Portugal aos olhos
da Espanha
A Espanha no Tempo de
Afonso XIII
Desde a Primavera de 1913 que a
Espanha se encontrava ocupada em consolidar o seu protectorado em Marrocos.
Este protectorado foi reconhecido pelos outros Estados europeus através do
"Acordo de Fez", de
1912, feito entre Espanha e a França. No entanto, a pacificação e
manutenção do território de Marrocos trazia um enorme esforço económico e humano,
que
consumia a maioria
das suas forças militares.
Alfonso XIII
(17/05/1886 – 14/04/1931)
Eduardo Dato
Álvaro de Figueroa
Manuel García Prieto
(27/10/1913 - 9/12/1915)
(Conde de Romanones)
(19/04/1917 - 11/07/1917)
(9/12/1915 - 19/04/1917)
(Liberal-Conservador)
(Liberal)
(Liberal-Democrático)
Eduardo Dato
Manuel Garcia Pietro
Antonio Maura
(11/07/1917 - 3/11/1917)
(3/11/1917 - 22/03/1918)
(22/03/1918 - 9/11/1918)
(Liberal-Conservador)
(Liberal-Democrático)
(Maurista)
Manuel
Garcia Pietro
(9/11/1918 - 5/12/1918)
(Liberal-Democrático)
A isto acrescia uma
profunda crise económica e uma depressão psicológica nacional derivada
ainda da
derrota sofrida com os Estados Unidos da América, em 1898 e da perda das suas últimas
colónias.
Há que referir que em 1907, quando
da Segunda Conferência para a Paz, em Haia, os diplomatas espanhóis
iniciaram um política de hispano-americanismo, através da cordialidade e
da doutrina da união dos povos, baseada na unidade do mundo hispânico,
na sua estirpe, na sua religião e na língua, como promoção de uma
integridade cultural. Neste trabalho sobressaíram os nomes de Rafael
Altamira e Joaquín Costa.(1-RUIZ pp 25-6)
Do foro da política interna
existia ainda na memória de todos
os espanhóis a lembrança da
"Semana Trágica de 1909", que tinha resultado da sublevação na cidade de
Barcelona, principal motor da industria de Espanha, e onde as
autoridades tinham efectuado uma repressão duríssima com vários milhares de pessoas
detidas. Dessas detenções terão resultado cerca de 2.000 processos
judiciais, com 175 penas de
desterro, 59 cadeias perpétuas e 5 penas capitais, além do encerramento
dos sindicatos e escolas laicas locais. Esta política veio ajudar a
superar o pessimismo nacional e congregou todos os grupos e sectores da
sociedade para reconquistar o prestigio internacional perdido.
Ao longo dos anos da Grande Guerra a
estabilidade social em Espanha foi sempre problemática, muito
fraccionada internamente entre províncias e externamente entre uma posição de neutralidade e uma posição
intervencionista. Mesmo de entre os que apoiavam o intervencionismo
existiam facções que apoiavam posições
pró-entente e outras que apoiavam posições pró-impérios centrais.
As forças armadas espanholas
durante o reinado de Alfonso XIII apresentavam grande admiração pelo
exército alemão e por tudo aquilo que ele representava como modelo. Não
é de esquecer que era muito frequente o envio de oficiais espanhóis para
centros militares na Alemanha, a fim de receberem instrução militar. (2-
RUIZ, P32)
A instabilidade social foi
crescendo e em 1917
verificou-se primeira greve geral revolucionária promovida por
sindicatos anarquistas e socialistas. De 1917 para a frente há uma
sucessão de governos e de políticas que vão levar à queda da Monarquia
em 1931.
A Economia de
Espanha enquanto País Neutro
A Grande Guerra gerou uma
alteração radical no comércio mundial, em particular o marítimo, assim
como nas relações internacionais.
A neutralidade beneficiou
economicamente a Espanha, através das
exportações para França e Inglaterra durante os anos de guerra. O
aumento das exportações tornou Barcelona no
porto principal de comércio, e de espionagem, de Espanha e até chegou a ser o porto
comercial
neutro da Europa mais importante.
No plano económico a Espanha
obteve grande prosperidade entre as empresas que exportavam, chegando a
acumular grandes somas de capital durante o período da Grande Guerra.
(3-RUIZ p. 36)
Houve uma recuperação de empresas
espanholas que antes da guerra se encontravam dominadas por capital
estrangeiro e várias nacionalizações de empresas estrangeiras que
laboravam no território nacional. As mesmas circunstâncias levaram à
nacionalização de muitas propriedades. Assim, em 1918, quando terminou a
guerra a economia espanhola tinha reduzido drasticamente a sua
dependência de capitais estrangeiros.
Igualmente a guerra fomentou o
aumento da produção em consequência das necessidades dos países que se
encontravam imersos no conflito. As exportações aumentaram
progressivamente chegando a serem 20% superiores às importações, criando
um superavit na balança comercial, com um reflexo nas reservas de ouro
no Banco de Espanha, que passaram de 567 milhões de pesetas em 1914,
para 2.233 milhões de pesetas em 1918. (4-RUIZ p.36)
As exportações espanholas durante
o conflito foram sempre aumentando, uma vez que a França, a Inglaterra e
a Alemanha não conseguiam abastecer-se nos seus mercados tradicionais. A
Grande Guerra foi a oportunidade que a Espanha necessitava para
desenvolver o seu comercio externo e para fortalecer aquilo que mais
tarde se chamou a comunidade "ibero-americana", que neste caso inclui o
Brasil, enquanto país da América Latina. (5-RUIZ, p.175)
Esta prosperidade não representou
uma melhoria das condições de vida das populações, que continuaram a
sofrer as sucessivas subidas de preços devido à especulação e à baixa da
capacidade de aquisição de bens essenciais.
Houve alguns contratempos com as
exportações marítimas, quando os alemães afundaram 5 navios e os
ingleses impediram a passagem para as águas das potências centrais. No
entanto, as rotas comerciais com a América do Sul não foram muito
afectadas e Espanha acabou por ser a porta de entrada no comércio
europeu para os países latino-americanos, igualmente neutros neste
conflito.
O Impacte
Social da Grande Guerra em Espanha
Desde 1915, a neutralidade
começava a fazer efeito na economia espanhola, convertendo o país num
grande fornecedor dos países beligerantes. As exportações alcançaram
níveis nunca vistos o que criou novas empresas e concentrou fortunas.
Este impulso na economia não foi acompanhado por um crescimento dos
salários, que permaneciam quase estático enquanto os preços disparavam.
A especulação disparou e os preços dos bens alimentares subiram
vertiginosamente. (Cardona, p.130-132)
A carestia da vida provocou um
movimento de colora, manifestações de mulheres e choques entre a
população e as forças policiais. A burguesia catalã pressionava o
governo para que o porto de Barcelona se tornasse um porto franco, o que
era completamente contrário às necessidades do Governo de Madrid.
Em 15 de Novembro de 1915, a
oposição juntou-se e organizou uma manifestação com a intenção de
derrubar o Governo. A esta manifestação juntou-se o Congresso com
exigências de reformas económicas. Tudo junto levou à queda do governo
de Eduardo Dato a 6 de Dezembro de 1915. a 9 de Dezembro Alfonso XIII
chamou Álvaro de Figueroa, Conde de Romanones, a formar Governo.
