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Teve lugar ontem, pelas 21 horas e 30 minutos, no Auditório Municipal de Chaves, o lançamento, no concelho, do nº 50 da Revista do Grupo Cultural Aquae Flaviae que trata do tema «A Grande Guerra e a Participação dos militares do RI 19 e do Alto Tâmega no Conflito».


Para além das entidades oficiais, e dos membros pertencentes ao protocolo autárquico, dos sócios do Grupo Cultural Aquae Flaviae, de militares e flavienses, estiveram também presentes alguns senhores Presidentes de junta do concelho de Chaves, acompanhados de  familiares dos antigos combatentes da Grande Guerra.

A Mesa foi presidida pelo senhor Arquiteto António Cabeleira, Presidente da Edilidade Flaviense, que foi acompanhado pelo senhor Comandante do RI 19, Coronel Armando dos Santos Ramos, a senhora Presidente do Grupo Cultural Aquae Flaviae, Dra. Isabel Viçoso e pelo autor do texto da Revista.

Após as alocuções, referentes ao momento, proferidas pelos membros da respectiva Mesa, o autor do trabalho do nº 50 da Revista do Grupo Cultural Aquae Flaviae, António de Souza e Silva, proferiu a comunicação que passamos a transcrever:

"Apresentação da Revista nº 50 do Grupo Cultural Aquae Flaviae

1.- Percurso do presente trabalho


Comemora-se, de 2014 a 2018, o centenário da Grande Guerra (1914-1918).

O Grupo Cultural Aquae Flaviae não podia deixar passar em branco esta efeméride.

Daí, a sua Presidente, Dra. Isabel Viçoso, solicitou a um dos seus sócios um pequeno contributo escrito para constar na revista do Grupo.


Calhou-nos em sorte esta tarefa que, por duas ordens de razões, não poderíamos declinar: a primeira, em razão da pessoa que nos pedia o contributo e por quem temos enorme estima e consideração pessoal; a segunda, porque sendo membro do Grupo Cultural Aquae Flaviae, aliás, até ao presente momento, modesto e pouco activo, perante tal convite, consideramos ser nosso dever dar um pouco do nosso esforço para a actividade do Grupo.


Contudo, o que se nos pedia ia muito para além das nossas reais capacidades - falar sobre os «Heróis de Chaves na Grande Guerra». Em primeiro lugar, não somos especialista em História e, ainda muito menos, em História Militar, apesar dos temas históricos sempre nos entusiasmarem e nos fascinarem; depois, sinceramente, não nos consideramos com engenho e arte suficientes para estar à altura desta tarefa. Há, obviamente, em Chaves, flavienses, investigadores e especialistas, muito mais à altura deste intento do que nós mesmo.


Foram estas, em síntese, as razões que aduzimos quando nos foi pedida esta «empresa». Mas debalde a nossa argumentação como preparatória para uma eventual escusa. De pronto, a Dra. Isabel Viçoso disponibilizou-nos uma vasta bibliografia, que poderíamos aproveitar para a elaboração do trabalho que se nos pedia.


Orientámos a nossa pesquisa para a Biblioteca Municipal de Chaves e, depois, para as bibliotecas do Porto. Do seu «banco de dados» praticamente nada de especialmente útil retirámos. Pelas livrarias do Porto fomos adquirindo publicações, de carácter generalista, para melhor contextualização do conflito. Por ocasião do Centenário da Grande Guerra, as diferentes editoras têm lançado um conjunto de publicações sobre esta temática, muito interessantes e elucidativas.


A par da leitura que íamos fazendo das obras entretanto adquiridas, fomos lendo as obras do saudoso Júlio M. Machado - «Crónica da Vila Velha de Chaves» e «O Granjo - Biografia de António Joaquim Granjo».


Existindo em Chaves uma Delegação ou Núcleo da Liga dos Combatentes, um dia dirigimo-nos às suas instalações para nos inteirar da documentação ali existente sobre os militares que, do RI 19 e do RC 6, partiram para África e para a Frente Ocidental, na Flandres francesa, de 1914 a 1918. Atendido simpaticamente pelos seus funcionários, fomos informado que ali nada possuíam. Orientaram-nos dizendo que nossos esforços deveriam ser dirigidos para o Arquivo Histórico Militar e/ou para o Arquivo Geral do Exército, em Lisboa.


No dia em que aparecemos naquele Núcleo, entrou o amigo Calvão Silva. Trazia em mão a «Acta da Sessão Solene realizada no dia 14 de Março de 1922, na Sala da biblioteca do RI 19, em memória do Tenente Porfírio da Silva, que foi do RI 19, morto gloriosamente em combate com os alemães na Flandres, em 14 de Março de 1918». Pretendia deixar uma cópia deste documento no Núcleo de Chaves. Teve Calvão Silva a amabilidade de nos facultar também uma cópia deste mesmo documento referente à homenagem ao seu avô feita, já no longínquo ano de 1922.


