Para cima

A "Tagus Patrol" 1914-1916

O sistema de patrulhas implementado pela Grã-Bretanha durante a Grande Guerra, derivou da política de bloqueio naval discutida na Conferencia de Londres, em 1909, e da vitória diplomática que a Grã-Bretanha conseguiu sobre as posições da Holanda e da Alemanha em relação aos produtos inscritos nas listas de contrabando, aos métodos legais de bloqueio naval e por último quanto à dificuldade de alterar o porto de registo de um navio em situação de guerra. Ne entanto não agradou à Grã-Bretanha a criação de um tribunal internacional para decisão dos conflitos ligados às questões de captura de mercadorias, o International Prize Court.


Todas estas matérias foram avaliadas a partir de uma visão estratégica que vinha a ser progressivamente desenvolvida pelo Committee of Imperial Defense (CID), perante o o desenvolvimento da força naval militar e comercial  alemã desde o final do século XIX.


Em parte o suporte jurídico para esse comportamento parte da Conferência de Haia, da Conferência de Londres (1909) e do estabelecimento de listas de produtos: contrabando absoluto, contrabando condicional e mercadorias livres.


Passou a ser legal interceptar qualquer navio, mesmo neutro, para se verificar a bordo a carga que transportava, sendo que qualquer mercadoria de “contrabando absoluto” era apreendida de imediato e  mercadorias de “contrabando condicional” apenas se destinadas a forças armadas inimigas.


Neste contexto foi aceite a doutrina de “viagem contínua”, sendo que no caso dos produtos inseridos na lista de “contrabando condicional” poderiam também ser apreendidos  caso se conhecesse o seu destino final, mais do que do simples porto de destino.


É efectivamente o CID que apresenta ao Governo Britânico a estratégia de estrangular o comércio marítimo alemão como forma de exercer pressão sobre a população alemã, sendo que de imediato se colocava a dificuldade de se estrangular o abastecimento alemão vindo de países neutros.


A Grã-Bretanha estava ciente que não seria possível efectuar um bloqueio próximo sobre os portos alemães, face ao desenvolvimento da arma submarina, dos torpedos e das minas, e que era impossível vir a conseguir colocar todos os produtos na lista de “contrabando absoluto”, impossibilitando dessa forma a continuidade da produção industrial alemã.


Outra questão estava na impossibilidade declarada pelo Almirantado Britânico em operar no Mar Báltico em  tempo  de guerra, o que era uma constatação da impossibilidade de bloquear toda a linha costeira alemã e de privá-la de receber mercadorias através de navios neutros que aí navegassem, referindo-se essencialmente à Dinamarca e à Suécia.


Outro problema que se colocava à execução de um bloqueio à distância provinha das próprias listas de contrabando: condicional ou absoluto, sendo que muitos produtos importantes neste contexto estavam na lista de produtos livres. Os limites da actuação britânica ficava sempre dependente do limite até onde poderia forçar a aceitação dos países neutrais, e em especial os Estados Unidos da América, a tais constrangimentos.


Havia, ainda a questão relevante de que os produtos classificados como contrabando condicional só poderiam ser apreendidos se o destino dos mesmos fosse as forças armadas inimigas.


Maurice Hankey (CID) tinha a consciência que a estratégia britânica de bloqueio não poderia ser divulgada de imediato após a entrada na guerra devido a possíveis consequências por parte da atitude dos países neutrais e porque na prática o método que seria necessário utilizar para garantir alguma eficiência num bloqueio com base na teoria da “viagem contínua” seria o abandono das listas de classificação de contrabando e de actuar sobre qualquer produto cujo destino final, directo ou indirecto fosse a Alemanha.


Existiam assim duas questões fundamentais para a execução do bloqueio distante: as listas de contrabando e a dimensão das frotas dos países neutros, já que era evidente que não existia um número suficiente de navios neutros para garantir um trânsito comerciam de substituição para as mercadorias destinadas à Alemanha.