Até ao final de 1915 a Espanha foi
governada por Eduardo Dato, que conseguiu reunir consigo a maioria dos
políticos conservadores. Com um programa de governo bastante diminuto,
teve como política externa o objectivo de mater a neutralidade espanhola
ao longo do conflito. António Mauro, seu opositor directo, tinha uma
posição intervencionista germanófila e ideias expansionistas para os
territórios em Marrocos. António Mauro não era verdadeiramente uma
oposição ao governo, mas antes um opositor de Eduardo Dato, com
convicções também liberais monárquicas, apenas diferentes na forma de
chegar aos mesmos objectivos, e provocou o desenvolvimento de
regionalismos desde o exército até ao poder. Foram empoladas as
revindicações regionalistas catalãs, sobretudo a questão de tornar o
porto de Barcelona um porto franco, e noutras regiões, como em Castela.
(Tesull, pp300-2)
Ano de 1917
As posições pró-intervencionistas
da oposição ao Conde de Romanomes foram-se intensificando e quando em 2
de Janeiro de 1917 a Alemanha declarou a guerra submarina total, houve
uma forte pressão para a Espanha entrar ao lado dos Aliados. Entretanto
os Estados Unidos da América também entraram no conflito do lado dos
Aliados. A pressão sobre o Governo era muito intensa e quando os alemães
afundaram o vapor "San Fulgencio", a pressão política levou o Conde de
Romanomes a demitir-se a 17 de Abril de 1917.
A 19 de Abril de 1917, Alfonso
XIII, nomeou Manuel García Prieto e em conjunto com o ministro da guerra
e altas patentes militares decide terminar com os movimentos
oposicionistas. A 27 de Abril os dirigentes oposicionistas são presos e
a 29 de Abril é divulgado na imprensa que os oficiais que formavam a
"União e Junta de Defesa da Arma de Infantaria", principal organização
oposicionista, tinha sido desfeita. Entretanto outros chefes militares
continuaram a conspirar contra o Governo. Estes chegaram a fazer um
ultimado ao Governo de García Prieto para libertar os oficiais da "União
e Junta", a 1 de Junho de 1917. A 9 de Junho o governo cedeu e os
oficiais foram libertados entre manifestações de triunfalismo. Ainda
nesse dia Manuel García Prieto apresentou a sua demissão.
A intenção dos oficiais das
"Juntas" era colocar no governo Antonio Maura, mas este negou-se a
liderar um governo criado pelas armas, e Alfonso XIII acabou por chamar
novamente Eduardo Dato para formar novo Governo a 11/07/1917. O problema
das "Juntas" não foi controlado e a propaganda francesa e as posições do
Presidente Thomas Woodrow Wilson, dos Estados Unidos da América, em
apoio da independência das nacionalidades, ainda acendeu mais os
movimentos nacionalistas catalães.
O protesto social e sindical em
Espanha tinham raízes que vinham desde 1910, e os desenvolvimentos desde
o início da Grande Guerra era muito acentuado. Grande parte do
operariado estava vinculado republicanismo, principalmente às versões
mais populistas. Os sindicatos tinham pouca implantação, não chegando a
mais de 5% de operários filiados, e as greves nunca chegavam a ter um
carácter geral, ao contrário do que a propaganda operária transmitia.
Mas desde o início do conflito mundial, que o sindicalismo foi-se
desenvolvendo, crescendo de cerca de 40.000 filiados, em 1910, para
cerca de 150.000 filiados em 1917. Também, aconteceu que as ideias
socialistas começavam a chegar aos meios intelectuais, fazendo com que a
união sindical (UGT) e o partido socialista (PSOE) se interligassem nas
cúpulas das respectivas organizações. Nos primeiros meses de 1917,
vivia-se em Espanha um verdadeiro perigo revolucionário. (Tusell,
p.308-9)
Entretanto em Agosto às rebeliões
militares e políticas junta-se a instabilidade social. às greves em
curso na Catalunha juntavam-se trabalhadores de outras cidades, que
incluíam greves nos transportes ferroviários. Progressivamente os
sindicatos começavam a perder o controlo sobre os grevistas. O Governo
teve de declarar o estado de sítio e reprimiu os manifestantes e
grevistas brutalmente, terminando com as greves a 18 de Agosto de 1917.
A situação criada com as revoltas
das Juntas militares, dos nacionalistas catalães e das greves operárias,
levaram a que Alfonso XIII se suportasse no Exército, como força
estabilizadora da paz social e suporte da autoridade do Governo. Para
apaziguar a situação o Rei leva Eduardo Dato a apresentar a demissão, e
em 3 de Novembro de 1917 dá posse a um novo Governo de García Prieto.
Cinco dias depois a 8 de Novembro
de 1917 é publicada, em Espanha, a notícia que o movimento operário
russo, "os bolcheviques", haviam tomado de assalto o Palácio de Inverno
de Petrogrado e formado um Governo de operários e camponeses. (Cardona,
pp.125-147)
Ano de 1918
Em 1918 a sociedade espanhola tinha
mudado e o regime não tinha conseguido implementar as reformas
necessárias para a acompanhar. Isto era tanto mais importante quanto a
modernização da economia e do regime tende a trazer estabilidade social
a longo prazo. A sociedade espanhola durante o reinado de Alfonso XIII,
conseguiu desenvolver-se libertando-se daquilo que anteriormente
chamavam a "Espanha Negra", retirando à Igreja muita da influência
política que detinha. Quanto à economia o desajuste foi ainda maior,
ficando este bastante claro, quando as condições que lhe tinham
sido proporcionadas enquanto país neutro terminaram.
A Espanha tinha iniciado, durante
aqueles 4 anos, o processo de industrialização da sua economia. Com ele
desenvolveram-se os movimentos operários e sindicais, associados a um
aumento de protesto social e agitação intelectual que caracterizou o
final da Grande Guerra e os anos seguintes. Radicalizaram-se os
movimentos de esquerda e de direita e desenvolveram-se as identidades
regionais.
A incapacidade de renovar o sistema
político para uma via mais democrática, levou de forma crescente a cada
vez existirem mais intervenções do exercito para apaziguar as
manifestações sociais. (Tusell, p.268)
A Neutralidade
Espanhola
O Decreto Real de 7 de Agosto de 1914,
de Alfonso XIII,
declarou a Espanha neutral no conflito que se tinha iniciado havia
uma semana. Este acto veio a ser muito importante no âmbito da
diplomacia internacional, tanto para a Entente Cordiale como
para os Impérios Centrais. Era então primeiro-ministro Eduardo Dato, que
se manteve em funções até 9/12/1915, que comparativamente com Portugal
acompanhou a quase total sucessão de governos republicanos até que
Portugal sai da sua neutralidade no teatro de guerra europeu e passa
para uma posição intervencionista, com a requisição dos navios alemães e
austro-húngaros que se encontravam em portos Portugueses em 17 de
Fevereiro de 1916.