Não satisfeito com as fontes e bibliografia que entretanto íamos adquirindo para tratar o tema da matéria específica que tínhamos em mãos, contactámos com o amigo Capitão Fernando Pizarro Bravo para trocarmos impressões sobre este assunto. Recebeu-nos amavelmente em sua casa e discorremos longamente sobre esta problemática bem assim da dificuldade na obtenção de fontes. Simpaticamente forneceu-nos cópias do «Anuário de Chaves» nº 3/1952, nº 4/1953 e nº 6/1955, com artigos, respectivamente, de Carlos Palmeira - «Combatentes da Grande Guerra» e «Interrogatório de um prisioneiro» - e de Alípio de Oliveira - o «Raid de 9 de Março de 1918 na Flandres». Facultou-nos ainda a obra do General Luís Augusto Ferreira Martins, Subchefe do Estado-maior do Corpo Expedicionário Português (CEP) em Françull a - «História do Exército Português».


Um dia recebemos uma chamada da Dra. Isabel Viçoso referindo-nos que, tendo estado com o Padre Fontes, este a teria informado que tinha em sua posse uma obra interessante sobre o Coronel Bento Esteves Roma. Como são sempre agradáveis as nossas visitas a Vilar de Perdizes, para aprender e conviver com o amigo Padre Fontes, logo que pudemos, dirigimo-nos a sua casa. O livro em questão nãull ‹o era dele, mas de um amigo, e já lho tinha entregue. Mas não poupou esforços para, junto desse amigo, diligenciar-nos o seu empréstimo. O livro em questão - «O Coronel Bento Roma (1884-1953) - Homenagens e Consagrações, em 1954 e 1955», relata um conjunto de iniciativas e dá conta do teor das intervenções levadas a cabo, após o falecimento de Bento Roma, em 1953, por uma Comissão Executiva, presidida pelo General Ferreira Martins, com prefácio deste mesmo autor. Padre Fontes foi inexcedível em nos ajudar, ao ponto de nos disponibilizar toda a sua extensa e variada biblioteca para fazer pesquisa, perdendo um bom par de horas em nos aturar.


Nossas leituras foram-se alargando, particularmente na diarística dos nossos antigos combatentes, e em autores de renome e referência quanto à temática da Grande Guerra, e constantes da bibliografia da obra que hoje se apresenta.


Enquanto procedíamos à leitura destas obras, arreigou-se-nos a convicção da necessidade de rever o conceito tradicional que tínhamos de «herói». E tomámos uma resolução: desistir, pura e simplesmente, de abordar a figura ou conceito de «heróull —i», face já a uma advertência que um velho republicano fazia num seu opúsculo, a propósito do 9 de Abril de 1918, quando se exprimia desta forma: “O heroísmo é espécie rara, mesmo em coisa militares, em que, de resto, é mais frequente, e virtude muito mais individual que colectiva: talvez que a nossa imprensa não tivesse reparado nisso atentamente. O heroísmo é para o sentimento o que o génio é para a inteligência: um excedente de vigor, uma pletora de energia, uma superabundância de seiva, pensante ou sensitivo-volitiva, que, exactamente por excepcional, quase anómala, só em raros homens se depara. Pode ser contagiosa, sem dúvida, bem mais que o génio, graças principalmente ao seu carácter emotivo, da mesma forma que a Literatura e a Arte excedem muito a Ciência e a Filosofia, em poder de sugestão. Mas - repetimos - é virtude rara, e muito mais individual que colectiva; e precisa sempre dum foco, dum modelo, duma individualidade forte, do qual o seu influxo irradie, - dum Nun'Álvares, dum Afonso de Albuquerque, por exemplo, para nos servirmos das preciosas pratas da família. Tem a nossa imprensa notícia de alguma peça de valor a juntar recentemente a esta baixela?” (Telles, 1918: 84-85).


Abandonada a ideia da abordagem do herói, fazia todo o sentido enveredar por uma nova linha de pesquisa: o procurar saber o percurso, não dos «heróis», mas dos bravos militares do Alto Tâmega e Barroso que, de Chaves e do Alto Tâmega e Barroso, partiram para África e para a Frente Ocidental/Flandres francesa. Estes bravos, todos, é que eram os nossos heróis. Queríamos-lhes seguir o rasto, conhecer as suas gestas (sagas) pessoais.


Nosso esforço e desiderato, com este trabalho, foi que fossemos capazes de recuperar um pouco a memória. A memória dos nossos. Essencial para uma melhor construção da nossa identidade pessoal como filhas e filhos desses homens, e da sua comunidade, orgulhosa do seu passado, mesmo que difícil e traumático. Só assim é que o «eu individual» se apazigua com o «eu colectivo» na procura, e ao encontro, de uma outra maneira de estarmos na vida e no mundo. Não é do recalque das feridas que nos encontramos. É na sua superação. Pelo entendimento e compreensão dos factos históricos que nos marca(ra)m e nos trouxeram até aqui.


