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Retaguarda do CEP

Tenente-Coronel Carlos de Faria Milanos (Conde de Cadoro)

A Base de Desembarque em Brest

Em 17 de Fevereiro de 1917 foi concedido pelo Comando Supremo Britânico que o Corpo de Expedicionário Português constituísse, em Brest, uma base de desembarque exclusivamente destinada às tropas portuguesas e servida por pessoal português.


Resolvida a questão interna da nomeação e dotação de pessoal, foi entregue ao Major de Cavalaria Barão de Cadoro, o comando dos serviços. A base de desembarque de Brest ficou conhecida como Porto de Desembarque (P.D.)

O cais de desembarque tinha um movimento grandiosíssimo. Existiam grupos de prisioneiros alemães trabalhavam sob a vigilância de sentinelas de baioneta calada em diversos misteres e em diferentes partes do enorme cais (Freitas, 1935:38).  


O Barão de Cadoro, Carlos de Faria Milanos, então ainda capitão do Regimento de Cavalaria 8,  embarcou em Lisboa a 28 de Maio de 1917. Quando chegou a França foi colocado na Base de Desembarque.


A 29  de Setembro foi promovido a Major e no dia seguinte colocado no Estado Maior de Cavalaria do CEP. A 18 de Novembro de 1917 assumiu interinamente o comando da Base de Desembarque. Teve uma Licença em Campanha de 48 dias


Foi louvado pelo serviço distinto do cargo a 14 de Março de 1919, que incluiu a sua acção no Porto de Embarque e as relações com as entidades estrangeiras. Foi promovido a Tenente-Coronel a 17 de Maio de 1919 e regressou a Lisboa a Lisboa a 12 de Agosto de 1919 (PT/AHM/DIV/1/35A/1/04/0942).


Ilustração Portuguesa , n.º 705, 1919

Porto de Brest

Tropas portuguesas em desfile em Brest, 1917

O porto de desembarque funcionou bem até que começaram a chegar as tropas americanas, às quais também foi concedida a utilização do porto de Brest. Pelos milhares de homens e dólares empregues no auxílio à França, os portugueses começaram a ter dificuldades na utilização do porto em detrimento das facilidades sucessivas que eram concedidas, ou exigidas, pelos americanos. Em Março de 1918, a utilização do porto de Brest era tão abrangente pelos americanos que já não era possível ter a noção exacta do que era a Base de Desembarque portuguesa (Martins, 1934a:147-8).


"... os americanos dominam tudo e os franceses, quando o nosso Comando pede alguma coisa, dizem sempre que não podem..."


A situação ainda se complicou mais entre Abril e Agosto de 1918, dados os problemas que o comando do CEP tinha em mãos desde a Batalha de La Lys.


Com a nomeação do novo comandante do CEP em Julho de 1918, o General Garcia Rosado, dá-se início às negociações para a transferência do P.D. de Brest para Morlaix, a 60 Km para Noroeste, deixando Brest para os americanos.  Também, havia nesta proposta a intenção de transferir os depósitos e oficinas de material de guerra, fardamento e bagagens e concentrar os depósitos de pessoal a repatriar que se encontravam dispersos por Calais, Havre e Cherbourg.


O pedido chegou ao Comando Supremo Britânico em Outubro de 1918, e apesar de existir a vontade de conceder a transferência da Base de Desembarque de Brest para Morlaix, a dinâmica da ofensiva aliada e a chegada do Armistício a 11 de Novembro, inviabilizaram a transferência da Base.


No dia 14 de Fevereiro de 1918 realizou-se em Brest, no passeio de Cours Dayot junto ao porto comercial, uma distribuição de medalhas a oficiais, praças e civis, pela mão do almirante governador da praça de Brest, Mr. Moreau. A revista das tropas foi feita pelo Almirante Moreau na presença de generais e almirantes de várias nacionalidades e pelos comandantes das bases estrangeiras do porto de Brest, entre estes o comandante da base portuguesa o Major de Cavalaria Barão de Cadóro. O contingente de marinha portuguesa era constituído por oficiais e marinheiros do Contratorpedeiro "NRP Guadiana" e do Cruzador Auxiliar "NRP Gil Eanes", sob o comado do Guarda-marinha Xavier (Ilustração Portuguesa, 1918, N630).