A questão da Grã-Bretanha interferir sobre o comércio neutral pode ser vista como uma posição hostil sobe o comércio mundial e uma extensão das zonas de guerra, para fora das zonas de combate.


Quanto à questão da existência de unidade navais suficientes para a execução da política de bloqueio britânica, o Almirantado declarou em Dezembro de 1911 que não tinha cruzadores suficientes para garantir simultaneamente o poder naval e o controlo sobre o comércio naval, o que levaria à necessidade de armar navios comerciais como “cruzadores auxiliares”.  


Por outro lado o Almirantado Britânico tinha conhecimento que a Alemanha tinha planos para armar os seus navios mercantes assim que se iniciasse um estado de guerra. A lista de contrabando condicional incluía produtos alimentares essenciais e como tal o Almirantado considerava que os navios armados alemães atacariam em particular os navios mercantes de abastecimento que se dirigissem à Grã-Bretanha.


Esta questão do número de navios disponíveis para interceptar os navios comerciais armados alemães, levou a que existissem planos anteriores à guerra para armar os grandes transatlânticos (fast liners), o que aconteceu de imediato com o estalar da guerra com 13 navios.


O plano de armamento foi concluído e apresentado por Churchill em 26 de Março de 1913 e envolvia navios graneleiros e de transporte de carne de carreiras para a Austrália, o Canadá e a América do Sul. Os primeiros navios armados datam de 1913 (SS Aragon da Royal Mail Line e SS Ceramic da White Star). Em Junho de 1914 existiam 39 navios armados a navegar em nove rotas comerciais. Estes navios eram denominados com Defensive Armed Merchantmen (DAM). Quando a Grã-Bretanha entrou na guerra (8 de Agosto) a maior parte destes navios encontrava-se fora de portos e sem munições para as suas peças, já que tinha sido necessário manter um certo nível de legalidade e não transportar munições não declaradas quando em portos estrangeiros e m tempo de paz.

HMS CARMANIA – Agosto de 1914 a Maio de 1916

HMS AMPHITRITE – Agosto de 1914 a Junho de 1915

HMS EUROPA - Agosto de 1914 a Janeiro de 1916

Bibliografia




FRIEDMAN, Norman (2014), Fighting the Great War at Sea: Strategy, Tactics and Technology, Barnsley (UK), Seaforth Publishing.


NAYLOR, John F. (1984), A Man and an Isntitution: Sir Maurice Hankey, The Cabinet Secretariat and the custody of Cabinet secrecy, Cambridge (UK), Cambridge University Press.


Royal Navy Museum, www.naval-history.net, "Preserving Naval History Research and Memoirs".


A questão dos navios armados teve um contratempo quando o Governo dos Estados Unidos da América declarou que iria internar qualquer navio armado que se encontrasse nos seus portos nacionais, mas esta posição também teve um lado positivo quando impediu que os alemães armassem os seus navios que se encontravam em portos americano.


Em consequência da política de bloqueio naval britânico ao comércio sobre as potências centrais,  Portugal foi neste âmbito, entre 1914 e até à declaração de guerra alemã em 9 de Março de 1916, tratado como um país neutro sobre o qual era necessário exercer uma vigilância para controlar o fluxo de mercadorias que entravam e saíam dos portos nacionais.


Neste sentido  a Grã-Bretanha operacionalizou uma patrulha permanente junto à saída da foz do rio Tejo, denominada “Tagus Patrol”, com a missão de manter um bloqueio distante e permanente sobre  os navios comerciais que entravam e saíam do porto de Lisboa, ou que passavam junto à barra do Tejo.


Um dos navios utilizados foi o cruzador auxiliar (navio mercante armado) CARMANIA, após ter sido reparado em resultado dos danos sofridos no combate individual contra o navio armado alemão CAP TRAFALGAR em 14 de Setembro de 1914.


