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Raid Alemão - 12 de Março de 1918

O ataque iniciou-se às 4 da manhã, e de imediato a 1ª Linha lançou numerosos foguetes vermelhos de SOS, indicando que estavam a ser atacados. Logo de seguida a nossa artilharia de 7,5mm começou a bater a "terra de ninguém" e a área logo em frente da nossa 1ª Linha. A ligação com a artilharia foi executada com ordens do Capitão Américo Olavo.


Entretanto chegou ao Comando do Batalhão informação que os alemães tinham entrado nas nossas 1ª Linhas defendidas pelo BI 2 e pelo BI 20. O Capitão Américo Olavo perante a situação acabou por dar ordem para avançarem as forças de apoio do BI 11.



Em 12 de Março de 1918, os alemães efectuaram um ataque de madrugada executado por tropas especiais de assalto, entre a direita do sector de Fauquissart e a esquerda do sector de Neuve Chapelle (antigo sector de Chapigny).


O ataque foi efectuado em três vagas de assalto, que foram sucessivamente repelidas pelo Batalhão de Infantaria 2, de Lisboa, do Capitão Américo Olavo, e pelo Batalhão de Infantaria 20, de Braga. Deixaram nas nossas mãos 7 prisioneiros alemães e dois mortos (Fraga, 2010:380). O BI 2 foi auxiliado pelo BI 3, de Viana do Castelo, que se encontrava em reserva.

A artilharia alemã alongou o tiro de suporte até à 2ª Linha, que de seguida começou também a lançar os foguetes vermelhos de SOS. É então dado o alarme de presença de gás, " Gás Alarme".


O ataque durou cerca de um quarto de hora que pareceu uma eternidade. Os diversos comandantes de companhia, por volta das 4h30mn comunicaram que o inimigo tinha sido repelido (Dias, 1920:133-41).


O batalhão de Infantaria 14, de Viseu, na sequência de um bombardeamento de artilharia com munições de gás tóxico sofrido no dia anterior (11/03/1918) apresentava muitas baixas (Magno, 1921a:101). A 3ª  Brigada que pertencia à primeira Divisão encontrava-se naquele dia de reforço à 2ª Divisão.


As baixas portuguesas foram; 13 mortos, 56 feridos, 3 gaseados e 6 desaparecidos (PT/AHM/DIV/1/35/74).

Bibliografia


Almeida, Humberto de(1919), Memórias dum Expedicionário a França, com a 2ª Brigada d'Infantaria, 1917-1918, Porto, Tipografia Sequeira.


Amaral, Ferreira do (1923), A Batalha do Lys, A Batalha D'Armentières ou o 9 de Abril, Lisboa, Tipografia do Comércio.


Martins, Ferreira (1934a), Portugal na Grande Guerra, Vol. I, Lisboa, Empresa Editorial Ática.


Martins, Ferreira (1934b), Portugal na Grande Guerra, Vol. II, Lisboa, Empresa Editorial Ática.


VVAA, Livro de Ouro da Infantaria, Lisboa, Tipografia Fernandes.


Dias, Costa (1920), Flandres, Notas e Impressões, Lisboa, Imprensa Libano da Silva.


Magno, David (1921a), Livro da Guerra de Portugal na Flandres. Descrição militar histórica do CEP. Recordação das trincheiras, da batalha e do cativeiro. Figuras, factos e impressões, Vol I, Porto, Companhia Portuguesa Editora.


Magno, David (1921b), Livro da Guerra de Portugal na Flandres. Descrição militar histórica do CEP. Recordação das trincheiras, da batalha e do cativeiro. Figuras, factos e impressões, Vol II, Porto, Companhia Portuguesa Editora.


Silva, Jorge Nunes da(1949), História do Regimento de Infantaria n.º15, Tomar, Tipografia Nabão.


Cortesão, Jaime (1919), Memórias da Grande Guerra, (1916-1919), Porto, Edição da Renascença Portuguesa.


