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Corpo de Artilharia Pesada - CAP

Destruindo o Obus - Sousa Lopes

A artilharia pesada portuguesa não conseguiu alcançar o nível de operacionalidade que desejava por falta de equipamento, uma vez que os ingleses não forneceram o material acordado para armar completamente as batarias do Corpo. Acabou por nunca vir a trabalhar como uma força colectiva integrada no C.E.P.. No entanto, a notável acção de algumas das sua batarias junto de unidades superiores britânicas foi suficiente para demonstrar o valor dos nossos artilheiros. (Martins 1934b, 85)


A mobilização de tropas para a constituição de um Corpo de Artilharia Pesada para o C.E.P. apenas ocorreu em Janeiro de 1917. No entanto os homens só partiram de Lisboa para Inglaterra em Maio de 1917. Foram directamente para a Escola de Artilharia em Harsham, onde tiveram uma instrução militar que durou oito meses.


O Corpo de Artilharia Pesada foi comandado pelo Coronel Francisco das Chagas Parreira, que acompanhou a formação dos seus oficiais e artilheiros ao longo do período de instrução em Inglaterra, nos campos de instrução de Roffey-Camp e Hazeley-Down-Camp e ainda na escola de tiro de Lydd.(Martins 1934b, 87)


Os comandantes dos Grupos de Artilharia era o Major Pires Leitão (1º Grupo) e o Major Crisóstomo da Silva (2º Grupo). (Martins 1934b, 105)

Tropas portuguesas (C.A.P.) em Inglaterra (Martins 1934a, 176)

O chefe da missão britânica junto do C.E.P. informou o General Tamagnini que no começo da instrução em Harsham tudo tinha corrido bem, existindo inclusivamente um entusiasmo generalizado entre os oficiais portugueses, mas depois deram a entender que não estavam a aprender coisa alguma. É de considerar que os oficiais que foram para Inglaterra já pertenciam à arma de artilharia e a instrução básica ministrada pelos ingleses não acrescentava nada aos seus conhecimentos. (Marques 2004, CXCVI)


No final da instrução o C.A.P. foi organizado em dois Grupos de Batarias de Artilharia Pesada, a cinco Batarias cada, 10 no total, tendo os seus efectivos se reunido ao C.E.P. no final de Janeiro de 1918. (Marques 2004, CXCVI)


O tirocínio destes efectivos foi feito junto das batarias de artilharia pesada britânicas que guarneciam o sector português. (Marques 2004, CXCVI - CXCVII)

A questão do fornecimento não fornecimento dos obuses pesados a Portugal

O Governo britânico tinha a intenção de fornecer os obuses pesados ao Exército português conforme acordado, mas os desenvolvimentos no teatro de guerra e uma vez que a Batalha de Jutlândia, em Junho de 1916, não tinha conseguido anular por completo a Marinha alemã, sem contar com os resultados da guerra submarina total, a defesa do Grã-Bretanha tornava-se uma questão primária.  


No final de 1917 a situação militar aliada era muito grave. A paz separada da Rússia, a capitulação da Roménia, as derrotas aliadas em Itália, onde se inclui o desastre de Caporetto, e a incapacidade do comando de Salónica em desenvolver a frente de combate, eram acrescidas com as progressivas dificuldades de recrutamento na Grã-Bretanha, sobretudo na Irlanda, e na França. Contra a impossibilidade dos aliados reporem as baixas com novos recrutamentos o alemães respondiam com um reforço de milhares de homens experientes que de repente tinham sido libertados da frente oriental. Os submarinos esfomeavam os britânicos e os seus aviões e zepelins bombardeavam Londres. 


Neste contexto de franca apreensão o Governo britânico tomou medidas para a defesa do território metropolitano. Para os ingleses a questão que se colocava era se os americanos chegariam a tempo e em quantidade suficiente para defender a Grã-Bretanha.


Em 9 de Janeiro de 1918 o Governo Britânico solicitou ao Governo Português, porque existia a iminência de um raid, ou mesmo de uma invasão alemã, que as tropas portuguesas presentes em solo britânico fossem empregues na defesa da ilha sob o comando de oficiais britânicos.


A solicitação britânica tinha a particularidade de solicitar que o comandante  do C.A.P., Coronel Chagas Parreira que se encontrava em Inglaterra, ficaria sob o comando de um oficial de patente inferior (tenente-coronel), que exercia o comando da região a defender, em nome do General Comandante em Chefe. O Governo português e o Coronel Chagas Parreira acederam à solicitação, mas não chegou a ser necessária esta subordinação de comando, perante a evolução do teatro de guerra. (Martins 1934b, 89)


No final de Janeiro de 1918 o contingente que se encontrava em Inglaterra foi enviado para França.