Sabíamos a história - ou partes da mesma - de alguns, que a historiografia oficial e relatos de familiares ou amigos nos trouxeram até nós e que, pelos feitos narrados, são não só dignos de honrar a sua memória, mas também a unidade que os preparou, donde partiram, e a terra que os viu nascer.


Faltava-nos, contudo, - e na medida do possível - a de todos os nossos bisonhos lãzudos, anónimos soldados que mais tempo estiveram na Frente de combate dando a sua vida, o corpo às balas e à metralha pela Pátria.


Embora exista uma boa literatura diarística e memorialista sobre este período histórico tão dramático e conturbado da nossa história e da nossa participação na Grande Guerra, os diários e as memórias dos nossos anónimos, desconhecidos, e bravos soldados, saídos de trás das fragas do Marão, são escassas ou quase nulas. E, porventura, não admira: a maioria deles eram analfabetos. Isto, por um lado; por outro, situações tão violentas e traumáticas como aqueles episódios de guerra que viveram eram para, definitivamente, simples trabalhadores da terra e de ofícios tradicionais, esquecer. Talvez resida aqui a explicação da enorme «branca de memória» que os filhos, netos e bisnetos têm de seus antepassados que viveram e passaram por aquela Guerra.


Passámos, entãull ‹o, em adoptar uma metodologia para sabermos o percurso oficial dos nossos bravos flavienses, alto-tameguenses e barrosões como militares: as Folhas de Matrícula (Modelo 21), com a designação do nome, estado civil, militar e notas biográficas durante o serviço. Sabíamos o processo e o local de busca: Arquivo Histórico Militar e Arquivo Geral do Exército. Contudo, esta tarefa, só para uma pessoa, era, face ao tempo disponível, hercúlea, se não mesmo impossível.


Entrámos, para o efeito, em contacto com o senhor Comandante do RI 19, um ilustre valpacense. Simpático, prestável e voluntarioso, o senhor Coronel Armando dos Santos Ramos entusiasmou-se com a ideia e prontificou-se a ajudar-nos. Aliás descobrir a ação e os feitos dos bravos do RI 19, que participaram na Grande Guerra, era também contribuir um pouco para desenvolver e aprofundar, ao longo dos tempos, a História do RI 19. Dos contactos havidos com os responsáveis do Arquivo Histórico Militar e do Arquivo Geral do Exército, o senhor Comandante do RI 19, Coronel Armando dos Santos Ramos, foi-nos dando notícias animadoras: que tal empresa seria viável. Mas apenas para os que foram mobilizados para a Flandres francesa.


O senhor Comandante do RI 19 forneceu-nos amavelmente a lista dos militares do batalhão que partiu para França/Flandres. Como também uma cópia do Relatório de campanha do 3º batalhão que foi em 1915 para Angola (Moçâmedes) e do 1º para Flandres/França, cujos originais se encontram no Arquivo Histórico Militar.


Com o intuito de obter uma perspectiva mais real e concreta possível da história dos nossos valentes e bravos transmontanos do Alto Tâmega e Barroso que, integrados no 1º batalhão do RI 19, ou noutras unidades do país, em meados de 1917, chegam à frente de batalha, na guerra que se travava na Europa, o senhor Comandante do RI 19, Coronel Armando dos Santos Ramos, pôs uma equipa do seu Regimento, concretamente, os senhores Sargentos-ajudantes, José Pereira, e Vaz Gonçalves, a fazer o levantamento, no Arquivo Histórico Militar, a partir das Fichas Individuais do Corpo Expedicionário Português (CEP) de todos os militares do 1º batalhão do RI 19, que constituiu o 2º Depósito de Infantaria do CEP, para se poder reconstruir e narrar a vida e a acção daqueles bravos, quer na Base, quer nas Trincheiras. Posteriormente o trabalho foi alargado ao levantamento das Fichas do CEP de todos os militares do Alto Tâmega e Barroso integrados e mobilizados para a Frente Ocidental por outras unidades.


O nosso contributo, face ao estado da arte do tema até aqui exposto é, como se pode facilmente deduzir, muito singelo e pobre. Foi o melhor que pudemos e soubemos, face ao tempo disponível.


Para a leitora ou leitor deste trabalho apenas aqui fica uma abordagem pessoal de um tema que marcou não só uma geração, mas também a História da Humanidade, ou seja, a história que todos nós, hoje em dia, vivemos e que, porventura sem o sabermos, por ela somos (estamos sendo) profundamente marcados.


Quando nos debruçamos um pouco, e reflectimos, sobre a Grande Guerra - o acontecimento mais marcante à entrada do século XX - vemo-la como um enorme terramoto, que abalou e transfigurou, de uma forma profunda e determinante, a Europa, continente dominante e hegemónico em todos os sectores da actividade humana - social, cultural, científico, técnico, económico e financeiro.


