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A operação de desembarque na Chemulpo

Batalha Naval da Baía de Chemulpo

A Revista Militar do Exército Português aborda também estas ocorrências, embora estivesse mais vocacionada para a análise das questões relacionadas com as operações terrestres dos exércitos russo e japonês.


Recorrendo a comentadores estrangeiros e a traduções realizadas por nacionais, esforçou-se por manter os seus leitores devidamente informados da evolução da guerra e das transformações tácticas e estratégicas em curso.


Luiz Henriques Pacheco Simões, baseando-se no texto do coronel de engenharia suíço Robert Weber, aprovava a sua crítica à dispersão inicial da esquadra russa entre os vários portos de Porto Arthur, Dalny, Chemulpo e Vladivostoque.


Os diversos elementos poderiam ser com facilidade batidos, separadamente pelas forças nipónicas, concentradas em torno da esquadra principal do almirante Togo.


O problema fundamental resultava da estratégia defensiva escolhida pelos russos, optando por manter as suas forças inactivas em Porto Arthur e Vladivostoque. Não desencadeariam ataques laterais aos desembarques japoneses enquanto não chegassem os reforços navais da Europa (1).


A concordância geral de Luiz Henrique Pacheco Simões com Robert Weber não o impediu de corrigir muitas das suas observações sobre a campanha em curso, nomeadamente sobre o grau de impreparação da esquadra russa em Porto Arthur.


Refere, baseado em publicações inglesas como Japan's Flight for Freedom de H. W. Wilson e History of the Russo-Japanese War de Cassell, o facto de na noite do ataque os oficiais russos assistirem a um espectáculo de circo.


De igual modo explica o êxito dos torpedeiros japoneses, devido a uma série de equívocos, por parte dos homens da esquadra russa que os confundiram com os seus navios. A surpresa foi realmente total não tendo os últimos sido detectados pelos primeiros durante a execução do raid (2).


O objectivo final dos japoneses foi atingido. Conseguiram o desembarque em Chemulpo, e alcançaram mesmo mais do que isso, porque a esquadra russa ficou  enfraquecida, tanto quanto se podia presumir, para toda a duração das hostilidades.


Os dois adversários acusaram perdas insignificantes: do lado dos japoneses, 70 a 80 mortos e feridos; do lado dos russos (3).



Notas


1 - Parece, porém, ter entrado nos planos do comando russo a ideia de compreender a esquadra nas suas intençoes defensivas, e de se limitar, aproveitando as posições de flanco de Vladivostock e de Porto Arthur, a dificultar por meio de surpresas os desembarques dos japoneses, esperando entretanto os reforços da Europa.”,


Weber, Robert (Luiz Henriques Pacheco Simões trad. e notas), “A guerra russo-japonesa”, José Estevão de Moraes Sarmento, José Nicolau Raposo Botelho e Fernando da Costa Maya (dir.) Revista Militar, Lisboa, Tip. Universal, 15 de Agosto de 1904, Ano LVI, n. 15, p.451.



2 - Para não nos alongarmos excessivamente em notas, não faremos a descrição minuciosa da surpresa de Porto Arthur, extraída das publicações inglesas que já citámos e que não concorda absolutamente com a que o autor do artigo que traduzimos apresenta; diremos entretanto que, segundo os ingleses referem, os torpedeiros japoneses conseguiram penetrar na enseada onde se achava fundeada a esquadra russa e circular ao longo d'esta a 500 ou 600 metros de distância sem serem descobertos, denunciando apenas a sua presença o ruído da explosão„o dos primeiros torpedos por eles arremessados. Não é, pois, verdade terem sido descobertos a 1.000 metros dos navios russos, nem terem travado o combate próximo das 3 horas da manhã, porquanto este começou momentos depois da meia-noite, como está· averiguado.”, Simões, Luiz Henriques Pacheco, ob. cit., p.454-455, n.1.


3 - Weber, Robert (Luiz Henriques Pacheco Simões trad. e notas), ob. cit., p. 454.



