campo de Prisioneiros Münster I, II, III e IV
De acordo com a descrição feita por Mr. Dresel, no seu relatório de
visita ao campo de Münster, datado de 24 de Março de 1916, indicava que
o campo era constituído por duas grandes zonas rectangulares, que
alinhavam barracas de ambos os lados. Cada uma das zonas tinha a
cozinha, zona de lavagens e de banhos, e ainda uma área cultivada pelos
prisioneiros. Os prisioneiros estava divididos entre as duas zonas,
ficando de um lado os Britânicos e do outro os franceses. Do lado
Britânico ainda ficavam outras nacionalidades mas em barracas separadas.
Nas barracas as camas eram do tipo beliche e aparentemente sobrelotadas.
A luminosidade era fraca e a luz eléctrica era dada apenas por duas
lâmpadas no interior da barraca de dimensões aproximadas de 57m x 14m.
Apresentavam janelas apenas num dos lados, o que não facilitava a
ventilação.
Ao longo da guerra as estruturas foram melhorando e os campos que foram
construídos mais tardiamente já apresentavam melhor ventilação.
Os prisioneiros britânicos apresentavam-se bem vestidos, muito devido à
recepção regular de “colis” da Inglaterra. Quanto à alimentação os
prisioneiros conseguiam ser alimentados quase apenas pelas encomendas
recebidas, dispensando regularmente a comida fornecida pelos guardas.
Os americanos, enquanto neutros e através da Young Men’s Christian
Association (YMCA), construíram no campo um edifício que continha uma
Igreja, um teatro, uma biblioteca e outras salas. Todas as semanas um
Reverendo vindo de Nova Iorque, pertencente à International Committee of
the Association ,prestava serviços religiosos no campo.
Muitos dos prisioneiros eram levados a trabalhar nas minas de carvão,
que ficava junto dos campos II e III. O campo IV estava reservado a
prisioneiros russos. Os campos I, II e III eram considerados campos de
registo (triagem) de prisioneiros, ou seja, eram basicamente campos de
passagem.
31
Em Outubro de 1918 verificava-se o registo da seguinte lista de
prisioneiros:
Franceses - Oficiais 3
Franceses – Praças 9.702
Russos – Oficiais 1
Russos – Praças 6.354
Belgas – Praças 424
Ingleses – Praças 3.343
Sérvios - Praças 42
Italianos – Praças 752
Portugueses – Praças 285
Civis - 40
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Campo de Prisioneiros de Stalluponen
Para os alemães Stalluponen era um Campo de Prisioneiros para Praças.
Situado na Prússia Oriental era essencialmente utilizado para
prisioneiros russos, romenos, italianos, alguns franceses e 9 praças.
António Pereira dos Santos,
1º Cabo, (Infantaria n.º 3)
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Campo de Prisioneiros de Lazarett III
Para os alemães Lazarett III era um Campo de Prisioneiros para Praças.
Existe registo dos seguintes militares internados neste campo de
concentração, o qual se localizava em Hamburgo.
Adriano de Almeida, Soldado, 4ª Companhia de Infantaria 2
António da Costa, Soldado, 2ª Companhia de Infantaria 8
António Duarte Campos, Sargento, 4ª Companhia de Infantaria 2
João Baptista Damião, Soldado, 4ª Companhia de Infantaria 2
José de Carvalho, ?????? , 4ª Companhia de Infantaria 8
Manuel Caetano, Soldado, 10ª Companhia de Infantaria 17
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Campo de Prisioneiros de Parchim
Para os alemães Parchim era um Campo de Prisioneiros para Praças.
Em
Outubro de 1918 estavam internados neste Campo 76 praças.
De
acordo com William Doegen, o número de prisioneiros registados em
Parchim em Outubro de 1918 era de 55.193, distribuídos por várias
nacionalidades: Franceses, Russos, Belgas, Ingleses, Sérvios, Romenos,
italianos, Americanos, Montenegrinos, Portugueses e civis.
Nos
registos efectuados pelo Inspector do IX Corpo de Exército Alemão,
General Von Nessler encontra-se a indicação que se encontravam
internados, à data, 76 militares portugueses.