A posição de país neutral não
esteve ameaçada por parte dos
países beligerante, nem nunca existiu uma verdadeira pressão para que a Espanha
entrasse no conflito, o que
levou ao político Francesc Cambó i Batlle, Catalão do Partido Conservador, a
dizer: "Seremos neutros na guerra porque não podemos ser outra coisa".
No entanto, existiram cerca de 15.000
voluntários espanhóis que se alistaram nos exércitos da Entente Cordiale,
na maioria catalãs, em muito influenciados pela rebelião irlandesa de
1916, e que acreditavam numa possibilidade de encontrar no final do
conflito mundial uma solução para o "problema catalão"2.
Também se verificaram tomadas de
posições pró-germânicas, como as que se verificaram nas comunidades
espanholas no Chile, que chegaram a escrever a Alfonso XIII, a 9 de
abril de 1917, a reclamar sobre a política externa espanhola no que se
referia à posição de neutralidade e à forma como Espanha se relacionava
com a Grã-Bretanha e França, dois países que não serviam os interesses
de Espanha. (3-RUIZ p35)
Mas a neutralidade espanhola também
beneficiou a ligação com as comunidades espanholas nos países da América
do Sul e por consequência intensificaram as relações comerciais e
institucionais com esses países, desenvolvendo os laços que vieram a
criar a comunidade ibero-americana. (4-RUIZ p 37)
À medida que a guerra ia
progredindo, muitas nações que inicialmente tinham permanecido neutrais
começaram a tomar partido e a unir-se a um dos blocos beligerantes como
Portugal, mas Espanha manteve-se neutra até ao fim do conflito.
Foi a partir de
1915 que a opinião pública espanhola deixou de ter uma posição completamente desinteressada
sobre o
conflito e começou a interessar-se sobre o que se passava na Europa.
Para esta alteração contribuiu a alteração da posição de Portugal quando
se declarou
abertamente ao lado da Entente Cordiale.
A Espanha, mais propriamente
o exército espanhol, era germanófilo ou admirava abertamente a máquina
militar alemã, mas tinham a consciência da sua incapacidade militar para participar no conflito europeu,
o que se tornou na razão de fundo para não
abandonarem a estrita neutralidade.
A Revolta de 14 de
Maio de 1915 em Portugal vista por Espanha
Em
Portugal a revolta causou cerca de 200 mortos e cerca de 1 000 feridos
de acordo com o jornal ABC de Espanha. O jornal "A Capital" a 21 Maio
indica que o custo da ditadura se somou em 101 mortos e 913 feridos.
Esta situação fez com que os governos de Espanha, França e Inglaterra
tivessem enviado navios de guerra para o Tejo (Lisboa), com a finalidade
de defender, ou evacuar, os seus nacionais. Assim, Espanha enviou uma esquadra de
quatro navios, o couraçado España, o
cruzador "Río de la Plata" e os
torpedeiros "N.º3" e "N.º 5", que
chegaram a 18 de Maio. No entanto, o torpedeiro "N.º 5" chegou mais tarde
porque se reteve em Huelva para abastecimento antes de seguir em
direcção a
Lisboa.(3)
Em
Madrid o Primeiro-ministro Dato informou os jornalistas que desta força
naval não tinham sido desembarcados quaisquer tropas em Lisboa, e que a
única excepção tinha sido o próprio comandante do couraçado "España" que
tinha desembarcado, vestido à civil, para se ir colocar à disposição do
embaixador de Espanha em Lisboa. Com este comunicado desmentiu que teria
sido necessário a intervenção dos marinheiros espanhóis para libertar a
embaixada.
Nesta
comunicação os jornalistas espanhóis foram informados que o
representante de Portugal esteve na Presidência do Conselho, e depois se
reuniu com o Sr. Dato e o Ministro da Marinha.
14 de Maio: Lisboa, Avenida da
Liberdade
14 de Maio: Lisboa, Praça da Câmara
Municipal
14 de Maio: Lisboa, Rua do Arsenal
Também houve o esclarecimento de que os rumores sobre uma situação de
tensão entre Madrid e Lisboa não se confirmavam e que as comunicações
telefónicas se tinham mantido sempre abertas. O embaixador de Portugal
mostrou grande empenho em afirmar que a ordem em Portugal se tinha
restabelecido.
Na
imprensa espanhola foi publicado que na imprensa portuguesa, de 18 de
Maio, havia a indicação de que os barcos espanhóis tinham sido recebidos
com tranquilidade e se reconhecia que o envio desses barcos tinha sido
no cumprimento do dever do Governo Espanhol de defender os seus súbditos
que se encontravam em Portugal. (3)
Em Lisboa a cobrir os acontecimentos de
14 de Maio de 1915 estiveram os jornalistas Emilio Gabas do Heraldo de
Madrid, Felix Lorenzo do El Imparcial e Pedro Matta do ABC.
Os navios de guerra
estrangeiros no estuário do Tejo durante a Revolta de 14 de Maio
No jornal "A Capital", de 17 de Maio
de 1915, foi dada a notícia que se encontrava fundeado ao largo da baía
de Cascais o cruzador "Extremadura" e havia o conhecimento que outras
unidades navais espanholas se dirigiam para Lisboa (Tejo). Refira-se que
a notícia do cruzador "Extremadura" na baía de Cascais é muito
provavelmente um erro, uma troca de identificação do cruzador "Río de la
Plata".
O cruzador "Río de la Plata" quando
chegou fundeou primeiro ao largo da baía de Cascais, durante quase toda
a manhã do dia 18, enquanto esperava a chegada do couraçado "España",
tendo aproveitado para lançar um escaler para ir a terra buscar
mantimentos. Quando os dois navios subiram o Tejo, cerca das 19 horas do
dia 18 de Maio, o cruzador "Río de la Plata" salvou à terra na altura do
Bom Sucesso, tendo então o "NRP Vasco da Gama" içado a bandeira
espanhola e saudado o navio almirante espanhol.
No jornal "A Capital", de 18 de Maio
de 1915, foi dada a notícia da chegada do torpedeiro "N.º 3" que se
juntou a outras duas unidades navais, o cruzador "Río de la Plata" e o
couraçado "España", que se encontravam desde 17 de Maio à tarde no Tejo,
fundeadas em frente do Cais do Conde d'Obidos chegados à margem sul.
O torpedeiro "N.º 3" fundeou em frente a estas unidades navais.
O "España" era comandado
Capitão-de-mar-e-guerra D.M.Flores, o cruzador "Río de la Plata" era
comandado pelo Capitão-de-fragata D.José de La Herran e o torpedeiro
"N.º 3" comandado pelo Tenente D. Venceslau Benites. O primeiro navio
tinha uma tripulação de 1.000 homens incluindo oficiais, o segundo de
500 homens e o terceiro de 30 homens.
Durante a manhã do dia 19 de Maio a
Divisão espanhola saudou a visita do embaixador espanhol que se deslocou
a bordo com 17 descarga de salva e com a tripulação formada.
