Esquadrilha Aérea |
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Esquadrilha Expedicionária a Moçambique
Por iniciativa do Governador-geral Dr. Álvaro de Castro, que acumulava o comando militar de Moçambique entre Janeiro e Setembro de 1917, foi requisitado ao Ministério das Colónias uma esquadrilha de aviação para cooperar com as tropas expedicionárias em campanha.
Na metrópole foi então encarregado o Capitão-tenente Sacadura Cabral da organização dessa mesma esquadrilha e da aquisição, em França, do material de apoio necessário à instalação de uma base aérea para esses aviões em Moçambique.
Neste sentido o Capitão-tenente Sacadura Cabral deslocou-se a França, em Abril de 1917, para adquirir quatro aviões Farman F.40 para a Esquadrilha Expedicionária a de Moçambique e outros quatro aviões Caudron G.3 para a Esquadrilha Expedicionária a Angola.(2)
Em Abril de 1917, em Lisboa, mais propriamente, na Escola de Aeronáutica Militar em Vila Nova da Rainha, encontravam-se cinco Farman F.40, dois Caudron G.3 e um monoplano Morane-Saulnier Tipo"H", que tinham chegado a Lisboa a 6 de Outubro de 1916, a bordo do vapor francês "Garonne". (3)
Como a França não forneceu os aviões atempadamente, foram escolhidos três aparelhos de entre os cinco Farman F.40 que estavam estacionados na Base Aérea em Vila Nova da Rainha, para serem enviados para Moçambique.
Os três Farman F.40 estavam dotados com motores Renault 8 C de 130 hp e tinham a capacidade de transportar dois homens (um piloto e um artilheiro/observador), uma metralhadora Lewis de 7.7mm à frente e diversas bombas ligeiras. A autonomia destes aparelhos rondava 2h 20mn, com uma velocidade máxima de 110km/h e um tecto de 3.75mm.
A 2 de Junho de 1917 a Esquadrilha Expedicionária a Moçambique partiu do cais de Alcântara (Lisboa) no vapor "Moçambique", com todo o equipamento encaixotado. Os três aparelhos foram desmontados e colocados em caixas para serem transportados no porão, assim com o restante material aeronáutico que incluiu um hangar desmontável "Bessoneaux".
A bordo seguiu também o pessoal que a compunha: Capitão de Cavalaria Teodorico Ferreira dos Santos (comandante da esquadrilha e observador), Tenente de Cavalaria Jorge de Sousa Gorgulho (piloto), Tenente de Artilharia Santos Guerra (observador) e o Alferes de Infantaria Pinheiro Corrêa (observador), o mecânico Norberto Gonçalves e dois mecânicos franceses contratados à firma Farman.(1)
Chegaram a Mocimboa da Praia (Moçambique) a 3 de Agosto de 1917. A viagem a bordo do vapor "Moçambique" durou 32 dias.
Por não existir cais de desembarque em Mocimboa da Praia para acostar o vapor "Moçambique", os caixotes com os aviões foram transportados em jangadas desde o navio até à margem.
O material da Esquadrilha Expedicionária a Moçambique teve de ser transportado, ainda dentro de caixas, à mão até à Base Aérea, no local da Mahunda, em Mocimboa da Praia, no planalto dos Makondes a 300m de altitude, que previamente tinha sido preparada para os receber.
A localização da Esquadrilha Expedicionária a Moçambique em Mocimboa da Praia estava relacionada com a localização estratégica que este lugar oferecia, para apoiar o combate contra os alemães na zona Norte de Moçambique (Niassa), mas também porque em Agosto de 1917 o Quartel-general das operações militares do exército português se tinha transferido de Palma para Mocimboa da Praia.
Um mês e poucos dias depois após a chegada do material aeronáutico, a 7 de Setembro, iniciaram-se os voos de teste e adaptação à pista de Mocimboa da Praia.
Competia ao Tenente Jorge Gorgulho, único piloto presente, testar a pista e os Farman F.40, à medida que estes iam sendo montados.
Assim, a 7 de Setembro de 1917, os ensaios executados pelo Tenente Sousa Gorgulho com o primeiro Farman F.40 terminado de montar, transformou-se no primeiro voo português no Continente Africano.
No voo de adaptação do dia seguinte, 8 de Setembro, segundo voo executado pelo Tenente Sousa Gorgulho, o seu Farman F.40 entrou em perda, caiu e incendiou-se, tendo provocado a sua morte. Refira-se que o mecânico francês responsável pela montagem do avião ficou tão abalado pelo desastre que acabou por ter de ser mandado regressar à Europa.
Neste contexto a Esquadrilha Expedicionária a Moçambique (EEM) ficou inoperacional por falta de pilotos, o que levou a que o comandante da EEM, o Capitão Teodorico Ferreira dos Santos passasse a exercer acumulativamente as funções de Adjunto do Comando do 1º Regimento junto do Q.G. da Expedição, desde Setembro a Outubro de 1917. Só chegaram novos pilotos em Novembro de 1917.
