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A Grande Fuga - 18 de Setembro de 1918

Capitão José da Cruz Viegas

2º Grupo de Fugitivos

De La Lys a Breesen

A Preparação da Fuga

Da fuga à Captura

Capitão João Braz de Oliveira (Artilharia, 5ª Grupo de Batarias de Artilharia - 2ª Divisão CEP)

(PT/AHM/DIV/1/35A/1/05/1528)

Tenente Óscar de Carvalho Bastos (Estado Maior de Infantaria, 2º Batalhão, 2ª Divisão CEP)

(PT/AHM/DIV/1/35A/1/06/1826)

Alferes Raul Calazans Duarte (Infantaria, 4º Batalhão, 2ª Divisão CEP)

(PT/AHM/DIV/1/35A/1/09/2700)

Alferes Manuel José Guimarães da Costa Cabral (Artilharia, 5ª Grupo de Batarias de Artilharia - 2ª Divisão CEP)

(PT/AHM/DIV/1/35A/1/04/1015)

Capitão José da Cruz Viegas (Infantaria, 1º Batalhão, 2ª Divisão CEP)

(PT/AHM/DIV/1/35A/1/05/1561)

Boletins Individuais - CEP

Dos 256 oficiais em Breesen, um grupo de cinco oficiais após ter passado 108 dias (1918/07/25) desde a sua captura em La Lys (1918/04/09), começou a pensar num modo de se evadirem e regressarem a Portugal.


Esses homens encontravam-se fisicamente debilitados, mas neste campo de prisioneiros conseguiram alguma recuperação física, pelo menos o suficiente para começarem a organizar uma fuga.


O primeiro passo foi o de armazenar latas de comida em conserva, as quais começaram a chegar ao campo de várias proveniências. Aos oficiais portugueses começaram a distribuir encomendas (colis) destinadas aos romenos, que já não se encontravam no campo, até à chegada das colis de Portugal. (Delduque, 1919: 69).


O segundo passo foi a determinação das rotas de fuga. O campo de Breesen, em Mecklembourg,  encontrava-se a cerca de 300 km da fronteira alemã com a Holanda, cerca de 200 km da fronteira com a Dinamarca por terra, 700 km da fronteira com a Suíça e a restante fronteira alemã era toda um Front intransponível. Pensaram então chegar até ao Mar Báltico, que ficava cerca de 60 km do campo, e daí navegar até à costa litoral mais próxima da Dinamarca.


A preparação só se tornou possível com a ampliação de um pequeno mapa que encontraram no interior de uma gramática alemã comprada no campo e que mostrava a região báltica entre Lübek e Rostock. Mesmo assim para transformar esse esquema num mapa foi preciso improvisar um pantógrafo para ampliar e criar um mapa útil para a fuga.


Foi ainda conseguida entre camaradas a obtenção de uma bússola que até então tinha permanecido escondida dos olhares dos guardas prisionais alemães.


Com mantimentos, mapa e bússola tornava-se possível delinear uma travessia no Báltico em direcção à Dinamarca.  Existia a mais valia do Capitão Braz de Oliveira de artilharia, filho do Contra-Almirante Braz de Oliveira, ter bons conhecimentos de navegação e experiência em velejar, o que permitiu preparar uma rota de fuga com a travessia do Báltico.


Por terra ou por mar seria chegar à Dinamarca o objectivo e daí conseguir o auxílio do consulado para regressar a Portugal.


Durante os 56 dias seguintes até ao dia 18 de Setembro de 1918, dia da fuga, conseguiram através de um civil alemão alsaciano, com raízes francesas anteriores a 1870, a colaboração para arranjar roupas civis, mochilas para os cinco e um imprescindível conta-arame para abrir o buraco inicial na vedação do campo.


Para ocultar o momento inicial da fuga era necessário que o grupo passasse despercebido até chegar ao local escolhido e conseguisse cortar um buraco nas duas vedações paralelas de arame-farpado. Para tal foi estudada uma manobra de diversão com a colaboração de alguns camaradas. Era preciso distrair os olhares dos sentinelas alemães para conseguir atravessar o espaço de 2,5m em terreno limpo e iluminado com luz eléctrica entre as duas vedações.