Posteriormente o comandante do "España" deslocou-se a terra para
apresentar cumprimentos ao Governador Civil de Lisboa, tendo sido
recebido pelo Governador Civil interino Dr. Carlos Olavo. De seguida o
comandante da Divisão espanhola deslocou-se a bordo do "NRP Vasco da
Gama" para cumprimentar o comandante da Divisão Naval portuguesa Leotte
do Rego. Depois das visitas protocolares o cruzador "Río de la Plata"
levantou ferro e deixou o Tejo.
No dia 20 de Maio chegou ao Tejo o
cruzador "HMS Cadmus", comandado pelo Capitão-de-mar-e-guerra Crofton,
que desembarcou e se dirigiu para a embaixada inglesa. O navio ficou
fundeado em frente do Posto Marítimo de Desinfecção.
No dia 21 de Maio saiu do Tejo o
cruzador auxiliar "HMS Cadmus" e entrou o cruzador francês "Dupetit-Thouars",
que fundeou em frente do Posto Marítimo de Desinfecção. O navio francês
deu as salvas do estilo em frente às batarias do Bom Sucesso que a este
responderam. Durante todo o dia os navios espanhóis estiveram a meter
carvão e efectuarem limpesas.
No dia 22 de Maio o comandante o
navio francês, Capitão-de-fragata Gervais, desembarcou no Cais das
Colunas, tendo se dirigido de imediato à Majoria General da Armanda onde
cumprimentou as autoridades e o administrador do Arsenal o
Contra-almirante Schultz Xavier, dirigindo-se depois à embaixada da
França.
No dia 23 de Maio, de manhã, o
cruzador francês "Dupetit-Thouars" levantou ferro e fez-se ao mar, tendo
dado as salvas de estilo ao deixar o Tejo.
No dia 24, pelas 8 horas da manhã, o
couraçado "España" e o torpedeiro "N.º 3" partiram do Tejo, tendo
salvado e sido respondido pelos navios portugueses que aí se encontravam
fundeados. Ao fim da tarde já não se encontravam no Tejo qualquer dos
navios que tinham sido atraídos pelos acontecimentos de 14 de Maio de
1915. (6)
"HMS Cadmus (No Tejo entre 20 e 21 de
Maio de 1915)"
"Dupetit-Thouars (No Tejo entre 21 a 24 de Maio de 1915)"
Quanto à estadia dos três navios no
estuário do Tejo é um facto e muito provavelmente o torpedeiro "N.º 5",
que não entrou no estuário do Tejo, ter-se-á encontrado posteriormente
com o "Río de la Plata" a 19 de Maio já ao largo da costa portuguesa,
razão porque o jornal "A Capital" não faz referência a esse navio. O
torpedeiro "N.º5" terá escoltado o "Río de la Plata" na viagem de
regresso a Espanha. O couraçado "España" e o torpedeiro "N.º 3" partiram
para Espanha no dia 24 de Maio, terminando uma estadia de 8 dias em
Lisboa.
O Exército
Espanhol
Em 1914 o Exército espanhol contava
com 140.000 homens em armas, dos quais 76.000 encontravam-se em
Marrocos, mas o Exército estava mal equipado. e a Marinha muito
descuidada.
Era composto por 16 Divisões de
Infantaria, 1 Divisão de Cavalaria, 7 Brigadas de Cavalaria, 3 Brigadas
de Caçadores de Montanha e 3 Regimentos de Artilharia e 1 de Engenharia.
a infantaria estava equipada com
Mauser de 7,75mm, fabricada em Oviedo, conhecida como a Mauser
espanhola, M1893. O número de metralhadoras era diminuto e as que
existiam eram modelos Maxim Norenfelt, Hotchiss e Colt. a porporção de
metralhadoras e de artilharia por Divisão de Infantaria era muito
inferior a qualquer outro país europeu, incluindo Portugal. Era equipada
com canhões Schneider, de vários calibres, fabrico Krupp.
A maior parte do equipamento pesado,
metralhadoras e artilharia encontrava-se empregue na frente de Melilha,
em Marrocos. A guerra em Marrocos, centrava-se contra as tribos berberes
da região em volta da cidade de Melilha, e em grande parte o exército
espanhol foi utilizado como força de ocupação do território, em missão
de soberania. A guerra durou entre 1911 e 1927 e ficou conhecida em
Espanha por "Guerra do Rift" ou "Guerra de Marrocos". O conflito
transformou-se numa guerra de desgaste entre as forças espanholas e os
guerrilheiros das montanhas. (internet, wikipedia)
Existia uma grande ligação entre o
Exército espanhol e o Exército chileno, com produção de equipamento e
armas para este último em fábricas espanholas. As vendas de pólvora e
fulminantes ao Chile chegaram ao valor de 2.640.000 pesetas. (5 -RUIZ,
p48)
A colaboração estendia-se à
troca de oficiais entre as escolas militares e o número de oficiais
chilenos em Espanha era relevante. A delegação militar britânica, em
Espanha, em 1916, efectuou um minucioso estudo sobre as condições do
exército espanhol durante todo o ano de 1916 e em Janeiro de 1917 concluiu
que o estado do exército era lamentável. Faltavam meios de transporte, o
equipamento era muito pobre, faltavam espingardas e munições, apesar de
existirem algumas
aquisições de material de guerra aos Estados Unidos. Também não tinham aviação, nem
artilharia pesada. Por conseguinte o exército espanhol não estava em
condições de constituir uma ameaça para ninguém, excepto, talvez, para
os portugueses. (Salvaró, PP. 94)
A Marinha Espanhola
Desde 1908 que a Marinha apresentava
um plano de reequipamento, Plano Ferrandiz, e com este encontravam-se em construção 3 couraçados
e outras unidades menores. Parte da Armada contava com navios que tinham
vindo da flotilha de Cuba depois da perda esta colónia.
Em 1914 a Marinha encontrava-se muito
descuidada. Em 1915 foi ordenada a construção de 6 contratorpedeiros e
28 submarinos. Em 1915 a Espanha não tinha submarinos.
Couraçados:
"Pelayo": (9/09/1884)
"España", Classe España:
(7/09/1913)
"Alfonso XIII", Classe
España,:(15/08/1915)
"Jaime I", Classe España: (Em
construção durante o conflito, só foi entregue 1921)
Cruzadores:
"Santa Isabel", Classe Velasco:
(1885)
"Emperador Carlos V",
Calsse Emperador Carlos V: (2/06/1895)
"Río de la Plata", Classe
Río de la Plata: (1900)
"Extremadura", Classe
Estremadura: (02/08/1902)
"Princesa de Asturias",
Classe Cardenal Cisneros: (10/06/1903)
"Cataluña", Classe Cardenal
cisneros: (1908)
"Reina Regente", Classe
Reina Regente: (8/10/1910)
"Reina Victoria Eugenia",
Classe Navarra: (em construção,
só foi entregue em 1923)
Contratorpedeiros:
Classe Furor: "Terror" (1896), Audaz"
(1897), "Osado" (1898) e o "Proserpina" (1898).
Classe Bustamante: "Bustamente"
(1914), "Villaamil" (1916) e o "Cadarso" (1917).