António Alves da Santa, Cabo, 3ª Companhia de Infantaria 19
José Bernardes, Sargento, ???????
Bernardes Carvalho, Soldado, Engenharia 2
João José da Costa Jr., Soldado, ?ª Companhia de Infantaria 8
António Pinto Faria, Cabo, 2ª Companhia de Infantaria 6
João José da Fonseca, Soldado, ?ª Companhia de Infantaria 13
António Freire, Soldado, 2ª Companhia de Infantaria 14 |
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Campo de Prisioneiros de Güstrow
Para os alemães Güstrow era um Campo de Prisioneiros para Praças.
Em
20 de Agosto de 1918 estavam internados neste Campo 45 praças.
Abel Martins Teixeira, 1º Cabo nº 119 ( Corpo da Polícia de Macau )
Zacarias Ribeiro Almeida, Soldado
Eduardo Manuel, Soldado
Porfírio de Paiva, Sargento-ajudante
Augusto da Silva Martins, Sargento
João Cardoso de Oliveira, Sargento
José Maria Marques, Cabo
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Campo de Prisioneiros de Schneidemühl
Para os alemães Schneidemühl
era um Campo de Prisioneiros para Praças.
Estava localizado na zona oriental da Alemanha, actualmente Polónia.
Inicialmente
recebeu prisioneiros russos, mas mais tarde e principalmente depois do
armistício russo 1917, passou a internar prisioneiros de todas as nações
aliadas, o que incluiu portugueses |
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Campos de Internamento de Prisioneiros em África
Campo de Prisioneiros de Windhoek (África Alemã do Sudoeste)
Os
militares europeus aprisionados em Angola,
foram-no quase todos em resultado do combate de Naulila, em 18 de
Dezembro de 1914. Os 34 prisioneiros foram transportados para o campo de
prisioneiros de guerra em Windhoek, partilhado o cativeiro com os
soldados sul africanos. Tal como em qualquer outro campo as condições
materiais e alimentares eram muito deficientes. Windhoek era a capital
administrativa da África Alemã do Sudoeste
A
imprensa britânica publicou na época noticias de maus tratos físicos por
parte dos alemães, mas a informação foi posteriormente desmentida pelos
próprios prisioneiros sul africanos após a libertação. Existia sim um
problema racial nos brancos sul africanos por estarem a ser guardados
por militares indígenas negros.
Os
prisioneiros portugueses foram posteriormente deslocados para a
localidade de Okalandge, a norte de Windhoek, e de seguida para a
localidade de Tsumes, onde se encontravam quando da rendição rendição
das forças militares alemãs da África Alemã do Sudoeste se rendem ao
General Botha, comandante em chefe das forças da União Sul-Africana, em
9 de Julho de 1915. A 15 de Julho de 1915 todos os prisioneiros foram
libertados12.
Não há registo de prisioneiros indígenas, já que os alemães tendiam a
mata-los no campo de batalha e aos carregadores reutilizados no seu
exército.
Ernesto Moreira dos Santo
(Soldado de Infantaria - 11ª Companhia do Batalhão de Infantaria 14 -
Viseu)
Nas suas memórias indica que em Naulila foram
aprisionados 3 oficias, 1 sargento e 34 soldados no dia 18 de Dezembro
de 1914 e que todos os Landins foram enforcados. Os prisioneiros são
levados para África Alemã em duas colunas: uma onde estão dois oficiais,
Tenente António Rodrigues Marques e o Alferes Andrade, com mais 16
praças e outra com o Tenente Aragão (Cavalaria - Dragões), o Sargento
Marques (Artilharia) e mais 18 soldados, entre os quais 4 moribundos.
O Soldado Ernesto dos Santos seguia na coluna de
prisioneiros onde estava o Tenente Aragão, na sua deslocação de Angola
para a
Damaralândia. O primeiro problema foi a alimentação. Até chegar a
Okalusi levaram 4 dias e noites de caminhada, num total de 500 km. Aí
ficaram durante 19 dias a descansar numa missão religiosa finlandesa,
onde foi sepultado um dos 4 prisioneriros que se encontrava gravemente
ferido. Mais 10 dias de marcha até Okankuejo, onde descansaram
durante 4 dias. Uma última marcha para Outjô, onde existia um campo de
prisioneiros para ingleses, e após a identificação e efectuada a
selecção, uns foram para o campo de prisioneiros para Sul Africanos em
Windhoek e outros para o hospital local.