Quando o Corpo foi transferido de Inglaterra para a França não teve bocas de fogo próprias, (Martins 1934b, 90) tendo os destacamentos trabalhado nas batarias inglesas. O General Tamagnini foi informado em Dezembro de 1917 que o C.A.P. não iria receber obuses, porque o material que lhe estava destinado tinha sido cedido à Itália. (Marques 2004, CXCVI) O exército italiano tinha acabado de sofrer uma enorme derrota em Outubro de 1917, Batalha de Carporetto, onde tinha sofrido cerca 300.000 baixas (90% de prisioneiros), mais a perda de cerca de 3.000 obuses, 2.000 morteiros e 3.000 metralhadoras (capturados pelos alemães e austríacos).

Reforço de efectivos do C.A.P.

Em Fevereiro de 1918, foi emitida a partir de Lisboa uma ordem para que os efectivos que se encontravam no C.A.P.I., ao serviço do Exército francês, fosse incorporado no C.E.P.. Esta ordem teve origem numa proposta inglesa do General Barnardiston, devido à falta de material de artilharia pesada que o C.E.P. apresentava. Assim, dos três Grupos Mistos de Artilharia Pesada, mais a Bataria de Depósito que constituíam o C.A.P.I., foram retirados os efectivos que constituíam o 2º e 3º Grupo Misto de Artilharia Pesada e foram para o Havre, a fim de daí serem transportados para um campo de intrusão em Inglaterra. (Fraga 2003, 62-64)


O General Tamagnini recebeu a 3 de Março de 1918 um telegrama da Secretaria da Guerra, em Lisboa, a informação que o pessoal do C.A.P.I., ao serviço da França passava a integrar o C.E.P..  Sem qualquer intervenção do comando português os homens foram alojados no Havre, de onde partiram para Inglaterra na 3ª semana de Abril. O contingente de artilheiros que partiu para Inglaterra teria aproximadamente de 32 oficiais e 1.016 praças. (Marques 2004, CXCVII)


A 23 de Abril de 1918, houve uma insubordinação de um grupo de artilheiros portugueses na Escola de Artilharia em Harsham, quando se recusaram a marchar para a instrução, tendo inclusivamente agredido o seu oficial. Foi necessária a intervenção de forças policiais britânicas para conter a situação. Ultrapassado momento, e com a intervenção do comandante do C.A.P., Coronel  Chagas Parreira, e com a substituição do oficial foi restabelecida a ordem e a instrução prosseguiu. A situação terá sido resultado da insatisfação do grupo por considerar que tinha passado meses a aprender as manejar as armas francesas e agora voltava a ter uma nova instrução com material inglês completamente diferente. (Marques 2004, CXCVII)

A Artilharia em Combate

Março 1918


Em França distinguiram-se em combate duas das batarias do Corpo, a 4ª Bataria do 1º Grupo por serviços prestados durante o mês de Março de 1918, incorporada numa unidade britânica sob o comando do General Vincent, que também cooperou com o C.E.P. nesse período de grande actividade do sector português.


Abril 1918


Também em França distinguiu-se em combate a 5ª Bataria do 1º Grupo por ocasião do 9 de Abril de 1918, que também incorporada numa unidade britânica se bateu valentemente até à aproximação do inimigo e mesmo assim só depois de inutilizar o material, o que lhe valeu ser galardoada com a Cruz de Guerra de 1ª Classe. Neste combate foi promovido por distinção o soldado José Alves a 1º Cabo, pela sua acção. Ele foi ainda condecorado pelo exército britânico com a "Distinguished Conduct Medal", a mais alta recompensa concedida pelos britânicos a praças. Foi este artilheiro que o pintor Sousa Lopes imortalizou no seu quadro "Destruindo o Obus".

Bibliografia

Martins, Ferreira (1934a), Portugal na Grande Guerra, Vol. I, 1ª ed., Lisboa, Empresa Editorial Ática


Martins, Ferreira (1934b), Portugal na Grande Guerra, Vol. II, 1ª ed., Lisboa, Empresa Editorial Ática


Fraga, Luís Alves de (2003), Guerra e Marginalidade, Lisboa, Prefácio


Marques, Isabel Pestana (2004), Memórias do General 1915-1919: Os meus três comandos de Fernando Tamagnini, Viseu, SACRE - Fundação Mariana Seixas