Canhoneiras:
Classe Recaldes: "Recaldes" (1910), "Laya"
(1910), "Bonifaz" (1911) e o "Lauria" (1912)
Classe Álvaro de Bazán: " Maria de
Molina" (1904), "Marqués de la Victoria" (1907), "Álvaro de Bazán"
(1907)
Classe Mac-Mahón: "Mac-Mahón" (1888)
Classe Somorrostro: "Arlanza" (1875)
Torpedeiros:
Classe T1: T1 ao T3 (1912), T4 e T5
(1913), T6 (1914), T7 ao T10 (1915), T11 ao T14 (1916), T15 ao T17
(1917) e T18 (1918)
Classe Temerario: "Temerario" (1892)
e "Nueva España" (1894)
Casse Habana; "Habana" (1886)
Patrulhas:
Classe Delfin: "Delfin" (1910), "Dorado"
(1910) e "Gaviota" (1910)
Submarinos:
"A-0" (Isaac Peral): Tipo Holland,
construído em Fore River & Co.USA, 31/01/1917
"A-1" (Narciso Monturiol): Tipo
Laurenti, construídos em Spezia, Itália, 1917
"A-2" (Cosme García):Tipo Laurenti,
construídos em Spezia, Itália, 1917
"A-4" (-------): Tipo Laurenti,
construídos em Spezia, Itália, 1917
Navio Escola:
"Nautilus" (1886)
A Aviação Espanhola
1913
A aviação militar espanhola nasceu em
Outubro de 1913, da necessidade de apoiar as forças do exército que
combatiam em Marrocos. Instalada no aeródromo de "Cuatro Vientos", em
Madrid, foi comandada pelo Capitão Alfredo Kindelan. A força era formada
por: 4 aviões Maurice Farman MF.7, 4 aviões Lohner B-1 Pfeil e 3 aviões
Nieuport IIG.
A Esquadrilha foi transferida, ainda
em Outubro, para Marrocos e ficou instalada em Ceuta.
Em 5 de Novembro de 1913, um dos
Lohner B1 fez a primeira missão de bombardeamento da história da aviação
espanhola e uma das primeiras coordenadas entre forças terrestres e
aéreas da história da aviação militar mundial.
Em Dezembro de 1913, foi instalada
uma segunda base aérea em Marrocos, na cidade de Tétuan, equipada com
uma esquadrilha de 3 aviões Morane-Saulnier G.14, e uma terceira em
Marrocos, na cidade de Melilha, equipada com uma esquadrilha de 3 aviões
VIM Nieuport.
Durante a Guerra de Marrocos são
usados aeróstatos de observação na zona de Tétuan.
1915
Em 15 de Dezembro foi efectuado o
primeiro voo com um hidroavião militar, comandado pelo Capitão Roberto
Withe Santiago, num Curtiss JN-2 modificado(4).
1917
Em 1917 foi criada a "Aeronáutica
Naval" dependendo do Ministério da Marinha. A base principal ficou
estacionada em Murcia, Los Alcázares, e foi equipada com 12 hidroaviões
adquiridos nos Estados Unidos da América.
A Política Externa
Espanhola em Relação a Portugal
Antes do início da Grande
Guerra, quando da visita de Afonso XIII à Grã-Bretanha em 1913, a
Espanha demonstrou à Inglaterra interesse em intervir em Portugal e
nesta data a Inglaterra não se mostrou contrária à intervenção de Espanha em
Portugal. Ao longo do conflito a Espanha voltou a reafirmar esta
intenção e a resposta da Inglaterra em 1913, foi um ponto fraco que lhe
fragilizou a politica externa inglesa perante a Espanha.
As relações de Alfonso XIII com
Portugal foram inicialmente amistosas e próximas, marcadas pelas suas
visitas a Portugal, em 1903 e 1909, em retribuição pela presença do rei
D. Carlos em Espanha, 1902 e 1906. A alteração da atitude perante
Portugal aconteceu após a implantação da República, em 5 de Outubro de
1910, em Portugal.
As relações entre Portugal e Espanha
mantiveram-se tensas e sob o espectro da desconfiança, não só pelo
conhecimento que existia da vontade de Espanha anexar Portugal, ou de
pelo menos restabelecer a monarquia, como por causa do apoio que dava às
forças militarizadas monárquicos portuguesas que se encontrava
refugiadas em Espanha, sob o comando do Capitão Paiva Couceiro. é de
realçar que foram efectuadas duas incursões monárquicas sobre Portugal a
partir de Espanha, em 1911 e 1912 respectivamente. A República
portuguesa também desconfiava das boas relações que a casa real
espanhola mantinha com as monarquias dos impérios centrais.
Mas institucionalmente mantinha-se
uma imagem de cordialidade entre os dois países, o que permitiu que o
Presidente da república portuguesa Bernardino Machado, quando este
passou por Espanha, em 1917, na sua viagem para França para visitar as
tropas portuguesas aí estacionadas, tivesse sido recebido pelo Rei
Alfonso XIII de Espanha.
Ano de 1915
Em Janeiro de 1915 existiam
rumores que a embaixada alemã em Madrid tinha prometido Tanger,
Gibraltar e Portugal em troca da estrita neutralidade de Espanha durante
o conflito, rumores que foram descartados pelo Governo Espanhol, mas
acompanhados de declarações em que afirmavam que a Alemanha nunca tinha
causado qualquer prejuízo a Espanha e que esta poderia vir a favorecer
os interesses nacionais. (Salvaró, PP. 23-24)
Existia no Ministério da Guerra
espanhol, figuras como o General Echagüa, que não só estavam convictos
da vitória alemã, mas também pensavam que se a Entente sofresse
uma pesada derrota a Espanha poderia, sobre um qualquer pretexto,
anexar Portugal1. (Salvaró,
P.14)
Ao longo de 1915 a imprensa
espanhola partidária da Alemanha referia-se continuamente ao apoio que
as potências da Entante Cordiale davam à revolucionária República
Portuguesa. No entanto, o Ministério dos Assuntos Externos britânico e o
embaixador britânico em Portugal, consideravam que Portugal não se devia
envolver no conflito europeu, porque a neutralidade servia melhor os
seus interesses, a participação activa de Portugal no conflito europeu
daria à Alemanha uma oportunidade de ouro para fomentar o ódio entre
dois países e porque a situação seria mal recebida pelo políticos e o
rei de Espanha.
Em Julho de 1915, o Governo
Britânico informou o Governo Português que não desejava ver Portugal
envolvido no conflito europeu.
Os políticos portugueses
reconheciam que a intervenção no conflito europeu poderia piorar a
relação com o estado espanhol e expressaram ao Governo Britânico que
temiam que se os aliados sofressem uma derrota, os espanhóis poderiam
fomentar uma contra-revolução em Portugal, para derrubar a república ou
mesmo levar a cabo uma invasão total.
