Antecedentes e Declaração
de Guerra
No início de Fevereiro de 1917 o
Ministério das Relações Exteriores do Brasil recebeu do Império Alemão
uma "notificação de bloqueio", na qual indicava a situação de guerra
submarina total na Europa. Com esta notificação "justificava" um
possível ataque a navios mercantes de países não alinhados ou neutros. O
Governo Brasileiro protestou em vão.
No dia 4 de Abril de 1917 o navio brasileiro "Paraná", que navegava
identificado de acordo com as exigências feitas aos países neutros, foi
torpedeado por um submarino alemão, junto da costa ocidental da França.
No dia 11 de Abril o Brasil rompe relações diplomáticas com a Alemanha.
No dia 20 de Maio, o navio brasileiro "Tijuca" foi torpedeado em águas
territoriais francesas, perto da costa.
A partir de Junho o Governo brasileiro começa a confiscar os navios
alemães alemães que se encontravam em portos brasileiros, num total de
46, como uma indemnização de guerra. A
3 de Dezembro de 1917 o Ministério da
Fazenda foi autorizado a fretar 30 dos 46 navios arrestados para a
França, a fim de suprir a imensa falta de transporte naval existente.
No dia 18 de Outubro de 1917, o navio brasileiro "Macau", um dos navios
arrestados, foi torpedeado por um submarino alemão, dentro das águas
territoriais espanholas, perto da costa, e seu comandante feito
prisioneiro.
A 2 de Novembro
de 1917 verificou-se um ataque de um submarino alemão dentro do Porto
Grande em Cabo Verde, onde foram torpedeados os navios mercantes
brasileiros "Guahyba" e
"Acary". O Porto Grande era uma base de abastecimento de carvão, muito
importante no Atlântico Sul.
Com esta situação
a
pressão popular brasileira contra a Alemanha levou a que, no dia 26 de
Outubro de 1917, o Presidente do Brasil
Wenceslau Braz
declare guerra contra a Alemanha. Verificou-se uma uma intensa agitação
nacionalista, comícios de apoio e louvor à "gloriosa atitude brasileira
de apoiar os Aliados".
Presidente Wenceslau Braz a assinar a
declaração de Guerra, 26/10/1917 |
A Participação Militar
A participação militar do Brasil em solo europeu foi pequena,
resumindo-se ao envio de aviadores navais, uma missão médica e uma
esquadra naval de guerra, para além da grande contribuição no
fornecimento de alimentos e matérias-primas.
A Divisão Naval na
Europa (DNOG)
O Brasil para contribuir para o
esforço de guerra e para proteger as suas rotas comerciais, formou
a Divisão
Naval em Operações de Guerra (DNOG). Esta era
composta pelos Cruzadores "Rio Grande
do Sul" e "Bahia", Contratorpedeiros "Piauí", "Rio Grande do Norte",
"Paraíba" e "Santa Catarina", Tênder "Belmonte" e Rebocador de alto-mar
"Laurindo Pitta", com um efectivo total de 1502 homens: 75
oficiais de armada, 4 médicos, 50 oficiais de máquinas, 5 oficiais
comissários (intendentes), um farmacêutico, um dentista, um capelão, um
sub-maquinista, 41 sub-oficiais, 43 mecânicos, 4 auxiliares de fiel, 702
marinheiros, 481 foguistas, 89 taifeiros, um padeiro e três barbeiros.
Após um longo período de preparação
seguiu, em 31 de Julho de 1918, para
a zona de guerra formada pelo triângulo Gibraltar, Dakar e o Arquipélago
de Cabo Verde, com a missão de reforçar a esquadra britânica de
Gibraltar na neutralização dos submarinos alemães que operavam naquela
área, e especialmente na entrada do mediterrâneo.
Aportou
inicialmente no porto de Freetown a 9 de Agosto de 1918, onde os
marinheiros sem saberem foram contagiados pela "Gripe Espanhola", e
dirigiu-se alguns dias depois para Dakar.
Entrou em
combate logo assim que chegou a Dakar, em 25 de Agosto de 1918, tendo
depois se dirigido para o porto, para reparos, uma vez que se
verificavam problemas mecânicos nos dois cruzadores e num dos
contratorpedeiros, e abastecimento até 6 de Setembro. Entretanto
irrompeu o surto de "Gripe Espanhola", que atingiu 200 marinheiros, num
total de 1500 homens que compunham a tripulação da esquadra, dos quais
176 morreram. Por esta razão a esquadra brasileira manteve-se em Dakar
até ao final de Outubro, data em que foi dado por extinto o foco de
pneumónica.
