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Soldado Americano, Porto de Ponta Delgada 1918

Acervo do Museu Carlos Machado, fotografo: Coronel Afonso Chaves (1857-1926)


Em Junho de 1917 os Estados Unidos da América, que haviam declarado guerra à Alemanha em Abril desse ano, começaram a instalar um depósito de carvão para abastecimento da sua marinha no porto de Ponta Delgada. A instalação desta base fora autorizada previamente pelo governo britânico e só em 8 de Novembro de 1917 é que o  governo português  lhe deu o consentimento formal. O processo de negociação entre os três governos foi elucidativamente descrito por António José Telo, no seu livro "Os Açores e o controlo do Atlântico, pp. 122 a 131".

O Comandante da Base Naval americana, o Almirante Herbert Owar Dunn, chegou a Ponta Delgada em Junho de 1917. Enquanto esteve em Ponta Delgada ficou no Almirantado Americano instalado no palacete que pertencera a Thomas Hickling , actualmente "Hotel de São Pedro", local onde anteriormente havia funcionado o consulado americano.

Uma das suas primeiras medidas foi fazer chegar aos Açores e meios financeiros para melhorar de imediato as condições de vida dos locais.(3)

Pela sua acção nos Açores recebeu a medalha de Serviços Distintos, do Governo dos Estados Unidos, e foi condecorado por Portugal com o grande oficialato da Ordem de Avis.


Em 19 de Março de 1919, sob proposta do vogal Evaristo Ferreira Travassos, a Câmara Municipal de Ponta Delgada criou o título de Cidadão Honorário de Ponta Delgada, atribuindo-o, pela primeira vez, ao Almirante Dunn.


Almirante Herbert Owar Dunn


Soldado Americano, Porto de Ponta Delgada 1918

Acervo do Museu Carlos Machado, fotografo: Coronel Afonso Chaves (1857-1926)

Ponta Delgada - Naval Base 13 "Mid-Atlantic Naval Base Ponta Delgada"


O Porto artificial de Ponta Delgada apresentava óptimas condições para alojar uma força permanente da navios de superfície, submergíveis e hidroaviões.


Para defesa do pessoal da marinha e segurança da Base foi estacionada em São Miguel, durante o período de Junho de 1917 a Novembro 1918, uma Companhia de Marines constituída por 11 oficias e 188 praças. Com esta companhia também chegou uma Bateria de 2 peças de artilharia de 175mm, que foram colocadas numa posição a Oeste da cidade, onde actualmente se situa o aeroporto de São Miguel.

Transporte das peças de 175mm por carros de bois para a sua posição a Oeste da cidade de Ponta Delgada

Foto cedida pela Prof. Doutora Fátima Sequeira Dias a António José Telo, para publicação no seu libro "Homens, Doutrinas e Organização 1824-1974 (Tomo I).


Peça de 175mm instalada na sua posição a Oeste de Ponta Delgada. É visível a guarnição formada por fuzileiros americanos.

Foto cedida pela Prof. Doutora Fátima Sequeira Dias a António José Telo, para publicação no seu libro "Homens, Doutrinas e Organização 1824-1974 (Tomo I).

A Força Submarina


Quando em Abril de 1917 os Estados Unidos entraram na Grande Guerra a sua força naval submarina era insignificante e estava ultrapassada em relação aos desenvolvimentos tecnológicos europeus.


Tal como a Inglaterra  que utilizou submarinos para executar missões de patrulha anti-submarina no Mar do Norte e no Mar da Irlanda, os Estados Unidos em Junho de 1917 designaram uma força de 12 submarinos (SUBLANT) para este tipo de missão, dividindo-a em duas unidades operacionais: a "SUBDIV4" constituída pelos submarinos USS K-1, K-2, K-5, K-6 e E-1,  estacionada no porto de Ponta Delgada nos Açores e a "SUBDIV5" constituída pelos submarinos USS L-1 ao L-4 e do USS L-9 ao L-11, estacionada na Baía Bantry na Irlanda.

A deslocação dos 4 submarinos "K" para os Açores deu-se em Outubro de 1917 e obrigou à utilização de dois navios de apoio: o Rebocador "USS Bushnell (AS-2)" e o Cruzador "USS Chicago", para os rebocar desde Halifax, passando pela Nova Escócia, até Ponta Delgada em São Miguel, Açores. A missão de rebocar, cada um dos navios dois submarinos, foi uma missão difícil. O E-1 chegou em Novembro pelos próprios meios inserido numa flotilha que seguiu para a Irlanda. O navio de apoio aos submarinos "USS Bushnell (AS-2)" foi substituido pelo "USS Tonapah (BM-8)" no final de 1917.O


s 4 submarinos "K" mantiveram-se nos Açores até ao final da Grande Guerra, tendo todos regressado em Fevereiro de 1919. Das suas característica há que destacar a velocidade de 14 nós à superfície e 10,5 nós submergido. Estava equipado com 4 tubos de torpedo de 18" e tinha um canhão de 75mm.  a sua tripulação era constituída por 28 homens.