Era uma Europa aristocrática, arrogante, imperialista, ciosa do seu poder, orgulhosa do Progresso, que julgava sempre incessante e ilimitado, e que dominaria tudo quanto à face da terra existisse.


À superfície, na placidez desse mundo, fervilhava uma sociedade que, cuidando viver no melhor dos mundos, gozava a sua Belle Époque.

Tudo isto simplesmente se passava à superfície.


As principais «placas» em que aquele mundo assentava (império inglês, alemão, francês, austro húngaro e russo, e o moribundo otomano) começavam a movimentar-se. E seus movimentos pressagiavam um fin de siècle em que tudo poderia deixar de ser como dantes.


A era da Razão e do Progresso, científico e tecnológico, sem limites, iria dar lugar à ubris, à loucura e catástrofe.


Bastava agora apenas um simples movimento em qualquer ponto mais sensível de uma das «placas» para tudo começar a desmoronar-se.


E, inopinadamente, num remansoso verãull ‹o em que as classes possidentes e dirigentes vão de férias, a banhos, um outro banho, de sangue, começa a acontecer!


Sarajevo foi o epicentro desse enorme terramoto que, em longas e profundas ondas de choque, se alastrou por toda a Europa e pelas áreas desse mundo por ela dominado.


Uma Europa ébria, incontida, cega às consequências das sucessivas decisões que se iam tomando, lançando, em massa, toda uma geração de uma juventude promissora, na fornalha de aço que a metralha, que veio com o Progresso, gerou.


Era o princípio do fim de uma civilização a quem faltou o bom senso e a lucidez para pugnar pela construção de uma sociedade outra, numa convivência pacífica de povos.


Nossa preocupação, em termos da leitura e interpretação de determinados factos históricos, foi entendê-los, problematizando-os. Por isso não deve a leitora ou o leitor admirar-se quando nos estendemos demasiado em alguns temas, como, nomeadamente, a questão dos planos militares elaborados antes do início do conflito e a(s) razão (ões) da beligerância portuguesa no palco europeu, entre outros.


Tivemos também, para além do mais, ao longo do presente trabalho, a preocupação de apresentar, sob os factos históricos deste período da História, e, de um modo especial e específico, da nossa conturbada e dramática história pátria, as diferentes visões que diferentes autores têm (ou tiveram) sobre os mesmos. Não temos plena consciência de o termos conseguido. A leitora ou leitor, no final, julgará.


Esforçámo-nos, sempre que possível, sermos exactos quanto às perspectivas dos diferentes autores. Daí a razão do recurso à transcrição ou citação, muitas vezes extensas, de partes dos seus textos.


Pelo que acima ficou dito, não vai o (a) leitor (a) encontrar um trabalho de tese ou a história dos heróis transmontanos que, do Alto Tâmega e Barroso e/ou dos seus quartéis, ou de outras unidades do país, partiram para as diferentes frentes da batalha. Contar a história de perto de dois mil homens, mais exactamente mil e quatrocentos, (contando não apenas os do RI 19, mas também os que, sendo de Chaves e do Alto Tâmega e Barroso, se incorporaram e foram mobilizados por outras armas e noutras unidades) não é tarefa para uma pessoa só. Exige uma equipa, ou então, muitíssimo mais tempo de investigação.


Ademais, as circunstâncias específicas da sua mobilização, particularmente aqueles que partiram para a Frente Ocidental/Flandres, ao constituírem o 2º Depósito de Tropas de Infantaria, junto do Quartel-General, da Base, destinado a suprir as faltas por baixa, nomeadamente morte, ferimentos, doença ou qualquer impedimento do pessoal da Frente, torna-se extraordinariamente difícil, sem o manuseamento das fontes disponíveis nos respectivos arquivos militares, conhecer o seu historial de guerra e produzir uma verdadeira monografia.


Mas, pela análise sumária das Fichas Individuais do CEP, não andaremos muito longe da verdade, dadas as circunstâncias da sua mobilização, se afirmarmos que o palco de guerra dos bravos transmontanos, na Flandres/França, foram todos os sectores da Frente. É aí, que juntamente com os irmãos de todas as províncias e unidades portuguesas que os vamos encontrar em diligência ou como adidos. Vivendo o mesmo dia-a-dia; sofrendo das mesmas feridas; partilhando dos mesmos horrores.


2.- Estrutura do trabalho


Face ao que acima expusemos, não admira que o nosso tema inicial tenha mudado para «A Grande Guerra e a Participação dos Militares do Alto Tâmega (e Barroso) no Conflito».