Quando da
partida para da esquadra para Gibraltar, foram
alertados para ser tomado muito cuidado, pois o encouraçado "Britânia",
designado para acompanhar a esquadra brasileira de Dakar a Gibraltar,
tinha sido afundado por um submarino e que se mantinha o alerta de
presença de submarinos alemães área. Assim, e em grande tensão a
esquadra navegou para Gibraltar, tendo ocorrido duas situações de
confusão. A primeira ficou conhecida como a “Batalha das
Toninhas”, quando um cardume destes peixes foi confundido com o rastro
de um periscópio, o que fez com que o Cruzador "Bahia" disparasse seus
canhões contra os peixes, e o outro incidente foi um ataque a tiro de
canhão, feito pelo Contratorpedeiro "Piauí" contra o caça-submarinos 190
da marinha norte-americana, o qual foi confundido com um submarino
devido às sua pequena dimensão, mas sem causar danos sobre o navio
aliado que se identificou de imediato.
Chegou a
Gibraltar no dia 10 de Novembro de 1918, na véspera do Armistício. No
regresso a casa a esquadra parou em Cabo Verde para saudar Portugal.
Os Aviadores Navais
Brasileiros na Grande Guerra
Com a entrada do Brasil na guerra
surgiu a oportunidade de enviar pilotos da marinha para os Estados
Unidos da América e para a Inglaterra para treino. (1)
O Presidente do Brasil Wenceslau Braz,
decretou que apenas voluntários poderiam seguir para o exterior, tendo
definido que para a Europa só seriam aceites voluntários solteiros e que
para os Estados Unidos da América seguiriam voluntários casados. Este
recrutamento recolhei 13 voluntários: 12 da Marinha e um do Exército.
A Inglaterra que se via a braços com
falta de pilotos ofereceu-se para receber de imediato 50 alunos, pelo
que todos seguiram para a Europa. (2)
Pilotos enviados para a Europa
Manoel Augusto P. de Vasconcellos
|
Capitão-Tenente |
Virgínius B. Delamare |
Primeiro-Tenente |
Heitor Varady |
Primeiro-Tenente |
Fabio Sá Earp |
Primeiro-Tenente |
Belisário de Moura |
Primeiro-Tenente |
Eugênio Possolo |
Primeiro-Tenente |
Mario da Cunha Godinho |
Primeiro-Tenente |
Fileto Ferreira da S. Santos
|
Primeiro-Tenente |
Olavo Araújo |
Segundo-Tenente |
Lauro de Araújo |
Segundo-Tenente |
Epaminondas Gomes do Santos
|
Segundo-Tenente |
Aliatar de Araújo Martins (Exército)
|
Tenente (Exército) |
Antonio Joaquim da S. Junior
|
Suboficial |
Em Janeiro de 1918 foram enviados 13
pilotos, comandados pelo Capitão-Tenente Manoel Vasconcellos, para
Inglaterra. Frequentaram a escola de caças em Eastbourne
durante três meses, tendo no final 3
chumbado o curso e dois sofrido acidentes. O Segundo-Tenente Olavo
Araújo devido ao resultado do acidente foi repatriado. O Segundo-Tenente
Eugénio Possolo veio a falecer dos ferimentos do acidente que sofreu
tornando-se a primeira vítima da Aviação Naval brasileira. (3)
Os pilotos brasileiros chegaram a
formar uma esquadrilha em conjunto com pilotos ingleses, primeiro na
Royal Navy Air Service e posteriormente na Royal Air Force. A Marinha
inglesa integrou a esquadrilha em missões de patrulha anti-submarino
(16ºGrupo da RAF), com base em Plymount. As suas missões tiveram início
nos últimos dias da guerra (3)
Também foram enviados 4 pilotos para
os Estados Unidos da América, 2 suboficiais e dois oficiais. Os 2
oficiais e um dos suboficias obtiveram aproveitamento no curso e
foram integrados em unidades de patrulha anti-submarino.
Houve ainda uma missão chefiada pelo
Capitão-de-Corveta Protógenes
Guimarães foi enviada a Itália no final de 1918, mas que já não foi
integrada em qualquer unidade operativa. (4).
