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Raid Português - 10 de Setembro de 1917

Bibliografia


Martins, Dorbalino dos Santos(1995), "Estudos de Pesquisa Sobre a Intervenção Portuguesa na 1ª Guerra Mundial (1914-1918) na Flandres, Lisboa, Centro Gráfico do Exército.


Revista Militar n.10, de Outubro de 1919

Na noite de 10 para 11 de Setembro de 1917, o Batalhão de Infantaria 28 (Figueira da Foz) executou o seu primeiro raid às trincheiras inimigas, no cumprimento dos desejos manifestados pelo General Comandante da 1ª Divisão, que dias antes numa revista que passara ao batalhão defendera a conveniência que este tinha em marcar o seu lugar nas trincheiras capturando um prisioneiro uma metralhadora.


Havia flagrantes sintomas que impunham a necessidade de activar a vida nas trincheiras, para movimentar e pôr em vibração o soldado que, dia a dia, estiolava numa quietude adormecida, se bem que sob a ameaça constante da morte.


Quando a ordem chegou ao BI 28 para a execução do raid, já todos os trabalhos de observação e de informação estavam completos. Foi fácil organizar a coluna de ataque e não houve a necessidade de utilizar as escalas para a formação da coluna de ataque. Houve suficientes voluntários entre oficiais e praças e a única dificuldade foi a de se proceder à escolha dos voluntários, porque o Batalhão, em peso, queria participar no raid. Foi escolhido para liderar o assalto o Alferes José Nobre da Veiga, da 4ª Companhia do BI28, comandada peloCapitão Hermenegildo Dias Bexiga.


A coluna da ataque foi constituída por um destacamento de assalto, dois destacamentos de apoio e duas patrulhas de protecção de flancos.


Destacamento de Assalto: comandado pelo Alferes José́ Nobre da Veiga, um 2º Sargento, três 1º Cabos e 27 soldados, fraccionados em 5 grupos.


Destacamento de Apoio n.º 1: comandado pelo Alferes Cândido de Campos, um 1º Cabo e 27 soldados.


Destacamento de Apoio n.º 2: comandado pelo Alferes Penedo, um 2º Sargento e 22 soldados.


Destacamento de Patrulha Flanco Direito: um Sargento e 8 soldados.


Destacamento de Patrulha Flanco Esquerdo: um Sargento e 8 soldados.


A coluna de ataque apresentava um efectivo de ataque no total de 3 oficiais, 4 Sargentos, 4 Cabos e 92 soldados (103 homens).


O objectivo dado para o ataque foi penetrar nas linhas inimigas com o fim de obter informação, recolher prisioneiros e capturar material, e a acção de entrar nas trincheiras inimigas e de fazer prisioneiros estava atribuída ao destacamento de assalto.


Às 22h30mn toda a formação tomava silenciosamente as suas posições na Terra de Ninguém esperando que a artilharia iniciasse o fogo, para romper o arame inimigo e assim facilitar o avanço sobre o parapeito inimigo.


As instruções foram dadas aos diferentes grupos e todos conheciam bem o que tinham a fazer. havia a vantagem da tarefa de comando ter sido atribuída oficiais distintos e briosos, cuja valentia era o penhor da sua acção de comando.  


Os destacamentos de apoio cuja acção se desenrolaria na Terra de Ninguém, tinham por missão apoiar o destacamento de assalto no caso do inimigo se lançar sobre este ou de o retardar se viesse em perseguição. As patrulhas de flanco tinham como missão opor-se a uma eventual manobre de envolvimento.


As restantes forças do batalhão conservaram-se a postos nas suas posições de combate nos entrincheiramentos, cooperadas com as batarias de morteiros, com as metralhadoras pesadas em acção, batendo determinados pontos das posições inimigas.


Duas batarias de artilharia alocadas ao ataque, no seu trabalho de preparação tinham como objectivo rasgar as defesas acessórias do inimigo, abrindo passagem à coluna de ataque executando um fogo intenso sobre pontos determinados e durante três minutos, depois do que alongariam o tiro ajudando a fechar a caixa de barragem já iniciada pelas restantes batarias da Divisão, servindo esta caixa de barragem para isolar o sector atacado, impedindo o seu reforço ou a retirada das forças inimigas que o ocupavam.


As batarias dos sectores vizinhos ficavam de prevenção nos seus S. O. S. e o Batalhão de reserva no sector ficou pronto a avançar se necessário.


Quando o destacamento regressou às nossas linhas, toda aquela gente vinha extenuada e coberta de lama, num esgotamento de nervos bem visível.


Alguns soldados, completamente desnorteados, não sabiam o que diziam; outros julgavam-se, ainda, nas trincheiras inimigas. O Sargento Casquinha do Destacamento de Assalto que conseguiu entrar nas posições inimigas, sofreu uma depressão moral tão intensa, que todos supusemos que iria enlouquecer. Vinham todos rotos e esfarrapados alguns feridos mas não faltava ninguém.


O relatório do comandante descreveu sucintamente as diferentes fases do ataque, pondo em relevo o esforço e a dedicação de todos.


A questão de não ter sido efectuado prisioneiros, não desvalorizava a conduta desse punhado de homens que tão bem se bateram em combate. Foi brilhante a acção de BI 28, pelo que ela teve de abnegação e de sacrifício.



De acordo com o artigo do Major Luís Dias, escrito em Maio de 1919 e publicado na Revista Militar n.10, de Outubro de 1919, pp.603-10.