Em Fevereiro de
1915 os portugueses que se encontravam no campo de prisioneiros para Sul
Africanos, em Windhoek, foram enviados para Norte para o campo de
prisioneiros para portugueses de Octávy Fontayne, em
Okalandge, que
ficava a cerca de 200 Km. Aqui encontraram os prisioneiros portugueses
que tinham seguido na outra coluna, a do Tenente
António Rodrigues Marques e o Alferes Andrade.À data tinham morrido mais
2 prisioneiros (soldados), mas tinham chegado mais prisioneiros vindos
dos postos de Mucusso e de Dirico.
Do tratamento dado pelos alemães aos prisioneiros
portugueses, Ernesto dos Santos não apresenta uma visão negativa, tanto
pelo tratamento médico oferecido, como pela indicação da consternação
como os civis alemães viram as condições em que chegaram os soldados
portugueses ao campo, e é, ainda, de realçar a atitude de respeito dos
oficiais alemães perante os oficiais portugueses. Os soldados foram
obrigados a trabalhar e eram alvo da disciplina militar alemã. A
partir de Fevereiro de 1915, os alemães começaram a abonar os oficiais
portugueses prisioneiros com um soldo mensal.
Posteriormente os prisioneiros portugueses foram
transferidos para
Okalandge, onde se mantiveram entre meados de Fevereiro e meados de
Abril, local onde se manteve os problemas de carência alimentar. O
tratamento dos guardas em relação aos prisioneiros melhorou, após
Fevereiro de 1915, devido ao trabalho do Ministro dos Negócios
Estrangeiros português que visitou a Embaixada da Alemanha, quando do
aniversário do Kaiser, mas em Maio, com as alteração do Governo nacional
as relações com a Alemanha voltaram a esfriar e a disciplina no campo de
prisioneiros apertou. No entanto, Ernesto dos Santos acabou por
ser convidado para trabalhar na cozinha, o que lhe permitiu não passar
mais fome, como até desviar alimentos e condimentos para os seus
camaradas do campo. É de referir mais uma vez que os alemães o trataram
bem.
O número total de portugueses internados no campo de
prisioneiros
de Octávy Fontayne, ascendia a perto de 50. Os prisioneiros organizaram
uma comissão de 5 elementos para contacto com as autoridades alemãs e
também tinham organizado um grupo de trabalho dedicado a entretenimento,
que incluía um orfeão. A partir de uma certa data os prisioneiros
passaram a ter acesso à cantina militar alemã e a poder comprar
mantimentos dentro de um rol pré estabelecido. Os praças recebiam um
marco por dia de trabalho.
Os portugueses foram depois transferidos do campo de
prisioneiros de
Octávy Fontayne, para
um em Tsumeb, ainda mais a Norte. O trabalho exigido aos prisioneiros
era efectuado junto do povoado e não a muita distância do campo. Foi com
surpresa que os portugueses foram libertados por tropas sul africanas e
inglesas. Os guardas alemães não ofereceram qualquer resistência e
passaram pacificamente à nova situação de prisioneiros.
Os nossos prisioneiros foram transportados com os
restantes prisioneiros sul africanos e ingleses, de navio entre a
Walfish Bay e Cap Town. Muitos dos prisioneiros portugueses, se não
quase todos, tinham sido dados como mortos em Portugal. Da cidade de
Cabo, onde foram recebidos pela multidão, que incluía os portugueses aí
residentes, e o Cônsul português, Dr. Arriaga, filho do então Presidente
da República (1915), foram posteriormente embarcados no vapor "África"
para Portugal, tendo feito escala em Moçâmedes, Luanda, Cabo Verde,
Madeira. A partir da Madeira o vapor "África" foi escoltado pelo
contratorpedeiro "NRP Tejo" até Lisboa40.