Ilustração Portuguesa N.630, 1918

A Base de Embarque em Cherbourg

Formação da Base do CEP

Na Base do CEP estavam integrados, para além do Quartel-General, três Depósitos de Infantaria, um Depósito Misto, um Depósito de Cavalaria e um Depósito de Retoma.

Os Serviços de Saúde englobavam um hospital de cirurgia, um hospital de medicina, depósito de convalescentes e uma estação de evacuação.

A Base do CEP tinha um efectivo de 371 oficiais e 5.334 praças.



Dados Estatísticos


Em 6 de Abril de 1918 as perdas das tropas portuguesas no serviço das trincheiras foram:

Mortos :1.044

Feridos: 2.183

Gaseados: 1.594

Desastre:402

Prisioneiros:102

Desaparecidos 94

Total:5.420 baixas

Em 11 de Novembro de 1918

Mortos:2.086(1.310 combate, 70 gaseados, 121 desastre, 529 doença, 56 pneumónica)

Feridos: 5.224

Prisioneiros: 6.678

Incapazes para o serviço: 7.279

Total:21.267 baixas


independentemente dos números indicados, que variam de fonte para fonte, conclui-se que ao contrário do que aconteceu em África, na Europa o velho flagelo da doença encontrava-se afastado como a principal razão de morte na guerra.


A Cruz Vermelha Portuguesa montou e manteve em França, entre 1917 e 1919, um Hospital de Sangue, localizado em Ambleteuse (Marques, 2000:28).


As condições climatéricas e higiene, levaram à propagação de casos de tuberculose (tísica pulmonar) entre os expedicionários, tal como entre o exército francês, o que levou a que dos 408 mortos por doença 152 fossem por tuberculose pulmonar (TP). Ainda há que acrescentar que dos 7.223 repatriados por julgados incapazes por vários motivos, mais de 2.000 foram por tuberculose pulmonar (Ilustração Portuguesa, 1919, 501-2). Com um Efectivo de 55.000 expedicionários, verificou-se um total de 1.380 mortos em combate (2,5%).


Bibliografia


Marques, Rafael (2000), Cruz Vermelha Portuguesa, Coimbra, ed.,Quarteto Editora.


Martins, Ferreira (1934a), Portugal na Grande Guerra, Vol. I, Lisboa, Empresa Editorial Ática


Martins, Ferreira (1934b), Portugal na Grande Guerra, Vol. II, Lisboa, , Empresa Editorial Ática


Amaral, Ferreira do (1922), A Mentira da Flandres e o Medo, Lisboa, Editora J. Rodrigues & C.


Cortesão, Jaime (1919), Memórias da Grande Guerra, (1916-1919), Edição da Renascença Portuguesa.


Freitas, Pedro de (1935), As Recordações da Grande Guerra, Lisboa, Tipografia da Liga dos Combatentes da Grande Guerra.



Ilustração Portuguesa, n.º 630, 1918


Ilustração Portuguesa, n.º 679, 1919


Ilustração Portuguesa, n.º 705, 1919


PT/AHM - Arquivo Histórico Militar




Relatório do Major António de Sousa Pinto Machado Coutinho (Estado-Maior) de 26 de Junho de 1918, dirigido ao Subchefe do Estado-Maior do CEP.


Existia uma questão relacionada com o Porto de Embarque (Cherburg), que apesar de apresentar boas condições, a seu ver era desnecessário tendo em consideração a necessidade de não dispersar as tropas ao longo da costa, por existir falta de pessoal e em Brest ainda existirem condições para o desembarque e embarque de tropas.


Dá então a conhecer as condições do Porto de Desembarque (Brest) e da existência da possibilidade de coexistir o alojamento separado de tropas que chegam de Portugal, das que são repatriadas.