Ano de 1916
Em 1916 Espanha, apesar de
neutral, apresentava uma imagem germanófila que incomodava o seu vizinho
francês, o que levava a pensar que Portugal tinha tomado uma boa decisão
ao apostar abertamente na Entente Cordiale, o que lhe permitiria
no futuro garantir os interesses nacionais na nova ordem internacional e
assegurar um lugar na conferência de paz. Espanha começava-se a
preocupar com a sua posição neutral e com o excessivo jogo com as
potências centrais. (Salvaró, P. 74)
Em 1916
a Espanha se não era considerada germanófila era pelo menos considerada
como não confiável pelas chancelarias ocidentais. Isto não era só pela
imagem que a impressa alemã dava, mas também pelas actividades que os
alemães desenvolviam livremente pela Espanha. Existia uma flagrante
cumplicidade entre os agentes alemães e as autoridades espanholas, como
por exemplo a infiltração de agentes alemães em grupos anarquistas, que
criavam problemas na produção industrial e na exportação de bens para os
aliados e o tipo de ataques de submarinos que aconteciam nas zonas da
costa espanhola.
Em
Fevereiro de 1916, o British Freign Office recebeu um relatório secreto
a avisar sobre os perigos que advinham da presença de cerca de 70.000 a
80.000 alemães em Espanha e que confirmava que as greves em Barcelona
tinham sido montadas por agentes alemães para impedirem as exportações
para França.
Em Maio
de 1916, Vaughan, secretário da embaixada inglesas em Madrid, escreveu
que tinha sido verificado que os submarinos alemães estavam a ser
abastecidos em águas espanholas, particularmente nas costas da Valencia,
onde um conjunto de pequenos barcos de um armador chamado Juan March
estava-os a usar para esses fins.
Também
foi interceptado um carregamento de um milhão de balas na estação de
Madrid, com destino a Marrocos que se pensa que seria para apoiar a
revolta moura contra os franceses.
Em
Junho de 1916 ocorreu um incidente diplomático quando o submarino U35
entrou no porto de Cartagena. Um embaraçado Romanones recebeu uma
avalanche de protestos de Paris e Londres. Uma versão oficial dada pelo
“EL Imparcial” indicava que tinha sido para entregar uma carta ao rei
Afonso XIII a agradecer o tratamento dado aos oficiais alemães que se
tinham rendido às autoridades espanholas na Guiné depois da perda da
colonia dos Camarões.
Existiam grandes suspeitas que a verdadeira missão era para comunicar
com os navios alemães que se encontravam surtos nos portos espanhóis,
com a intenção de coordenar novas operações, em especial junto à costa
de Bilbao.
.
Nos
meses seguintes os franceses queixaram-se dos raids que partiam das
zonas costeiras de Espanha e da grande quantidade de dinheiro e armas
alemãs que chegaram aos rebeldes mouros em Marrocos.
Em
Julho de 1916 Romanones estava determinado em mostrar aos aliados de que
lado estava. No início de Agosto fez um protesto perante a
Alemanha
pela forma como esta tratava os civis nos territórios ocupados e em 27
de Agosto informou que o governo alemão tinha sido informado que Espanha
não permitia mais visitas de submarinos e que estes deveriam deixar de
utilizar as águas territoriais espanholas.
A 1 de
Setembro Romanones (primeiro-ministro) pediu ao Rei que Espanha passasse
a ter uma atitude de neutralidade mais benevolente para com os aliados.
Em
Setembro os alemães deixam de ter uma política benevolente para com
Espanha e tomam uma posição de força. A Partir de Setembro de 1916, os
ataques de submarinos, as sabotagens e a actividade de espionagem sobe
dramaticamente.
Esta
situação dividiu politicamente e a opinião publica sobre se seria de
manter a neutralidade a todo o custo ou se era de cortar relações
diplomáticas.
A 12 de Dezembro de 1916 as
potências centrais fizeram uma declaração em que pretendiam negociar um
armistício e de seguida, em 18 de Dezembro, o Presidente dos Estados
Unidos da América, Woodrow Wilson, também tomou uma iniciativa nesses
sentido, as quais não conseguiram criar entendimento entre as partes,
mas deu à Espanha o ponto de partida para desempenhar um papel activo no
conflito enquanto neutro. Criou em Madrid um centro diplomático para
reunir informações sobre soldados feridos, desaparecidos e prisioneiros
de sobre ambos os lados do conflito, actuando como apoio aos territórios
ocupados e fornecendo outros serviços humanitários. Passou a representar
em Portugal os interesses alemães e austro-húngaros e na Alemanha os
interesses portugueses, uma vez que Portugal retirou o seu embaixador
(Sidónio Pais) de Berlim após 9 de Março de 1916. (Salvaró, P. 88)
Ano de 1917
Em Janeiro de 1917, com a
declaração alemã de guerra submarina total, a Espanha ficou
impossibilitada de continuar sem riscos as exportações marítimas, o que
a obrigou a negociar com os aliados.
Em 26 de
Fevereiro de 1917, o embaixador espanhol León y Castyllo encontrou-se
em Paris com o ministro dos negócios estrangeiros francês, Jules Cambon,
em Quai d’Orsay, com a intenção de de comunicar que o seu pais estava
com vontade de efectuar uma maior e mais directa assistência aos aliados.
Indicou ainda que estava disposto a colocar todos os recursos naturais à
disposição da Entente. Isto não era muito mais do que a Espanha já se
encontrava a fazer, através de um conjunto de contratos e vendas
pontuais que efectuava regularmente aos países aliados.
León y Castyllo (Espanha)
Jules Cambon (França)
Em troca de uma garantia de
exportação exclusiva para os aliados, a Espanha indicou à França que pretendia em
troca Tanger e Gibraltar, acesso livre a Portugal e que
romperia os laços diplomáticos com a Alemanha. Explicou que não
pretendia anexar Portugal, mas sim vincular Portugal a si como estavam os outros
estados peninsulares através de algum tipo de tratado (União Ibérica).(Salvaró, P.
91)
Em Abril
de 1917 as exigências espanholas para entrar em guerra contra a Alemanha foram estudadas por um departamento
liderado pelo Lord Curzon, numa respectiva naval, militar e diplomática.
Os Britânicos, relativamente à
possibilidade de vir a vincular Portugal à Espanha através de um
qualquer tratado, não consideravam prejudicial e ideia para os seus
interesses, já que o Governo Português era uma fonte permanente de
preocupações. No entanto, não deixaram de afirmar que devido à Aliança
com Portugal era um abuso de confiança prometer a Espanha o livre acesso
a Portugal, assim como os aliados da Entente Cordiale se podiam
esquecer dos direitos dos pequenos países, razão pelo qual se
lutava pela Sérvia. (Salvaró, PP. 95-97)
As anteriores conversações
secretas de 1913, neste capítulo, foram uma situação complicada para os
ingleses em 1917, temendo que Alfonso XIII viesse a desvendar a
situação, o que não foi utilizado pelos Espanhóis.
No final de 1917, a Alemanha
tentou levar a Espanha a entrar no guerra ao lado das potências
centrais, prometendo equipamento militar para reequipar o exército,
aviões, submarinos e os territórios de Gibraltar, Tanger, Marrocos
francês, Argélia, e Portugal com as suas colónias. (Salvaró, P. 195)
Ano de 1918
Em 1918, o Rei Alfonso
XIII, dirigia pessoalmente uma delegação a partir do seu
palácio em Madrid, para apoio dos presos civis e militares,
o que elevou ao mais alto nível a diplomacia espanhola
durante a Grande Guerra. Criou uma rede de contactos no
estrangeiro, em todas as nações beligerantes e intercedeu a
favor de milhares de prisioneiros de guerra, recebendo e
respondendo a cartas de toda a Europa.