A primeira patrulha efectuada pela flotilha americana aconteceu em 1 de Novembro de 1917, quando o K-2 saiu do porto artificial e teve que se debater com o mar agitado dos Açores. Foi uma missão  de manter a observação sobre os comboios navais que percorriam as águas açorianas foi muito difícil. As condições do mar no Atlântico central eram extremamente duras para estes navios, mas conseguiram garantir com alguma regularidade uma área de patrulha de 200 milhas à volta de Ponta Delgada. Acrescido às condições do mar tiveram dificuldades de apoio logístico, como peças de substituição  e de  abastecimento.

Submarinos americanos estacionados no Porto de Ponta Delgada

A Força Aeronaval

Curtiss R-6 USMC em Ponta Delgada

A força aeronaval da "United States Marine Corps" chegou à Base Naval n.º 13, em Ponta Delgada, a 21 de Janeiro de 1918. O Esquadrão consistia na 1ª Companhia Aeronáutica do Corpo de Marines e era composta por 12 oficiais e 133 praças.


Esta força efectuou patrulhas no mar dos Açores entre 25 Março de 1918 e Novembro de 1918. O seu primeiro comandante foi o Major Francis T. Evans (09/01/1918-18/07/1918), substituído posteriormente pelo Major David L.S. Brewster (19/07/1918-20/01/1919), até quando a unidade regressou a casa (20/01/1919).


Porque a unidade pertencia ao Corpo de Marines, o seu comando era independente do comando da Marinha e do Exéull Žrcito americano. Esta foi a primeira unidade de aviação americana que partiu dos Estados Unidos para actuar na Grande Guerra. A unidade chegou a estar equipada com 10 hidroaviões "R-6", 2 hidroaviões "N-9" e mais tarde recebeu 6 hidroaviões "HS-2-L".


O transporte da unidade da América até aos Açores foi feita a bordo do navio "USS Hancock" e o seu regresso foi feito no navio "USS Nereus".

Curtiss R-6 USMC em Ponta Delgada

USA - 1ª Companhia Aeronáutica do Corpo de Marines e era composta por 12 oficiais e 133 praças.(Açores 1917)

Força naval de Superfície

Em Dezembro de 1917 o destacamento naval americano "Azores Detachement", encontrava-se totalmente operacional, sob o comando do Comandante H.W. Osterhaus. A 16 de Dezembro efectuou exercícios operacionais com tiro real ao largo de Ponta Delgada, tendo inclusivamente avisado as autoridades portuguesas para avisarem a população locar para esta não se assustar(26).

A 4 de Novembro  de 1917 a canhoneira "USS Margaret", comandada pelo Lieutenant Commander Frank Jack Fletcher  (como navio de comando,)suportado pelo navio de apoio "USS Hannibal",  iniciaram em conjunto com os navios patrulhas "USS Helenita" (SP-210), "USS May" (SP-164), "USS Rambler" (SP-211), "USS Utowana" (SP-951) and "USS Wenonah" (SP-165), uma viagem entre Newport, Rhode Island, para os Açores, via Bermudas. Cada um dos patrulhas rebocava uma vespa (submarine chaser). Os navios patrulhas americanos eram equivalentes aos nossos arrastões e pesqueiros militarizados pela Marinha portuguesa e que a Marinha de Guerra portuguesa classificou como caça-minas.


Logo no início da viagem o "USS Helenita", "USS Margaret", "USS May" e o "USS Utowana" sofreram tiveram avarias o que levou que este grupo naval só chegasse ao porto de Hamilton, nas Bermudas a 9 de Novembro. Os navios ficaram em reparação e descanso até 18 de Novembro, data em que partiram para os Açores, mas o "USS Helenita" e o "USS Utowana" tiveram de aí permanecer por causa do nível das avarias verificadas.  Na falta destes navios patrulha a Marinha americana mandou em substituição três outros navios que aí se encontravam, "USS Artemis" (SP-593), "USS Cythera" (SP-575) e o "USS Lydonia" (SP-700).  


Durante a etapa entre as Bermudas e os Açores, o "USS Wenonah" teve de ser rebocado pelo "USS May" e a canhoneira "USS Margaret" rebocada pelo "USS Cythera".  Quase toda a etapa foi feita sob um forte temporal e acabaram por alcançar os Açores através do porto do Faial (Horta) a 5 de Dezembro. Pouco depois, ainda em Dezembro, todos passaram para o porto de Ponta Delgada. No final de Dezembro alguns dos patrulhas passaram para o porto de Gibraltar. A travessia do Atlântico por yachts e pequenos pesqueiros ao serviço das armadas nacionais foi algo comum durante toda a Grande Guerra e uma das principais armas de combate aos submarinos alemães.