António Rodrigues Marques (Tenente de Infantaria)
Augusto Casimiro no seu livro "Naulila", Capítulo XIII
"Depois do Combate" fala-nos sobre os prisioneiros portugueses após o
combate de Naulila, através de memórias transmitidas pelo Tenente
António Marques. Indica uma atitude hostil por parte dos alemães, muito agressiva
contra os homens
válidos, mas mais moderada para com os feridos. O Tenente António Marques ao
tomar conhecimento que os alemães estavam a fuzilar os landins (soldados
da 16ª Companhia Expedicionária de Indígenas de Moçambique) interveio em
protesto junto dos alemães gritando: "...em todos os exércitos
civilizados os soldados combatem quando os mandam! ... O comandante
dessas homens sou eu!". Os alemães, entretanto,
continuavam a efectuar o
saque das bagagens da coluna portuguesa. Foram mortos pelos alemães
nestas circunstâncias 12 landins
prisioneiros.
Na retirada que se iniciou logo no dia seguinte, 19 de
Dezembro, os alemães utilizaram os prisioneiros
como escudos humanos quando faziam a data de água, com medo de serem
alvejados por atiradores furtivos. Colocavam os prisioneiros
portugueses válidos e ligeiramente feridos, com uma bandeira branca
erguida, presos uns aos outros por cordas envoltas aos pescoços, para
criar uma cortina de protecção. O
tratamento dos feridos portugueses apenas aconteceu a 19 para os mais graves e
a 21 para os mais ligeiros.
Os prisioneiros seguiram para Sul em duas colunas, no
dia 19 ao fim da tarde, com as restantes tropas alemãs em retirada. Numa coluna seguiram os
homens válidos, Alferes Andrade e 35 praças, e na outra seguiram os homens
feridos, os tenentes Marques e Aragão, o Sargento de Artilharia António
de Sousa e 26 praças, entre os quais os quatro que vieram a falecer.
Ficou desaparecido em combate o Alferes Sereno.
54
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|
|
Os Prisioneiros e o Trabalho
Na
propaganda portuguesa é apresentado o tratamento dado aos prisioneiros
de guerra alemães como muito cuidado e contrastante com o tratamento que
os alemães davam aos prisioneiros aliados. É posta a tónica que os
prisioneiros aliados eram forçados a trabalhar, sob um terror constante,
em trabalhos muito diferentes do que faziam na sua vida civil e para os
quais não estavam adaptados. reforça ainda a escassez de alimentos.
Em
contrapartida indica que, em França, os prisioneiros alemães eram
seleccionados de acordo com as suas aptidões, de acordo com as
respectivas profissões, evitando tanto quanto possível a depreciação
moral dos prisioneiros. Muitos eram enviados de comboio para a
retaguarda para trabalhar na agricultura4.. |
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O Impacte Social
Para avaliar a repercussão sociedade civil e nas famílias dos
prisioneiros de guerra, há que tomar o censo de 1911 que indicava a
existência de 1.411.327 famílias em Portugal metropolitano, de onde
provinha a quase globalidade dos militares enviados no Corpo
Expedicionário para França.
Tomando como referência os números apresentados por Portugal na
Conferência de Paz de Paris de 1919, é indicado a mobilização de 108.100
militares, 35.623 perdas e 6.000 prisioneiros de guerra, o que de acordo
Nuno Teixeira representa representou 1 prisioneiro em cada 182 famílias
e um morto ou ferido em cada 13 famílias10.
Dada a inexistência de números oficiais para o total de baixas, as
várias de fontes de referência agregam os números de forma variada, pelo
que na nossa análise, e porque a incidência é sobre os prisioneiros, os
números relativos a desaparecidos são incluídos nos mortos em combate.
Assim utilizámos as seguintes critérios: Mortos em Combate -
incluem os soldados que morreram em combate, enquanto prisioneiros, de
feridas e desaparecidos; Prisioneiros - incluem os soldados
identificados e aprisionados pelo inimigo e que fora repatriados no
final do conflito; Feridos - incluem os feridos em combate e os
doentes que ficaram incapazes para o serviço militar ou morreram em
consequência dos ferimentos ou doença, excluindo especificamente os
mortos pela gripe pneumónica, e; Pneumónica - incluem os mortos
directamente derivados da gripe.
