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Aviação Militar

A Formação do Corpo Aéreo Militar do CEP

Em Fevereiro de 1916 o Ministério da Guerra solicitou à Grã-Bretanha a formação de alguns pilotos, que na intenção de Portugal viriam a formar o grupo aéreo do CEP. Assim, e ainda em Fevereiro, foram enviados os Tenentes António de Sousa Maya e Óscar Monteiro Torres e o Alferes Alberto Lello Portela, que viram a obter em Junho de 1916 os respectivos brevets militares nas escolas de aviação civil de Hendon e militar de Northolt.


Num cenário de fraca colaboração entre o Governo Inglês e o Governo Português, os intuitos de formar o "Serviço de Aviação do CEP" acabaram por se gorar, não sem ter existido uma vontade firme e repetida do Capitão Norberto Guimarães para o criar. O Capitão Norberto Guimarães foi nomeado no Despacho do Ministério da Guerra, de 2 de Julho de 1917, para formar e comandar o Serviço de Aviação do CEP (Oliveira 1995, 62)


Do seu conhecimento sobre o funcionamento dos esquadrões do Royal Flying Corps (RFC), surgiu a proposta de organização do serviço aéreo português na Flandres. Devido às dificuldades que o Governo Inglês colocava à formação de pilotos portugueses, e devido às excelentes relações pessoais do Capitão Norberto Guimarães com o Estado-Maior francês, os pilotos portugueses foram colocados em escolas de aviação francesas e, ainda, foi garantida as alocações posteriores em esquadrilhas de caça ou de bombardeamento francesas, por forma a virem a ter experiência de combate.


O Serviço de Aviação do CEP foi projectado para ter três esquadrilhas: 1ª Esquadrilha de Caça e a 2ª e 3ª Esquadrilhas de Regulação de Tiro. Em Novembro de 1917 foi solicitado à Grã-Bretanha os seguinte equipamento aeronáutico:


a) 10 caças SPAD, de 150cv e respectivo armamento;

b) Material de apoio para organizar três esquadrilhas tipo "RFC";

c) Aviões de bombardeamento;

d) Material de regulação de tiro e de fotografia aérea;

e) Hangares e barracas para o Grupo aéreo, para albergar 10 aviões;

f) Motores de reserva e sobressalentes para operar durante seis meses;

g) Projectores e material para voo nocturno.


Não existiu por parte dos aliados ingleses a vontade de auxiliar a formação do serviço de aviação português, como estava acordado no compromisso inicial de fornecimento de material de guerra e logístico ao CEP, tendo inclusivamente em Dezembro de 1917, o Quartel-General britânico comunicado ao comandante do CEP que não procederiam a qualquer auxílio para formar a unidade portuguesa. Em Janeiro de 1918, o franceses, também, indicam que não têm a possibilidade de se substituírem ao ingleses o que colocou um ponto final ao projecto de criar uma esquadrilha portugueses na Flandres.


O Capitão Norberto Guimarães não se dá por vencido na pretensão de colocar pilotos portugueses no front, e para tal propõe que os pilotos portugueses viessem a voar em esquadrilhas de Spad e de Breguet francesas. O comandante Raimbert, do "Groupe des Divisions de Entrainement" considera que é impossível colocar os pilotos portugueses se passar por uma fase de treinos com estes modelos de aviões, antes de irem para o front. Em 31 de Março de 1918 o Governo Português, por intermédio do Ministro da Guerra deu ordem de dissolução do Serviço de Aviaçull ão do CEP. As ordens não foram acatadas em França e em 3 de Abril de 1918 o Bureau des Alliés dá ordem aos pilotos portugueses Tenentes Ulysses Alves e Pereira Gomes para seguirem para a Esquadrilha 263, do 7º Exército na Alsácia e em Maio dá ordem para os Capitães António da Cunha e Almeida, e Luís da Cunha e Almeida (irmãos) para seguirem para a Esquadrilha de caça Spad 79.


A 26 de Maio, o Governo Português dá ordem de regresso imediato a Portugal a todos os pilotos do extinto Serviço de Aviação do CEP. O Capitão regressou a Portugal, mas muitos dos pilotos ignoraram a ordem de regresso e mantiveram-se a lutar em esquadrilhas francesas até ao fim da guerra. (Correia 2009, 37-41)

Os Pilotos Portugueses da Aviação Militar

Os primeiros pilotos foram formados na Grã-Bretanha e em França e destes saíram os instrutores da futura aviação militar de Portugal. No que se refere à aviação naval é tratado à parte, na página da Marinha.