Assim, a nossa opção em termos de estrutura e desenvolvimento do trabalho, passou por darmos particular ênfase sempre à necessária compreensão geral do contexto internacional do conflito, tentando explicar porque, partindo de um período, aparentemente calmo, de prosperidade, de grande desenvolvimento e progresso, embora com um ou outro foco de tensão regional pelo meio, inopinadamente tudo se desmorona como num baralho de cartas. Procurámos dar a perceber a especificidade desta Guerra, os seus horrores e chacinas em que ela se transformou, abordando os principais momentos das suas diferentes frentes, ao longo de quatro anos e três meses, com especial destaque para a Frente Ocidental.


Contudo, este trabalho não constará do corpo da Revista nº 50 do Grupo Aquae Flaviae. Constará de uma obra à parte, a sair brevemente do prelo.


No texto da Revista nº 50 do Grupo Cultural Aquae Flaviae, que hoje se apresenta, procurámos dar a perceber a(s) razão(ões) por que a jovem República Portuguesa adere fervorosamente à sua participação beligerante neste conflito na Frente Europeia (Flandres/França), não deixando de abordar, sucintamente, a campanha africana no período de 1914-1918.


Ou seja, numa Primeira Parte, abordámos o Portugal nos finais do século XIX e começos do século XX; a questão colonial tendo como pano de fundo a nossa crise financeira; o precário equilíbrio peninsular, no âmbito da I República; uma abordagem geral à I República (quer numa perspectiva interna, quer externa) para, a seguir, destacarmos a beligerância portuguesa nos três teatros de guerra: sul de Angola; norte de Moçambique, antes da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, e, na Europa, na Flandres francesa, após a declaração de guerra da Alemanha a Portugal, em 1916, após o apresamento dos barcos das Potências Centrais ancorados em portos portugueses.


Tentámos contar a vida, o dia-a-dia, e a moral das nossas tropas, particularmente aquelas que viviam nas trincheiras. Bem assim procurámos dar explicação para o desaire da Batalha de La Lys/Armentières.


Nesta Revista nº 50 do Grupo Cultural Aquae Flaviae, na sua Segunda Parte, centrámo-nos, destacando, em termos de feitos, as acções de alguns dos bravos transmontanos, do Alto Tâmega e Barroso e dos seus quartéis, que as fontes, que nos foram disponíveis, até ao presente momento, e a historiografia oficial, registam, em especial as Fichas Individuais dos militares do CEP.


Numa altura em que comemoramos o centenáull ‡rio da Grande Guerra, fica aqui, pois, através da Revista nº 50 do Grupo Aquae Flaviae, muito humildemente, a nossa quota-parte do contributo no avivar da nossa história, trazendo ao de cima, relembrando, a odisseia dos nossos maiores, bravos transmontanos, flavienses, alto-tameguenses e barrosões que, juntamente com os seus patriotas de outros concelhos do país, se bateram por um pequeno, mas rico país ao qual nos devemos orgulhar pertencer.


Conhecer o percurso dos nossos bravos do RI 19, e de outros militares flavienses, alto-tameguenses e barrosões no CEP, é, porventura, dar a conhecer a história dos bravos que, naquele Corpo, mais sofreram tal como os que, como eles, estiveram em idênticas circunstâncias. É que o seu sofrimento foi duplo: primeiro, porque lutavam sem a presença ao seu lado dos camaradas conterrâneos, aqueles com quem todos os dias partilhavam a vida em caserna, e conviviam, confidenciavam e estavam ligados por laços mais fortes de afectos e de parentalidade com a mesma terra; segundo, porque iam para o front - e foram praticamente todos muito depressa - sabendo que, na maioria dos casos, iriam substituir camaradas seus compatriotas mortos, doentes, feridos ou estropiados, vivendo, assim, uma dupla dor.


E como estes bravos tinham histórias de vida, das suas vidas, vividas intensamente naquelas trincheiras, naquelas valas e poços de lama, no meio de piolhos e ratazanas, sob a intensa fornalha de aço que a metralha expelia, para contar!


E nós tão pouco, ou por respeito à velatura intima das suas memórias ou, na maioria dos casos, por desinteresse, deixámos de as ouvir e, se ouvidas, não soubemos diligentemente as registar para poderem ser transmitidas, conhecidas!


Resta-nos agora, por um lado, a pouca memória de alguns e, por outro, quilómetros de arquivos «mortos», «sem vida», assépticos, simples papelada burocrático-militar com informação, é certo, mas sem alma, que nos é dada através das Fichas Individuais do CEP, e que constam, como CADERNOS ANEXOS, integrantes do presente número desta Revista nº 50 do Grupo Cultural Aquae Flaviae.


É pouco, muito pouco. São, contudo, as únicas fontes com que podemos contar. Que exigiu tempo, algum tempo, a ler e a decifrar e, a par de outras fontes, podermos reconstruir um pouco das suas histórias.


