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O Combate de
Naulila
(1914)
De acordo com René Pélisser, na sua obra
"As Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941", o Tenente-coronel Alves
Roçadas deu ordem aos sobreviventes para evacuarem Naulila; mas não se
verificou uma retirada mas sim uma debandada lamentável de 70 Km até Humbe.
Os oficiais portugueses não recuaram como foram incapazes de travar um
salve-se quem puder que não foi apenas físico. É descrito que na
incapacidade de deter em simultâneo a revolta indígena e pensando que os
alemães ainda os perseguiam o Tenente-coronel Alves Roçadas mandou fazer
explodir o Forte Roçadas com todos os explosivos, munições e armamento
impossível de ser transportado a fim de não cair em mãos inimigas. A
incapacidade dos serviços de informação portugueses explica o erro
estratégico, que não só provocou a sublevação do Povo Ovambos e outras
populações locais junto do rio Cunene, assim como destruiu a estrutura
administrativa colonial no Sul de Angola. 1
De acordo com Marco
Fortunato Arrifes, na sua obra "A Primeira Grande Guerra na África
Portuguesa, Angola e Moçambique (1914-1918)", a questão do ataque do posto
de Naulila, resultou de uma acção punitiva alemã por causa da situação
gerada em volta do incidente de 19 de Outubro de 1914, e apesar de se
verificar a existência de deficiências organizativas e materiais, os
portugueses conseguiram resistir durante algum tempo. considera que este
acontecimento teve pouco significado militar e poucas consequências
práticas. Na realidade a sua relevância advém da recuperação histórica e
mistificação utilizada na criação de símbolos da participação portuguesa na
Grande Guerra. 2
De acordo com Ferreira Martins,
na sua obra "Portugal na Grande Guerra", Vol. II, a defesa de Naulila teve
falta de direcção e de comando, esforços dispersos que nunca chegam a termo,
muito embora a grande maioria das forças empenhadas se tenham batido com
energia, tenacidade e valor. A retirada foi efectuada de forma ordenada e a
sermos incomodados pelos inimigo parou junto do posto mais próximo, Dongoêna.
O destacamento próximo de Caluéque recebe ordens de cobrir o movimento de
retirada. As forças de combate de Naulila chegaram no dia seguinte a Humbe.
A explosão do paiol do Forte Roçadas, considerada acidental, deu origem a
factos de certa gravidade que levaram a determinar a concentração de todas
as tropas, mais a Norte, na Zona de Cahama-Gambos, onde já se encontrava uma
unidade de infantaria posicionada defensivamente.
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De acordo com Aniceto Afonso, no Capítulo
"Portugal e a Guerra nas Colónias" da obra colectiva
"História da Primeira República Portuguesa", a força expedicionária de
Angola tinha ordens do Governo português para não efectuar qualquer acção
ofensiva e nem sequer entrar na zona neutra, o que lhe leva a considerar
como explicação para não ter existido
um ataque sobre a frente avançada alemã entre o dia 12 e 17 de Dezembro.
Assim a iniciativa do ataque pertenceu aos alemães, que no dia 18 de Dezembro
já se encontravam reforçados pelas forças do Major Frank. Após várias
horas de combate as tropas portuguesas viram-se obrigadas a retirar devido
às baixas, mas os alemães também não perseguiram e acabaram por retirar para as suas bases.
O combate em Naulila não teve outras consequências militares e o chamado "Desastre de Naulila"
apenas teve reflexos directos no comportamento do povo indígena da região
Cuanhama
que se revoltou contra Portugal, mas que foi controlado após a chegada da
segunda força expedicionária de Angola, comandada pelo General Pereira de Eça.
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De acordo com Alberto de Almeida
Teixeira, na obra "Naulila", a 26 de Novembro o Tenente-coronel Alves
Roçadas recebeu dos serviços de informação, pormenores sobre um avanço
alemão sobre o Sul de Angola, inclusivamente identifica o comandante como
sendo o Major Frank. O soba Ipungo também solicita auxilio aos portugueses,
(pólvora e munições) para deter o avanço alemão dentro do seu território,
indicando que se tratava de tropas montadas, com metralhadoras e que
estavam acampadas num local chamado Tamanque a 4 dias de marcha de Naulila.
O Tenente-coronel Alves Roçadas reforçou a companhia indígena que estava em Naulila com um destacamento comandado pelo Capitão Mendes Reis, constituído
pela bateria Erhardt (3 peças), Bateria de metralhadoras (4 peças), 1º
Esquadrão de Dragões, 9ª Companhia do Batalhão de Infantaria n.º 14 e da 16ª
Companhia de Infantaria Indígena de Moçambique. A Norte de Naulila, já na
margem direita, em Donguena foi estacionado um destacamento, comandado pelo
Major Salgado, composto por uma Divisão de 2 peças de artilharia Canet, a
10ª e 12ª Companhia do Batalhão de Infantaria n.º 14 e o 3º Esquadrão
Regimento nº.9.
A força portuguesa em Naulila dispunha de 400 homens
de infantaria europeus, 180 homens de infantaria indígena, 3 peças de
artilharia Erhardt e 4 metralhadoras, mais uma reserva de 240 homens de
infantaria europeus, 60 indígenas e 2 peças de artilharia Canet. A força
alemã do Major Frank compunha-se de 490 homens de infantaria, 150 auxiliares
indígenas, 6 peças de artilharia e 2 metralhadoras. O combate foi muito duro
e obrigou a uma retirada das forças portuguesas de Naulila para a
segunda linha em Donguena. Após reunidas as tropas em retirada dirigiu-se para Humbe,
que ficava para Norte.
As baixas alemãs contaram com muitos oficiais, incluindo o Major Frank, e elevada
percentagem entre os praças europeus e auxiliares, o que impossibilitou o desenvolvimento
de uma perseguição às tropas portuguesas em retirada.
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Notas
- Pélisser(2006), pp.354-5
- Arrifes(2004), p.159
- Martins(1934), p.210
- Rosas(2010), p.291
- Teixeira(1935), p.25-32
Bibliografia
-
Martins,
Ferreira (1934), "Portugal na Grande Guerra", Vol. II, Lisboa, 1º
ed., Empresa Editorial Ática
-
Pélissir,
René(2006),"As
Campanhas Coloniais de Portugal 1844-1941", Lisboa, 1ª ed.,Editorial
Estampa. (ISBN: 972-33-2305-2)
- Arrifes,
Marco Fortunato (2004), "A Primeira Grande Guerra na África
Portuguesa, Angola e Moçambique (1914-1918)", Lisboa, 1ª ed.,
Edições Cosmos. (ISBN:972-762-254-2)
- Rosas, Fernando e Maria
Fernanda Rolo,coordenação(2010), "História da Primeira República
Portuguesa",2ªed., Lisboa, Tinta da China. (ISBN: 978-972-8955-98-4)
- Teixeira, Alberto de
Almeida(1935), "Naulila", s.e., Lisboa, Divisão de Publicações e
Biblioteca Agência Geral das Colónias.
-
Casimiro, Augusto (1922), "Naulila",
s.e., Lisboa, Seara Nova, Anuário do Brasil
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