A conjunção da sua posição de país neutro e
das acções pessoais de Alfonso XIII em favor dos
prisioneiros de guerra , possibilitou à Espanha tomar conta dos
interesses de alguns países beligerantes em países hostis. Alguns
exemplos são os interesses alemães em Portugal e na Roménia, dos
Austro-húngaros na Itália e em Portugal, da França na Alemanha, Turquia,
Pérsia e Bélgica ocupada, da Inglaterra no território
Austro-húngaro, etc.
Entretanto, Alfonso XIII
ficou gravemente doente durante a pandemia de gripe que se
alastrou por todo o Mundo. Como a Espanha era um país neutro
não existia uma censura de guerra sobre as notícias vindas
deste país nas imprensas nacionais, o que levou os diversos
países a efectuarem uma cobertura exaustiva da doença e da
recuperação de Alfonso XIII, dando a falsa impressão que
Espanha era o país mais atingindo pela pandemia da gripe,
por falta de notícias dos casos que aconteciam nos próprios
Estados. Foi esta razão porque mundialmente se chamou à
pandemia de gripe H1N1 o nome de "Gripe Espanhola".
(link wikipedia)
Os Desafios
Internacionais de Afonso XIII
As várias
iniciativas de paz que aconteceram durante a Grande Guerra ofereceram à
diplomacia espanhola a oportunidade de ter um papel importante
de mediador ao longo do no conflito. Nenhum outro país teve um chefe de estado que
encabeçasse tão fortemente este papel.
Na
chefia da delegação de apoio aos prisioneiros de guerra, Alfonso
XIII manteve muitos contactos com ambos os lados do conflito, juntando informação
sobre civis e soldados desaparecidos, actuando em nome das populações em
territórios ocupados, advogando a repatriação de feridos e doentes, e
efectuando um largo número de serviços altruísticos.
No Almanach Hachette, de 1918, p.
160, refere que Alfonso XIII desde o início da guerra se ocupou
pessoalmente da sorte dos prisioneiros de guerra e dos civis que ficaram
retidos na zona ocupada da Bélgica, e que graça à sua intervenção muitos
das pessoas deportadas na Alemanha tiveram a possibilidade de serem
repatriados.
Resumo estatístico
dos trabalhos realizados pela Secretaria particular do Rei
Alfonso XIII, durante a Grande Guerra de 1914-1918 |
Indultos de penas de
morte |
60 |
Alemanha |
Reclamações e petições
individuais |
2.000 |
Locais e
estabelecimentos militares visitados pelos delegados espanhóis
|
650 |
Número de visitas
efectuadas por esses mesmos delegados |
1.100 |
Áustria |
Reclamações pessoais |
182 |
Itália |
Petições individuais |
203 |
Informações recolhidas
pelos delegados em acampamentos militares |
1.500 |
Repatriação
|
Petições individuais e
colectivas de militares de diferentes nações |
12.600 |
Reclamações e petições
de civis |
100.500 |
Pedidos de informação
sobre desaparecidos e prisioneiros |
Pedidos de notícias de
militares franceses e belgas |
68.000 |
Pedidos de notícias de
militares alemães, italianos e austríacos |
38.300 |
Pedidos de notícias de
militares ingleses |
9.300 |
Pedidos de notícias de
militares russos, búlgaros, romenos, sérvios e portugueses |
155
|
Pedidos de notícias de
espanhóis na Alemanha e vice-versa |
300 |
Total de intervenções
|
234.850
|
(Grijalba, 1925,
p. 97-8)
Quando da morte do Imperador
Austro-húngaro Francisco José I, em 21 de Novembro de 1916, Alfonso XIII
que se deslocou às cerimónias oficiais fez um conjunto de contactos
durante a sua estadia na Áustria que depois o levaram a encetar
conversações em Paris, para juntar as partes afim de negociar um acordo
de paz.
O
Embaixador Marqués de Villalobar
Rodrigo de
Saavedra e
Vinent,
Marquês
Villalobar
II
(1864-1926), foi um
diplomata de
destaque
espanhola cujas
acções
em Bruxelas
durante a
Grande Guerra Mundial não foram nunca esquecidas
pelo
povo belga.
Marquês de Villalobar (embaixador de
Espanha)
Em
Março de
1910, depois de
apenas nove meses
à frente da
representação
diplomática espanhola
nos Estados Unidos,
foi nomeado
plenipotenciário
extraordinário
e ministro
da embaixada
de Espanha em
Lisboa, onde
estava quando se deu a implantação da república em
Portugal a 5 de Outubro de 1910.
Após se manter em
Portugal durante três anos, em
1913
ele foi enviado
a Bruxelas
como
plenipotenciário
extraordinário
e ministro
da embaixada
de
Espanha.
Aí, em Bruxelas,
passou toda
a Grande Guerra a Primeira Guerra Mundial.
No final
do conflito
a delegação
espanhola foi
elevada a
embaixada e
Villalobar
foi nomeado embaixador.
Pela defesa do povo
belga durante a guerra foi nomeado
cidadão honorário
das principais
cidades: Bruxelas,
Antuérpia,
Bruges, Gent
e Liège
recebeu muitos
outros prémios
e,
acima de tudo,
exibe
um incontáveis
de afecto
do povo
belga.
Em
1921, ele
foi promovido a
embaixador
de carreira. Morreu
de
peritonite
em 9 de julho
desse
ano. O
governo belga
homenageou-o com
um funeral de
Estado, em Bruxelas,
e foi
posteriormente sepultado em
Madrid.
Em Lisboa (1910-1913)
O
desempenho
do embaixador
Villalobar
em Lisboa
foi bastante
controversa.
Durante a revolução
de 1910
esteve fisicamente ao
lado de
D. Manuel
II durante
as últimas horas
antes do
Rei partir para o
exílio. Depois foi
muito activo,
e até às vezes
abertamente
provocador
para com o novo
regime republicano,
tentando criar ocasiões para restaurar
a monarquia e
até mesmo encontrar
desculpas para
provocar uma
invasão
espanhola em Portugal, provavelmente
com instruções
directas de
Alfonso
XIII, em parte para
criar uma
unificação da
Península Ibérica.
Esse seu desempenho
não agradou nada ao Governo português.
Em Bruxelas (1913 - 1921)
Quando as tropas
alemãs invadiram a
Bélgica em 1914,
violando a
neutralidade, todos os
representantes
diplomáticos
decidiu seguir
o governo belga
no exílio para
Le
Havre,
na Normandia. Só os embaixadores de
três
países neutros:
o de Espanha,
dos Estados Unidos e
dos Países Baixos
ficaram em Bruxelas ocupada pelos alemães.
Rodrigo Villalobar
em
conjunto com o embaixador americano Brand Whitlock fizeram
um
extraordinário trabalho como protectores do povo belga nas zona ocupada.