É este o trabalho que, 100 anos volvidos, levamos a seu termo. Para, a partir daqui, possa nascer um interesse mais profundo e genuíno pela história da nossa terra, dos nossos, das nossas famílias e, principalmente, destes valentes homens dos quais provimos. Uma história que não acaba aqui. Apenas começa. Feita por todos nós, seus filhos, netos e bisnetos. Prestando-lhes, assim, um digno contributo ao seu esforço e sacrifício pela Pátria, no avivar das memórias daqueles que foram os nossos antanhos, os nossos maiores, que deram as suas vidas para que aqui chegássemos e pudéull Žssemos dizer bem alto: somos Portugal, os herdeiros daqueles que de uma terra-pátria pequena a fizeram grande e cujo exemplo nunca devemos esquecer no devir da (re)construção de um futuro melhor e mais promissor pelo qual, os nossos humildes soldados/combatentes, muitos deles, com tanta convicção se bateram e, por ela, deram as suas vidas.


Porque só assim é que os nossos bravos, que andaram pelas tórridas savanas africanas ou pelos gélidos pântanos da Flandres, continuam de pé. Vivos perante nós.


Cem anos volvidos – já que antes não foi possível – cremos ter posto fim à lamentação de António Granjo, um ilustre flaviense que deu a vida pela causa da República e da sua Pátria, quando, a propósito dos homens do RI 19, dizia que “se o destino lhe foi descaroável, se a história nem sequer o encontrará como unidade de combate [...] precisará ir buscar aos outros batalhões as notícias dos feitos dos seus oficiais e soldados (...)”.

E, nesta comunhão e partilha de vidas, como bons flavienses e transmontanos, alto-tameguenses e barrosões, sobre a tumba de Granjo, acabemos, finalmente, com a sua tristeza.


Nas Considerações Gerais, na parte final, apresentamos, a partir da história que ao longo do trabalho fomos humildemente relatando a nosso jeito, alguns pontos de vista (pessoais), que consideramos pertinentes, e apresentados a modo de lições da história.


Obviamente, passíveis de crítica e opiniões contrárias, submetidas, sempre, ao império do princípio do contraditório.


3.- Exortação Final


Tem-se falado muito de crise. A ela vem quase sempre associada uma certa ideia de «morte de Portugal». Tal asserção não significa que estejamos em presença do desaparecimento de Portugal como país e povo que somos. Já dizia Eça de Queirós, durante a crise do Ultimatum, que Portugal «dura». Aliás, dizia Eça, é essa a sua grande virtude - o não dar felicidade ao seu povo, mas durar, subsistir, existir por existir, criando contínuas mitologias que justificam a sua existência.


Esperamos, nos caminhos que percorremos do século XXI, que não se cumpra o desígnio pessoano que visionava o Portugal actual como uma sociedade profundamente provinciana, complexada. E explicava que o nosso provincianismo consistia em viver numa civilização sem verdadeiramente fazermos parte dela.


E o Portugal em que hoje em dia vivemos, 100 anos passados sob um dos maiores abalos da sociedade europeia, não modificou, de todo em todo, o Portugal pelo qual os mais generosos antanhos lutaram. Este Portugal encontra-se moribundo, submerso pela avalanche dos costumes tecnocrático-liberais.


O ideal seria termos hoje em cada português não um robot técnico mas um homem culto, consciente do seu lugar na sociedade e na história. E lembremo-nos que cerca de 80% dos homens que mandámos para a guerra, há 100 anos, eram analfabetos!


Portugal precisa menos de um choque tecnológico, cujas consequências em nada mudarão o nosso ser, porquanto se limita a uma mera actualização dos instrumentos técnicos ao serviço da sociedade civil e do aparelho do Estado e mais de um choque cultural, elevando cada cidadão a um exigente patamar de conhecimento humanista e cívico, que, por arrasto, gerará, inevitavelmente, o desejado choque tecnológico. Ou seja, pugnar primeiro, pela cultura, o espírito, o sentido da transcendência; depois, e por arrasto da exigência cívica, o progresso tecnológico (Real, 2007).

Mas, para que tal aconteça, é necessário novo rumo, a inversa navegação, um novo querer!


Portugal precisa, seriamente, de ser nãull ‹o só pensado, tal como Pessoa e Torga o fazem, como também regenerado. Mas a regeneração só é possível com cidadãos activos e intervenientes.


Para finalizar, nossas últimas palavras, a modos de exortação, fomos pedi-las emprestadas a um grande republicano e patriota, que, enquanto estava na retaguarda do CEP, como defensor oficioso, no Tribunal Militar, depois de cumprir o seu dever de militar na Frente, no front, reflectindo sobre o seu próprio tempo, servindo a Pátria, e, depois, morrendo por Ela, António Granjo, assim escrevia:


“É às massas que hoje se pede a vitória, e é às fábricas que hoje se exige a sua preparação. Cada povo deve bastar-se a si próprio. O povo que se não bastar a si próprio, ou arrastará uma existência de condenado, vivendo da humilhação e da miséria, ou gravitará num sistema de alianças, que não será mais que uma escravidão simulada. O seu comércio, a sua indústria, a sua ciência, a sua literatura, passarão para as mãos do povo que dominar esse sistema, e a palavra independência soará a oco, perdendo-se nos corações a fé no futuro e o culto do passado.

