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O Quadrado de Mongua - 1915

O 3º Batalhão do Regimento de Infantaria 17, de Beja, juntamente com o Batalhão de Marinha, formaram o núcleo de combate que desceu até Mongua para recuperar os território cedidos aos alemães e indígenas revoltados contra Portugal. Com eles seguia também dois Esquadrões de Cavalaria, um do Regimento de Cavalaria n.º 4 e um do Regimento de Cavalaria n.º 11, e uma Companhia Indígena Expedicionária de Moçambique.


Nos combates de 17, 18, 19 e 20 de Agosto de 1915, as companhias do BI 17 ocuparam três das quatro faces do quadrado. Em serviço de segurança encontrava-se a cavalaria e auxiliares Damaras. A uns 800m em frente da face esquerda do quadrado encontravam-se as cacimbas (uns 7 ou 8 buracos com água), que o inimigo empoleirado em arvores e escondido por morros impedia o acesso.


No dia 18, já tinham caído algumas dezenas de bravos, começava-se a asfixiar dentro do quadrado, porque a intensidade do fogo inimigo não diminuía. Num dado momento um soldado da bataria de metralhadoras, que estava vendo o Esquadrão de Cavalaria 11 e o Esquadrão de Cavalaria 4 a formarem serenamente em frente das companhias do Batalhão de Marinha, levanta o capacete ao ar e grita virado para dentro do quadrado: viva a Cavalaria portuguesa! Alguns soldados mais próximos e que melhor ouviram o brado do homem, corresponderam ao viva e, de repente, num crescendo quase mágico, começam a soar os primeiros compassos da "Portuguesa", cantada pelos soldados de Infantaria n.º 17» (Monteiro, 1941, 25).


«Por fim está o quadrado todo de pé sem quase dar um tiro, cantando a "Portuguesa" e saudando a Cavalaria que ia carregar sobre o inimigo...» (Monteiro, 1941:26)


«Os soldados indígenas da Companhia de Infantaria de Moçambique não sabiam cantar a "Portuguesa", mas levantaram-se e, com o cofió em uma das mãos e a espingarda na outra, dançaram o seu batuque de guerra, entoando um cântico bélico!» (Monteiro, 1941:26).


Foi com este alto estado de espírito que o Esquadrão de Cavalaria 11 carregou sobre o inimigo, perseguindo-o pela mata a dentro, derrotando-o.


No dia 19, após várias combates e com uma carga conjunta de uma Companhia do 17, uma Companhia do Batalhão de Marinha  e um pelotão da Companhia Indígena, conseguiram por em fuga o inimigo e ocupar as cacimbas, passando o quadrado a estar abastecido de água.


No dia 20, Deu-se um ataque geral à baioneta sobre o inimigo que já batido no dia anterior ainda cercava o quadrado. O ataque final sobre o inimigo foi executado com uma carga do Batalhão de Marinha na face da frente e uma carga do Batalhão de Infantaria 17 na face esquerda.


Neste combate morreram dois oficiais, o Capitão João Francisco de Sousa e o Tenente Augusto Passos e Sousa, e ainda muitas praças do Batalhão.(Monteiro, 1941:25).


O comandante do BI 17, Major João Pires Viegas, prosseguiu o avanço em direcção à embala do Cuanhama e retoma N'giva a 4 de Setembro de 1915.  


Por decreto de 8 de Julho de 1922, publicado na Ordem do Exército, foi louvada a 9ª Companhia do R.I. n.º 17, pela coragem, valentia decisão e serenidade de que deu provas durante os combates dos dias 18, 19 e 20 de Agosto de 1915 na Mongua, e em especial pelo arrojo demonstrado na carga em que findou este último combate. (Sousa, 1939:24).

Bibliografia


Sousa, João Francisco de (1939), Cadernos Coloniais, Infantaria 17 em África, Lisboa, Edições Cosmos.


Monteiro, Henrique Pires (1941), A Guarnição Militar de Beja e seus Feitos, Beja, Minerva Comercial Carlos Marques & Cª. Lda.