Bibliografia


Revista Militar, Lisboa, Tip. Universal, 15 de Agosto de 1904, Ano LVI, n. 15


The Russo-Japanese War Research Society


Jukes, Jeffery (2002). The Russo-Japanese War 1904-1905. Osprey.


Contra-Almirante Uriu Sotokishi

(1857-1937)

Comandante da força de ataque à Baía de Chemulpo e participou na Batalha de Tsushima


Contra-Almirante Vsevolod Fyodorovich Rudnev

(1855-1913)

Comandante do cruzador Varyag

na Batalha de Chemulpo

Almirante Togo Heihachiro

(1848-1934)

Comandante da Esquadra Imperial Japonesa

Se bem que a historiografia mundial dê uma maior importância ao ataque de Porto Arthur, ma realidade esta foi uma operação secundaria em relação o objectivo primário: o desembarque de tropas em Chemulpo, na península da Coreia. A operação de transporte e desembarque de tropas em Chemulpo ficou a cargo do Contra-Almirante Uriu Sotokishi.


A força de combate japonesa era constituída por seis cruzadores, oito torpedeiros, um aviso (Chihaya) e três navios de transporte com 2.500 homens para desembarque (Jukes: 2002). O porto de Chemulpo era um ponto estratégico de acesso à capital da Coreia (Seul) e na realidade a mesma linha de invasão que os japoneses tinham tomado na guerra Sino-Japonesa de 1894.


Perto da Baía de Chemulpo existiam duas pequenas ilhas, entre as quais se situava o canal navegável até ao porto de Chemulpo, por onde o Contra-Almirante Uriu Sotokishi pretendia enviar a força atacante.


Dentro da Baía encontravam-se ancorados os navios russos: cruzador Varyag e a canhoneira Korietz e ainda os navios neutros: Talbot (Grã-Bretanha), Pascal (França), Elba (Itália) e Vicksburg (Estados Unidos da América). A situação levou a que os navios russos não pudessem atacar os navios japoneses por estarem cobertos por navios neutros e em caso de saírem para combate iriam encontrar uma força japonesa muito mais poderosa que a sua.


A força japoneses dividiu-se em duas flotilhas: uma avançou sobre a baía de Chemulpo com os cruzadores Chiyoda, Takachiho e Asama, os torpedeiros e os navios de transporte para começar o desembarque e a outra formada pelos cruzadores Naniwa, Nitaka e Akashi mativeram-se perto das ilhas exteriores da baía.


O desembarque na noite de 9 de Fevereiro coincidiu com um dos assaltos japonês à frente terrestre  de Porto Arthur. No dia seguinte todas as tropas já tinham desembarcado e os  transportes retirado da baía. Apenas ficou na baía o cruzador japonês Chiyoda. O seu comandante deu ordem a todos os navios neutrais para saírem da baía, o que teve o protesto do comandante do navio britânico, apesar de a Grã-Bretanha ser aliada do Japão.


O Contra-Almirante russo Vsevolod Fyodorovich Rudnev, comandante do Varyag, tomou a decisão de não ficar encorralado no porto e de tentar uma saída ao amanhecer, acompanhado pela canhoneira Korietz. O Varyag era lento e o Korietz não tinha valor de combate perante os cruzadores japoneses que os esperavam. Foi uma decisão muito corajosa.


O cruzador japonês Asama tinha capacidade de destruir a força russa, mas por ordem directa do Almirante Togo foram enviados todos os cruzadores contra os navios russos.


A canhoneira Korietz avançou ao longo do canal directamente contra a força japonesa, acompanhado pelo cruzador Varyag. O cruzador Japonês Asama com as suas duas peças de 203mm conseguia bater o Varyag e este com uma única peça de 152mm não tinha alcance ou velocidade para conseguir fazer estragos no inimigo. Sobre o Varyag ainda abriram fogo outros cruzadores.


A meio da tarde a força russa decidiu regressar ao porto e ambos os navios procuram refúgio entre os navios neutrais que se encontravam no porto. Numa situação impossível de manter a força russa destruiu e afundou os seus próprios navios na manhã seguinte.


Batalha Naval da Baía de Chemulpo (9 de Fevereiro de 1904)