A sua missão teve início em Novembro de 1914 e consistia em examinar os navios que entravam e saíam do rio Tejo (Lisboa). Este navio foi igualmente empregue na patrulha dos arquipélagos das Canárias e da Madeira, tendo então integrado nessas missões a “Canary Islands Patrol”.


(Friedman, 2014, Capítulo III, Blockade, Trade Warfere ans Economic Attack, pp. 55-69)

A partir da Base de Gibraltar a Tagus Patrol operava frente a Lisboa. Outra patrulha com base em Gibraltar era a Canary Island Patrol que incluia o patrulhamento das águas da Madeira

O Committee of Imperial Defence foi um departamento do Governo Britânico, que foi criado após a 2ª Guerra Boar (1899-1902) e que ao início da 2ª Guerra Mundial (1939-45) com o propósito de desenvolver estratégias militares com coordenação entre armas.


Nesse sentido este comité criou subcomités  que se especializaram em questões como espionagem, racionamento alimentar que incluiu a definição da estratégia do bloqueio alimenta à Alemanha, entre outros.


Foi sob a coordenação de Maurice Hankey , a partir de 1912, que o comité foi progressivamente relevância. A partir de 1912 o comité passou a ter a responsabilidade do planeamento defensivo da Grã-Bretanha e do Império. A relevância de Maurice Handey para o planeamento de defesa levou a que Loyd George, em 1916, o colocasse como Secretário do Gabinete de Guerra (War Cabinet).


Naylor (1984).



Committee of Imperial Defence (CID)

Maurice Hankey (1877-1963) Foto: Londres 1920

HMS VINDICTIVE – Agosto de  1914 a Dezembro de 1916

HMS ARGONAUT – Agosto de 1914 a Setembro de 1916

HMS EUROPA – Agosto de 1914 a Janeiro de 1916


Cruzador (antigo cruzador-protegido ex-1ª classe) Classe Diadem


Foi lançado a 20 de Março de 1897 (1.000t), com um armamento principal de 16x6in, 12x12pdr, 4x4pdr e 2x18inTT, com velocidade de 20 nós. Em Agosto de 1914 foi colocado no 9st Cruiser Squadron.




HMS AMPHITRITE – Agosto de 1914 a Junho de 1915


Cruzador (antigo cruzador-protegido ex-1ª classe) Classe Diadem


Foi lançado a 5 de Janeiro de 1898 (11.000t), com um armamento principal de 16x6in, 12x12pdr, 4x4pdr e 2x18inTT, com velocidade de 20,5 nós. Integrou o 9st Cruiser Squadron em 1915 e foi convertido em lança minas em Julho de 1917 com a capacidade de transporte de 354 minas. entre 1917 e o final da Grande Guerra foi integrado no 1st Mine Squaron (Grangemouth).




HMS VINDICTIVE  – Agosto de 1914 ta Dezembro de 1916


Cruzador ligeiros (antigo cruzador-protegido ex-2ª classe) Classe Arrogant.


Foi lançado a 9 de Dezembro de 1897 (5.750t), com um armamento principal de 10x6in, 9x12pdr, com velocidade de 19 nós.

Integrou o 9ª Cruiser Squadron entre 1914 e 1915. Em 1916 patrulhou o Brasil e posteriormente até 1917 o Mar do Norte e Mar Branco (Árctico/Norte da Rússia). Em 1918 foi convertido em navio de assalto e participou no ataque a Zeebrugge (22/23 de Abril de 1918), onde foi propositadamente afundado.