Fica, então, generalizada a definição de Mobilizados - todos os soldados
que integraram as forças militares e de Baixas - todos os mortos,
prisioneiros, feridos e pneumónica.
No entanto, o relatório britânico produzido pelo "British War Office"
apresentou 7.022 mortos contabilizados até 31 de Dezembro de 1919,
repartindo 1.689 em França e 5.333 em Africa. É, ainda, considerado
adicionalmente a existência de 12.318 desaparecidos e prisioneiros
incluindo números de África. Ao nível de baixas na população civil é
indicado a existência de um aumento de mortes em relação ao nível
anterior à guerra de aproximadamente 220.000 ocorrências, repartindo em
82.000 mortes causadas por fome e 138.000 mortos causadas pela gripe
pneumónica11.
Um outro relatório elaborado pelo "War Department", dos Estados Unidos
da América, indica um número estimado de 7.222 baixas para os militares
portugueses.
Portugal
e Colónias (4/08/1914 a 30/09/1919)
Mobilizados
(108.100 militares) |
Mortos |
Prisioneiros |
Feridos |
Pneumónica |
Exército |
|
|
|
|
Corpo Expedicionário
Português (França) |
2.225 mortos e 199
desaparecidos |
6.767 |
|
|
Corpo de Artilharia
Independente (França) |
0 |
0 |
5 |
|
Forças
Expedicionárias a Angola |
810 mortos e 20
desaparecidos |
34 |
1.055 |
|
Indígenas em Angola |
|
212
(carregadores) |
|
|
Forças
Expedicionárias a Moçambique |
4.811 mortos e 7
desaparecidos |
48 |
2.883 |
|
Indígenas em Moçambique |
|
5467
(carregadores) |
|
|
Marinha |
142 |
0 |
30 |
|
Baixas civis fora da frente
de combate |
|
|
|
60.000 gripe
pneumónica, mais 40.000 por fome * |
(*) valores corrigidos
Por
comparação os indicadores da Grã-Bretanha para o período:
Mobilizados (8.904.467
militares) |
Mortos |
Prisioneiros |
Feridos |
Pneumónica |
Exército |
573.507 mortos e
254.176 desaparecidos |
154.308 |
1.643.469 |
|
Marinha |
32.287 marinha de
guerra e 14.661 marinha mercante |
|
|
|
Baixas civis fora da frente
de combate. |
1.260 civis por
ataques aéreos e navais |
|
|
183.577 gripe
pneumónica, mais 109.000 por fome |
E
para França, relativamente a indicadores sobre civis para o período:
Mobilizados
(8.410.000 militares) |
Mortos |
Prisioneiros |
Feridos |
Pneumónica |
Baixas civis fora da frente
de combate |
3.357 civis por
ataques aéreos e artilharia de longo alcance |
|
|
200.000 gripe
pneumónica, mais 300.000 por fome e causas indirectas de guerra |
|
|
O Repatriamento dos Prisioneiros de Guerra
Os primeiros prisioneiros Britânicos chegaram a França a 15 de Novembro
de 1918, quatro dias após o Armistício e utilizaram o porto de
Dunquerque para serem transportados ao Inglaterra. A 9 de Dezembro de
1918, 264.000 prisioneiros de todas as nações aliadas, grande parte
franceses, já se encontravam repatriados ou no caminho de regresso.
Muitos prisioneiros foram libertados pelos alemães em massa e enviados
através da linhas de guerra aliadas de França e Bélgica, o que levou a
que muitos prisioneiros viessem a morrer de exaustam durante o regresso,
devido à subnutrição que estiveram sujeitos durante o cativeiro.
Os aliados não estavam preparados para receber de repente o regresso dos
milhares de prisioneiros. Em princípio, e de forma improvisada, foram
recolhendo em camionetas os prisioneiros libertados e transportavam-nos
para centros de recepção ou de acolhimento temporário, onde os
reequipavam com vestuário novo e os alimentavam, para posteriormente os
despachar para os portos de embarque, Dunquerque para os ingleses e
Cherbourg para os portugueses, por via férrea.