[...] Portugueses é preciso querer!


A crença no outro mundo é só própria dos que são incapazes de rasgar neste caminho luminoso e largo por onde os olhos se estendem sem medo a Deus, onde os pés se firmem sem medo ao inferno.


Mas qual é o homem, digno de viver, que não tem a realizar na vida uma missão? E qual é o povo, digno de si próprio, que não tem o seu destino a cumprir?


Eu tenho fé na minha pátria, e quero, por isso, que a minha pátria tenha à sua disposição a força indispensável ao inteiro cumprimento da sua missão civilizadora.


[...] Um país banhado pelo oceano tem as portas abertas para o mundo, para o glória e para a riqueza - e já demonstrámos que conhecemos os caminhos do mar.


Todos os povos, como todos os indivíduos, devem estar preparados para defender os seus direitos e as suas liberdades: nenhum povo, como nenhum indivíduo, deve hesitar em sair à arena sempre que os seus direitos sejam postergados ou que as suas liberdades sejam ameaçadas.


Nas nações, como nos cidadãos, tem de haver uma consciência recta. Os cidadãos não devem limitar-se a formar juízos, embora cheios de imparcialidade e justiça: devem descer à praça pública a afirmar o seu protesto contra a violação da lei e o esmagamento da inocência.


[...] As nações, como os indivíduos, devem ter uma alma alevantada que não desanime perante as dificuldades nem recue perante os obstáculos.


[...] Conta-se que um oficial francês que, tendo ficado feridos ou mortos sob um bombardeamento quase todos os seus homens, e tendo os poucos ilesos procurando uma fuga, ao ver a primeira vaga inimiga, trepara ao parapeito, e, na transfiguração épica que dão as grandes horas, comandara:


- Mortos, a pé!


E os feridos levantaram-se, as metralhadoras começaram a crepitar e o assalto foi repelido.


Parece haver muitos portugueses que trazem dentro de si os corações mortos.


A nossa vida parece estar já nos nossos olhos para nos odiarmos, e nos nossos lábios para nos caluniarmos.


Aos homens que na África e na Flandres afrontaram a morte compete saltar para o parapeito [saírem das suas covas] e gritar a esses corações:

Mortos, a pé!” (Granjo, 1919: capítulo 'Por Portugal'), para que o Portugal por que «sonhamos» se cumpra".

António Santo Zassu


Divulgado no Facebook por: Afonso da Silva Maia, 11 Outubro de 2015, (https://www.facebook.com/afonso.dasilvamaia)

Publicado por: António Santo Zassu, http://zassu.blogs.sapo.pt/revista-no-50-do-grupo-cultural-aquae-73863


Revistan.º 50 do Grupo Aquae Flaviae

10 DE OUTUBRO DE 2015

Regimento de Infantaria 19 - Chaves

O 1º Batalhão do RI 19, que constituiu o 2º Depósito de Infantaria do CEP.


As circunstâncias específicas da sua mobilização para constituírem o 2º Depósito de Tropas de Infantaria, junto do Quartel-General, da Base, Teve como destinado a suprir as faltas por baixa, nomeadamente morte, ferimentos, doença ou qualquer impedimento do pessoal da Frente.


O 1º Batalhão do Regimento de Infantaria 19 Chaves, que constituiu o 2º Depósito de Infantaria do CEP, junto do Quartel-General da Base de Retaguarda. A sua participação não se encontra autonomizada uma vez que não foi uma das unidades mobilizadoras enquanto tal. Os seus efectivos militares foram constituir depósito de reserva para colmatar de baixas noutras unidades:

“Nenhum dos Regimentos de Chaves [cavalaria e infantaria] tomou parte directamente em qualquer das campanhas da primeira Grande Guerra Europeia. Porém os seus soldados e oficiais nela intervieram largamente integrando outros batalhões de outros regimentos, e sempre de forma a deixar memorável a sua presença nas diversas frentes da batalha”. (Machado, 1994:325).


No entanto e apesar disso, a mobilização das forças do RI19 deu-se em quatro momentos:

O primeiro constou da mobilização para Moçâmedes, no sul de Angola, em começos de Janeiro de 1915. A 17 de Janeiro as praças foram sorteadas, a 24 regressaram do período de gozo de licença, a 28 seguiram para Lisboa, a 31 embarcaram para África e a 31 de Março de 1916 regressaram a Chaves nesse mesmo ano com apenas três baixas.