Para atrair voluntários para a escola de aviação, o Capitão Norberto Guimarães, em Março de 1917, efectuou um voo de propaganda aeronáutica a bordo de um Nieuport Ni.83 E-2, que se iniciou na Escola de Aviação de Vila Nova da Rainha, com escalas em várias cidades, e com chegada na cidade de Viana do Castelo. Conseguiu a adesão de muitos oficiais das unidades militares visitadas e com este grupo inicial  deu-se início ao primeiro curso de pilotagem militar na Escola de Pilotagem de Vila Nova da Rainha.

O Capitão Norberto Ferreira Guimarães foi nomeado responsável do "Serviço de Aviação do CEP" em 2 de Julho de 1917. O Capitão Alberto Cifka Duarte, o Alferes Carlos Esteves Beja e após o primeiro curso de formação de pilotos o Alferes Jorge Ávila e o Sargento João dos Santos, que era o sargento-mecânico da Escola e o único sargento com brevet de piloto-aviador durante 20 anos. (Lopes 1989, 19-22)

Capitão Óscar Monteiro Torres

Serviu na Esquadrilha 65, tendo sido convidado pelo seu amigo Georges Guynemer (Ás francês), para se juntar à Esquadrilha 3, a famosa "esquadrilha cegonhas". Ainda na Esquadrilha 65, no dia 19 de Novembro de 1917, quando voava o seu SPAD S7C1, #4268, foi abatido pelo piloto alemão Rudolf Windisch, da Jasta 32. Durante o combate o Capitão Óscar Monteiro Torres abateu um dos aviões de observação alemães, um Halberstadt, e um dos caças de escolta, um Fokker. O combate deu-se na zona entre Chemin des Dames e Laon, e acabou por cair na zona alemã. Foi recolhido e levado para um hospital alemão de campanha, onde no dia seguinte faleceu em resultado dos graves ferimentos que tinha sofrido em combate. O seu SPAD foi mais tarde utilizado pelo Rudolf Windisch. Recebeu postumamente a Cruz de Guerra de 1ª classe.

Capitão Alberto Lello Portela

Entre 1917 e 1918 serviu na Esquadrilha 124. Obteve 3 vitórias confirmadas em combates aéreos e 1 balão inimigo abatido durante as 22 missões de combate que efectuou na Grande Guerra. Em 1916 já tinha estado com os pilotos Óscar Monteiro Torres, António de Sousa Maya e José Barbosa dos Santos Leite, no 10º Sqn RAC, no aeródromo de  Chocques, onde voavam em missões de fotografia e de observação. Promovido a capitão por mérito, obteve 3 citações do Exército Francês, entre as quais uma em Ordem do IV Exército, e recebeu a condecoração francesa de Legião de Honra. (Magno 1921b, 12)

Grupo de Observadores Aéreos

Por instrução do Capitão Rui da Cunha Menezes foi formado o Grupo de Observadores do Corpo Expedicionário Português, em 5 de Novembro de 1917. Em Janeiro de 1918 a organização e recrutamento encontrava-se concluído. O regulamento do Grupo de Observadores foi escrito pelo Tenente Alberto Lello Portela. Os observadores deste Grupo seriam trinados para o serviço em balões cativos de observação.


Na retaguarda do front fazia-se a observação por balões cativos, que se elevavam entre 500 a 1.000 metros do solo. Os "soucisses" estavam ligados por cabo de arame a um sarilho montado num camião. Os observadores, ao contrário dos pilotos, já utilizavam pára-quedas. (Magno 1921a, 67)


Os pontos de observação no sector português localizavam-se em: Convent, Heath, Robinson, Chapigny, Norton Ledge e Nook. Os Ingleses nunca chegaram a deixar ocupar os balões de observação apenas por observadores portugueses, mantendo o grupo em instrução entre Fevereiro e Abril, data em que o CEP seria retirado da frente de combate para descanso. Assim durante os dois meses que durou a instrução, os observadores portugueses trabalharam em conjunto com os ingleses nos pontos de observação de Convent e Chapigny. (Martins 1995, 293)

Aviação Inglesa ao Serviço do CEP

A 1 de Janeiro de 1918, foi destacado um "Flight" de 6 aparelhos destacados do 4ºth Squadron que ficou adstrito ao CEP, com as seguintes ordens:


a) Missões de reconhecimento e fotografia do sistema de linhas da frente inimigas numa profundidade de 1.000 jardas (900 m) a partir da linha da frente portuguesa;

b) Cooperação com a infantaria e artilharia de campanha portuguesa.


Esta foi denominada "Detached Flight" e a 15 de Janeiro de 1918 transformada em "4ºth Squadron RFC" com a dotação de 12 aviões. A 23 de Março de 1918 esta esquadrilha foi rendida pela 42ºth Squadron RFC. A ligação entre a esquadrilha inglesa e o CEP era feira através do comando do Batalhão de Infantaria 8, que para o efeito tinha organizado uma secção especial a "Branch Intelligence Section" (BIS). Apesar da informaçãull ‹o fluir, entre a recolha da informação e a chegada da mesma ao BI 8 existia uma grande demora, situação que levou a BIS, do BI 8 a queixar-se da situação a 24 de Março de 1918.