HMS ARGONAUT – Agosto de 1914 a Setembro de 1916



Cruzador (antigo cruzador-protegido ex-1ª classe) Classe Diadem


Foi lançado a 5 de Janeiro de 1898 (11.000t), com um armamento principal de 16x6in, 12x12pdr, 4x4pdr e 2x18inTT, com velocidade de 20,5 nós. Integrou o 9st Cruiser Squadron até 1915 e foi convertido em navio-hospital entre Outubro de 1915 e Dezembro de 1917, foi posteriormente mantido como um navio depósito até finais de 1918. Nas águas dos Açores a 10 de Outubro de 1914 capturou o navio mercante alemão GRAECIA (carvoeiro) que navegava com a bandeira da Noruega. O navio e a tripulação foram levados para o porto de Gibralta.


Plymouth - Tagus Patrol (1914/08/10-1914/10/03) - Barra do Tejo, Gibraltar

Gibraltar - Tagus Patrol (1914/10/05-1914/10/28) - Açores, Plymouth

Plymouth -Tagus Patrol (1914/11/02-1914/11/14) - Açores, Funchal (Madeira)

Funchal (Madeira) - Canary Islands Patrol (1914/11/16-1915/01/23) - Madeira, Canárias, Gibraltar

Gibraltar - Canary Islands Patrol (1915/02/15-1915/05/18) - Madeira, Açores, Canárias, Gibraltar

Gibraltar - Tagus Patrol (1915/05/18-1915/11/11) - Madeira, Açores, Portsmouth



HMS CARMANIA – Agosto de 1914 a Maio de 1916


Navio Mercante Armado (Cruzador Auxiliar)


Foi construído em 1905 (19.524grt), com um armamento de 8x4.7in. Efectuou missões de patrulha e posteriormente de protecção a comboios navais. Para além da Tagus Patrol esteve integrado na Northern Patrol. Destaca-se  o combate singular contra o cruzador auxiliar alemão CAP TRAFALGAR (18.710grt) armado com 2x4.1in. Durou mas de uma hora ficando o CARMANIA muito danificado, assim como o CAP TRAFALGAR que acabou por se afundar.




HMS OPHIR – Março de 1915 a Abril de 1915


Navio Mercante Armado (Cruzador Auxiliar)


Foi construído em 1891 (6.941grt), com um armamento de 6x6in. Efectuou missões de patrulha e posteriormente de protecção a comboios navais. Para além da Tagus Patrol esteve integrado na Canary Islands Patrol.


Tilbury - Tagus Patrol (1914/03/25-1914/04/12) - Barra do Tejo, Gibraltar

Gibraltar - Canary Islands Patrol (1915/04/15-1915/05/05) - Madeira, Canárias, Funchal (Madeira)

Funchal (Madeira) - Canary Islands Patrol (1915/05/08-1915/06/09) - Açores, Madeira, Canárias, Funchal (Madeira)

Funchal (Madeira) - Canary Islands Patrol (1915/06/11-1915/07/07) - Madeira, Canárias, Gibraltar

Gibraltar - Canary Islands Patrol (1915/07/24-1915/11/28) - Madeira, Canárias, Gibraltar

Gibraltar - Canary Islands Patrol (1915/12/23-1916/03/26) - Madeira, Canárias, Gibraltar

Gibraltar - Atântico Sul (1916/07/01-1916/08/13) - Madeira, S.Vicente (Cabo Verde), Dakar

Dakar - Atlântico Sul (1916/08/20-1916/09/15) - S.Vicente (Cabo Verde), Madeira, Devonport

Devonport - Atlântico Sul (1916/09/27-1916/12/23) - S.Vicente, Dakar, Madeira, Canárias, Serra Leoa (Freetown), Gibraltar

Gibraltar - Atlântico Sul (1917/02/15-1917/03/12) - Serra Leoa, Plymouth

Plymouth - Oceano Pacífico (1918/04/01-1918/12/26) - Serra Leoa, Cape Town, Ilhas Maurícias (Índico), Singapura, Hong Kong, Filipinas, Holonulu, Paita (Peru), Valparaiso, Coronel, St. Helena, Canal Panamá,


HMS OPHIR – Março de 1915 a Abril de 1915