A Missão Médica em França
A missão médica brasileira partiu
para França a 16 de Agosto de 1918, num transporte francês. Havia nos
integrantes, especial admiração pela escola médica, que a França
representava, no mundo de então. Aos jovens, fascinava a cirurgia dos
grandes golpes, rápidos e ousados, estancando o sangramento pela
compressão dos retalhos. Paris, formando celebridades clínicas e
cirúrgicas, era, na época, a Meca da Medicina, onde os nossos mestres
iam, de tempo em tempo, nas viagens de estudo, renovar a sua cultura.
A expedição foi chefiada por Nabuco
de Gouveia, homem de representação na classe e merecedor da confiança do
Ministro da Guerra, General Caetano de Faria. Deputado, cirurgião,
Professor de Ginecologia e Director do Hospital da Gambôa. Comissionado
no posto de Coronel do Exército. A Missão era composta de 10 Directores
de Serviço, servindo na categoria de tenente-coronel; 20 chefes de
enfermaria, no grau de capitão; 29 médicos na classe de 1º Tenente; 8
auxiliares como 2º Tenente e 15 doutorandos na mesma categoria.
Farmácia, intendência e secretaria. Incorporadas, uma delegação do corpo
de saúde do Exército, com 5 representantes e outra da Marinha de Guerra,
com 6 oficiais, onde eu me achava incluído, como 1º Tenente-médico da
Armada. Seguiu também um contingente de 31 soldados.
Em conclusão, 131 combatentes totalizavam a falange brasileira, mandada
para se incorporar aos exércitos aliados, na frente francesa.
A missão chegou a Marselha no dia 24
de Setembro de 1918.
A montagem do Hospital Brasileiro,
foi efectuada no remodelando prédio de um antigo convento de
Jesuítas, que existia na Rue Vaugirard. A instalação foi feita em mês e
meio de trabalho acelerado. Ai é que Nabuco Gouveia deu prova de sua
capacidade de organização.
Seus auxiliares directos receberam a
legião de honra: Tenentes-coronéis Benedito Montenegro, Eduardo Borges
da Costa, Paulo Parreiras Horta e Jorge de Toledo Dodsworth. Nabuco já
era legionário. O estabelecimento hospitalar foi classificado como de
primeira classe, em condições de receber feridos e ficou nivelado com o
hospital americano de Neuilly, no dizer dos próprios franceses.
Terminada a guerra, foi extinta a Missão, em Fevereiro de 1919.
Prisioneiros de
Guerra Brasileiros em Campos de Internamento na Alemanha
Durante a guerra parte dos
tripulantes dos navios comerciais afundados foram feitos prisioneiros
pelos submarinos alemães e foram enviados para campos de internamento na
Alemanha.
No Oficio n.º9 da Directoria dos
Negócios Políticos e Diplomáticos, o Sr. Ministro Raul do Rio-Branco
informou o Governo, em 1917, sobre a existência de prisioneiros
brasileiros na Alemanha e chegou a solicitar uma verba especial para
socorrer as necessidades de subsistência destes. O Governo deu meios
imediatos e foi legislado de imediato a forma de auxílio.
Estando os interesses brasileiros
representados na Alemanha, pela Legação da Suíça em Berlim, em 17 de
Setembro de 1918, o Governo brasileiro passou a gestão do auxílio aos
prisioneiro para o Sr. Dr. Félix Calomber, Presidente da Confederação
e Chefe do Departamento Político Suíço.
Os prisioneiros não eram em grande
número, mas eram constituídos por oficiais da marinha e tripulações, e o
primeiro pedido feito à Legação da Suíça, foi para que junto dos alemães
conseguisse a identificação dos brasileiros detidos, mais propriamente:
nome, apelido, localidade, data de nascimento, grau r profissão, data da
captura e em que campo de internamento se encontravam.
A Legação Suíça em Berlim, recebeu o
mandato do Governo brasileiro, em 18 de Setembro de 1918, e começou as
diligências através do Bureau de Secours Franco-Belge.
Em Outubro a Madame Hortence Hamoir
de Rio-Branco, Presidenta da Secção Brasileira de Socorros aos
Prisioneiros de Guerra na Alemanha, e esposa do Ministro, já tinha
recebido do Bureau de Secours Franco-Belge informação sobre os
brasileiros prisioneiros de guerra na Alemanha. Dessa informação
resultou que um médico brasileiro que se achava prisioneiro declarou que
não necessitava de socorro porque a sua família lhe enviava directamente
pacotes (colis) com víveres.
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