O embaixador dos Países Baixos manteve um trabalho mais directo como
encarregado de negócios entre o seu país e a Alemanha.
Entretanto o
Governo belga retirou
sob
o comando
directo do Rei
Alberto I
da Bélgica, para um
pequeno
território, junto à
costa que
fazia fronteira com
a França.
O próprio rei
nunca deixou o
território belga,
vivendo na
pequena cidade
de La
Panne, onde comandava o Exército belga.
O Marquês de
Villalobar,
em 1914,
assumiu
os
interesses
diplomáticos de
uma
impressionante lista de
potências
beligerantes,
que se estendeu
ainda mais
com a
entrada
posterior
na guerra,
de
outros países, como de Portugal em 1916 e dos Estados unidos
em 1917.
Colaborou
com
as autoridades belgas da cidade
de
Bruxelas no
pedido para que a cidade não
fosse
bombardeada pelos alemães,
o que
se repetiu
semanas
mais tarde
em favor
da cidade
de Antuérpia,
desta vez
a pedido
das
autoridades alemãs.
Pediu ajuda ao Governo alemão
para melhorar
a situação
dos
residentes espanhóis,
especialmente aqueles que
estavam
envolvidos em
atrocidades
alemãs
e na
destruição de
Leuven,
mas também
para ajudar
os belgas
tentando evitar
a
deportação de
civis para
a Alemanha.
O secretariado
"Pro
Captivis"
que o rei
Alfonso
XIII
tinha
montado
no Palácio
e cujas
actividades
eram por si
acompanhadas de perto,
teve um
forte
contributo de
Villalobar,
usando os
bons
contactos
deste com
os alemães
para ajudar
um número
incontável
de
prisioneiros aliados
e
humanizar
o seu
cativeiro.
Villalobar
também
tentou, em
vários momentos
da guerra,
através de
contactos
de alto nível
em Berlim,
iniciar
negociações
de paz
em que o
Rei
Alfonso
XIII
poderia
actuar como
árbitro,
mas este
esforço
não teve
apoio por
parte do
Governo espanhol.
Uma
das
situações mais dramáticas
de
Villalobar
respeita
aos seus
malogrados
esforços, ao
longo
de uma
única noite, de
12 a
13 de Agosto
de 1915,
para
conseguir um
adiamento
da
execução de
Edith
Cavell,
enfermeira britânica
condenada à
morte
por um
tribunal militar
alemão
por ter
abrigado
em seu
hospital, em
Bruxelas,
200
soldados
belga,
francês e
Inglês
(prisioneiros e
pilotos
abatidos)
e os
ter ajudado
a escapar
da Bélgica, para voltarem a combater.
No entanto, o mais importante de
todas as suas acções foi a ajuda humanitária que organizou em
colaboração de outros grandes homens como: Herbert Hoover (futuro
presidente dos Estados Unidos), Émile Francqui (finaceiro belga) e os
Barões Solvay, Janssen e Lambert (comerciantes) e por último o
embaixador americano até à entrada dos Estados Unidos na guerra. Com o
trabalho estes homens foi possível durante os anos da guerra
alimentar a população belga e francesa das zonas ocupadas pelos alemães.
Nas
últimas semanas
da guerra,
elementos
revolucionários
de estilo soviético
vindos da Alemanha
tomaram o controlo
das forças alemães de ocupação e das administração civil. Nesta altura
reinava por toda a Bélgica um grande nervosismo perante a situação e
Villalobar
que
era o único
diplomata na zona
ocupada, antes
o vazio de poder,
assumiu a
representação de todos os
estados
beligerantes
perante as autoridades municipais em Bruxelas, e
coordenou
a retirada
alemã com o avanço
das
tropas
belgas
do Rei
Alberto I. Nas
comemorações da vitória foi sempre convidado para um lugar de honra,
representando a Espanha
em todas essas
celebrações(5).
Incidentes com
Submarinos Alemães em Águas Espanholas
O Submarino
Alemão U-35 em Cartagena
Em plena guerra, o submarino
alemão U-35, comandado por
Lothar von Arnauld de la Perière,
entrou em 21 de Junho de 1916 no porto de Cartagena, à superfície e em
pleno dia.
De acordo com a
versão oficial de la Perère vinha entregar ao Rei Alfonso XIII uma
mensagem manuscrita do Kaiser, na qual agradecia ao Rei o tratamento
dado aos súbditos alemães deportados da colónia de Camarão. No entanto,
parece que a verdadeira missão era a entrega de explosivos ao agente
secreto Wilhelm Canaris, que operava naquela data no porto de Cartagena.
No regresso à Alemanha transportou Wilhelm Canaris e dois outros agentes
secretos. Este feito teve repercussões e cobertura jornalística a
nível mundial.
O Submarino
Alemão UB-23 em La Coruña
Em 29 de Julho de 1917 o UB-23,
comandado por Hans Ewald Niemer, deu entrada no porto de La Coruña, após
ter sido severamente danificado por cargas de profundidade lançadas pelo
"HMS PC-60", da marinha britânica, perto de Lizard, ao sul da península
da Cornualha, no Reino Unido. Aqui ficou internado até ao fim da guerra.
No início as autoridades alemãs protestaram pelo internamento do
submarino, mas depois foi oferecido ao Governo espanhol, tal como se
encontrava, pelo preço de 1.348.000 marcos, com a intenção de solucionar
os problemas económicos da embaixada alemã em Madrid. No entanto o
Governo espanhol recusou a oferta.
O Submarino
Alemão UB-52 em Cádiz
No
jornal "Mercury", de 29 de Junho de 1917, deu a notícia que o submarino
alemão U-52, comandado por Hans Walther, da flotilha Pola, tinha
dado entrada no porto de Cádiz, rebocado num estado muito danificado e
que após ter atracado despachou para Madrid uns contentores com alguma
dimensão e grande peso. Existe ainda neste artigo uma referencia à
indignação como a imprensa francesas via o caso e uma indignação por se
saber que o submarino estaria quase pronto para voltar a navegar e
abandonar o porto de Cádiz.
Jornal
Mercury de 29 de Junho de 1917
O Submarino
Alemão UB-49 em Cádiz
Em 9 de Setembro de 1917,
o UB-49, comandado por Hans von Mellenthin, entra no porto de Cádiz, com
a intenção de ser internado. O submarino apresentava avarias ligeiras.
As relações entre o oficial do submarino e as autoridades do porto foram
bastante cordiais e o comandante assinou uma carta escrita na presença
do cônsul alemão em Cádiz, em que deu a sua palavra em que permaneceria
no porto até ao fim da guerra.
Sem
aviso, o submarino, na tarde de 5 de Outubro de 1917, fugiu do porto. Em
consequência do acontecimento o comandante do porto de Cádiz foi
destituído e o Governo de Espanha protestou junto do Kaiser pelo
acontecido e exigiu o regresso do submarino UB-49 a Cádiz. Em
resultado deste protesto o Kaiser mandou internar um submarino da mesma
classe no porto austríaco de de Pola, o qual ficou sob a supervisão de
oficiais espanhóis que para lá se deslocaram.
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