É de notar que enquanto os prisioneiros aliados foram enviados para
casa, não foi garantido o mesmo tratamento para os prisioneiros das
potências centrais que se encontravam em França e na Rússia, muitos
ainda se encontravam presos, ou mesmo obrigados a trabalhos forçados,
quando a intervenção do Comité Internacional da Cruz Vermelha e do
Concelho Supremo de Guerra em 1919, requereram que os prisioneiros
Alemãs, Austro-Húngaros e do Império Otomano fossem libertados.
Em 11 de Abril de 1920 a Sociedade das Nações organizou a repatriação de
425.000 prisioneiros das potências centrais que ainda se encontravam
detidos pelos Aliados e na Rússia.
O Regresso dos Soldados Portugueses
O regresso das tropas portuguesas prolongou-se durante vários meses
após o final dos combates e para muitos prisioneiros esse regresso só
aconteceu dois anos depois. Em 23 de Novembro de 1918 regressaram 485
militares e em Dezembro seguinte regressou, via Brest, mais um
contingente de soldados do CEP provenientes de França5.
Em Dezembro de 1918, considerava-se que quase todos os prisioneiros de
guerra portugueses já se encontravam livres dos campos de prisioneiros
da Alemanha e a caminho da fronteira de França, Bélgica ou Holanda, para
posteriormente serem embarcados para Portugal6.
Em 9 de Dezembro de 1918, partiu do porto de Cherbourg o primeiro
contingente de prisioneiros
militares do Corpo Expedicionário Português a ser repatriado.
Chegada a Lisboa, no dia 2 de Janeiro de 1919, o primeiro transporte de
repatriados no navio português "NRP Pedro Nunes" que repatriou cerca de 710
prisioneiros de guerra provenientes de campos de concentração alemães. A
imagem foi tirada momentos antes de o navio atracar ao cais do Posto de
Desinfecção. |
|
Na
recepção aos militares esteve presente o Sr. Presidente da República
Almirante João do Canto e Castro Silva Antunes, que acompanhado pela sua
comitiva, assistiram ao desembarque dos soldados repatriados.
Na imagem segue à direita do Sr. Presidente o Capitão de Mar e Guerra
Ivens Ferraz e à sua esquerda General Côrte Real
Saída
dos militares do navio "NRP Pedro Nunes" para o cais.
|
|
As
senhoras da Cruzada das Mulheres Portuguesas e da Instituição das
Madrinhas de Guerra, acolheram os militares no cais do Posto de
Desinfecção, distribuindo pelos recém-chegados café, bolos e tabaco. Na
recepção oficial que aconteceu no dia seguinte à chegada, 3 de Janeiro,
para além de estarem presentes entidades oficiais, também estiveram
presentes muitas senhoras da Comissão Protectora de Prisioneiros de
Guerra e representantes da Cruz Vermelha. |
Em
Janeiro de 1919 continuavam em plena actividade os serviços de
repatriação dos prisioneiros de guerra que ainda se encontravam
disseminados pelos vários campos de concentração da Alemanha (Gross Born,
Friedrichesfeld, Schneidemühl e Breesen). Nesta data vários soldados
portugueses já tinham conseguido transpor a fronteira alemã, de acordo
com informações oficiais, mas de forma desorganizada que se afiguraram
mais a fugas individuais. Pelo menos seis oficiais capturados em 9 de
Abril de 1918 já se encontravam em Lisboa, entre os quais o Capitão
Santos Nogueira, que escapou do campo de concentração de Breesen, esposo
da Sr.ª D. Maria del Pilar Santos Nogueira, Secretária Geral da Comissão
Protectora dos Prisioneiros Portugueses. |
Em
19 de Janeiro de 1919 chegou um segundo transporte de 1.529 prisioneiros
de guerra, a bordo do navio inglês "Helenus", os quais foram de seguida
dirigidos para o Depósito de Adidos da Guarnição de Lisboa.
|
|
Em
Fevereiro de 1919 o navio inglês "Helenus" transporta um novo
repatriamento de tropas portuguesas.