O segundo momento resultou da mobilização do 1º Batalhão para a Flandres. Largou de Chaves às 24 horas do dia 21 de Maio de 1917, integrando alguns oficiais e praças regressados da campanha de África no ano anterior. Constituiu o segundo Depósito de Infantaria do Corpo Expedicionário Português (CEP).

A Ordem de Serviço nº 130/1917 que no dia anterior mandou publicar o comandante da unidade, o Coronel Augusto César Ribeiro de Carvalho:

Regimento de Infantaria nº 19

Chaves 20-Maio-1917

Ordem de Serviço nº 139

“Devendo marchar para Vidago amanhã à meia noite o 1º Batalhão deste regimento, afim de seguir ao seu destino, constituindo o 2º Depósito de Infantaria do CEP determino que se observe o seguinte:

a) Amanhã ao toque do recolher as praças comparecerão com o uniforme de campanha (dólmen e calção de lã, grevas e 1º barrete) e a essa hora terão já o capote colocado na mochila e dentro desta e no saco, todos os artigos de fardamento que lhes estão distribuídos.

b) Em seguida à chamada, as praças receberão a ração fria, a ração de reserva e o vinho, devendo a distribuição ser feita por secções, afim de se efectuar com a maior rapidez, procedendo-se em seguida á distribuição do café.

c) Às 22h 30mn as praças estarão em forma completamente equipadas e conduzindo cada qual o seu saco para fardamento e em seguida conduzidas á parada do quartel, onde o Batalhão se achará formado às 23 horas.

d) É absolutamente proibida a entrada no quartel, desde o toque do recolher, a indivíduos da classe civil.

e) Comparecerão no quartel às 23 horas todos os oficiais e sargentos do regimento que não mobilizaram. Comparecerá também a Banda de Música com o uniforme nº 5, afim de acompanhar o Batalhão até fora da vila.

f) Amanhã à hora da parada da guarda serão rendidos todos os cabos e soldados mobilizados que estiverem de serviço nas companhias, por praças não mobilizadas, os quais tomarão conta dos artigos em carga nos diferentes alojamentos e pela sua existência ficarão responsáveis.

Os senhores comandantes das companhias mobilizadas mandarão hoje para a secretaria nota do número de praças não mobilizadas de que necessitam para os diferentes serviços.

g) Antes da marcha os senhores comandantes das companhias entregarão relações das praças que faltarem à chamada (Palmeira, 1935: 49-50).

Este Batalhão, tal como estava determinado, seguiu de comboio até Lisboa onde embarcou para Brest. O comando desta força estava entregue a um major que era acompanhado por quatro capitães, entre eles o médico flaviense Adelino Augusto Fernandes, sete tenentes, trinta e um alferes, um sargento-ajudante, quatro primeiros-sargentos e quarenta e sete segundos-sargentos. Desconhecemos o número de cabos e praças.


De Brest seguiram para Etaples de comboio, onde receberam a instrução em falta para a entrada no front. Quase todo o efectivo foi distribuído por outros batalhões na hora do combate. O Batalhão nº 15 de Tomar teve, no entanto, o bom senso de reunir os adidos do RI19 num único pelotão. Aí se destacou o célebre soldado Milhões.

O terceiro momento prende-se com a segunda mobilização para a Flandres. Essa incorporação terá sido de apenas dois pelotões, comandada por dois aspirantes Antero Alves e Augusto Dias (Palmela, 1935:79).


A 29 de agosto de 1917, os militares foram sorteados e avisados da partida. No dia seguinte, a pé, seguiram para Mirandela onde apanharam o comboio para Bragança a fim de mobilizarem com o Batalhão de Infantaria nº 30 daquela cidade, ao qual ficaram adstritos durante o transporte. Chegaram a Bragança a 1 de Setembro pela uma hora da madrugada.  

No dia 7, vestiram roupa de mobilizados e no dia seguinte seguiram para Lisboa. No dia 10, pelas 11 horas, chegaram à capital. No dia 12, partiram num vapor inglês para Brest na Bretanha francesa, onde chegaram a 15. Daí até Ambleteuse, já na Flandres, demoraram três dias de comboio. Permaneceram aí até 20 de Novembro em instrução. Nessa data, seguiram para o front e foram adidos a outros batalhões na zona de Neuve-Chapelle.

Bibliografia

Machado, Júlio M. (1994), “Crónica da Vila Velha de Chaves”, Chaves, Câmara Municipal de Chaves.


Palmeira, Carlos (1935), “A Acção de Infantaria 19 na Grande Guerra”, Chaves, Tipografia Mesquita.


Blog “Chaves, Olhares sobre a cidade”, de Fernando DC Ribeiro,

http://chaves.blogs.sapo.pt/2014/05/23/  (visitado em 2017/02/05)


Blog "A cortar prego na Flandres", de Gil Santos,


Fotos publicadas por Gil Santos no Blog: A "cortar prego" na Flandres" 2017/05/12