O Porto de Desembarque apresentava os seguintes locais de alojamento para as tropas portuguesas:


1 – Quartel para o pessoal permanente (Caserna de La Pointe);


2 – Campo de Kerengoff para o pessoal a ser repatriado. Trata-se de um acampamento de barracas de lona que pode alojar até 1.200 homens. Neste Deposito de Praças têm sido alojadas todas as praças que desde Janeiro de 1918 são evacuadas para Portugal. Até Dezembro de 1917 era neste local que se alojavam a tropas que vinham de reforço;


3 – Campo de Treberou para o pessoal que vinha de Portugal a partir de Janeiro de 1918. Trata-se de um Lazareto na Ilha de Treberou que podia alojar até 1.200 praças. Foi cedido pelas autoridades francesas para as tropas portuguesas que vinham de Portugal e aí eram colocados de quarentena de 14 dias, por causa da epidemia de tifo exantemático existente em Portugal. Este campo só se mantinha disponível para as tropas portuguesas temporariamente até ser declarado o fim da epidemia.


As tropas depois da quarentena de 14 dias, ou quando já não fosse obrigatória a mesma, embarcavam por caminho-de-ferro até à Base de Operações.


Reconhece que será necessário manter dois campos de depósito de praças na Base de Brest para separar as tropas que vêm das que são repatriadas. e separar os contingentes que chegam de Portugal, dos doentes e mutilados que são repatriados.


A questão do espaço para alojar um segundo campo de praças era problemático, já que os americanos tinham tomado todos os espaços existentes quando chegaram a Brest, tendo os franceses chegado mesmo a ter vontade de retirar o Campo de Kerengoff ao CEP para dar aos americanos, o que não aconteceu.


É efectivamente a questão de falta de espaço e a eminente possibilidade da perda do Campo de Treberou que vai criar a necessidade de vir a escolher outra localidade para a instalação de um Porto de Embarque fora de Brest. Como opção propõe o estudo de uma cidade que ficasse perto da linha de caminho-de-ferro de Boulogne a Brest, ou em Cherbourg ou no Havre.


O Major António Sousa P.M. Coutinho estava convicto da necessidade de separar as tropas a evacuar das tropas de reforço, evitando o encontro entre ambas. Colocou ainda a possibilidade de por intermédio da Cruz Vermelha Espanhola, de se conseguir a passagem de combóio sanitários através de Espanha, com os militares não recuperáveis para o serviço em campanha e neste caso considerava também a possibilidade de aproveitar o Hospital de Hendaya, aumentando-lhe a capacidade, para aí reunir todos os incapacitados de serviço para os evacuar.


(Fonte: PT/AHM/1/35/513/7)


Fonte: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b6953059s.r=portugais?rk=107296%3B4

Arquivo Gallica - Biblioteca Nacional de França

Legenda: Tropas do Regimento Infantaria 7 (Leiria) no desembarque em Brest 1917.

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b6953058c.r=Débarquement%20des%20Portugais?rk=21459;2

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b6953056j.r=Débarquement%20des%20Portugais?rk=42918;4

Fonte:

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b69530717.r=Débarquement%20des%20Portugais?rk=150215;2

Arquivo Gallica - Biblioteca Nacional de França

Legenda: desembarque do 1º continente de artilharia em Brest 1917

Esta peça de 75mm m/1904 na foto pertencia ao Grupo de Artilharia do Regimento de Artilharia n.2 (Figueira da Foz).

Estas peças nunca foram utilizadas em França, essencialmente porque o tipo de munição era diferente do modelo 75mm m/1917 quese utilizava em França. Os Grupos de Artilharia do CEP foram equipados com os modernos 75mm m/1917.

Fonte:

http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b69530769.r=Débarquement%20des%20Portugais?rk=321890;0

Arquivo Gallica - Biblioteca Nacional de França

Legenda: desembarque do CEP em Brest 1917