Granjo, António (1918), A Grande Aventura, Lisboa , Imprensa Portugal-Brasil

Jaime Cortesão (Capitão-médico, 23º Regimento de Infantaria)


Nas suas memórias, remontando a 12 de Março de 1918, escreve:"...Ai! adeus, acabaram-se os dias... Já não há uma hora de sossego, desde os começos de Março. E no receio ou no preparo duma ofensiva — vão lá saber... a gente nunca sabe....— torna-se mais densa a infantaria junto às linhas." (Cortesão, 1919:157). "...fui avisado pelo ajudante Zé Ferreira que o general Gomes da Costa queria alguns boches e escolhera a minha companhia para essa operação...", "Às duas da madrugada marchamos pela trincheira para os pontos de saída. E cautelosos, em silêncio, rastejando, cortamos a terra de ninguém, até que às duas e quarenta e cinco estamos em linha a 25 metros do boche, devidamente escalonados em grupos por ordem de execução das missões." (Cortesão, 1919:159).

"Às três, a artilharia pesada começa a festa. O boche mostra-se inquieto. Gasta muitos very-lights. E bate toda a terra de ninguém, ao acaso, com rajadas consecutivas de metralhadoras. E à minha frente, ali a dois passos, vejo os boches, sondando o chão, de pé no parapeito, inclinando-se desconfiados. A gente reteve o respirar, mas parece-nos, tão próximos os vemos, que até as pancadas do coração eles podem ouvir." ... "Às quatro e cinquenta e cinco a nossa artilharia de campanha rompe um fogo infernal, desarrumando a casa ao nosso Fritz, por completo. Chegou a hora. Só mais cinco minutos. Às cinco horas temos que abalar. Meu amigo, estes cinco minutos são terríveis. O boche alumia toda a frente numa profusão fantástica de projécteis iluminantes. As balas das metralhadoras silvam, batem às cegas, à nossa volta." (Cortesão, 1919:160).


Às cinco termina o fogo de artilharia de apoio e "...Os cento e vinte homens, ao sinal dos alferes, atiram-se ao assalto". Os meus soldados, já na trincha, varrem à frente os boches à baioneta e à granada. Corro a juntar-me a eles. (Cortesão, 1919:161). "Alguns soldados correm pelas trinchas de comunicação à linha de suporte, continuar a caça, convidam-se os boches, sãos e feridos, que estão dentro dos abrigos a vir connosco. —Portugal três bonne. Carne on tout de suite. Mas os boches recusam todos com pertinácia" ..."Eu já tinha uma metralhadora e um prisioneiro" ..."agarrado cada qual a um souvenir. A malta veio toda, com 25 feridos ao que me disseram." (Cortesão, 1919:162).

Capitão-Médico Jaime Cortesão

O encontro com António Granjo


O Capitão Américo Olavo relata ainda o que no dia 13 de Março de 1918 à noite a artilharia portuguesa bombardeou o Bois du Biez com cinco mil granadas químicas incendiárias, o que então foi considerado como espectáculo de entretenimento (Olavo, 1919:82-6).


Ainda nos informa sobre o seu encontro com António Granjo.


"Ali mesmo recebi a visita de António Granjo que pertencia a uma companhia estabelecida à esquerda, e que em França, para onde voluntariamente tinha vindo, dava mais exemplos do seu patriotismo e da sua bravura. No dia seguinte apareceu o Granjo com uma novidade, que dentro em pouco nos era comunicada também. A artilharia portuguesa ia bombardear o bosque de Biez com cinco mil granadas incendiárias nessa mesma noite. Logo combinámos para depois do jantar que ele me oferecia irmos assistir ao espectáculo, para o qual tomaríamos lugar num camarote de primeira ordem, de trincheira."



No decorrer da I Grande Guerra ofereceu-se como voluntário para a frente de batalha. Sobre essa experiência, anotou nas suas memórias:

"Parti de Chaves, com o 1.º Batalhão de infantaria 19, na noite de 20 para 21 de Maio de 1917, com destino a Lisboa, onde embarquei, em direcção a Brest, no dia 27 do mesmo mês." (Granjo, 1918:5).


António Granjo veio a ser assassinado na noite de 19 de Outubro de 1921, mais conhecida como a "Noite Sangrenta". Nela ocorreu para além do seu assassinato o de José Carlos da Maia.


António Joaquim Granjo (1881-1921)