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A Marinha de Guerra Belga

A Bélgica tinha uma estrutura militar naval, mas não tinha efectivamente navios de guerra oceânicos. Tinha sim um conjunto de pequenos navios mercantes rápidos, entre 192t e 798t com velocidades entre 13 e 21 nós, (19 em 1900) que eram comandados por oficiais da marinha de guerra, sob a gestão do Bureau de Marine. Muitos destes navios eram ainda propulsionados por pás rotativas.


Alguns desses navios tinham a possibilidade de vir a ser úteis em tempo de guerra, pela sua velocidade, assim como o navio "Ville d'Anvers", construído em Antuérpia em 1865, que era utilizado na protecção e fiscalização das pescas.


A má experiência da Guerra 14-18 levou a que a Bélgica logo após terminar o conflito tenha construído uma Marinha de Defesa Costeira, tendo para tal utilizado as unidades navais ligeiras abandonadas na Flandres pelos alemães. Teve forma em 1919 e chegou a receber dois submarinos ex-alemães (U91 e U112), os quais foram rebocados até Antuérpia, mas posteriormente desmantelados em 1921 e 1922.


A nova Real Marinha Belga começou em 1920 com um aviso "Zinnia", da classe Flower britânica e 14 torpedeiros alemães (9 de 109t e 5 de 320t) e mais 23 lanchas rápidas ex-alemãs recebidas em 1921. Esta força naval ficou distribuída pelos portos de Zeebrugge, Ostend, Bruges, Ghent e Antuépia (Conway's, 1985:411).

Marinheiros belgas 1914

Foi em vão que o Rei Leopoldo II tentou fazer ressurgir a Marinha Real e é por esta razão que a Bélgica foi apanhada no início da Grande Guerra totalmente desprovida de meios navais oceânicos para se defender.


Assim a marinha mercante belga teve de operar totalmente desprotegida de meios militares para sua protecção em 1914. Isto foi principalmente sentido na linha de evacuação Ostend-Dover, onde se fez evacuar milhares de feridos, sem defesa dos submarinos alemães e das minas.


Também se verificou esta falta de protecção para os navios que tiveram de ir buscar a França e a Inglaterra material e munições de guerra para a defesa contra os invasores alemães. Se bem que se tenha verificado alguma assistência por parte dos aliados, foi evidente a normal prioridade que tinham de dar à protecção dos seus navios mercantes.


Foi só em 1917, com a constituição de comboios de navegação que finalmente os navios belgas conseguiram beneficiar de uma protecção total e ao nível dos seus aliados.


Em 1914 a força naval era composta por quatro canhoneiras de 200t e 300Cv, armadas com dois canhões de 57mm: "Minerve", L'Argus", "Police de la Rade II" e "Police de la Rade III". Esta flotilha tinha um corpo de marinheiros de cerca de 100 homens e estava sob as ordens do Capitão de Navio Conde de Borchgrade d' Altena. No dia 4 de Agosto o Conde  Borchgrave d'Altena foi designado director do serviço de defesa costeira e fluvial.

Na Europa

Stad van Antwerpen 1914

A 22 de Agosto o conde Borchgrave d' Altena embarcou no "Satd van Antwerpen" carregado de feridos com destino a Havre (França) e depois foi buscar elementos da 4ª Divisão que tinham conseguido escapar do cerco a Namur. Entretanto como esta operação não tinha sido autorizada pela Administração Civil, o Conde de  Borchgrave foi destituído do seu comando. Um dos problemas que se evidenciaram foi a falta de definição da estrutura de comando da Marinha, meio militar meio civil, gerou muita indefinição e incapacidade operacional dos poucos meios existentes.  


Entretanto as quatro canhoneiras para fugirem ao avanço alemão começaram a descer o rio Escaldes, para irem se juntar ao esforço de guerra, saindo para o mar em Ostend. No entanto ao passar pela zona holandesa do rio Escaldes foi-lhes interditada a passagem, tendo os navios ficados interditados na zona holandesa até ao final da guerra e as guarnições sido levadas para Roterdão. Com esta situação a Bélgica ficou sem todos os seus marinheiros profissionais. O serviço de defesa costeira e fluvial foi eliminado.