Estas são recebidas, no cais, pelo representante do Sr. Presidente da
República Alferes Palma, o Sr. Ministro da Guerra Tenente-Coronel
Freitas Soares e o chefe da missão inglesa em Lisboa General
Barnardiston. Os soldados foram recebidos pelas madrinhas de guerra,
composto por um grande numero de senhoras inglesas, que lhes
distribuíram donativos.
|
|
No
dia 19 de Abril de 1919, chegou a Lisboa o navio inglês "Menominee" com
1.337 soldados portugueses repatriados de França. Estiveram presentes
representantes oficiais e um contingente da marinha que lhe fez guarda
de honra. |
|
No
dia 28 de Abril de 1919, chegou a Lisboa um novo transporte de
prisioneiros de guerra portugueses, a bordo do cruzador inglês "Northwestern
Miller", que foram recebidos pelo Sr. Ministro da Guerra Alferes Palma,
em representação da República.
Entre eles regressou o Coronel Felisberto Alves Pedrosa, que também se
encontrava prisioneiro desde 9 de Abril de 1918. Os militares
regressaram comprimindo-se na amurada do navio.
|
Imagens do desembarque dos militares portugueses em Lisboa |
|
O
regresso de outros contingentes de tropas não receberam igual
manifestação de apresso e carinho à chegada, tendo-se camuflado a
chegada de alguns contingentes pela demora e limitações de transporte7.
|
Apoio aos Militares Repatriados
O Triângulo Vermelho, instituição Norte-Americana que se irradiou pelo
mundo, chegou a Portugal após a intervenção no teatro de guerra em
França. Dedicou a sua acção de beneficência em Portugal em prol dos
soldados , acção que já efectuava em França durante a guerra. A
constituição do Triângulo Vermelho Português (TVP), este teve como
objectivo a assistência moral e material dos repatriados.
O TVP através do seu comité internacional, também auxiliou os nossos
prisioneiros que se encontravam retidos na Alemanha. Foi considerada a
instituição que mais ajudou directamente os nossos militares em França.
Em 24 de Março de 1919 inaugurou, na então Rua Vinte e Quatro de Julho
em frente ao jardim de Santos, tendas de apoio onde forneciam aos
militares tabaco, chá, café, chocolate, papel de carta e, ainda,
disponibilizavam espaço para jogos sociais e cinema, sempre com o
intuito ocupacional dos soldados, enquanto esperavam transporte para
regressar às suas famílias.
Da
esquerda para a direita: Major Chaby, representante do Quartel General
Territorial do CEP; Coronel Swan, adido militar inglês; General Brainard,
adido militar americano; Coronel Bernard, adido militar francês; (?),
representante do Ministro da Marinha; Coronel Thomaz Birch, ministro dos
Estados Unidos da América do Norte; Coronel Paulino d'Andrade,
Comandante Geral da Guarda Republicana; (?), ajudante-de-campo do
Coronel Paulino d'Andrade; General Aguiar, representante do Ministro da
Guerra.
|
|
Notas
-
Fraga(2010), p. 409-420
-
Emden (2009), p. 36.
-
Emden (2009), p. 55.
-
Ilustração Portuguesa, 659.
-
Ilustração Portuguesa, 667.
-
Ilustração Portuguesa, 669.
-
Rosa(2010), p.353.
-
Teixeira(1992), pp.95-99.
-
Teixeira(1992), pp.99-101.
-
Teixeira(1992), p. 103.
-
Worlde War casualties.
-
Arrifes(2004), pp.212-214.
-
Emden(2009), pp.8-10.
-
Olavo(1918), pp.11-22.
-
Geraldo(2006), pp.56-57.
-
Emden(2009), p.36.
-
Olavo(1918), p.25.
-
Lourinho(2006), p.65.
-
Lourinho(2006), p.8.
-
Emden(2009), p.37.
-
Emden(2009), pp.37-38.
-
Emden(2009), p. 39.
-
Emden(2009), p.52.
-
Santos(2008), p.96.
-
Santos(2008), p.97
-
Santos(2008), p.97.
-
Emden(2009), p.53.
-
Santos(2008), p.113.
-
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