Assim no dia 16 de Setembro de 1918, às 8 hores da noite, teve início a grande fuga. Um camarada começou a tocar piano com força e outros dois batiam bombos para abafar o barulho do corta-arame e distrair os sentinelas e, ainda, foi simulada uma discussão para desviar os olhares do local do corte do arame-farpado. Após os sentinelas de giro se afastarem o suficiente do local, começou a fuga.


Primeiro saiu o Capitão Cruz Viegas com o Alferes Costa Cabral e depois, num segundo grupo com o Capitão Braz de Oliveira, o Tenente Óscar Bastos e o Alferes Raul Calazans (Oliveira, 1924: 10-16)


1º Grupo de Fugitivos

1º Grupo de Fugitivos


Capitão Cruz Viegas

Alferes Costa Cabral



2º Grupo de Fugitivos


Capitão Braz de Oliveira

Tenente Óscar de Carvalho Bastos

Alferes Raul Calazans Duarte



Os dois grupos tinham como destino a Dinamarca mas percorrendo rotas diferentes. O primeiro grupo do Capitão Cruz Viegas seguiu por terra em direcção à Dinamarca mas acabaram por ser capturados dentro da cidade de Lubeck.


O segundo grupo do Capitão Braz de Oliveira seguiu em direcção ao Báltico, caminhado de noite e escondendo-se durante o dia na floresta. De todas as privações a maior foi a da sede.


Ao fim de 6 dias chegaram à margem do Mar Báltico junto à cidade de Wismar. Aí encontraram os desejados barcos com vela, prontos a navegar, mas por precaução esconderam-se e esperaram pelo cair da noite.


Foram detectados pela polícia local que com cães patrulhava a zona, acabando este grupo também por ser capturado e levado para dentro da cidade de Wismar, onde ficaram detidos durante três dias antes de serem reenviados para o campo de prisioneiros de Breesen.


Terminou assim uma aventura de 10 dias, com o regresso de todos ao campo de onde haviam saído.


A estes oficiais foi aplicado um castigo de 20 dias de prisão em célula individual com uma largura de 1,20m, sem luz de noite e com uma pequena fresta gradeada a quase 3m de altura.


Para os homens que ficaram no campo de prisioneiros de Breesen a noite continuou calma. Os guardas não deram por falta dos cinco prisioneiros. A ronda da noite passou normalmente e fez a revista dos barracões sem contar o número de homens.


Só no dia seguinte, com a luz da manhã, é que os guardas virão  o buraco no arame-farpado e deram o alarme.


O comandante do campo mandou formar os prisioneiros e efectuar contagens e interrogatórios, mas todos responderam que desconheciam a fuga. Após uma chamada nominal os alemães acabaram por identificaram os fugitivos.


Como represália o comandante do campo mandou devolver toda a correspondência colocada no correio no dia anterior. Proibido que se guardassem latas de comida em conserva nos barracões e que as mesmas só poderiam passar a ser distribuídas  já abertas.


Proibiu ainda a livre circulação após as 10 horas da noite, ficando interdita a saída dos barracões após aquela hora (Delduque, 1919: 73-77).


Para os dois sentinelas alemães, um de cada lado do buraco no arame-farpado foi aplicado um castigo de 90 dias de prisão correcional (Oliveira, 1924: 15).





Bibliografia

Arquivo Histórico Militar (PT/AHM)

DELDUQUE, Adelino, (1919), Notas do Captiveiro: notas d'um prisioneiro de guerra na Alemanha, Lisboa, J.Rodrigues e C.ª

OLIVEIRA, João Braz de, (1924), O Exército Português em A Grande guerra: Scenas e Factos, Lisboa Tipografia da Empresa Diário de Notícias.

MALHEIRO, Alexandre (1919), Da Flandres ao Hanover e Mecklenburg: notas dum prisioneiro, Porto, Edição da Renascença Portuguesa.

Após a Batalha de La Lys os portugueses foram levados pata Lille, onde se efectuou a triagem entre oficiais e praças. Daí seguiram os oficiais, entre esses os oficiais que efectuaram a fuga de 18 de Setembro de 1918.

Os oficiais portugueses acabaram por ser reunidos no campo de prisioneiros de Bressen em Mecklemburg e é neste local que se organizou e efectuou a fuga.

Os cinco fugitivos acabaram por regressar a Portugal, mas só depois do Armistício de 11 de Novembro de 1918.

Alferes Manuel José Guimarães da Costa Cabral

Tenente Óscar de Carvalho Bastos

Capitão João Braz de Carvalho

Alferes Raul Calazans Duarte