Nestas circunstâncias o Estado-maior do Exército teve a necessidade de organizar um novo serviço naval que pudesse assegurar os serviços logísticos de abastecimento marítimo, para Ostend e Zeebrugge. Para isso designou o Coronal Emile Cornellie e o Comissário de Marinha Léon  Hennebicq. Conseguiram  requisitar navios em Nieuport e Zeebruge e em dois dias carregaram dezenas de navios de todos os tipos com abastecimentos e enviaram-nos a Ostend.


Com o avanço das tropas alemãs a marinha belga foi obrigada a estabelecer uma base naval em Calais (França). Para a constituição dessa base o Coronel Cornellie manda evacuar de Ostend e de Dunquerque, cerca de 8.000 homens, entre estes 300 homens da Companhia de Pontoneiros.


Em Calais o Coronel Cornellie veio a encontrar uma cidade cheia de refugiados belgas, mais de 80.000. Organizou uma rápida evacuação de mais de 36.000 para Inglaterra, utilizando três paquetes belgas: "Rapide", "Leopoldo II" e o "Princesse Clementine", e 14 outros navios franceses. Cerca de 10.000 refugiados foram entretanto substituídos por feridos belgas que vinham da zona de Yser.


De 13 de Outubro a 10 de Março de 1915, o Coronel Cornellie conseguiu passar para Inglaterra mais de 22.000 feridos com o apoio de quatro navios britânicos e mais uma vez com os seus três paquetes.

Rapide

Leopold II

Princesse Clementine

A partir de Outubro de 1914 e até ao fim da guerra foi mantida uma ligação constante entre Londres e Calais para abastecimento do Exército belga. O funcionamento da base belga em Calais ficou a cargo da Companhia de Pontoneiros belga e de civis belgas trabalhadores portuários, que garantiam as cargas e descargas de pessoas, bens e material de guerra.


Em Abril de 1915, com a instalação do porto britânico em Calais, os serviços belgas foram transferidos para a zona Oeste do porto de Calais e passaram também a utilizar o porto de Gravelines.


As dificuldade de acostagem no porto de Calais eram muito grandes o que levou a que se tivesse de utilizar constantemente pequenas embarcações para descarregar os navios. Também houve a necessidade de criar um serviço de transporte de abastecimento até à zona de Yser onde se encontrava o grosso do exército belga. Este serviço era garantido por 150 barcaças que circulavam dentro das águas interiores.


Para a execução deste serviço existiam duas dificuldades: a falta de profissionais e o apelo de melhores ordenados oferecidos pelos armadores britânicos. É necessário referir que este serviço era efectuado por civis. Para combater esta situação o Coronel Cornellie criou um depósito marítimo militar para a incorporação de homens.

No Congo Belga

Força Naval do Lago Tanganica


Alexandre Delcommune (1914 - 22/08/1914): 1 canhão 76mm e uma metralhadora.

Vengeur (12/1915 -1918): Este navio é o antigo Alexandre Delcommune reconstruído e recolocado a flutuar. 2 canhões de 70mm e 1 metralhadora.


Mosselback (1914 - 1918): Lancha, 1 canhão de 57mm e 1 canhão de 47mm.

Wami (1914-1918): Lancha, 1 canhão de 37mm.

Netta (24/12/1915 - 1918): Lancha Rápida, 1 canhão de 57mm, 1 canhão de 37mm pompom, 2 metralhadoras.

Força Naval do Rio Congo


Luxembourg (1914-1918): 1 canhão de 27mm Nordenfelt, 1 canhão 75mm Krupp e 1 metralhadora.


Força Naval do Lago Kiru


Paul Renkin (????): Canhoneira

(?????): Uma lancha rápida


Força Naval do Rio Nilo


Vankerkhoven (1918): Lancha Rápida


Bibliografia


Abbott, Peter(2002), "Armies in East Africa, 1914-18", Oxford, 8ª edition, Osprey Publishing (ISBN: 978-1-84176-489-4)


O'Nell, Herbert Charles(1918/2012), "The War in Afrika and the Far East 1914-17", Yardley(USA), Reprint, Westholme Publishing (ISBN: 978-1-59416-068-4)


Conway's(1985), "All the Wourld's Fighting Ships 1906-1921", London, Reprint 1986, Conway Maritime Press Ltd.


Comité pour l'Etude de Histoire de la Marine Minitaire en Belgique (1992), "La Force Navale: De lAmirauté de Flandre à la Force Navale Belge, Belgium, Editions Lannoo n.v., Tielt. (ISBN: 90-209-2101-0)