Uma patrulha alemã que fez um reconhecimento na zona do baixo Rovuma, em Setembro de 1916, passando por Muambo, Maraunga e Chindiu, indicou no seu relatório que os efectivos portugueses estacionados nesta zona rondavam entre 2.000 e 3.000 homens, 6 peças de artilharia, 6 metralhadoras, muitos automóveis, cavalaria e um grande comboio de transportes. Que, ainda, tinham visto dois aeroplanos, mas que estes não tomavam parte activa nas operações. (4)
Sem pilotos, a Esquadrilha Expedicionária a Moçambique ficou no chão até à chegada dos pilotos Capitão João Luís Mora e Capitão Francisco Aragão, que vieram nos navios que transportaram os efectivos de reforço da 4ª Expedição, os quais chegaram a Mocimboa da Praia em Novembro de 1917. Durante o período de espera pela chegada dos pilotos, os outros aviões foram sendo montados. Em Dezembro de 1917 os voos de adaptação recomeçaram.
Entretanto, em Novembro de 1917, os alemães invadem o Norte de Moçambique. Após o combate de Negomano junto à fronteira, a 25 de Novembro de 1917, durante a retirada das tropas portuguesas daquela localidade foi recebido dos serviços de informação ingleses a indicação que os alemães se dirigiam para Chomba. Esta informação, que mais tarde se revelou falsa, precipitou a retirada do Quartel-general que se encontrava naquela zona, em Mahunda, no planalto dos Makondes, a 3 Km de Chomba.
Foi neste contexto que os oficiais da Esquadrilha Expedicionária que estavam na Base de Mocimboa da Praia se ofereceram para integrar a 9ª Companhia Indígena do Capitão Neutal de Abreu, também conhecida como a "Coluna dos Irregulares", que estava estacionada junto à Base Aérea, para irem ao encontro dos alemães em Chomba, enquanto as tropas do Quartel-general retiravam em direcção ao porto de Mocimboa da Praia. Refira-se que à data os dois pilotos ainda não tinham chegado à Base Aérea, razão pelo qual os dois Farman F.40 não intervieram na operação.
As condições adversas do clima e de salubridade em Mocimboa da Praia eram extremamente desfavoráveis aos europeus, o que implicou um nível muito elevado de doenças entre os militares metropolitanos, incluindo o segundo mecânico francês contratado que adoeceu inviabilizando a manutenção mecânica dos aparelhos.
Em Dezembro de 1917 na Base Aérea encontrava-se apenas o mecânico português Norberto Gonçalves, o que levou a que se solicitasse novos mecânicos aos Ingleses, os quais chegaram a 17 de Janeiro de 1918. Posteriormente um dos mecânicos cedidos foi deslocado pelos ingleses para uma base aérea na Mesopotâmia, só voltando a ser substituído em 29 de Abril de 1918, por outro mecânico inglês.
Durante o mês de Fevereiro de 1918 a esquadrilha efectuou 38 voos, apesar das condições climatéricas de chuva e nevoeiro que limitavam os mesmos. Entretanto, o teatro de operações deslocou-se para Sul, e como não existiam infra-estruturas de apoio a Sul, os aviões mantiveram-se em Mocimboa da Praia.
O Capitão Teodorico Ferreira dos Santos que comandava a Esquadrilha Expedicionária a Moçambique desde Junho de 1917, passou o comando da mesma para o Capitão João Luís de Mora em Junho de 1918, que a comandou até ao final da guerra.
Da metrópole seguiu em Julho de 1918, o Alferes Francisco Higino Craveiro Lopes, futuro presidente da República em 1951-58, e um novo mecânico francês, que chegaram a Mocimboa da Praia em Agosto de 1918.
O convívio entre militares e aviadores não foi fácil ao longo do tempo. Na Base Aérea, os relacionamentos pessoais foram-se agravando, muito em parte por causa das condições que os aviadores usufruíam em comparação com os restantes militares.
Após o Armistício de 11 de Novembro de 1918, a Esquadrilha Expedicionária a Moçambique manteve-se ainda a operar na Base Aérea em Mocimboa da Praia, até 2 de Dezembro de 1918, data em que os dois Farman F.40 foram para Lourenço Marques em transporte marítimo.
Em Lourenço Marques ficaram estacionados num local escolhido no Alto da Matola, onde montaram os hangares e mais dependências também transferidas de Mocimboa da Praia. A Esquadrilha Expedicionária a Moçambique foi rebaptizada com a designação de Esquadrilha de Aviação mantendo o comando Capitão João Luís de Moura. Em 1920 a esquadrilha foi extinta.
Os Homens da Esquadrilha Expedicionária a Moçambique
Capitão de Cavalaria João Luís de Moura (Piloto) (Novembro 1917 - Maio 1921)
Chegou a Moçambique em Novembro de 1917.
A 26 de Maio de 1918 passou a assumir o comando da Esquadrilha Expedicionária a Moçambique.
Após o final da guerra, quando a esquadrilha se deslocou para Lourenço Marques, foi nomeado comandante da base militar do Alto da Matola (Lourenço Marques) até 1920, data em que a esquadrilha foi extinta.
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Este site foi actualizado pelo última vez em 25-10-2013