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Inscrições Religiosas
As inscrições votivas (religiosas) constituem uma
fonte fundamental para concretizar a imagem ritualista de uma religião que
chegou até nós, através de fontes literárias e que permite conhecer a
religiosidade dos indivíduos.
São normalmente de estrutura simples, compondo-se
sempre do nome do deus a que se dedicam e por vezes indicam as
circunstâncias que levaram a criar tal dedicatória ou a consagração da
oferta a uma determinada divindade.
É por vezes complexo interpretá-las, dada a
multiplicidade de divindades, consequência do politeísmo romano. Um outro
fenómeno é a integração de deuses locais, indígenas, entre o panteão romano
criando divindades compostas.
A estrutura
Na época republicana, o texto das dedicatórias às
divindades era muito lacónico. Quando não eram gravas, encontravam-se
pintadas em vasos com oferendas a divindades. quando gravadas eram colocadas
junto a um altar ao pé do templo ou figuravam como ex-voto em metal ou em
bronze afixados nas paredes dos edifícios religiosos.
O nome da divindade aparece no genitivo (designa a
aposse e o complemento determinativo) para indicar que o objecto passou a
pertencer ao deus, ou aparece no dativo (designa o interesse e o complemento
directo) para também para indicar que é o destinatário da oferta do fiel.
Roma, CIL, VI, 21, no Palatino
Anabestas
nome de divindade desconhecida
Roma, CIL, VI, 96, no Janiculo
deus / Corniscas /sacrum
(objecto) consagrado à divindade Corniscae e Juno. Não se
conhece qual a ligação entre "trompas sagradas" e Juno.
A
indicação da natureza do objecto oferecido e o nome de quem faz a oferta,
através da fórmula dd [d(ono) d(edit)] ou [d(onum) d(at)] também pode
aparecer.
Latium, CIL, XIV, 2568
S(anctae) D(eae) Fort(unae) Felicit(ati) d(onum) d(edit)
À santa divindade Fortuna Felicitas, (ele) dedicou a oferta.
O gentílico que estava nesta inscrição desapareceu.
Preneste, CIl, XIV, 2855
Fortuna Primig(enia) / L(ucius) Decuminus M(arci) f(ilius) /
don(om) ded(it)
À Fornuta Primogénita, Lucius Decumius, filho de Marcus, a
oferta dedicou. Donom é uma forma arcaica de oferta no nominativo.
Roma, CIL, VI, 3085
Aescolapio / donom dat / libens merito / M(arcus) Populicio
M(arci) f(ilius)
A Escolapio, Marcus Populicio, filho de Marcus, fez esta
oferta por seu pleno desejo
No final
da República, este tipo de inscrição já tinha tomado a sua forma definitiva
e passa-se a encontra-la em uma após outra dedicatória.
As partes essenciais
Na inscrição figura o nome da divindade beneficiária
da oferenda, em dativo ou raramente em genitivo, por vezes seguida da
palavra sacrum.
O nome ou os nomes dos dedicantes vêem em seguida,
indicando por vezes as suas profissões ou os seus títulos honoríficos. O
verbo no singular ou no plural marca o acto do donativo. A família pode
estar associada, cum coniunge "com sua esposa", nomine suo et coniugi
suae "em seu nome e de sua esposa".
Brescia, CIL, V, 4205
Di(i)s Deabus(que) / omnib(us) L(ucius)
Veturius L(ucii) l(ibertus) / Segomarus /pro se et suis.
"A todos os deuses e deusas, Lucius
Veturius Segomarus, liberto de Lucius, por ele e por os seus"
Pompeia, CIL, X, 810
Eumachia L(ucii) f(ilia), sacerd(os)
publ(ica), nomine suo et / M(arci) Numistri(i) Frontonis fili(i),
Chalcidicum, cryptam, porticus Concordiae / Augustae Pietati sua pequnia
fecit eademque dedicauit.
"Eumachia, filha de Lucius, sacerdotisa
pública, em seu nome e nome de Marcus Numistrius Fronto seu filho, fez
edificar sua à custa um vestíbulo, uma galeria coberta e pórticos (em honra
de) a Concórdia Augusta e da Piedade e as dedica.
As partes acessórias
A razão das dedicatórias pode se
explicita, no seguimento de um mandamento de uma divindade recebido em
sonho, ex visu, ex praecepto, ex iussu, "a seguir a uma visão, uma
instrução divina ou uma ordem". A referência a uma aparição é característica
dos deuses que presidiam o futuro, Apolo e Liber, por exemplo.
Exprime também, a esperança daqueles
que pediram a intervenção dos deuses e daqueles que receberam o resultado
das suas preces, pro salute, "por saúde", ou ex voto, "
cumprimento de um voto".
Come, CIL, V, 5499
I(oui) O(ptimo) M(aximo) /
[L(ucius)] Coelius Baro / votum / s(olvit) I(aetus) l(ibens) m(erito)
A Júpiter, o máximo (e) o
maior, Lucius Coelius Baro está saldado do seu voto, feliz do seu pleno
agrado.
Se o objecto da oferenda é indicado de
forma precisa, ele é escrito no acusativo, statuam, aram, templum. o
dedicante indica a soma despendida na oferenda , ex sestertiis, ou
indica o peso do metal precioso, ex auri pondo.
As dificuldades de interpretação
A dificuldade maior para a compreensão
destas inscrições dedicadas a divindades, provém da riqueza do panteão
romano, mas também do interpretatio romana, o revestimento romano que
executavam sobre as divindades locais, permitindo a sua veneração mesmo após
a conquista, traduziu-se no vocabulário por uma utilização de um deus romano
seguido de um epíteto que lembra-se a divindade indígena.
Djebel Taia, perto de Aqua
Thibilitanis, Numida, CIL, VIII, 18828
Bacaci Aug(usto) sac(rum) /
Gentiano et Bassio co(n)s(ulibus), VII id(as) Maias/ C(aius) Iulius Fronto/ninianus
et [ ---/] estitus Prudes / mag(istriduo) Thib(ilitanorum) u(otum)
s(oluerunt) l(ibentes).
"A Bacax Augusto (lhe)
consagra. Sob o consulado de Gentianus e Bassius, o sétimo dia depois dos
idos de Maio, Caius Julius Frontoninianus et [---] estius Prudes,
magistrados de Tiblis completaram o seus votos com alegria.
Bacax é um deus númida desconhecido em
qualquer outro lugar. Esta inscrição foi encontrada sobre as paredes de uma
gruta onde os magistrados de Tibilis se encontravam para cerimónias
religiosas.
Noutros casos o nome das divindades
escapam-nos totalmente.
Berna, CIL, XIII, 5160
deae Artioni /Licinia
Sabinilla
"À divindade Artio, Licinia
Sabinilla"
Outras vezes é impossível decifrar as
iniciais.
Padua, CIL, V, 2783
C(aius) Acutius / C(aii) f(ilius) Maturus
/ A(?) A(?) u(otum) s(oluit) l(ibens) m(erito)
"Caius
Acutius Maturus, filho de Caius, concluiu o seu voto, de seu pleno agrado,
feliz, a (?) (?)"
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