Mecula 1917 |
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A Questão de Serra Mecula (1917)
A fronteira entre Metmone e Unde estava guardada pelo Major Quaresma, quando em Novembro recebeu ordens do Quartel General para se deslocar com reforços para Negomano. Esta ordem fez desguarnecer a zona de Puxa-Puxa, que se mostrava um local militarmente estratégico para impedir o avanço para Sul ao longo do rio Lugenda. Mais tarde, o Coronel Sousa Rosa revogou a ordem, mas o Major Quaresma já se encontrava em Negomano.
As restantes tropas do Major Quaresma foram divididas em três grupos: Serra Mecula sob o comando do Capitão Francisco Curado, Montes Oisulos e Montes Macolos. Seguiu ainda o Capitão J.H. Melo para Nanguar para dirigir a evacuação do posto e das munições e abastecimentos.
Os alemães após derrotar as forças portuguesas em Negomano, continuaram para Sul ao longo do rio Lugenda, em duas colunas: uma para Puxa-Puxa e outra para Nanguar.
O Capitão Francisco Curado ao chegar a Serra Mecula verificou que a posição designada pelo Estado Maior não era militarmente defensável e recolocou os seu homens numa outra zona com água, numa cota mais alta, abriu trincheiras e limpou campos de tiro.
No dia 3 de Dezembro chegaram as primeiras forças alemãs que foram energicamente repelidas. Entretanto chegaram abastecimentos com alimentos europeus e indígenas que tinham sido enviados pelo Dr. Guerra Lage, então delegado do Governo na região a Oeste do rio Lugenda.
O Capitão Francisco Curado compreendeu que o ataque teria sido executado por uma força avançada e que a coluna principal deveria chegar em breve e em força, pelo que reforçou os trabalhos de entrincheiramento. O Alferes Salgado tinha recebido ordens escritas do Capitão Francisco Curado para caso os alemães se aproximassem de Nanguar fizesse queimar o depósito de abastecimentos e munições aí existente. No entanto, no dia 2 de Novembro, não foi capaz de cumprir a ordem, tendo permitido que os alemães capturassem o depósito intacto. O Tenente Kempner que atacou o posto com uma companhia, surpreendeu o Alferes Salgado a dormir. (6)
Após a tomada de Nanguar a coluna alemã de Nanguar veio juntar-se à coluna alemã de Puxa-Puxa, concentrando um contingente de 8 companhias e 10 metralhadoras sobre as forças do Capitão Francisco Curado.
Nos últimos dias do mês de Novembro começaram a chegar, vindas de Negomano, praças indígenas pertencentes às companhias organizadas nos territórios de Manica e Sofala, cuja administração pertencia à Companhia de Moçambique. Estes soldados contavam horrorizados o que se havia passado no combate com os alemães em Negonamo. (8)
No dia 6 de Dezembro chegou a força comandada pelo General Wahle e o Dr. Heinrich von Shnee, Governador da África Oriental Alemã, que pessoalmente dirigiram o ataque. Os combates duraram até dia 8 de Dezembro. Os combates foram constantes, de dia e de noite, um doa mais encarniçados e valorosos que as tropas portuguesas sustentaram durante a Grande Guerra. O Capitão Francisco Curado conseguiu manter o animo das suas tropas durante todo o combate, fazendo chegar constantemente à linha de fogo, munições, mantimentos e água.
A 7 de Dezembro, durante a madrugada os alemães aproximaram-se fazendo avançar as suas patrulhas vestidas com fardas apanhadas em Negomano, incluindo o uniforme do Major João Teixeira Pinto, para reconhecerem as trincheiras, mas descobertos fugiram. (2) Com a situação bloqueada os alemães tiveram de pedir reforços ao General von Lettow-Vorbeck, incluindo artilharia.
No dia 8 de Dezembro, o inimigo concentrava 8 companhias e 10 metralhadoras na frente de combate e ainda uma divisão de artilharia.(4) À tarde, os portugueses começaram a ficar sem munições, pelo que foi dada ordem de cessar fogo. Os alemães não perceberam a situação pelo que não atacar de imediato, receosos que se tratasse de uma manobra táctica. Quando se iniciou o assalto alemão, o Capitão Francisco Curado deu ordem para que se fizesse fogo até à última bala. Foi no fim do combate, quando já se faziam os últimos disparos da nossa metralhadora que o Alferes Viriato de Lacerda foi morto em combate destrua a metralhadora para não cair nas mãos inimigas. Os restantes pontos de resistência acabaram por ser tomados num último assalto alemão à baioneta.A força tque atacou as forças do Capitão Francisco Curado era constituída pela 9ª Companhia de campo, a 4ª Companhia Schultzen e a 4ª Bateria. Dos cerca de 250 militares que defenderam Serra Mecula, no final foram capturados 44 militares que resistiram até ao final: 8 oficiais incluindo um ferido e 36 praças incluindo 7 feridos. As cinco metralhadoras foram capturadas já inutilizas. (3). Fugiram nos momentos finais após acabarem as munições 180 landins da 4ª Companhia Indígena da Beira e do Pelotão da 29ª Companhia Indígena, e com eles o 1º Sargento Aristides Mourato Sequeira, os 2º Sargentos Augusto Ferreira Anobra e Manuel Joaquim dos Santos e os 2º Cabos António Augusto de Castro e Joaquim Leite.(5)
Os General Wahle ficou admirado pela tenacidade da defesa e de o comandante ser apenas um capitão, mas era o Capitão Francisco Curado. Também apresentou os seu reconhecimento e felicitou o capitão pela seu valor militar. No dia 9 de Dezembro os alemães prestaram honras militares, no momento do funeral, ao Alferes Viriato de Lacerda, morto em combate. Os alemães solicitaram aos oficiais o compromisso de não voltarem a combater para os libertar, ao que o Capitão Francisco Curado não aceitou, uma vez que não fazia parte dos regulamentos militares portugueses. Os portugueses acabaram por ser libertados sem condições e oferecido ao Capitão Francisco Curado uma espada que se encontrava entre os despojos, em reconhecimento do valor militar.
Regressado a Mocimboa da Praia, o Capitão Francisco Curado foi mandado para Lourenço Marques e depois para Lisboa, onde chegou em Abril de 1918. Não foram mais aproveitadas as suas capacidades militares, tendo apenas regressado a Moçambique em Outubro de 1918 por solicitação própria. (1)
A guarnição de Oizulos capitula a 27 de Dezembro, após combate contra as forças do General Wahle, tendo sofrido 3 motos e 3 feridos. A guarnição que se encontrava nos Montes Macolos, no Alto Molone, retirou sem combate para Unango (para Sul), após saber dos desastres de Negonamo, Mecula, Nanguar e Oizulos.(7)
Notas
Bibliografia
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Este site foi actualizado pelo última vez em 25-10-2013