Para melhorar a coordenação entre a infantaria portuguesa e o 42º th Squadron RFC, o BI 8 mandou organizar no CEP instrução sobre "exercícios de patrulhas de contacto", para melhorar a comunicação entre os aviões de observação e a infantaria em Março de 1918.


Também em colaboração com o 42º th Squadron RFC trabalhou o Alferes Henriques Guilherme da Silva do BI 35, no que se refere ao tratamento da fotografia aérea. (Martins 1995, 289-90, com referência à nota do Exército n.º GS956, de 29-12-1917)

Pilotos Portugueses Integrados em Esquadrilhas Aliadas

Em 1917, o comandante do CEP, o General Gomes da Costa conseguiu integrar no "Groupe de Divisions D'Entrainement de Plessis-Belleville" 31 pilotos e 31 mecânicos portugueses. Quando, após a determinação do Ministro da Guerra de Sidónio Pais, o General Freitas Soares, ordenou o regresso de todo o pessoal da aviação a Portugal, 13 pilotos portugueses não obedeceram à ordem e mantiveram-se integrados nas esquadrilhas francesas a combater os alemães.


Piloto - Esquadrilha - Base - Avião


Capitão Óscar Monteiro Torres -  SPA-65 - Soissons - SPAD 7-C1



Tenente Pedro Emílio Jones da Silveira - C-278 - Laon - Sopwith 2-A2 (1/2 Strutter)



Alferes Eduardo Santos Moreira - C-278 - Laon - Sopwith 2-A2 (1/2 Strutter)



Tenente José Francisco Antunes Cabrita - ESQ-218 - Soissons - Handley-Page O/400



Capitão José Joaquim Ramires - N-158 - Laon - BR 14-A2



Alferes João Salgueiro Valente - N-158 - Laon - BR 14-A2



Tenente Ulisses Augusto Alves - SAL-263 - Laon - Salmson 2


Tenente Pereira Gomes Júnior - SAL-263 - Laon - Salmson 2


Tenente António de Sousa Maya - SPA-124 - La Noblette - SPAD 13-C1



Tenente José Barbosa Santos Leite - SPA-124 - La Noblette - SPAD 13-C1


Alferes Alberto Lello Portela - SPA-124 - La Noblette - SPAD 13-C1



Tenente António da Cunha e Almeida - SPA-79 - Montdidier-Noyon - BR 14-A2



Tenente Luís da Cunha e Almeida - SPA-79 - Montdidier-Noyon - BR 14-A2


Alguns destes pilotos pintaram nos seus aviões as cores portuguesas, quer por transformação dos "cocardes" franceses em "cocardes" portugueses, que para tal bastava manter o exterior vermelho e pintar os círculos branco e azul de verde, ou por cobrir parte da fuselagem com listas diagonais verde e vermelho, como no caso dos pilotos Santos Leite, Sousa Maya e Lello Portela, que pertenceram à Esquadrilha SPA-124, "Jeanne d'Arc", antiga Lafayette, que utilizavam listas na fuselagem com as cores nacionais.

Bibliografia

Ilustração Portuguesa, (1919), Série II, 30 Junho de 1919, n.º 697, Lisboa, O Século


MARTINS, Ferreira (1934), Portugal na Grande Guerra, Vol. II, Lisboa, Empresa Editorial Ática


CORREIA, José Manuel (2009), "1916-1938, As Relações Aeronáuticas Luso-Britânica, Breve História de uma Cooperação Conturbada", Mais Alto, Ano XLVII n.º 382 Nov/Dez 2009, pp.37-41.


LOPES, Mário Canongia e José Manuel Rodrigues Costa(1989), Os Aviões da Cruz de Cristo, Lisboa, Dinalivro


MUNSON, Kenneth (2004), Bombers, Patrol and Reconnaissance Aircraft 1914-1919, London, ed., Bounty Books


MARTINS, Dorbalino dos Santos(1995), Estudo de Pesquisa Sobre a Intervenção Portuguesa na 1ª Guerra Mundial (1914-1918) na Flandres, (Colectânea de Documentação)", Lisboa, Estado-maior do Exército, Direcção de Documentação e História Militar.


MAGNO, David (1921a), Livro da Guerra de Portugal na Flandres, Vol. I, Porto, Companhia Portuguesa Editora.


MAGNO, David (1921b), Livro da Guerra de Portugal na Flandres, Vol II", Porto, Companhia Portuguesa Editora


OLIVEIRA, General A.N. Ramires (1995), "História do Exército Português 1910-1945", Volume IV, Lisboa, Direcção dos Serviços de História Militar, (PT/AHM: C7939)


PT/AHM - D1/S35/CX1243 - "Serviço de Aviação"