Contratorpedeiros:

"USS Truxton (DD-14)": (Setembro 1917-Dezembro 1917)

"USS Wipple (DD-15)": (Novembro 1917-Novembro 1918)

"USS Luce (DD-99)": (Outubro 1918)

"USS Lamson (DD-18)": (Junho 1917-Outubro 1917)

"USS Smith (DD-17)": (Junho 1917-Outubro 1917)

"USS Preston (DD-19)": (Agosto 1917-Outubro 1917)


Canhoneiras:

"USS Margaret" (SP-527): (Junho 1917-Novembro 1918)

"USS Welling": (Novembro 1917-Novembro 1918)

"USS Galatea (SP-714): (Fevereiro 1918)


Escoltas:

"USS Bushnell (AS-2)": (Outubro 1917 - Dezembro 1917). Veio a acompanhar os submarinos e depois regressou aos Estados Unidos.

"USS Tonapah (BM-8)": (Dezembro 1917 - Novembro 1918)


Patrulhas:

"USS May (SP-164)": (Dezembro 1917 - Novembro 1918)

"USS Rambler (SP-211)": (Dezembro 1917 - Fevereiro 1918). Passou em Fevereiro para o porto de Brest.

"USS Utowana (SP-951)": (Janeiro 1918 - Fevereiro 1918).Passou em Fevereiro para o porto de Brest.

"USS Wenonah (SP-165)": (Dezembro 1917). Passou a 18 de Dezembro para o porto de Gibraltar, onde chegou no dia de Natal.

"USS Lydonia" (SP-700)": (Dezembro 1917). Passou a 18 de Dezembro para o porto de Gibraltar.

"USS Cythera" (SP-575)": (Dezembro 1917). Passou a 18 de Dezembro para o porto de Gibraltar.

"USS Artemis" (SP-593)": (Dezembro 1917 - Janeiro 1918). Passou em Janeiro de 1918 para o porto de Gibraltar.


Caça-submarinos (Vespas):

"USS SC-72", "USS SC-111", "USS SC-223", "USS SC-330", "USS SC-180", "USS SC-353", "USS SC-331" e o "USS SC-356".


Submarinos:

"USS K-1", "USS K-2", "USS K-5", "USS K-6" e "USS E-1" (Outubro 1917 - Novembro 1918)


Rebocador:

"USS Genesee (AT-55)": (Janeiro 1918 - Abril 1919)

Porto da Horta (Faial)


O porto apresente excelentes condições naturais face ao qual serviu para apoio às marinhas aliadas durante a Grande Guerra e foi base permanente de hidroaviões americanos.


O porto da Horta fica a pouco mais de 200 milhas do porto de Ponta Delgada, o que acrescidos às condições de defesa natural ficou estrategicamente no limite da autonomia dos submarinos "K". Em consequência disto passou a ser um local de passagem quase obrigatório das missões de patrulha, tanto dos submarinos "K" como de outros navios que operavam com base em Ponta Delgada.

Em Abril de 1918, como complemento à cobertura aérea da Base Naval 13 em São Miguel, o Governo dos Estados Unidos solicitou autorização ao Governo de Portugal para colocar uma estação aeronaval na Ilha do Faial, aproveitando as condições do porto natural da Horta. Nesta estação foram estacionados hidroaviões Curtiss HS-2L da U.S.Navy. Igualmente a missão destes hidroaviões competia localizar os submarinos que ameaçavam os navios mercantes que passavam ao longo da rota entre a América e a Europa.


A Marinha Portuguesa tinha projectado a instalação de uma estação aeronaval na Horta, mas não se chegou a materializar.  Como nota de curiosidade o Peter Café Sport foi inaugurado em 1918, certamente influenciado pela presençull a americana na ilha.



Outros Navios Aliados  


"HMS Argonaut", Cruzador de 1ª Classe: (Em missão entre os Açores e a Madeira entre Novembro de 1914 e Setembro de 1915)

"MN Friant", Cruzador: (Em missão nos Açores entre Julho e Setembro de 1917).

Bibliografia


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Bento, Carlos Melo( 2008), "História dos Açores", Ponta Delgada, EGA.


VVAA(2005), Os Açores como Espaço Estratégico, Ponta Delgada, Gráfica Açoriana, LDA.


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Silva, Henrique CorrÍa da (Paço d'Arcos), (1931), "Memórias de Guerra no Mar", Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra.


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Ordens de Serviço do Exército, 1ª série, 1915.


Telo, António José(1999), Homens, Doutrinas e Organização 1824-1974 Tomo I, Lisboa, Academia de Marinha, (ISBN: 972-781-007-1)


Os Americanos nos Açores

Amaragem dentro do porto de Ponta Delgada

Navio americano no porto de Ponta Delgada, São Miguel, Açores (14/02/1918)

Foto: Francisco Afonso Chaves - MCM, CAC3228

Exposição temporária sobre a Grande Guerra nos Açores, Forte de São Brás, Ponta Delgada, São Miguel, Açores

Poça 175mm US Navy 1918 (São Miguel, Açores 1918) Fonte: Naval History ans Heritage Command NH 122252

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